COMPARTIMENTAÇÃO MORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DO CAMBUÍ-MG, A PARTIR DE DADOS MORFOMÉTRICOS E ESTRUTURAIS

Autores

Oliveira, T.A. (INSTITUTO FEDERAL DO SUL DE MINAS GERAIS)

Resumo

Este trabalho apresenta a compartimentação morfológica da bacia hidrográfica do ribeirão do Cambuí, inserida na porção meridional da Serra da Mantiqueira, sul do estado de Minas Gerais, pelo estudo da morfometria e dos lineamentos litoestruturais. A morfologia da região, geneticamente relacionada à atividade tectônica cenozoica, é caracterizada por uma paisagem organizada em padrões observáveis pela disposição de elementos de relevo e drenagem.

Palavras chaves

Mapeamento Morfológico; Morfometria; Tectônica Cenozoica

Introdução

A morfologia da região sul do estado de Minas Gerais, áreas correlatas à porção meridional da Serra da Mantiqueira, encontra-se geneticamente relacionada à atividade tectônica cenozoica. Os resultados daí advindos apontam para arranjos de relevo e drenagem em acordo com as orientações dos lineamentos litoestruturais existentes na área. Essa relação, entre a tectônica e a morfologia no contexto supracitado, foi retratada em trabalhos apresentados por Martonne (1943;1944), Freitas (1951) e Ab’Sáber (1970) que, em apreciações escalares mais abrangentes, enfatizaram a importância do componente tectônico na gênese e conformação dos elementos de relevo e drenagem. Mais recentemente Magalhães Jr. e Diniz (1997) e Magalhães Jr. e Trindade (2004;2005), em estudos desenvolvidos na mesma região sobre os padrões e direções de drenagens na bacia do rio Sapucaí, sobre a relação entre paleoníveis topográficos e domínios morfotectônicos e sobre a morfodinâmica fluvial cenozoica em zonas de contato entre estruturas geológicas lineares, respectivamente, enfatizaram, mais uma vez, a importância do fator litoestrutural como elemento responsável pela organização dos padrões morfológicos à superfície. A comunicação de Marques Neto e Perez Filho (2013) sobre o papel da tectônica na dinâmica e evolução da paisagem na Serra da Mantiqueira descerrou o cenário que aqui será considerado, de forma mais pontual, para o desenvolvimento da compartimentação morfológica da bacia hidrográfica do ribeirão do Cambuí, em escala 1:50.000, com base em informações morfométricas e estruturais. Na bacia hidrográfica do ribeirão do Cambuí o vínculo com a tectônica é denunciado pela morfometria por meio das declividades, da hipsometria e da orientação das vertentes. Em consequência, a paisagem morfológica apresenta-se caracteristicamente organizada em padrões, observáveis pela disposição dos elementos de relevo e drenagem.

Material e métodos

Foram utilizadas bibliografias especializadas; cena ASTER (Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer) do satélite EOS AM-1, meridiano central 46° W Gr., com resolução espacial de 30x30 metros; Folha topográfica Itajubá (IBGE, 1971), 1:50.000; Mapa Geológico da folha Itajubá (TROUW et. al., 2008), 1:100.000; softwares Global Mapper 11 e ArcGis 9.3. A Folha topográfica, a imagem ASTER e o mapa geológico foram georreferenciados e ajustados no software Global Mapper 11, para a elaboração da base cartográfica da bacia. No mesmo software foi delineado um cenário morfoestrutural da área pela análise e interpretação textural da imagem ASTER. Procedeu-se ao estudo das propriedades dos elementos de relevo e drenagem considerando-se rupturas de declive, lineações, densidades e tropia, o que possibilitou a determinação dos principais lineamentos estruturais e a associação de padrões com propriedades similares, definindo-se zonas homólogas em acordo com orientações de Soares e Fiori (1976). Em manipulação à imagem ASTER, no software ArcGis 9.3, foram elaborados os mapas: hipsométrico, a partir das informações altimétricas da imagem, com cinco classes de altitudes definidas entre inferiores 860 m a superiores 1550 metros; de declividades, mediante a utilização da ferramenta slope, calibrada em graus, com seis classes com valores distribuídos entre <5° a >45°; de orientação das vertentes, pela manipulação da ferramenta aspect, que permite a visualização angular da exposição das vertentes, calibrada para representar os quadrantes Norte, Nordeste, Leste, Sudeste, Sul, Sudoeste, Oeste e Noroeste. Para a definição das classes dos mapas morfométricos utilizou-se o método manual da ferramenta classified, menu LAYER PROPERTIES. As informações morfoestruturais, morfométricas e geológicas foram integradas para a definição dos compartimentos morfológicos da bacia hidrográfica em questão. Atividades em campo auxiliaram o ajuste das informações registradas em gabinete.

Resultado e discussão

A bacia hidrográfica do ribeirão do Cambuí com aproximadamente 60 Km2, de acordo com Trouw et. al. (2008) assenta-se sobre litologias pré-cambrianas das unidades Arantina, Varginha-Guaxupé (paragnáissica migmatítica superior e granulítica basal) e Ortognaisses migmatíticos. São presentes, ainda, depósitos aluvionares cenozoicos distribuídos em níveis altimétricos não correlatos. É cortada pela zona de cisalhamento de Maria da Fé, sistema estrutural de orientação NE-SW e que exerce forte influência sobre o curso do ribeirão do Cambuí. O diaclasamento resultante das movimentações perpendiculares à zona cisalhante conforta canais de ordens inferiores que, no conjunto, compõem padronagem subdendrítica a paralela. O mapa de orientação das vertentes conseguiu ilustrar as direções preferenciais adotadas pelas drenagens em ajuste aos lineamentos. Serras e espigões distribuem-se na paisagem morfológica como resultado dessas movimentações, adotando, também, o padrão direcional desses lineamentos. O mapa de declividades destacou rampas com declives superiores a 15° cobrindo boa parte da área. Valores superiores a 45°, em geral, representam rupturas de declive acentuadas onde, tal como destacado pela hipsometria, as amplitudes altimétricas podem ultrapassar 250 metros. Essas áreas relacionam-se àquelas já citadas por Freitas (1951), guardadas as devidas proporções escalares, em alusão à ocorrência de muralhas e fossas oriundas da ruptura estrutural por diaclasamento. Na bacia hidrográfica do ribeirão do Cambuí, a movimentação dos blocos junto aos planos de falhas, impôs escalonamento ao relevo, constituindo uma sequencia de escarpas, onde, à montante das mesmas, são presentes planícies aluvionares em sequencia, decorrentes dos desnivelamentos produzidos. A análise das informações morfométricas, somadas à interpretação da imagem ASTER, permitiu a divisão da bacia em três compartimentos morfológicos. O primeiro, “Depressão do Cambuí”, foi subdividido em dois subcompartimentos. O subcompartimento “Colúvios e Anfiteatros Erosivos” contempla vertentes coluvionares e anfiteatros erosivos que denotam pronunciado esvaziamento. As declividades, em geral, assumem valores entre 15° e 25° e, em alguns pontos, superiores a esse último. Amplitudes altimétricas, não raro, mostram-se superiores a 300 metros. O subcompartimento “Planície Aluvionar” representa porções com declividades inferiores a 5° e funciona como nível de base para as drenagens tributárias da bacia. Ao longo de aproximadamente 4 km de extensão, o desnível altimétrico é inferior a 30 metros. Um segundo compartimento morfológico, “Esporões e Escarpas Estruturais”, agrega cristas interrompidas, seguidas por escarpamentos abruptos, com desnivelamento altimétrico pronunciado. As declividades mostram-se acentuadas, comumente superiores a 30° e, não raro, a 45°. O terceiro compartimento, denominado “Planalto do Cambuí”, subdivide-se em três subcompartimentos. O subcompartimento “Planícies Aluvionares” é representado por duas porções com declividades inferiores a 5°, seccionadas por ruptura de declive com desnível altimétrico pouco superior a 10 metros. “Interflúvios Paralelos Rebaixados” é subcompartimento que compõe grande parte do Planalto do Cambuí e representa áreas de topografia menos acidentada. O paralelismo interfluvial decorre do aproveitamento das diaclases pelas drenagens em composição dos cursos, condicionando a divisão interfluvial. As declividades são, em grande parte, inferiores a 15°, podendo, em alguns pontos restritos, ultrapassar 25°. Desníveis altimétricos raramente são superiores a 100 metros, exceção feita à porção oeste, quando esses valores ultrapassam 200 metros, porém, as declividades continuam igualmente mais baixas. O subcompartimento “Serras e Espigões” engloba interflúvios com desníveis altimétricos mais expressivos que as porções circunvizinhas, geralmente superiores a 200 metros. As declividades são mais expressivas e em geral, superiores a 25°. (Figura 1)

mapa compartimentos_cambuí

Mapa de compartimentos morfológicos da bacia hidrográfica do ribeirão do Cambuí, Minas Gerais- Brasil.

Conclusões

Os terrenos concernentes à bacia hidrográfica do ribeirão do Cambuí apresentam-se sob forte influência dos lineamentos estruturais produzidos pelas movimentações tectônicas cenozoicas e que foram capazes de conduzir o arranjo à superfície dos elementos de relevo e drenagem. Essa relação é passível de ser analisada pelo estudo da morfometria em integração às informações litoestruturais. Os padrões observados à superfície, de forma geral, apontam para o escalonamento do relevo originando escarpas abruptas e rupturas de declive com altas declividades, paralelismo entre cristas, feições erosivas em forma de anfiteatros denotando intenso esvaziamento por alteração do nível de base e padrões paralelos a subdendríticos da rede de drenagem em conformação com a orientação das estruturas lineares. Os resultados aqui obtidos comungam com aqueles apresentados em trabalhos anteriores, elaborados em unidades escalares de maior grandeza.

Agradecimentos

Referências

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