ANÁLISES FÍSICAS DO SOLO SOB DISTINTOS MANEJOS NA REGIÃO DA TOCA DA ONÇA, LUMIAR - 5º DISTRITO DE NOVA FRIBURGO, RJ.

Autores

Souza de Mattos, B. (UERJ FFP) ; Souza Portela, L. (UERJ FFP) ; Santos Merat, G. (UERJ FFP) ; Sete do Nascimento, A.C. (UERJ FFP) ; Farias Brum, T.C. (UERJ FFP) ; Bertolino, L.C. (UERJ FFP) ; Freire Allemão Bertolino, A.V. (UERJ FFP)

Resumo

O estudo aborda as propriedades físicas do solo sob distintos manejos, buscando compreender tais propriedades em áreas de Floresta, Pousio, Sistema Agroflorestal e Pasto, na região de Lumiar. Através do estudo foi possível verificar que o Pasto apresenta solo compactado, com densidade aparente equivalente há 1,3 g/cm³, e maior percentual de argila, em comparação com os demais manejos, onde a fração areia é preponderante.

Palavras chaves

granulometria; manejo; paisagem

Introdução

As propriedades físico-pedológicas atreladas a elementos como clima e uso do solo são capazes de promover diferentes paisagens, que consequentemente estão em contínuo processo de transformação (PASSOS, 2011). Afinal, o solo e a paisagem sobre ele existente, estão em uma incessante busca pelo equilíbrio (VEZZANI e MIELNICZUK, 2011). Bertrand (1982) sugere que o homem, mesmo não sendo um agente imperativo, tem a capacidade de promover mudanças significativas na paisagem. Dessa forma, ela deve ser compreendida a partir de uma concepção geoecológica (RODRIGUEZ et al., 2007). A resistência do solo aos processos de degradação física é influenciada fatores como características dos minerais, tipos de cátions absorvidos pelo solo, a forma como os agregados estão dispostos, o clima e a vegetação (SELBY, 1982). Lepsch (2002) sugere que há uma intensa relação entre o uso do solo e os seus constituintes. Segundo Castro et al. (1986), os solos destinados ao cultivos devem ser preparados para promover as mínimas alterações em seus constituintes químicos e físicos. A Área de Proteção Ambiental de Macaé de Cima corresponde a grande parte do território de Lumiar, sendo uma das poucas áreas do estado do Rio de Janeiro onde é possível encontrar remanescentes florestais de mata atlântica que ainda contam com relativo grau de conectividade (ROCHA et al., 2003). A principal atividade econômica está relacionada à agricultura familiar, sendo possível encontrar em algumas propriedades o manejo de solo feito a partir de técnicas agroecológicas, culminando no Sistema Agroflorestal (SAF) (LESSA, 2013). Todavia, as áreas de pastagem, que de acordo com INEA (2010), ocupam 6,4% vem crescendo, fazendo com que a prática de pousio seja deixada de lado, ou tenha o seu tempo reduzido (BERTOLINO e BERTOLINO, 2010). Assim, o artigo tem por objetivo analisar as propriedades físicas do solo sob distintos manejos, com o intuito de verificar de que forma a cobertura vegetal interfere em tais propriedades.

Material e métodos

A área de estudo localiza-se no Sítio Abaetetuba, Toca da Onça, Lumiar, 5º distrito de Nova Friburgo-RJ. Estando contida na sub-bacia do Córrego das Paineiras, inserida na bacia hidrográfica do Rio Bonito que faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Macaé de Cima. O clima, segundo a classificação de Koppen, se aproxima ao tipo Cfa (clima temperado úmido com verão quente) (GOMES, 2009) A geologia predominante é de rochas ígneas e metamórficas pré-cambrianas e está integrada ao Complexo Paraíba do Sul – Unidade São Fidélis. O relevo da região da APA é composto por uma série de vales encaixados formados a partir da erosão fluvial onde nas encostas se encontram pacotes de solo pouco espesso e afloramentos rochosos, enquanto no fundo do vale está depositado o material coluvional, rico em blocos rochosos provenientes de deslizamentos e avalanches detríticas (INEA, 2010). A morfologia da região é caracterizada por serras proeminentes de relevo irregular, com morros de vertentes íngremes, onde as cotas altimétricas variam entre 800 e 1100 m (DNPM-CPRM, 1980). Os solos encontrados são de Cambissolos, seguido de Latossolos Vermelho-amarelo associados ao relevo montanhoso e fortemente ondulado, e de Neossolos Litólicos e afloramentos de rocha comuns em topografia mais acidentada (INEA, 2010). As propriedades físicas do solo foram avaliadas a partir das análises de granulometria, densidade aparente, porosidade total, macro e microporosidade. Foram coletadas amostras indeformadas e deformadas de solo referentes aos 10 cm superficiais nos sistemas de Floresta, Pousio, Pasto e SAF. A análise granulométrica foi realizada de acordo com o método da pipeta (EMBRAPA, 1997). Já as análises de densidade aparente, porosidade total, macro e microporosidade foram realizadas segundo o Método do Anel Volumétrico (EMBRAPA, 1999).

Resultado e discussão

A análise granulométrica dos solos nos distintos usos-coberturas mostra que as quatro áreas apresentam valores semelhantes de frações finas (silte + argila) (Figura 1). O solo do ambiente de Pasto é o que possui maior proporção de tais frações, com 39,6%, dos quais 56,81% equivalem à argila e 43,19% ao silte. Dentre todas as áreas o Pasto caracteriza-se como a mais argilosa. No que diz respeito à fração areia, o solo do Pousio apresenta-se como o mais arenoso, onde o valor foi igual a 69,5% de areia. Pasto, SAF e Floresta apresentaram respectivamente 60,4%, 61,7% e 62,3%. Dessa forma, a classificação textural do solo desses três últimos ambientes é franco arenosa, enquanto o Pasto apresenta solo franco-argilo-arenoso. A densidade aparente esta relacionada com o grau de compactação do solo, e diretamente ligada aos valores de porosidade. Nos resultados encontrados, o solo do Pasto, com 1,3 g/cm³, apresenta a maior densidade aparente, revelando que dos quatro usos-coberturas estudados ele é o que possui o solo mais compactado (Figura 2 – A). Epstein e Grant apud Guerra (2010), afirmam que o aumento na densidade aparente pode ser responsável pelo inicio do processo erosivo, já que diminui a porosidade dificultando a infiltração e a percolação da água no solo, formando poças que ao se integrarem dão inicio ao escoamento superficial. Tais condições são favoráveis a produção de uma paisagem influenciada pelas atividades antropogênicas, onde as áreas de encostas passam a ser vulneráveis à erosão e degradação do solo. Em contrapartida, o solo da Floresta possui o menor grau de compactação com 0,97 g/cm³, o que aliado à alta quantidade da fração areia e ao grande percentual de macroporos, faz com que haja uma maior tendência a infiltração da água nesse solo. No SAF e no Pousio a densidade aparente se comporta de forma semelhante, com 1,1 g/cm³ nos dois espaços. A Floresta é o ambiente que possui maior porosidade total (64,9%). Esse valor pouco se difere dos ambientes de SAF e Pousio que apresentam respectivamente 61,4% e 62% de porosidade total (Figura 2 – B). Tais valores tendem a estar atrelados à textura do solo que, como visto anteriormente é caracterizado como franco arenoso. Por possuir partículas com maior diâmetro, a fração areia proporciona maior volume entre os constituintes sólidos do solo, dando origem, geralmente, solos com maior porosidade total (LEPSCH, 2002). O Pasto é o único ambiente a destoar dos demais, comportando-se com 51,2% de porosidade total. A baixa porosidade no solo do Pasto tende a estar associada ao uso e manejo do mesmo. A vegetação formada predominantemente pela gramínea Brachiaria, que possui raízes finas e que chegam a no máximo 40 cm, não é capaz de proporcionar a ampliação dos poros da mesma forma que ocorre em outros sistemas. A macroporosidade está intrinsecamente relacionada com a circulação da água no solo. Logo seus valores são fundamentais para ajudar a compreender o comportamento dessa água dentro do solo (SILVA, 2010). O Pasto possui a menor quantidade de macroporos (Figura 2 – C). Neste espaço os poros maiores que 0,05 mm constituem 9,4% do solo. Em contrapartida a Floresta e o SAF apresentam as maiores macroporosidades com valores médios de 22,2% e 21,8%. O Pousio por sua vez corresponde com 14,3% de macroporos. Esses valores permitem compreender que no Pasto, a infiltração da água no solo tende a ser prejudicada devido à pequena quantidade de macroporos, o que pode favorecer o escoamento superficial, sobretudo em eventos extremos de precipitação. Os valores médio de microporosidade mostram que há pouca diferença entre os os resultados obtidos nos quatros sistemas (Figura 2 – D). O Pousio apresenta 47,1% de microporos, seguido pela Floresta com 42,2% o Pasto com 41,8 e por fim o SAF 39,6%.

figura 1

Distribuição granulométrica do solo por sistemas

Figura 2

A - Valores de densidade aparente; B- Valores de porosidade total; C - Valores de macroporosidade; D - Valores de microporosidade.

Conclusões

Os resultados indicam que A textura franco-arenosa do solo da Floresta e do SAF está relacionada com o elevado percentual de macroporosidade, pelo menos no que diz respeito à camada mais superficial do solo, proporcionando assim, melhor capacidade de infiltração e percolação da água. No Pasto, nota-se que o manejo do solo tende a proporcionar uma paisagem vulnerável ao processo hidroerosivo, visto que há uma relação entre a alta densidade aparente e a baixa porosidade total. Todavia, uma possibilidade de minimizar um desequilíbrio neste sistema, está na implantação de manejos de solo adequados como o Pousio e as práticas agroecológicas, que podem favorecer a qualidade física do solo. Os resultados obtidos no SAF são bastante convincentes, indicando que dentro de uma APA, o consórcio entre espécies nativas e cultivos agrícolas, com o auxílio de técnicas agroecológicas, podem representar uma das melhores alternativas para a agricultura familiar. Principalmente pelo fato de minimizar o im

Agradecimentos

A Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) pelo financiamento do projeto; nº: E-26/111.330/2013 Ao CETREINA por conceder a bolsa para sua elaboração; A toda equipe do Laboratório de Geociências da UERJ/FFP.

Referências

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