MAPA GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE ITANHAÉM - BAIXADA SANTISTA, SÃO PAULO, BRASIL
Autores
Sato, S.E. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG) ; Cunha, C.M.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP RIO CLARO)
Resumo
O objetivo do presente trabalho é apresentar as técnicas de elaboração e a análise dos resultados obtidos com o mapeamento geomorfológico realizado para o município de Itanhaém, localizado no litoral do estado de São Paulo. O mapeamento geomorfológico possibilita inferir sobre a dinâmica ambiental atual e também a história da evolução das formas hoje encontradas, permitindo compreender as fragilidades do meio. Desse modo, este mapeamento torna-se um importante instrumento para o planejamento.
Palavras chaves
mapa geomorfológico; planejamento; litoral
Introdução
Os sistemas ambientais, segundo Christofoletti (1999, p.35), “representam entidades na superfície terrestre, de modo que a espacialidade se torna uma das suas características inerentes”.Estes sistemas resultam da dinâmica evolutiva, a qual associa-se com a estrutura e funcionamento de uma variedade de elementos e fluxos de interação. Desse modo, de acordo com o exposto, os sistemas ambientais são representados pelas organizações espaciais originárias dos processos do meio ambiente físico. O litoral brasileiro corresponde a uma categoria particular do sistema ambiental, devido à interação complexa entre os ambientes terrestres, atmosféricos e marinhos, resultado da ação mútua das águas doces e marinhas, massas de ar e movimentos dos materiais e depósitos relacionados à ação gravitacional. Apresenta ainda elementos e objetos naturais, referentes à linha de costa, tais como praias, lagunas costeiras, acumulações arenosas (dunas), estuários, marismas e manguezais, onde o equilíbrio das mesmas é dependente da frágil relação sistêmica entre a atmosfera, o mar e o continente. O litoral do estado de São Paulo apresenta dois grandes sistemas ambientais integrados, o Sistema Serrano, constituído pelo Planalto Atlântico, pelas escarpas da Serra do Mar e pelos Morros Isolados, e o Sistema Planície Sedimentar, constituído pela planície costeira. A compartimentação e o mapeamento das características do relevo correspondem a uma etapa primordial para o entendimento dos processos responsáveis pelo modelado da superfície da terra (resposta aos agentes do sistema ambiental a qual pertence), e das formas que ocorrem nesta superfície. Desse modo, o objetivo deste artigo é apresentar e discutir o mapeamento geomorfológico realizado para o município de Itanhaém (SP).
Material e métodos
O mapa geomorfológico foi elaborado através da fotointerpretação das feições geomorfológicas da área de estudo, tendo como base 55 fotografias aéreas na escala 1:25.000, referentes a outubro de 1962.Na presente pesquisa adotou-se a escala de detalhe – UGI: 1:50.000. Devido à complexidade da área, para a realização do mapeamento considerou-se as propostas de Tricart (1965) e a de Verstappen e Zuidam (1975) para a representação dos elementos do relevo através de simbologias. A morfografia foi adquirida pela fotointerpretação, a qual possibilitou identificar e representar as formas presentes na área em questão.A morfogênese é representada pelo agrupamento dos símbolos que implicam na interpretação das formas identificadas pela morfografia na interpretação e no agrupamento das formas considerou-se a proposta de Tricart (1965).De acordo com esta proposta, os dados são organizados e representados na legenda do mapa geomorfológico, considerando-se como princípio norteador à morfogênese. Estas informaçôes foram inseridas na base cartográfica do município utilizando-se o software AutoCAD Map. No mapeamento geomorfológico do município foram classificados seis grupos de formas para a área em questão. Cada grupo abrangeu as formas correspondentes, considerando-se a sua origem.De acordo com a proposta de Tricart (1965) não são representadas as formas de vertente. Desse modo, adotou-se a proposta de simbologia de Verstappen e Zuidam(1975) para a representação destas.Para a análise e interpretação do mapeamento geomorfológico, as demais informações referentes ao meio físico (declividade, solos, geologia, entre outros) foram adquiridas através dos mapeamentos realizados por Sato (2012).O método adotado fundamentou-se nos pressupostos da Teoria Geral dos Sistemas. A abordagem sistêmica aplicada a Geografia torna possível o estudo do espaço de modo integrado, como uma totalidade indissociável.
Resultado e discussão
A análise do mapeamento geomorfológico realizado para o município de Itanhaém
(SP) partiu da notável compartimentação topográfica do município, referente ao
Planalto Atlântico, as escarpas da Serra do Mar e morros isolados, e a planície
sedimentar quaternária (Figura 2). Para a análise consideraram-se também outras
informações relevantes para a área de estudo, como a altimetria, a declividade,
o tipo de solo, a vegetação e a pluviosidade.
No Planalto Atlântico, as altimetrias ultrapassam os 800 metros. As formas de
relevo predominantes correspondem a morros suavizados, com vertentes côncavas e
convexas. Nas referidas vertentes há a presença de sulcos erosivos, voçorocas e
cicatrizes de escorregamento. Estas feições erosivas associam-se as
características do relevo, onde predominam declividades acentuadas, variando
entre 12 a 30%, a grande quantidade de nascentes, e ao tipo de solo associado,
predominantemente cambissolos háplicos. Este solo se caracteriza por apresentar
o horizonte B incipiente, com concentração de fragmentos rochosos, sendo este
propício à erosão hídrica, quando associados às altas declividades.
As escarpas da Serra do Mar e os morros isolados caracterizam-se pelas vertentes
côncavas e convexas, e pela presença de vertentes retilíneas e irregulares, que
coincidem com as áreas mais íngremes. Estas áreas apresentam maior
suscetibilidade aos processos denudacionais, principalmente aos relacionados a
movimentos de massa, comprovados pelas cicatrizes de escorregamento mapeadas.
Outros fatores também contribuem para esse processo, como o tipo de solo,
predominantemente cambissolos háplicos, que é pouco espesso, a densa vegetação
de mata atlântica e os altos índices pluviométricos entre 1.500 e 2.000 mm
anuais.
A planície sedimentar está localizada entre 0 a 13 metros acima do nível do mar.
De modo geral, apresenta rupturas topográficas distribuídas por toda a sua
extensão. É formada, sobretudo por sedimentos fluviais e marinhos, estes últimos
acumulados nos períodos de transgressão marinha que ocorreram durante o
Quaternário. Os terraços presentes na planície correspondem a depósitos marinhos
antigos, originados nos períodos transgressivos. Os terraços marinhos
localizados a S-SW do município são formados por dunas, dunas desmanteladas e
cordões litorâneos. Essas feições geomorfológicas são consideradas pela
legislação como Áreas de Preservação Permanente – APP, visto que são áreas
instáveis, pouco coesas, mas que estabilizam a linha de costa, protegem o lençol
freático, e são habitats da fauna e flora. Nas áreas de terraço
fluvial, foram identificados meandros abandonados, fato que corrobora com a
ideia de intensa dinâmica erosiva. Nas áreas de planície são inerentes a
inundação periódica e a erosão marginal. Visto a importância dos cursos
fluviais, a faixa marginal ao longo destes, é protegida por lei, sendo a mesma
uma Área de Preservação Permanente – APP. A jusante do rio Itanhaém, foi
delimitada uma área de planície flúvio-marinha. Situada em área de baixa
declividade (2 a 5%) e próxima à linha de costa, a dinâmica dessa unidade está
vinculada ao sistema fluvial e as oscilações marinhas, tornando essa área
sujeita as inundações periódicas, controladas pelo regime das marés. Os
sedimentos são finos relacionados a areias finas e argilas e o solo derivado
desse sistema corresponde ao gleissolo sálico, um solo hidromórfico, rico em
matéria orgânica. Nessa área desenvolve-se um importante ecossistema costeiro, o
manguezal. Na interface entre a dinâmica continental e oceânica localiza-se a
planície marinha. A interconexão entre o continente e o oceano confere a esta
área uma intensa e inerente instabilidade natural. Formada por areias marinhas
litorâneas, apresenta pouca coesão dos sedimentos, que são constantemente
remobilizados pela ação das marés.
a)Planalto Atlântico; b) Serra do Mar; c)Planície sedimentar
Legenda do mapeamento geomorfológico do município de Itanhaém (SP)
Conclusões
O mapeamento geomorfológico é um instrumento fundamental para o planejamento por possibilitar a delimitação de compartimentos geomorfológicos, identificação das diversas formas e inferir sobre os processos, atuais e pretéritos, responsáveis pela sua configuração. Caracteriza-se como um instrumento para uma adequada intervenção no meio. O município de Itanhaém (SP) apresenta setores geomorfológicos com dinâmicas inerentes a sua constituição física, implicando em diferentes respostas às intervenções antrópicas nesses meios. No setor serrano, medidas legais de proteção, como a criação da Área de Proteção Ambiental - APA Capivari – Monos e o tombamento da Serra do Mar, favoreceram a preservação dessas áreas. Entretanto, na planície os problemas relacionam-se à ocupação e a expansão urbana. As necessidades de adequação das atividades antrópicas ao meio corroboram a importância dos estudos do meio físico, dentre os quais o mapeamento geomorfológico, para um adequado gerenciamento do meio.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, pelo auxílio financeiro, fundamental para o desenvolvimento da tese de doutorado intitulada: “Zoneamento Geoambiental do município de Itanhaém – Baixada Santista (SP)”.
Referências
CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo: Edgard Blucher, 1999.
SATO, S.E. Zoneamento Geoambiental do município de Itanhaém – Baixada Santista (SP) 2012. 132f. Tese (Doutorado em Geografia). Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2012.
TRICART, J. Principes et méthodes de la géomorphologie. Paris: Masson, 1965. 496p.
VERSTAPEN, H.T; ZUIDAM, R.A. van. System of geomorphological survey. Nertherlands, Manuel ITC Textbook, vol. VII. 1975. 52p.