CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E SEDIMENTOLÓGICA DO RIO PARAGUAI, NO SEGMENTO ENTRE A FOZ DO CÓRREGO JACOBINA A FOZ DA BAÍA DOS PESTIADOS, CÁCERES - MATO GROSSO, BRASIL.

Autores

Neves da Silva, V. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO) ; Alves de Souza, C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO) ; Ferraz Bühler, B. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO) ; Carla de Almeida, J. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO) ; Ernildo de Lima, T. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO)

Resumo

O presente estudo foi realizado no rio Paraguai, no segmento entre a foz do córrego Jacobina e a foz da baía dos Pestiados em Cáceres, MT, com o objetivo de avaliar os aspectos morfológicos e sedimentológicos. No trabalho de campo obtiveram-se informações batimétricas e fluviométricas. Para a análise granulométrica utilizou-se do método de pipetagem e peneiramento e para os sedimentos de suspensão utilizou-se o método de evaporação. Os dados demonstraram predominância de sedimentos grosseiros.

Palavras chaves

Pantanal; Feições Morfológicas; Sedimentos

Introdução

A bacia hidrográfica corresponde a uma unidade natural, resultante da interação da água com outros recursos naturais como: material de origem, topografia, vegetação e clima (BRIGANTE e ESPÍNDOLA, 2003). Segundo Cunha e Guerra (2004) as bacias integram um conjunto das condições naturais e atividades humanas nelas desenvolvidas. O rio Paraguai é o principal canal de escoamento do Pantanal, com seus afluentes percorrendo vasta área de planície. Suas nascentes principais encontram-se nas bordas do Planalto dos Parecis, no município de Diamantino. Percorre a depressão do rio Paraguai com altitudes, que variam de 98 a 280 m, onde recebe os fluxos de alguns afluentes (Souza et al. 2012). Segundo RICCOMINI et al. (2009), a morfologia dos canais fluviais é controlada por fatores próprios da bacia de drenagem (autocíclicos) e fatores que afetam não apenas a bacia, mas toda região onde ela está inserida (alocíclicos). Os processos de erosão, transporte e deposição de sedimentos no leito fluvial alteram-se com o tempo e, espacialmente, são definidos pela distribuição da velocidade e da turbulência do fluxo do canal (CUNHA, 2008). A análise sedimentológica permite estimar a quantidade e o tipo dos sedimentos transportados. Essas informações são importantes para definir o uso direto e indireto da bacia e medidas de planejamento e gestão (SOUZA et al. 2013). Neste segmento o rio apresenta uma extensa área de planície de inundação e diferentes feições morfológicas (baias, canal secundário, ilhas fluviais e lagoas). A planície de inundação é uma faixa do vale fluvial composta de sedimentos aluviais, bordejando o curso de água, e periodicamente inundadas pelas águas de transbordamento provenientes do rio (CHRISTOFOLETTI, 1980). Este estudo teve como objetivo avaliar os aspectos sedimentológicos e as feições morfológicas, bem como as variáveis hidrodinâmicas do rio Paraguai no segmento entre a foz do córrego Jacobina e a foz da baía dos Pestiados no município de Cáceres, Mato Grosso.

Material e métodos

ÁREA DE ESTUDO A área de estudo compreende o segmento do rio Paraguai, entre a foz do córrego Jacobina, à foz da baia dos Pestiados no município de Cáceres-MT, com 7,5km de extensão e 20,08 km² de área. Localiza-se entre as coordenadas geográficas, 16°17'8.63" à 16°19'30.00"de latitude S e 57°46'21.70" à 57°46'33.00" de longitude O. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este estudo foi realizado em três etapas: Trabalho de gabinete, de campo e de laboratório. TRABALHO DE GABINETE Nesta etapa foi realizado o levantamento bibliográfico acerca do tema abordado neste estudo. Para identicar as feições, e obter dados de distância e área foi utilizado o aplicativo Google Earth 7.1.2.2041 e GE Path 1.4.6, que também subsidiou a determinação das seções transversais de coleta. Para determinar a Área da seção e a Vazão, foram utilizadas as equações conforme Cunha (2008, p.228): A= L x P, e Q= A x V Onde, A= área da seção (m²), L= largura média do canal (m) e P= profundidade média do canal (m). Q= vazão (m³/s), A= área da seção (m²), e V= velocidade média do canal (m/s). TRABALHO DE CAMPO Esta etapa consistiu em obter informações batimétricas e fluviométricas. Para coleta de sedimentos de fundo foi utilizado o aparelho tipo Van Veen. Para coletar o sedimento em suspensão foi utilizada a garrafa de Van Dorn. Para obter a batimetria foi utilizado o sonar Garmin GPSMAP 420S e para obter a velocidade foi utilizado o molinete fluviométrico. TRABALHO DE LABORATÓRIO Sedimento de Fundo Para fracionamento do material de fundo, utilizou-se o método de pipetagem. Para definir as frações de areia (areia grossa, média e fina) foi utilizado do Método de Peneiramento (EMBRAPA, 1997). Sedimento em Suspensão Para análise dos sedimentos transportados em suspensão foi usado o método de Método de Evaporação (CARVALHO et al., 2000).

Resultado e discussão

Descrição e Feições Morfológicas Neste segmento o rio apresenta padrão meandrante, fluindo de Norte para Sul, tendo dois córregos como seus principais tributários, o córrego Jacobina que deságua à margem esquerda e o córrego Padre Inácio que deságua na margem direita. Foram identificadas baías, canais secundários, ilhas fluviais e lagoas. Ao longo do corredor fluvial foram identificadas cinco baías, um canal secundário, onze lagoas (formas negativas) e três ilhas fluviais (formas positivas). Quatro baías possuem conexão direta com o rio, variando o tamanho de acordo com sazonalidade. A maior baía ocupa uma área de 589,09 m² (Tabela 1). No trecho estudado foram observadas 11 lagoas que mesmo em maior quantidade ocupam as menores áreas em relação às demais feições. A menor abrange 2,03 m² de área e a maior 42,40 m². O canal secundário possui 5,04 km de extensão e 261,69 m² de área e surgiu devido ao abandono do leito principal do córrego Padre Inácio que antes desaguava diretamente no rio Paraguai e atualmente deságua na baia do Tuiuiú. As ilhas se formaram a partir do rompimento do colo do meandro. A menor possui 85,92 km de área e a maior 1.188,62 m² de área (tabela 1). Variáveis Hidrodinâmicas e Aporte de sedimentos A primeira seção transversal encontra-se à foz do córrego Jacobina nas coordenadas geográficas de 16°17'7.35" latitude Sul e 57°46'21.19" longitude Oeste. A largura do leito foi de 11,02 m, com de profundidade média de 2,45 m, a velocidade do fluxo foi de 0,34 m/s e a vazão atingiu 9,17 m³/s. Predominou areia média com 35,15 % e a quantidade de partículas em suspensão foi de 280 mg/l (Tabela 2). A segunda seção encontra-se no rio Paraguai, nas coordenadas 16°17'23.50" de latitude Sul e 57°46'57.40" de longitude Oeste, a largura do canal foi de 238 m, a profundidade média foi de 3,72 m, a velocidade média foi de 1,10 m/s e a vazão de 973,89 m³/s, predominou areia fina (98,55%) e o valor de sedimentos em suspensão foi de 260 mg/l. A terceira seção encontra-se na foz da baía do Tuiuiú, nas coordenadas geográficas 16°17'50.40" de latitude Sul e 57°47'8.70" de longitude Oeste. A largura do canal foi de 80,50 m, a profundidade média foi de 3,47 m, velocidade 1,32 m/s, e a vazão foi de 368,71 m³/s. Nesta seção predominou areia média (85,85%) e a carga suspensa foi de 260 mg/l. A quarta seção encontra-se na entrada da baía do Jatobá, nas coordenadas de 16°18’20.80” de latitude Sul e 57°46’13.10” de longitude Oeste. A largura do canal foi de 73,5 m, a profundidade média de 3,82 m, a velocidade 1,65 m/s e a vazão 463,27 m³/s. Nos sedimentos de fundo predominou areia média (96,45%) e a quantidade em suspensão foi de 300 mg/l. A quinta seção encontra-se à jusante da baía do Jatobá, nas coordenadas 16°19'10.00" de latitude Sul e 57°46'36.00" de longitude Oeste. A largura do canal foi de 90,05 m, a profundidade media de 4,32 m, a velocidade de 1,70 m/s e a vazão 661,31 m³/s. Houve predomínio de areia fina, 66,35%. A sexta seção encontra-se no canal secundário sob as coordenadas geográficas de 16°19'13.06” latitudes Sul e 57°46'38.97” de longitude Oeste. Apresentou 27,74 m de largura, 2,19 m de profundidade, 0,23 m/s de velocidade e 13,94 m³/s de vazão. Quanto aos sedimentos de fundo predominou areia média (90,75 %) (Tabela 2). A sétima seção corresponde ao final da área de estudo e foi realizada à jusante da baia dos Pestiados, nas coordenadas 16°19'34.76" de latitude sul e 57°46'31.30" de longitude oeste. Não foi possível coletar sedimentos. Apresentou 6,32 m de profundidade, 180 m de largura, 1,10 m/s de velocidade e 1251,3 m3/s de vazão.

TABELA 1

Feições Morfológicas do rio Paraguai no segmento entre a foz do córrego Jacobina e a foz da baia dos Pestiados, Cáceres/MT.

TABELA 2

Vazão, Sedimentos de Fundo e em Suspensão do rio Paraguai no segmento entre a foz do córrego Jacobina e a foz da baia dos Pestiados, Cáceres/MT.

Conclusões

O rio Paraguai no possui padrão meândrante, com ocorrência de variedade de feições morfológicas na planície de inundação: baías, canal secundário, ilhas fluviais e lagoas, essas feições são mantidas pela sazonalidade (período chuvoso e estiagem) e pela baixa declividade no entorno do canal principal, que permitem o transbordamento de água e sedimentos para planície. Os dados mostram a predominância de sedimentos grosseiros, podendo estar associado principalmente a baixa velocidade do fluxo.

Agradecimentos

Referências

BRIGANTE, J. ; ESPÍNDOLA, E. L. G. A Bacia Hidrográfica: Aspectos Conceituais e Caracterização Geral da Bacia do Rio Mogi-Guaçu In: BRIGANTE, J. ; ESPÍNDOLA, E. L. G. (Org). Limnologia Fluvial: Um estudo no Rio Mogi-Guaçu. – São Carlos: Rima, 2003.

CARVALHO, N.O.; FILIZOLA JÚNIOR, N.P.; SANTOS, P.M.C.; LIMA, J.E.F.W. Guia de práticas sedimentométricas. Brasília: ANEEL. 2000. 154p.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Editora Blucher, 1980. 188p.

CUNHA, S.B.; GUERRA, A.J.T.Degradação Ambiental. In: GUERRA, A.J.T. e CUNHA, S.B. da.(orgs). Geomorfologia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil. Capítulo 7, 2004.

CUNHA, S.B. Geomorfologia Fluvial. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A.J.T. Geomorfologia, uma atualização de bases e conceitos. 8 ed.- Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Manual de Métodos de análises de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1997. 212 p.

RICCOMINI, C. et al. Processo Fluviais e Lacustres e seus registros. In: TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a terra. 2 ed.- São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009.

SOUZA, C. A. et al. Sistema hidrográfico do rio Paraguai – MT. In: SOUZA, C. A. (org) Bacia hidrográfica do rio Paraguai - MT: dinâmica das águas, uso e ocupação e degradação ambiental /. – São Carlos : Editora Cubo, 2012. 212 p.

SOUZA, C. A. et al. Sedimentação no rio Paraguai e no baixo curso dos tributários Sepotuba, Cabaçal e Jauru, Mato Grosso, Brasil. In: 14° ENCONTRO DE GEÓGRAFOS DA AMÉRICA LATINA (Egal Peru), 2013.


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