ASPECTOS MORFOLÓGICOS E CONDIÇÕES AMBIENTAIS ATUAIS DO CÓRREGO LAVA-PÉS MUNICÍPIO DE CÁCERES - MATO GROSSO
Autores
Alves da Silva, L. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO - UNEMAT) ; dos Santos Leandro, G.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF) ; da Silva Cruz, J. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO - UNEMAT) ; Aparecida Gonçalves, V. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO - UNEMAT) ; Carvalho Martins, S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO - UNEMAT)
Resumo
O córrego Lava-pés, afluente do córrego Sangradouro, nasce na zona rural do município de Cáceres – Mato Grosso. Ao considerar as tipologias de uso verificaram-se atividades agropecuárias e urbanas observam-se alterações de origem doméstica (esgoto e resíduos sólidos), associadas à expansão urbana no médio e baixo curso e predomínio de campos para pastagens no alto curso da bacia. Há deposição de sedimentos, presença de pequenas canalizações e margens moderadamente estáveis.
Palavras chaves
Granulometria; Urbanização; Córrego
Introdução
Historicamente, o homem gerencia os recursos naturais pela lógica de um crescimento restrito e descontínuo (BORTOLUZZI e PETRY, 2008). Sobre isso, Almeida Filho (2008) destaca que, a degradação do solo e da água são reflexos de uma série de intervenções antrópicas que vêm ocorrendo ao longo de toda história de ocupação em bacias hidrográficas. Segundo Vieira e Cunha (2009), com o crescimento urbano, os rios têm sido transformados, perdendo suas características naturais. As sucessivas obras de engenharia, muitas vezes sem levar em consideração o conjunto da rede de drenagem, modificam as seções transversais e o perfil longitudinal, alterando a eficiência do fluxo (VIEIRA e CUNHA, 2009). O processo de ocupação, quando conduzido de forma desordenada, provoca degradação ambiental, no qual o homem é o principal agente, por meio da ação não planejada sobre o meio ambiente (ALMEIDA FILHO,2008). A incidência dos processos erosivos lineares, alinhados ao transporte e deposição de sedimentos nos corpos d´água (assoreamento), freqüência de inundações e a deterioração da qualidade da água estão relacionadas diretamente à atuação predatória do homem, rompendo o equilíbrio natural de todo o ecossistema (ALMEIDA FILHO,2008). Nesse contexto, o presente trabalho teve por objetivo verificar o aporte de sedimentos, composição granulométrica e os impactos do uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica do córrego Lava-pés, ao considerar a importância desse recurso hídrico para o município de Cáceres e sua contribuição para a bacia hidrográfica do rio Paraguai e Pantanal.
Material e métodos
A bacia hidrográfica do córrego Lava-pés esta localizada entre as coordenadas geográficas 16°06’27.7” S e 16°04’10.8” S e 57°39’24.8” e 57°40’24.3” O com extensão de 9,48 km e 1.332 km2 (Figura 1). Conforme Cruz (2013), o Córrego Lava-pés, constitui um canal de primeira ordem e, com relação ao seu regime hidrológico, caracteriza-se como um canal perene, sendo tributário do córrego Sangradouro. Procedimentos metodológicos Trabalho de campo Foi realizado trabalho de campo no mês de Abril de 2014 para reconhecimento da área e coleta de amostras de sedimentos de fundo em seis pontos do perfil longitudinal do Córrego Lava-pés (P.1 – A, P.1 - B e P.2 - áreas de nascentes, P.3 - canal principal próximo a Olaria, P.4 - canal principal próximo ao corpo de bombeiros, P.5 - canal principal centro urbano - bairro são José e P.6 - canal principal foz e confluência com o córrego Sangradouro). Associado a coleta de amostras de sedimentos de fundo aplicaram-se dois Protocolos de Avaliação de Rios adaptados de Callisto et al. (2002) e Rodrigues e Castro (2008b). As propostas têm por objetivo avaliar as condições ambientais atuais e os aspectos morfológicos do canal. Análise de laboratório As amostras de sedimentos de fundo foram analisadas no Laboratório de Pesquisa e Estudos em Geomorfologia Fluvial – LAPEGEOF, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. Método de pipetagem e peneiramento Para fracionamento do material de fundo em silte e argila, utilizou-se o método de pipetagem - dispersão total (EMBRAPA, 1997). Para determinação do tamanho das frações arenosas (areia grossa, média e fina) foi adotado o método de peneiramento. A fração areia separada pelo método de dispersão total foi seca em estufa a 100°C. Posteriormente o material foi submetido a processo mecânico de peneiramento no Agitador Eletromagnético, com uma sequência de peneiras padronizadas, por 30 minutos. O material retido em cada uma das peneiras foi pesado separadamente (SUGUIO, 1973).
Resultado e discussão
O córrego Lava-pés, afluente do córrego Sangradouro, nasce na zona rural do
município de Cáceres – Mato Grosso e suas nascentes encontram-se próxima a
Província Serrana onde o sistema apresenta característica difusa em áreas de
brejo. A partir dos parâmetros de análise proposto por Callisto et. al. (2002),
constatou-se que a área de nascentes (P.1 - A e P.1 - B), 16°. 06’. “27.7” e S
57°. 39’. 24. 8” W, do referido córrego apresentou condições ambientais próximas
ao natural. Contudo, ao considerar as tipologias de uso, observa-se o predomínio
de campos para pastagens, atividade agrícola (milho) e piscicultura com o
represamento de algumas nascentes.
No segundo ponto (P.2) na coordenada geográfica 16°.05’.52.2” e 57°. 39’. 17.9”
W,a nascente apresenta processo de assoreamento devido à retirada da vegetação e
estrangulamento da drenagem associado à terraplanagem de via pública não
asfaltada. Com isso os sedimentos são transportados por escoamento superficial
para os olhos d’água (Quadro 1). Os sedimentos de fundo apresentaram composição
arenosa com fração predominante de areia fina (66,85%).
O terceiro ponto (P.3) encontra-se dentro do perímetro urbano da cidade Cáceres,
porém em contato com zona rural, sob as coordenadas são 16°05’16.6” latitude sul
57°39’32.6” longitude Oeste. A vegetação nativa no entorno é praticamente
inexistente,com menos de 50%,onde são desenvolvidas atividades econômicas
associadas a pecuária com pastagens, fabricação de tijolos (Olaria) e
residências. Nessa seção registrou-se deposição de sedimentos finos e
grosseiros, com formação de barras de sedimentos no centro do canal. Os
sedimentos de fundo apresentaram uma maior concentração de areia média com
49,20% seguido de areia fina com 33,50% e areia grossa com 15,95%.
O quarto ponto (P.4) encontra-se na transição da zona rural para urbana sob as
coordenadas geográficas 16°.04’.50.39” S e 57°. 39’.55.42” W. As principais
alterações na morfologia do canal e na planície de inundação estão associadas à
diques e terraplanagem e evidente descontinuidade da vegetação que é
remanescente, bem como alterações de origem doméstica (esgoto e resíduos
sólidos) devido a expansão urbana. Nas seções transversais dos pontos 4 e 6
(P.4 e P.6) a coleta de amostras de sedimentos para análise não foi possível
pois o canal apresentou alterações de origem antropogênicas com o aterro do
canal associado a sucessivas dragagens.
Correlacionando os pontos cinco e seis (P.5 e P.6), 16°.04’35.0” 57°. 40’.19.7”
W 16°.04’.10.8” S e 57°.40’.24.3” W, constatou-se a expansão urbana no entorno
do córrego Lava-pés. O canal foi modificado nesse ponto tornando-se retilíneo.
Com relação aos sedimentos de fundo observou-se lançamento de detritos de origem
antropogênica, tais como, restos de construção de residências, o que também
inviabilizou a análise dos sedimentos de fundo.
Condições ambientais do córrego Lava-pés em Cáceres, Mato Grosso.
Composição granulométrica dos sedimentos de fundo (2014)
Conclusões
Os usos atuais no entorno das nascentes comprometem o sistema principalmente associado às atividades de piscicultura com o represamento do recurso hídrico. A vegetação é remanescente e está sendo suprimida com atividades agrícolas e pecuária (plantação de milho e pastagem). No médio e baixo curso trechos do canal foram retificados e canalizados mudando seu aspecto natural no perímetro urbano de Cáceres – Mato Grosso. Também houve a retirada da vegetação para construção de residências. Cabe salientar ainda alterações de ordem ecológica com o lançamento de efluentes e eutrofização. Os resultados obtidos indicam que o córrego Lava-pés ainda apresenta capacidade de resiliência e há a possibilidade de revitalização. Algumas medidas como conservação das nascentes, recuperação da mata ciliar e criação de áreas verdes poderão atender a população local. Com relação à qualidade da água percebe-se a necessidade de tratamento do esgoto que atualmente é lançado in natura no recurso hídrico.
Agradecimentos
Ao Departamento de Geografia - UNEMAT, onde, o presente trabalho foi desenvolvido durante a disciplina de Hidrogeografia. A sub-rede de pesquisa ASA de estudos sociais, ambientais e de tecnologias para o sistema produtivo na região sudoeste mato-grossense financiada pela REDE PRO-CENTRO-OESTE MCT/CNPq/FNDCT/FAPs/MEC/CAPES pelo apoio financeiro. Também à Universidade do Estado de Mato Grosso pelo apoio logístico do Laboratório de Pesquisa e Estudos em Geomorfologia Fluvial – LAPEGEOF/UNEMAT.
Referências
ALMEIDA FILHO, G. S. Processos erosivos urbanos. (Org.). POLETO, C. Ambientes e sedimentos. Porto Alegre: ABRH, 2008. p. 39-63.
BARROS, L. R.; SOUZA, C. A. Avaliação do grau de degradação e impactos associados na bacia hidrográfica do córrego Sangradouro, Cáceres-MT.Revista Eletrônica da Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Três Lagoas/MS. n. 16, p. 71-91, 2012.
BORTOLUZZI, E. C.; PETRY, C. Partículas minerais: da rocha de sedimentos. (Org.). POLETO, C. Ambientes e sedimentos. Porto Alegre: ABRH, 2008. p. 01-38.
CALLISTO, M.; FERREIRA, W. R.; MORENO, P.; GOULART, M.; PETRUCIO, M. Aplicação de um protocolo de avaliação rápida da diversidade de habitats em atividades de ensino e pesquisa (MG-RJ). Acta Limnol, Bras. v. 14, n. 1, p. 91-98, 2002.
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Manual de Métodos de análises de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1997. 212 p.
VIEIRA, V. T.: CUNHA, S. B. Mudanças na rede de drenagem urbana de Teresópolis (Rio de Janeiro). (Org.). GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Impactos ambientais urbanos no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 2009.
RODRIGUES, A. S. L.; CASTRO, P. T. A. Protocolos de avaliação rápida: instrumentos complementares no monitoramento dos recursos hídricos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos. v. 13, n. 1, p. 161-170, 2008.
SUGUIO, K. Introdução à sedimentologia. São Paulo: Edgard Blücher, 1973. 307 p.