Evolução Geomorfológica da bacia hidrográfica do córrego Morumbi, Faxinal, Estado do Paraná
Autores
Camolezi, B.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ) ; Fortes, E. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ) ; Portelinha, D.K. (SEED-PR)
Resumo
A análise da rede de drenagem constitui bom indicador para a avaliação de alterações geomorfológicas, incluindo aquelas de natureza estrutural. Desta forma o presente trabalho teve como objetivo uma análise sobre a rede de drenagem, a partir de fotointerpretação e avaliações em campo, a fim de se estabelecer possíveis áreas com influência morfoestrutural e morfotectônicas. Algumas características dos canais fluviais permitiram inferir a influência desses fatores no modelado da rede de drenagem.
Palavras chaves
análise morfoestrutural; rede de drenagem; Faxinal
Introdução
Pesquisas que consideram a influência da tectônica na formação do relevo são relativamente recentes no Brasil, sendo mais difundidas após a década de 1970. Contudo, as pesquisas que consideram eventos de tectonismo recente carecem de métodos adequados, pois, em sua maioria, utilizam métodos da Geologia Estrutural, sendo negligenciadas as propostas de evolução geomorfológica (COUTO, 2011). Na tentativa de suprir essa busca por métodos, a análise quantitativa e qualitativa da rede de drenagem vem sendo aplicada a fim de caracterizar processos morfotectônicos e/ou morfoestruturais e apresentam importante contribuição pela sensibilidade dos canais fluviais às alterações nos níveis de base (SCHUMM, 1977). A rede de drenagem é um importante elemento geomorfológico, pois sua arquitetura e geometria podem dar subsídios ao entendimento da evolução geomorfológica de determinada área. Segundo Howard (1967), a rede de drenagem se modifica apresentando padrões e formas de acordo com estruturas do modelado do relevo, apresentando um significado litoestrutural, morfoestrutural e morfotectônico. Quando essas formas são distoantes do padrão regional, são caracterizadas como anomalias de drenagem. A anomalia de drenagem pode ser definida como um desvio da drenagem regional e ou do padrão do canal que, em outra área, está de acordo com as estruturas regionais ou topografia (HOWARD, 1967). DeBlieux (1949 apud HOWARD, op. cit.) afirma que o padrão que se é esperado para determinadas condições é considerado como normal, enquanto que o que difere é classificado como anomalias. Essas anomalias sugerem desvios nas estruturas ou na topografia regional. Dessa forma, a análise da rede de drenagem serviu como elemento fundamental para a análise da influência morfoestrutural e morfotectônica na evolução geomorfológica da bacia hidrográfica do córrego Morumbi (Figura 1).
Material e métodos
A metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho teve como ponto inicial a análise de dados geomorfológicos e geológicos que analisados sistematicamente possibilitam a formulação de hipóteses e pressupostos para o entendimento do quadro evolutivo geomorfológico da área de estudo. Para que esses dados fossem obtidos, uma série de procedimentos metodológicos foram realizados, levando em consideração sua relevância tanto em escala local quanto regional. Desses procedimentos destacamos: a fundamentação teórico- metodológica com base na literatura geológica-geomorfológica; interpretação de fotografias aéreas; aplicação de análises morfométricas como inferência de dados morfoestruturais/morfotectônicos; trabalhos de campo para coleta de dados de caráter estrutural e aferição dos resultados da fotointerpretação; análise dos dados e interpretação dos resultados obtidos. Desta forma, optou-se por utilizar fotografias aéreas para elaboração do mapeamento geomorfológico e geológico, sempre com o apoio dos dados aferidos e obtidos em trabalhos de campo. Na etapa da fotointerpretação iniciou-se com a extração da rede de drenagem e feições fluviais. Posteriormente foram extraídas algumas geoformas como: feições erosivas (voçorocas, escarpas erosivas, bordas erosivas de canais), feições estruturais (borda de patamar estrutural, escarpa estrutural, cristas alinhadas em diques de diabásio, ressaltos litológicos) e feições deposicionais (zonas de deposição colúvio-aluvial, depósitos de fluxos gravitacionais) dentre outros.
Resultado e discussão
Através da fotointerpretação foi possível identificar algumas anomalias nos
canais da bacia do córrego Morumbi. Três tipos principais de anomalias foram
identificadas: curvaturas abruptas, retilinilaridade e meandramento local. Além
desses três tipos foi identificada uma captura fluvial.
As curvaturas abruptas ocorrem em toda a bacia, porém com mais frequência no
córrego Morumbi. Essas curvaturas formam ângulos retos, podendo ser resultado de
movimentações de falhas perpendiculares à direção dos canais. Na literatura
muitas dessas anomalias são tratadas como capturas fluviais, porém não é
possível a identificação de vales secos ou depósitos que possam comprovar essas
ideias.
A retilinilaridade é um tipo de anomalia que diz respeito à assimetria dos
canais. Na área de estudo, essas anomalias ocorrem da seguinte forma: presença
de canais em apenas uma das margens e canais extensos em uma margem e curtos na
margem oposta. Essas anomalias podem ser justificadas por basculamento de blocos
que alteram a topografia local, aumentando a declividade e consequentemente a
formação de novos canais. Na maioria dos casos observados na área de estudo os
afluentes estão concentrados na margem esquerda, ocorrendo sempre paralelos.
A diferença de densidade de drenagem entre os afluentes do ribeirão Três Barros
e do córrego Morumbi pode estar associada às maiores altitudes no setor
ocidental da bacia do córrego Morumbi e também pelo provável deslocamento do
canal para o setor ocidental, como apresentado por dados morfométricos da bacia.
Em menor escala ocorrem alguns meandramentos locais. Esse tipo de anomalia
ocorre de forma abrupta em padrões de drenagem ou em canais essencialmente
retilíneos, sendo causados por uma mudança no gradiente do canal. Esses meandros
encontram-se comprimidos, podendo indicar movimentações crustais ascencionais.
Se essa movimentação for rápida ocorre o aprofundamento do canal, formando um
meandro encaixado.
Finalmente, a partir dos lineamentos traçados na área de estudo e sua correlação
com a rede de drenagem foi possível à identificação de alguns sistemas de falhas
e inferir uma movimentação, com base nos desvios da rede de drenagem. Cinco
sistemas foram identificados: um no alto curso, um no médio e um no baixo curso
do córrego Morumbi e um no baixo curso e no médio curso do ribeirão Três Barros
(Figura 1).
Um sistema transcorrente sinistral foi identificado no alto curso do córrego
Morumbi. Esse sistema tem início nas cabeceiras de drenagem do canal e percorre
pouco mais de 2km. Há uma série de falhamentos transcorrentes em arco, formando
fraturas no sentido E-W que desviam o canal, até que encontre uma falha NW-SE e
volte a percorrer essa direção. Nessa área esses desvios ocorrem sucessivamente,
com o canal defletindo sempre para a sua margem esquerda.
O segundo sistema identificado ocorre no médio curso do córrego Morumbi. Foram
identificados alguns desvios bruscos no canal principal, formando ângulos de
90º. O canal inicialmente possuia direção N-S encontra falha no sentido E-W e
volta a percorrer a direção N-S. O canal estaria sobre falhas transcorrentes com
componente sinistral, porém com uma menor dimensão do que no sistema anterior.
No terceiro sistema de falhas o sistema transcorrente apresenta componente
dextral. O córrego Morumbi fluia na direção NE-SW, encontra uma falha NW-SE, e
volta a encontrar uma falha, voltando a fluir na direção NE-SW.
O quarto sistema também ocorre nessa área, porém no ribeirão Três Barros, um
sistema transcorrente sinistral, onde o canal possuia orientação NW-SE e passa a
fluir para E-W até encontrar o córrego Morumbi.
É nessa área onde o córrego Morumbi recebe o ribeirão Três Barros, a existência
desses sistemas nos leva a hipótese de uma captura fluvial. Todas essas mudanças
sucessivas no córrego Morumbi levam a essa predição. Se não houvesse esse
sistema de falhas no baixo curso, o córrego Morumbi estaria fluindo para outra
direção, paralelo à direção do ribeirão Três Barros.
Localização da área de estudo
Sobreposição da rede de drenagem com os lineamentos estruturais, indicando as anomalias de drenagem
Conclusões
Os resultados da fotointerpretação tanto geológica quanto geomorfológica foi essencial para a compreensão da dinâmica geomorfológica da bacia hidrográfica do córrego Morumbi e da sua rede de drenagem. Esses dados mais refinados podem auxiliar na compreensão dos condicionantes geomorfológicos em uma escala mais regional, levando-se em conta os demais trabalhos realizados por Manieri (2010), Santos F. (2010), Couto (2011), Couto et al., (2011; 2012), Fortes et al., (2011), Vargas (2012) e Camolezi et al., (2012). A sobreposição da rede de drenagem e dos lineamentos permitiu inferir cinco sistemas de falhas atuando na configuração da rede de drenagem da área de estudo, três delas no córrego Morumbi e duas no ribeirão Três Barros. São falhamentos transcorrentes em arcos, sinistrais ou dextrais que através de sua movimentação propiciaram o desvio da rede de drenagem, culminando em uma captura de drenagem do córrego Morumbi pelo ribeirão Três Barros.
Agradecimentos
Referências
CAMOLEZI, B. A.; FORTES, E.; MANIERI, D. D. Controle estrutural da rede de drenagem com base na correlação de dados morfométricos e morfoestruturais: o caso da bacia do ribeirão São Pedro – Paraná. Revista Brasileira de Geomorfologia, Brasília, v. 13, n. 2, p. 201-211, 2012.
COUTO, E. V. Influência morfotectônica e morfoestrutural na evolução das drenagens nas bordas planálticas do Alto Ivaí – Rio Alonzo – Sul do Brasil. 123 f., 2011. Dissertação (Mestrado em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil.
COUTO, E. V.; MANIERI, D. D.; MANOSSO, F. C.; FORTES, E. Correlação Morfoestrutural da Rede de Drenagem e Lineamentos da Borda Planáltica, Faxinal - Paraná. Geociências, UNESP, Rio Claro, v. 30, n. 3, p. 315-326, 2011.
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FORTES, E.; SORDI, M. V.; CAMOLEZI, B. A.; VOLKMER, S. Controle morfoestrutural e tectônico da evolução dos depósitos de fluxos gravitacionais da bacia do ribeirão Laçador - Paraná, Brasil: uma abordagem preliminar. In: XIII Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário e III Encontro do Quaternário Sul-Americano, 2011, Armação dos Búzios. Anais..., p. 1-5, 2011.
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MANIERI, D. D. Comportamento Morfoestrutural e Dinâmica das Formas do Relevo da Bacia Hidrográfica do Rio São Pedro, Faxinal - PR. 103 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. 2010.
SANTOS, F. R. Condicionamento morfoestrutural do relevo e neotectônica da bacia hidrográfica do Bufadeira – Faxinal/PR. 56 f. 2010. Dissertação (Mestrado em Geografia) Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. 2010.
SCHUMM, S. A. The Fluvial System. John Wiley & Sons Press, Colorado, 337 p. 1977.
VARGAS, K. B. Caracterização morfoestrutural e evolução da paisagem da bacia hidrográfica do ribeirão Água das Antas – PR. 98 f., 2012. Dissertação (Mestrado em Geografia) Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil.