ANÁLISE COMPARATIVA DE PERFIS LONGITUDINAIS DE AFLUENTES DO RIO TIBAGI (PR)
Autores
Firmino, I.G. (UEM) ; Souza Filho, E.E. (UEM)
Resumo
O presente artigo faz uma análise morfométrica comparativa entre 12 afluentes localizados ao longo de um percurso de 108 km da porção média e alta do rio Tibagi (PR), com o objetivo de localizar anomalias ligadas à neotectônica. Os rios foram divididos de acordo com seu substrato rochoso, e as maiores anomalias foram identificadas nos cursos do Gr Itararé, que podem estar associadas às estruturas ou falhas ativas.
Palavras chaves
Perfil longitudinal; Neotectônica; Rio Tibagi
Introdução
O perfil longitudinal de um rio representa as variações de seu gradiente ao longo de seu curso. Quando sua forma obedece a uma função logarítmica é provável que o canal esteja em equilíbrio (perfil ideal), indicando que os processos de erosão, transporte e deposição encontram-se em igualdade (Morisawa, 1968; Etchebehere, 2000; Cunha, 2008), embora com diferentes locais de predomínio. Contudo, as diferenças litológicas do substrato, as zonas de falhas, as falhas ativas, a presença de altos ou baixos estruturais ativos, o aumento da descarga provocada por um afluente importante provocam modificações no perfil ideal, criando anomalias. Tais anomalias podem ser utilizadas para a detecção de falhas ativas (McKeown et al., 1988; Acklas Jr. et al., 2003), mas para isso é necessário que as demais causas possam ser descartadas. A porção média e alta do rio Tibagi (PR) abrange a área de Telêmaco Borba, considerada por Mioto (1993) como a principal região sismogênica do Estado do Paraná, e o perfil longitudinal deste rio e os perfis de seus afluentes podem apresentar anomalias decorrentes de atividade tectônica recente. Contudo, a área está situada no flanco norte do Alto de Ponta Grossa, sobre rochas da Bacia do Paraná (Fm Furnas (D), Fm Ponta Grossa (D), Gr Itararé (PC) e diques da Fm Serra Geral (JK)) e a diversidade litológica dificulta a identificação de anomalias ligadas à neotectônica. O objetivo deste trabalho é analisar os perfis longitudinais dos afluentes do rio Tibagi que correm sobre uma única unidade estratigráfica de forma a identificar anomalias que possam estar relacionadas à neotectônica. Tal abordagem representa uma das avaliações iniciais de um projeto que pretende avaliar as morfoestruturas da área próxima a Telêmaco Borba e Tibagi por meio de diferentes métodos e o procedimento aqui adotado visa a seleção de locais para a realização de estudos adicionais.
Material e métodos
A área de estudo está situada entre as coordenadas do quadrante 24º45’ S; 50º15’ W e 24º15’ S; 50º45’ W (Figura 1). Ao longo dos 108 km do rio Tibagi, foram selecionados 12 afluentes em diferentes condições de substrato, sendo que dois deles correm sobre os arenitos da Fm Furnas e sobre pelitos da Fm Ponta Grossa, outros dois cortam as rochas da Fm Furnas, três cortam a Fm Ponta Grossa e os outros cinco cortam os arenitos, pelitos e diamictitos do Gr Itararé (Figura 1). O comprimento dos cursos fluviais foi medido a partir da ferramenta “régua” do software Google Earth©. Os valores altimétricos foram obtidos a partir das folhas de 1:50.000 do IBGE (Telêmaco Borba – SG.22-X-A-I-4, Rincão da Ponte – SG.22-X-A-II-3, Caetano Mendes – SG.22-X-A-IV-2 e Tibagi – SG.22-X-A-V-1). Os dados foram transportados para o software Excel 2010, onde foram elaborados os perfis longitudinais a partir de gráficos, onde o eixo das coordenadas corresponde às altitudes (m) e o eixo das abscissas a extensão do curso fluvial (km). Os dados geológicos foram obtidos a partir da Folha de Telêmaco Borba da MINEROPAR (2006). Os perfis foram avaliados de acordo com sua declividade média, variação altimétrica, forma e presença de anomalias. Estas últimas foram identificadas por meio da existência de ruptura de declive que representam níveis de base locais. Cada anomalia foi classificada como pequena, média ou grande, de acordo com o quanto ela se distancia do perfil médio (best line).
Resultado e discussão
Todos os rios analisados possuem gradiente muito elevado (Figura 1) e, ainda que
vários deles apresentem segmentos com declividade menor, os valores ainda são da
ordem de metro por quilômetro (Figura 2), o que os caracteriza como erosivos.
As diferenças de altitude entre as nascentes e as desembocaduras dos rios
(Figura 1) mostra uma tendência de diminuição para jusante, mas também
demonstram diferenças altimétrica entre os divisores de água do rio Tibagi. É
possível que tais diferenças sejam propiciadas pela existência de blocos altos
de falhas que controlam o rio principal. Os arroios dos Pampas, São Domingos,
das Casas, Laranjeira e o Córrego Barreirinho encontram-se em blocos altos e sua
distribuição (Figura 1) indica a alternância de blocos altos e baixos ao longo
do rio Tibagi.
Em termos de forma do perfil, apenas o ribeirão Lageadinho se aproxima do perfil
ideal, seguido dos cursos que cortam apenas a Fm Ponta Grossa. Os rios que
drenam o Gr Itararé mostram um considerável aumento de gradiente no final de seu
curso, provavelmente devido a uma maior taxa de incisão vertical do rio Tibagi e
de níveis de base importantes nestes cursos.
Os perfis permitiram identificar 11 anomalias de maior expressão (Figura 1). A
do Arroio da Ingrata pode estar relacionada à foz de um tributário. As demais
ocorrem nos rios que cortam o Gr Itararé e podem estar associadas aos diques que
cortam transversalmente os canais e que sustentariam os níveis de base já
mencionados. Em todos os casos há possibilidade de existência de falhas, mas
ainda não é possível avaliar a existência de atividade tectônica recente, embora
estes locais sejam aqueles que merecem maior atenção na continuidade do estudo.
Perfis longitudinais dos rios estudados e os respectivos substratos geológicos.
Nome e localização dos 12 rios estudados, substrato geológico da área, altitude do curso, declividade média e número de anomalias de diferentes graus.
Conclusões
Os doze rios analisados são erosivos e apenas um deles se aproxima do perfil de um rio em equilíbrio. As variações altimétrica entre as nascentes e as desembocaduras indicam a alternância de blocos altos e baixos nas margens do rio Tibagi. Todos os cursos apresentam anomalias, mas em apenas seis deles elas são de grande porte. Uma das anomalias pode ser explicada por fatores hidrológicos e as outras dez podem estar associadas à presença de diques de diabásio ou estruturas tectônicas ativas, apesar disso, foram selecionadas para uma verificação mais detalhada.
Agradecimentos
A CAPES e ao CNPq pela bolsa de mestrado e de Produtividade em Pesquisa.
Referências
ACKLAS Jr. R.; ETCHEBEHERE, M. L. C.; CASADO, F. C. (2003). Análise de perfis longitudinais de drenagens do Município de Guarulhos para a detecção de deformações neotectônicas. Revista UnG – Geociências, ano 6, n. 8, p. 64-78.
CUNHA, S. B. Geomorfologia Fluvial. In: GUERRA, A. J. T & CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Bertrand Brasil, 8ª Ed., Rio de Janeiro, RJ; 2008.
ETCHEBEHERE, M. L. C. (2000). Terraços neoquaternários no vale do Rio do Peixe, Planalto Ocidental Paulista: implicações estratigráficas e tectônicas. 2v. Tese (Doutorado) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.
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McKEOWN, F.A. et al. (1988). Analysis of stream-profile data and inferred tectonic activity, Eastern Ozark Mountain region. Denver. U.S. Geol. Survey Bull. 1807, 39 p.
MINEROPAR – MINERAIS DO PARANÁ S. A. (2006). Mapa Geológico da Folha de Telêmaco Borba, Folha SF-22-X-A. Secretaria de Indústria, Comércio e do Turismo do Estado do Paraná. Escala: 1: 250.000. Curitiba.
MIOTO, J. A. (1993). Sismicidade e Zonas Sismogênicas do Brasil. São Paulo, 2v. (Tese de Doutoramento, IGCE, Instituto de Geociências-UNESP).
MORISAWA, M. (1968). Stream, their dynamics and morfology. McGraw- Hill Boock Company, New York, 175 p.