Técnica Automática de Elaboração da Carta de Profundidade de Erosão Utilizando o Software ArcGIS
Autores
Rizato, M. (UNESP CAMPUS DE RIO CLARO) ; Machado, A.C.P. (UNESP CAMPUS DE RIO CLARO) ; Cunha, C.M.L. (UNESP CAMPUS DE RIO CLARO)
Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar uma técnica automática de elaboração da carta de profundidade de erosão proposta por Hubp (1988) utilizando o software ArcGIS 9.2. Esta carta permite a observação do nível de entalhe do terreno. O método sistêmico permite considerar que o nível de entalhe ocorre num tempo determinado, cuja intensidade depende das características físicas e dos agentes modeladores do terreno. O documento permitiu identificar setores mais suscetíveis aos processos denudativos.
Palavras chaves
profundidade de erosão; ArcGIS; cartas morfométricas
Introdução
As cartas morfométricas são documentos que possibilitam o entendimento da morfologia do sistema relevo, identificando áreas de risco potencial à atuação antrópica, necessárias no processo de planejamento, auxiliando na definição de medidas paliativas e de prevenção aos impactos ambientais. A carta de profundidade de erosão é um documento de análise da geometria do relevo resultante da quantificação entre a altitude relativa da linha de cumeada em relação ao talvegue, permitindo a observação espacial do nível de entalhe do terreno nos seus diversos estágios. Este documento possibilita a identificação de áreas potencialmente suscetíveis aos processos condicionados pela dinâmica fluvial e gravitacional. Neste sentido, optou-se por uma área que apresenta características físicas distintas, expostas a pluviosidades concentradas num determinado período de tempo (verão), conforme Troppmair (1975). Assim, selecionou-se um fragmento localizado no extremo oeste da sub-bacia do rio Passa Cinco. Trata-se de uma área de contato entre dois compartimentos geomorfológicos distintos: Depressão Periférica Paulista, mais especificamente na unidade designada de Zona do Médio Tietê segundo Almeida (1964) e Cuestas Areníticas-Basálticas. Tais compartimentos agregam litologias pertencentes às formações de idades paleozóicas. De acordo com Santos (2002), encontram-se as formações pertencentes ao Grupo Tubarão (Formações Itararé e Tatuí), Grupo Passa Dois (Formação Irati e Corumbataí) e Grupo São Bento (Formação Pirambóia, Botucatu, Serra Geral e Itaqueri). A carta de profundidade de erosão é um documento importante, porém pouco utilizado durante os processos de planejamento, devido à morosidade na elaboração tanto manual quanto semi-automático. Deste modo, o objetivo deste artigo é apresentar uma técnica automática de elaboração da carta de profundidade de erosão proposta por Hubp (1988), utilizando o software ArcGIS 9.2.
Material e métodos
A presente pesquisa é regida pela Teoria Geral dos Sistemas. Assim, conforme Christofoletti (1979) considera-se que os sistemas devam constituir-se de elementos que possuam determinados atributos e se inter-relacionam pela entrada e saída de matéria e energia. As proposições deste método permitem considerar que a profundidade do nível de entalhe reflete um processo que ocorre num tempo determinado, cuja intensidade depende das características físicas do terreno, modelados pelas dinâmicas terrestres internas e externas. Considerando estas questões, a elaboração da carta de profundidade de erosão, baseou-se na proposta de Hubp (1988, p. 37) utilizando o ArcGIS 9.2. Para tanto, foi utilizada a carta topográfica na escala de 1:50.000. Assim, criou-se uma grade de polígonos de 250 x 250 metros com a opção CreateFishnet.Considera-se necessário que o software compreenda cada quadrícula enquanto uma unidade de análise. Assim, os shapes das isolinhas foram cortados de acordo com os polígonos criados pela grade. Para isto, foi utilizada a ferramenta Intersect. Ao final deste processo, o shapefile gerado dividiu os segmentos de cada isolinha e seus valores de altitude por cada polígono gerado. Em seguida, fez-se a junção (join) dos dados presentes na tabela do shapefile da grade com o novo arquivo criado para que o cálculo da diferença entre os dados de altitude fosse executado. Após a criação do shapefile proveniente da junção da grade com a intersecção, foi executado o cálculo dos valores máximos e mínimos de cada segmento de isolinha na grade de dados. Para o cálculo, utilizou-se a opção Field Calculator. O cálculo deve ser realizado através da seleção dos dados de valor máximo de altitude subtraindo o valor mínimo de altitude. Para interpolar os dados de altitude relativa calculados, foi utilizado a ferramenta CreateTin, gerando um mapa de interpolação.
Resultado e discussão
As técnicas automáticas de elaboração da carta de profundidade de erosão (Figura
1) no programa ArcGIS 9.2 apresentaram-se eficientes. Esta área é um fragmento
da bacia do rio Passa Cinco, uma área de nascentes localizada no extremo oeste
desta.
Na alta bacia, localizada no sul da área, a profundidade de erosão é baixa,
variando entre os níveis de 0 a 40 metros. Esta é a área de reverso da cuesta.
As nascentes perpassam por terrenos com áreas de profundidade de erosão que
variam de 20 a 40 metros. Antes de atingir o front cuestiforme, os cursos d’água
perpassam por setores com menos de 20 metros de profundidade de erosão. Pode-se
observar que a alta bacia, no reverso na cuesta, dispõe-se em área de topografia
suave.
A área do front cuestiforme ficou destacada pela variação altimétrica dos níveis
de profundidade de erosão. Esta área apresentou níveis de profundidade de erosão
que variam entre 80 e 100 metros, atingindo níveis acima de 100 metros em alguns
trechos. A variação altimétrica permite deduzir que estes setores são
suscetíveis à ação das águas correntes e também aos processos gravitacionais.
Sabe-se que a profundidade de erosão depende intrinsecamente da relação entre as
características físicas do terreno e os agentes modeladores atuantes. Neste
caso, a condicionante estrutural submetida às condições climáticas permite o
processo de erosão diferencial, visto que a resistência do material diante dos
agentes erosivos é diferenciada. Esta área caracteriza-se pela diversidade
litológica, compostas por formações arenosas, conglomeráticas, siltosas,
argilosas e, também, formações rochosas extrusivas, como o basalto. Cada tipo de
material possui uma resistência distinta aos agentes erosivos. As formações mais
resistentes tendem a formar as superfícies mais altas, enquanto formações mais
suscetíveis aos processos denudativos tendem a erodir, formando topografias
baixas. Neste sentido, as áreas de contato de litologias distintas são os
setores mais suscetíveis aos processos denudativos. Por exemplo, o basalto é a
formação rochosa que possui maior resistência. Esta formação, além de gerar
superfícies de cumeadas, mantém a intensa profundidade de erosão presente na
área e isso potencializa a ação das águas correntes sobre os demais materiais
mais suscetíveis aos processos denudacionais, nas áreas de contato.
Trata-se de um terreno que é submetido á ação das águas correntes concentradas
em determinado período do ano (verão). Neste período, os processos
denudacionais são mais intensos.
Assim, a carta de profundidade de erosão desta área permitiu identificar os
setores potencialmente suscetíveis aos processos denudacionais, tanto pela ação
das águas correntes quanto pela ação gravitacional, espacializados, bem como os
mais diversos níveis de dissecação que ocorrem neste terreno. Neste caso, tais
áreas referem-se ao relevo cuestiforme e os processos de erosão diferencial que
ocorrem neste terreno.
Profundidade de drenagem da sub-bacia do rio Passa Cinco/SP
Conclusões
A carta de profundidade de erosão proposta por Hubp (1988) e elaborada utilizando- se técnicas automáticas no ambiente ArcGIS 9.2 apresentou-se eficiente e eficaz. Na área de estudo, este documento permitiu identificar os setores potencialmente suscetíveis aos processos denudacionais. Neste caso, o front cuestiforme. Além disso, identificaram-se as áreas onde predominam os processos deposicionais, condicionados pela baixa energia do terreno. Considera-se que as pesquisas acadêmicas que apresentam técnicas de elaboração automática de documentos cartográficos úteis ao planejamento ambiental demonstram- se necessárias na atualidade. A qualidade do documento elaborado e a eficiência dos programas computacionais devem ser exploradas, objetivando produtos cartográficos eficientes, ou seja, coerentes com as técnicas de elaboração propostas e também eficazes, ou seja, que a representação do terreno seja o mais próximo da realidade.
Agradecimentos
Referências
ALMEIDA, F.F.M. Fundamentos geológicos do relevo paulista. Boletim IGC, São Paulo, n. 41, p. 167 – 262, 1964.
CHRISTOFOLETTI, A. Análise de Sistemas em Geografia. Hucitec. Edusp. 1979.
HUBP, J. I. L. Elementos de geomorfologia aplicada: Métodos cartográficos. México: Instituto de Geografía, 1988.
SANTOS, S.C. Uso da terra e nível tecnológico das unidades de produção agropecuária da bacia hidrográfica do rio Passa-Cinco – SP. 2002. Dissertação (Mestrado em Geociências e Meio Ambiente) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2002.
TROPPMAIR, H. Regiões Ecológicas do Estado de São Paulo. Biogeografia. São Paulo: USP, nº. 10, 1975.