Análise da bacia hidrográfica do Ribeirão Itapiru, Taubaté, SP.
Autores
Merjan, L.C.P. (SENAC) ; Capellari, B. (SENAC)
Resumo
O trabalho consistiu em analisar a topologia, geomorfologia, geologia, e o uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica do Ribeirão Itapiru, para identificar sua suscetibilidade a processos erosivos, e indicar se as erosões presentes na bacia foram causadas por fontes antrópicas ou naturais. As analises apontaram que a bacia apresenta suscetibilidade natural à processos erosivos, porém estes foram intensificado graças a supressão da cobertura vegetal ocasionada pelo de uso e ocupação do solo.
Palavras chaves
Ribeirão Itapiru; Processos erosivos; Geomorfologia
Introdução
As atividades humanos exercem intervenções na superfície terrestre, produzindo mudanças nos sistemas hidrológicos e terrestres. (CANIL, 2007) Os efeitos cumulativos, assim como a expansão demográfica, a urbanização acelerada e a progressiva exploração dos recursos naturais contribuíram em larga escala ao aumento e magnitude dos impactos ambientais negativos e. (CANIL, 2007 apud DOUGLAS, 1983, HART, 1986, ROSS, 1993, COLTRINARI, 1996, RIVAS, 1997, BERGER, 1998, COLTRINARE, 2001) A ocupação do território começa pela retirada da cobertura vegetal, fator de ruptura do equilíbrio inicial. Com a superfície exposta e vulnerável aos efeitos dos agentes naturais, como chuva e escoamento, e dos agentes antrópicos, os processos morfogenéticos e morfodinâmicos atuam com maior vigor nas áreas que passam a mobilizar maior quantidade de matérias superficiais, sendo assim produzindo mais sedimentos. Posteriormente mobilizando esses sedimentos para o fundo do leito o assoreando. (CANIL, 2007, AB’SABER, 1957, SCHUMM & LICHTY, 1973, TOY & HADLEY, 1987, FOSTER 1998, CANHOLI, 2005) Para avaliar os efeitos dos processos decorrentes das intervenções antrópicas nas formas de relevo, tem se que, aplicar geoindicadores que caracterizam as áreas de produção de sedimentos e ou erosões, bem como o entendimento dos processos morfogenéticos que modelam a paisagem e os impactos deles decorrentes. (CANIL, 2007) A área de estudo contemplou a bacia hidrográfica do Ribeirão Itapiru, localizada na porção central do município de Taubaté, São Paulo. O Ribeirão Itapiru é afluente do Ribeirão das Sete Voltas e, os dois são integrantes da bacia do Rio Una, que desemboca no Paraíba do Sul. O objetivo do trabalho foi investigar os processos geomorfológicos da bacia e, através de geoindicadores, ensaiar se os causadores destes processos são fontes antrópicas ou naturais.
Material e métodos
Para atingir os objetivos da pesquisa foram executados os seguintes procedimentos: • Levantamento bibliográfico da área e do tema proposto. • Levantamento cartográfico dos sistemas geomorfológicos e geológicos. • Aquisição dos dados topográficos no formato vetorial visando a elaboração de mapas temáticos morfométricos, alem de informações referente a hidrografia e a malha viária da área estudada. • O tratamento e análise das informações coletadas foram executadas no software de SIG, QGIS 2.2. • Através de sensoriamento remoto foram identificadas e mapeadas as feições erosivas. • Foi executado o trabalho de campo, para confirmar as informações obtidas a partir do tratamento digital dos dados topográficos e da análise de sensoriamento remoto para comprovar as hipóteses levantadas. • Foi realizada uma interpretação sistemática (Fluxograma 1) dos resultados obtidos nas diferentes etapas, visando a confirmação do objetivo e da dinâmica geomorfológica.
Resultado e discussão
A bacia se encontra na unidade Morfoestrutural Cinturão Orogênico do Atlântico e
a morfoescultura da bacia é o Planalto de Paraitinga/Paraibuna. O nível de
fragilidade apontado pelo parâmetro da fragilidade potencial é o médio.
A forma do relevo é de Morros com Serras Restritas que são caracterizadas por
morros de topos arredondados e convexos, vertentes com perfis retilíneos, por
vezes abruptas, presença de serras restritas. Drenagem de alta densidade, padrão
dendrítico a pinulado, vales fechados, planícies aluvionares interiores
restritas.
E por a área ser de embasamento de rochas cristalinas ela apresenta alta
suscetibilidade a escorregamentos naturais ou induzidos e a fortes atividades
erosivas.
A análise da bacia hidrografia seguiu os padrões propostos por CHRISTOFOLLET
(1990).
O padrão de drenagem do Ribeirão Itapiru é o subparalelo, e este é um rio de 3ª
ordem, considerando a classificação da hierarquia pluvial proposta por HORTON
(1945). A área da bacia é de aproximadamente 5,7km² e o corpo principal tem 7
km. (Imagem 1)
O índice de circularidade da bacia é de 0,134, o que aponta que ela não é
suscetível a inundações. A bacia apresenta baixa densidade de drenagem, 2,46
m/m². A extensão dos percurso superficial é de 203 metros. O índice de
rugosidade médio da bacia é de 1280.
O coeficiente de manutenção da bacia é de 406.195 m²/m e, se relacionado esse
coeficiente com o comprimento dos corpos hídricos da bacia pode-se observar que
ela não poderia ser ocupada, já que seriam necessários 5,7km² de área para a sua
manutenção.
Foi gerado um mapa de declividade levando em conta os critérios de classificação
da EMBRAPA que apontou que grande parte da declividade do território da bacia
varia entre ondulado (8% à 20%) e fortemente ondulado (20% à 45%).
A bacia é ocupada quase que inteiramente por pequenos produtores agrícolas,
pecuaristas e por chácaras.
Através de sensoriamento remoto pode-se identificar aproximadamente 50 pontos
erodidos na bacia, sendo eles solos expostos, escorregamentos, deslizamentos,
ravinas e desmoronamentos.
Grande parte dos pontos erodidos esta dentro das áreas de: extensão do percurso
superficial, maiores declividades e maiores índices de rugosidade.
Foi traçado uma curva hipsométrica do rio principal para identificar quais os
pontos mais suscetíveis à deposição dos sedimentos erodidos, que gerou a
hipótese de que entre o quilometro 2 e 3 do corpo principal estariam sendo
depositados esses sedimentos. A hipótese foi comprovada em visita a campo, visto
que, o Ribeirão Itapiru apresenta uma alteração nas feições morfológicas no seu
leito com fundo chato e erosões nos terraços e bases das vertentes.
Para entender melhor a interferência humana nos subsistemas da bacia foi
elaborado um fluxograma com os processos envolvidos: (Fluxograma 1)
Conclusões
A bacia do Ribeirão Itapiru esta sofrendo processos geomorfológicos intensos, apresentando pontos erodidos em diversas áreas do bacia. Naturalmente a bacia tem alta suscetibilidade a esses processos, porém o uso e ocupação do solo os aceleraram, já que, grande parte do solo é parcialmente ou integralmente exposto. Em áreas com maior suscetibilidade natural a processos geomorfológicos intensos como as de maior declividade, onde a extensão do percurso superficial é abrangente e o solo é mais frágil, ocorrem erosões de maiores proporções. Os sedimentos dessas erosões tem se depositado no leito do corpo principal do Ribeirão Itapiru, alterando sua morfologia, diminuindo assim seu volume de água e aumento de seus processos erosivos nos terraços e na base das vertentes.
Agradecimentos
Agradeço todo o apoio de minha família, namorada e amigos que estiveram sempre ao meu lado em todos as dificuldades e glorias até a conclusão do projeto. Agradeço a meu orientador Benjamim Capellari por todos os ensinamentos passados a mim no período de execução deste trabalho.
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