Aplicação de Perfis de Varredura na Análise Geomorfológica do Relevo de Borda Planáltica e Mapeamento de Superfícies Estruturais

Autores

Fortes, E. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ) ; Dal Santo, T. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ) ; Volkmer, S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ)

Resumo

O presente trabalho teve como principal objetivo a aplicação de perfis de varredura para análise geomorfológica na borda planáltica entre o Segundo e Terceiro Planaltos Paranaenses. Os perfis de varredura permitem reconstituir a inclinação dos planos tangenciais às linhas de cumeada e a identificação de faixas de transição de patamares. Foram identificadas oito superfícies estruturais (SE), que são controladas e delimitadas por falhas normais e definem o Alto Estrutural de Mauá da Serra.

Palavras chaves

Borda Planáltica; Perfil de Varredura; Perfil Topográfico

Introdução

A área de estudo encontra-se localizada no centro-norte do Estado do Paraná abrange as cartas de Rio Bom, Mauá da Serra, Faxinal e Bairro dos França (Figura 1). A área corresponde a uma zona marcada por forte assimetria de relevo, formada por dois conjuntos de expressão regional representado pela transição do Segundo com o Terceiro Planalto. A área de estudo compreende dois conjuntos importantes representados por um alto topográfico, localizado na parte central e um baixo topográfico, localizado na parte sul, este último profundamente dissecado pelo sistema hidrográfico do rio Alonzo, afluente do rio Ivaí. As rochas que compõem as diferentes sequências de superfícies geomorfológicas estão associadas da base para o topo, pela Fm. Rio do Rasto, que ocupam as áreas mais baixas do relevo. Ela é composta por siltitos laminados e aspecto pastilhado, com intercalações de argilitos e arenitos finos. Sobrepostas ocorrem ás formações Pirambóia e Botucatu, esta última formando escarpas, por vezes abruptas e às vezes mais rebaixadas. A primeira é constituída por litologias arenosas e friáveis, num pacote de até 20 metros de espessura, com predomínio de arenitos finos. A Fm. Botucatu é constituída por arenitos médios a finos, localmente grossos e conglomeráticos. Ela pode ser separada em dois pacotes, representados por uma porção basal com cerca de 50 metros de espessura, indicativo de Fácies Eólica e constituído por arenitos vermelhos. O pacote superior é representado por uma Fácies Torrencial, com cerca de 20 metros de espessura, composta por arenitos médios a grossos, às vezes conglomeráticos. Sobreposto aos arenitos da Fm. Botucatu ocorre efusivas básicas toleíticas com basaltos maciços e amigdaloidais, afaníticos, cinzentos e pretos. Sobrepostos a toda a sequência litoestratigráfica da área em discordância erosiva e ocupando diversos compartimentos de relevo, ocorrem depósitos sedimentares inconsolidados cenozóicos.

Material e métodos

Os perfis de varredura permitem reconstituir a inclinação dos planos tangenciais às linhas de cumeada e identificar faixas de transição dos degraus ou patamares na área que está sendo analisada (MEIS, MIRANDA e FERNANDES, 1982). Os perfis de varredura foram elaborados seguindo a metodologia de Meis, Miranda e Fernandes (1982). Estes perfis são traçados transversal ou longitudinalmente à área em análise. A largura dos perfis se estende por uma faixa de 20 cm de largura e comprimento é variável. Para a elaboração do perfil foram extraídos os pontos cotados das cartas topográficas de Rio Bom, Mauá da Serra, Faxinal e Bairro dos França, na escala de 1:50.000. Os dados de altimetria como, as curvas de nível, a hipsometria e a declividade foram extraídos das imagens de SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) que recobrem a área de estudo. Estas imagens encontram-se disponibilizadas para download pelo site do Projeto Topodata <http://www.webmapit.com.br/inpe/topodata/>. As imagens de SRTM foram convertidas do sistema de projeção cartográfica original, Geográfica e datum horizontal WGS 84, para a projeção cartográfica Universal Transversa de Mercator (UTM) e como referência horizontal, o datum SAD 69 (South American Datum). Para a confecção dos mapas de geomorfologia e geologia foi utilizados os dados disponibilizados em arquivos shapefile pelo ITCG. Devido à limitação de espaço, não foi possível inseri-los nesse trabalho. Todos os produtos cartográficos deste trabalho foram trabalhados em ambiente SIG (Sistema de Informação Geográfica) e, para isto, utilizou-se os softwares ArcGis 9.3 e Global Mapper 11. Os perfis de varredura e os perfis topográficos foram finalizados no software CorelDraw X3. Os resultados obtidos foram comparados com trabalhos feitos por Fortes et al. (2008), Santos (2010), Manieri (2010), Couto (2011), Vargas (2012), Camolezi et al. (2012), Camolezi (2013), Couto, et al. (2013), Sordi (2014), Fortes e Sordi (2014).

Resultado e discussão

Resultados e Discussões O perfil de varredura (Figura 1) apresenta uma extensão de 77 km e uma variação altimétrica de 800 metros, limitando-se entre as cotas de 400 e 1.200 metros de altitude. O perfil topográfico (Figura 2) traçado na mesma área foi definido entre as cotas altimétricas de 500 e 1.200 metros. No seu flanco sul a depressão do rio Alonzo marca uma importante descontinuidade nesse padrão de relevo, cujas escarpas evidenciam um forte recuo erosivo do alto estrutural o qual denominamos de Alto Estrutural de Mauá da Serra. O perfil de varredura evidencia um desnivelamento dos topos das elevações, decaindo de 1.200 metros de altitude, junto ao Morro das Antenas até 400 metros no vale do rio Alonzo. Na parte sudoeste junto a Serra da Caneleira, outra estrutura se impõe na paisagem e é descrita por VARGAS (2012) como associada a um Horst, parcialmente erodido pelos rios Branco e Água das Antas. A partir da análise dos perfis foi possível constatar a presença de sete superfícies estruturais (SE). A SE 1 constitui a superfície mais elevada do arqueamento, em altitude de 1.200 metros, marcando a cimeira topográfica regional. Na Figura 1 é possível perceber a presença de uma faz parte de uma estrutura circular profundamente erodida. O predomínio de arenitos silicificados da Fm. Botucatu junto às bordas desta estrutura circular evidencia a dissecação dessa estrutura. A presença de arenitos da Fm. Botucatu nessa altitude (1200 m) e basaltos junto a SE 2, situados em altitude de cerca de 1.050 metros, demonstram um rejeito de falha da ordem de cerca 150 metros. O escalonamento também pode ser obsevado na SE 3, junto ao rio Bufadeira, que apresenta um desnível da ordem de 100 metros. A SE 4 ocorre em ambos os flancos do alto estrutural. No flanco sul, correspondente também à área do rio Bufadeira que SANTOS (2010) sugere um compartimento rebaixado a partir de falhas normais e por ele denominado de Subcompartimento Morfotectônico das Baixas Superfícies Desniveladas. A SE 5 apresenta ampla distribuição ao longo de todo o perfil, desde a Serra da Caneleira e dos Porongos, na parte sudoeste da área, até o flanco nordeste do Alto de Mauá da Serra. Embora a presença de diques de diabásio possa impor um controle dos picos por erosão diferencial, a paisagem nesses setores é dominada por extensas cornijas estruturais de arenitos da Fm. Botucatu. O forte desnivelamento dos arenitos da Fm. Botucatu dessa área, quando comparado com os arenitos da mesma formação no Morro das Antenas, evidenciaria um rejeito da ordem de 450 metros. A SE 6 ocorre de forma isolada junto ao flanco nordeste, na região do rio Apucaraninha. A SE 7 ocorre vinculado apenas ao flanco sudoeste do arqueamento e compreende o baixo curso do rio Bufadeira. Essa superfície corresponde ao domínio de rochas sedimentares da Fm. Rio do Rasto o que sugere um controle ligado à erosão diferencial. A SE 8 corresponde a superfície mais baixa, situada próximo a cota de 400 metros de altitude. Compreende toda a depressão do rio Alonzo e do rio Branco, situados na parte sudoeste da área, embasada por rochas da Fm. Rio do Rasto. O aspecto dômico desse alto estrutural, associado desnivelamentos das superfícies e das litologia, bem como a depressão circular localizada no topo do domo, sugere a presença de uma estrutura arqueada representada possivelmente por um corpo lacolítico penecontemporâneo a Fm. Serra Geral, que permitiu por um soerguimento diferenciado da área, em relação às áreas circunvizinhas. A idade desse evento pode ser situada entre o Cretáceo e o Terciário, considerando que as coberturas ígneas do Alto de Mauá da Serra se encontrarem erodidas. Contudo, a idade da sucessão de desnivelamentos ainda é discutível, poderia ser contemporânea a esse evento ou ter se desenvolvido de forma contínua até os tempos atuais.

Figura 1

Hipsometria e Localização da área.

Figura 2

Perfil de Varredura e topográfico.

Conclusões

A aplicação da técnica de perfil de varredura, associado a estudos complementares, demonstrou a presença de um importante alto estrutural, no qual denominamos de Alto Estrutural de Mauá da Serra e que teve participação importante no desenvolvimento do relevo regional. Associados ao Alto Estrutural de Mauá se desenvolveram oito superfícies estruturais, limitadas por falhas normais de grande rejeito. A idade do alto estrutural é incerta, porém as relações estratigráficas e estruturais sugerem, para as superfícies mais elevadas, idade juro-cretácea, penecontemporânea aos derrames fissurais da Bacia Sedimentar do Paraná. A atividade tectônica quaternária é sugerida pela presença de falhas normais em estilo dominó junto a Fm. Rio do Rasto e que afetam as coberturas inconsolidadas quaternárias. A aplicação da metodologia dos perfis de varredura mostrou-se satisfatória para o reconhecimento de patamares e níveis altimétricos.

Agradecimentos

Agradecemos ao Grupo de Estudos Multidisciplinares do Ambiente (GEMA) e ao Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá pelo apoio no desenvolvimento desse trabalho.

Referências

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