SINUOSIDADE E EROSÃO NO RIO SOLIMÕES: IMPLICAÇÕES PARA TABATINGA, AM.
Autores
Rodrigues, F.G.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS)
Resumo
O volume de água que flui no leito do rio Solimões influencia na erosão, transporte e deposição de sedimentos com reflexo na constituição das paisagens locais e no processo de uso e ocupação do solo em suas margens e ilhas. Sendo assim, o presente trabalho pretende abordar os aspectos referentes aos processos relacionados à sinuosidade do rio Solimões no trecho localizado no município de Tabatinga, Amazonas, bem como seus reflexos para a sociedade local.
Palavras chaves
Geomorfologia fluvial; Dinâmica fluvial; Rio Solimões
Introdução
O rio Solimões apresenta uma diversidade de processos que atuam na evolução de suas estruturas morfológicas. Como decorrência do volume de água que flui no seu leito, observa-se que erosão, transporte e deposição de sedimentos compactuam com ações promovidas pelo próprio rio no seu canal, com reflexo na constituição das paisagens locais assim como no uso e ocupação do solo em suas margens e ilhas. O elevado volume de sedimentos associado ao regime de cheias e vazantes, influenciadas pela dinâmica climática regional e pelo degelo na Cordilheira dos Andes, contribui para alterações morfológicas expressivas. O desencadeamento de determinados fatores ligados a: hidrodinâmica, clima, neotectônica, litologia e, mais recentemente, a ação humana, alimenta processos que originam novas formas, como ilhas, barras arenosas e canais sinuosos, ou desgastam estruturas mais antigas expressas por margens fluviais em terraços. As mudanças bruscas na velocidade do fluxo relacionadas ao volume de sedimentos transportados pelo Solimões contribuem para a ocorrência do processo de sedimentação que influi na constituição morfológica do próprio leito do rio, o qual passa a desviar dos sedimentos depositados em momentos pretéritos originando então sinuosidades no seu canal. Sendo assim, o presente trabalho pretende abordar os aspectos referentes aos processos relacionados à sinuosidade do rio Solimões no trecho localizado no município de Tabatinga no estado do Amazonas, mais precisamente na área na qual se encontram a ilha peruana de Santa Rosa, a cidade colombiana de Letícia, e a sede municipal de Tabatinga, bem como seus reflexos para a sociedade local.
Material e métodos
A metodologia de trabalho foi delineada através da estruturação de uma sequência de ações visavam atender os objetivos da pesquisa. Sendo assim também foi realizada uma Revisão Bibliográfica de autores pertinentes à temática proposta, buscando inclusive a consolidação de uma perspectiva interdisciplinar, portanto foram de visitas a bibliotecas e buscas em sites para obtenção de dados pertinentes à pesquisa em livros, dissertações, teses e periódicos científicos, além de outros trabalhos que tratavam dos temas sinuosidade, erosão, transporte e deposição de sedimentos em rios. Foram realizadas pesquisas de campo associadas a diferentes períodos climáticos da região (seco e chuvoso) para coleta de dados e realização de contato visual com o objeto de estudo, nas quais ocorreram: observação e análise in loco dos processos e das estruturas morfológicas presentes nas margens e no leito do rio Solimões na sede de Tabatinga; registros fotográficos; obtenção de pontos com aparelho GPS relacionados à localização dos processos erosivos em áreas residenciais. A metodologia apresentou como foco a proposição da realização de uma análise comparativa ao longo de dez anos e para tanto foi fundamental o trabalho de Carneiro (2009), construído a partir de uma análise multitemporal adaptada à proposta da pesquisa. Foram utilizadas imagens do GoogleEarth, anos 2002 e 2013 que facilitaram a análise comparativa da área de estudo.
Resultado e discussão
A ocorrência de ações erosivas ao longo das margens compostas por estruturas
sedimentares fragilizadas por diversos fatores, oferta sedimentos aos trabalhos
de transporte e deposição do rio Solimões. O fluxo apresenta variações
periódicas no tocante à velocidade e volume da massa de água em movimento, assim
como a estrutura do canal fluvial que se dispõe mais estreita e profunda ou mais
larga e rasa em determinadas áreas. Mesmo assim o Solimões apresenta capacidade
de mobilizar intensamente grandes quantidades de sedimentos ao longo do ano
representados principalmente por argilas oriundas das vertentes dos Andes. Logo,
o elevado gradiente associado a uma grande amplitude em termos de vazão e volume
de sedimentos anuais favorece a formação de um padrão ramificado caracterizado
por ilhas, meandros e diversos talvegues no leito do Solimões (NOVO, 2008).
Observa-se que no ano de 2002 (figura 1) no sudoeste da ilha de Santa Rosa, no
Peru, localizada a frente de Tabatinga, no Brasil, ainda não sofria intenso
processo erosivo. No entanto, para o ano de 2012 instalou-se processo de
sinuosidade do canal principal, relativo ao padrão de meandramento (GUERRA e
GUERRA, 2010) do Solimões, em direção à ilha com reflexos para a sede do
município de Tabatinga. Para o ano de 2012, na margem a sudoeste da ilha ocorreu
processo avançado de erosão e na margem oposta observou-se a formação de um
banco arenoso, estrutura relacionada à realização de deposição sedimentar. No
ano seguinte, 2013, a barra arenosa foi removida pelo rio (figura 2), mas o
processo erosivo em Santa Rosa foi acentuado. Essa situação caracteriza a
cofiguração de sinuosidade no leito do rio que se prolonga à Tabatinga, com sede
assentada sobre terraços fluviais. Estes por sua vez encontram-se sujeitos a
ocorrência dos processos erosivos, denominados regionalmente por Terras Caídas,
representados por abatimentos de solos, deslizamentos, escorregamentos,
desmoronamentos e quedas de blocos (IGREJA, CARVALHO E FRANZINELLI, 2010). O
elevado volume de água e sedimentos que flui no canal principal do Solimões se
comporta como um molhe hidráulico que barra o fluxo presente no canal secundário
e o comprime em direção à Tabatinga, desestabilizando os terraços fluviais.
Ressalta-se a análise de duas situações que se apresentam em diferentes
momentos, mas promovem consequências em função da atuação do canal principal do
rio como molhe hidráulico. A primeira situação ocorre durante o período de cheia
no qual, grandes volumes de água e sedimentos são pressionados contra o terraço
fluvial na margem de Tabatinga, mais especificamente na localidade da Comara,
elevando o atrito entre ambos e intensificando o processo erosivo de corrasão
(CHRISTOFOLETTI, 1980) e desencadeando movimentos de massa. A segunda situação
se apresenta no período de vazante do rio quando há o alívio de pressão seguido
de desestabilização da estrutura dos terraços e a consequente movimentação de
massa, por conta da redução dos volumes de água e sedimentos. Ressalta-se ainda
que na área correspondente a ocorrência dos movimentos de massa observa-se um
considerável estreitamento do canal do Solimões elevando a pressão sobre o fluxo
e consequentemente a velocidade do mesmo.
Os terraços em questão já passaram por mudanças no tocante à retirada da
cobertura vegetal nativa, ocupação residencial e recreativa, construção de valas
para escoamento de efluentes domésticos, abrigando mais recentemente a usina de
asfalto alocada em Tabatinga. As movimentações de massas denominadas de Terras
Caídas já ocasionaram a destruição de diversas casas e, conforme os processos
erosivos avançam, a população abandona as moradias. Com a continuidade do
processo erosivo na ilha peruana de Santa Rosa é possível que o molhe hidráulico
se desloque alguns metros para montante passando a atuar sobre o fluxo do canal
secundário e desencadeando novos processos erosivos na área localizada próxima a
pista do aeroporto internacional de Tabatinga.
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Imagem do GoogleEarth que apresenta os aspectos fisiográficos do Rio Solimões no ano de 2002 em Tabatinga, AM, na região da tríplice fronteira.
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Imagem do GoogleEarth que apresenta a erosão em Santa Rosa e o barramento do fluxo secundário pelo fluxo principal do rio em Tabatinga no ano de 2013.
Conclusões
A área estudada apresenta-se sob a ação de processos erosivos influentes na atuação dos trabalhos de transporte e deposição sedimentar do Solimões. As margens do rio na ilha de Santa Rosa e em Tabatinga sofrem a atuação de sistemas erosivos, enquanto a margem oposta apresenta deposição de sedimentos, fatos que demonstram a ocorrência e avanço de processo relacionado à sinuosidade do canal. Os terraços fluviais em Tabatinga encontram-se sujeitos aos processos erosivos. Tal situação resulta em transtornos para a população local e gestores públicos, por conta da ocorrência de abatimentos de solos, desmoronamentos, escorregamentos, deslizamentos, e quedas de blocos.
Agradecimentos
Agradeço a Universidade do Estado do Amazonas e a Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas pelo apoio acadêmico e financeiro.
Referências
CARNEIRO, Deize de Souza. Morfodinâmica fluvial do rio Solimões, trecho Tabatinga a Benjamin Constant –AM e suas implicações para o ordenamento territorial. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2009. Dissertação (Mestrado em Geografia), 151 f.
CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blücher, 1980.
GUERRA, Antonio Teixeira, GUERRA, Antonio José Teixeira. Novo dicionário geológico-geomorfológico. 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
GOOGLE EARTH. <http://mapas.google.com> acessado 15/08/2014.
IGREJA, Hailton Luiz Siqueira da, CARVALHO, José Alberto Lima de, FRANZINELLI, Elena. Aspectos das Terras Caídas na Região Amazônica. In: RABELLO, Adoréa. Contribuições Teórico-metodológicas da Geografia Física. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2010.
NOVO, Evlyn M. L. de M. Ambientes Fluviais. In: FLORENZANO, Tereza G. (org.). Geomorfologia: conceitos e técnicas atuais. São Paulo: Oficina de Textos, 2008, p. 219-246.
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