Análise das heterogeneidades granulométricas da Bacia de Pelotas e sua contextualização com o ISL (Índice de sensibilidade do Litoral).
Autores
Marques, V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE) ; Nicolodi, J.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE)
Resumo
As distinções geológicas e geomorfológicas presentes na Bacia de Pelotas geram diferentes produtos sedimentares. Assim, é importante considerar as heterogeneidades dos pacotes sedimentares ao classificar as respectivas sensibilidades litorâneas ao óleo de tais ambientes. A partir de amostras sedimentares polimodais, este trabalho visa contextualizar as particularidades expressas no relevo com a atual classificação do ISL, metodologia oficial do Brasil para este tipo de mapeamento.
Palavras chaves
sedimentologia; geomorfologia costeira; ISL
Introdução
Com base na intensa exploração dos recursos energéticos no território brasileiro, mais especificamente petróleo e gás, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) está mapeando, e confeccionando Atlas e Cartas de Sensibilidade Litorânea a óleo, das bacias sedimentares brasileiras de acordo com as "Especificações e Normas Técnicas para Elaboração de Cartas de Sensibilidade a Derramamentos de Óleo nas Águas Jurisdicionais Brasileiras" (MMA, 2002). Este programa é realizado em parceria com as universidades federais, sendo que desta forma o presente trabalho é subsidiado pelo projeto Cartas SAO Pelotas, responsável pelo mapeamento da Bacia Sedimentar de Pelotas, e executado pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). As análises aqui apresentadas compõem o escopo deste projeto e visam analisar o substrato da área de estudo. Para tanto, foram selecionadas algumas amostras sedimentares significativas para este trabalho, que tem como objetivo descrever os dados granulométricos juntamente com seus parâmetros estatísticos para, a posteriori, contextualizar as amostras sedimentares polimodais com a atual classificação do ISL (Índice de Sensibilidade Litorânea). É relevante destacar que o método oficial baseia-se em amostras sedimentares uniformes, o que nem sempre reflete a realidade dos ambientes. Por esta razão, o presente estudo se propõe avaliar se a metodologia utilizada no mapeamento das áreas costeiras se adéqua às distinções dos aspectos morfossedimentares das mesmas.
Material e métodos
As amostras sedimentares, após serem coletadas em campo, sofreram o tratamento prévio padrão em laboratório, constituído por lavagem para total remoção de sais solúveis, secagem em estufa, seguida por quarteamento (homogeneização das amostras), por fim o peneiramento utilizando um conjunto de peneiras com 1/4 de phi (unidade de medida para os tamanhos das partículas)seguindo a escala de Wentworth para diâmetro das partículas (SUGUIO, 1973). Tal procedimento refere- se a sedimentos grosseiros. Para o tratamento de sedimentos carbonáticos foram utilizados os mesmos procedimentos para sedimentos grossos, seguido por adição de ácido clorídrico para a dissolução dos carbonatos. Lavagem e secagem foram repetidas para nova pesagem e peneiramento (SUGUIO, 1973). Os parâmetros estatísticos para as análises granulométricas foram obtidos através do software Sysgran, seguindo o método de Folk & Ward (1957). A escolha do método vai de encontro com o enfoque do trabalho, pois tal método abrange amostras bimodais e não apenas uniformes. O mapa onde está expresso graficamente a área de estudo foi elaborado através do software ArcGIS 10.1.
Resultado e discussão
Dentre as figuras adicionadas seguem os gráficos com as distribuições de
frequências simples (eixo vertical) com os respectivos valores de Phi (unidade
de medida para o tamanho das partículas, eixo horizontal), onde se demonstra o
comportamento de cada ambiente avaliado de acordo com seus parâmetros
estatísticos para as análises granulométricas.
No gráfico 1A, referente a amostra de Albardão a curva se mostra
assimétrica negativa (-0,60), indicando a cauda da curva do lado dos mais
grosseiros. Nota-se também que a média amostral de 1,11 indica que a classe
predominante é a areia média. Porém, sabe-se que as medidas de tendência central
não servem como um parâmetro significativo de amostras bimodais, portanto, usa-
se o desvio padrão de 1,34 que indica que o pacote é pobremente selecionado como
o melhor parâmetro representativo do comportamento amostral, bem como a curtose
(0,30) apresentando uma distribuição granulométrica sob uma curva de
frequência muito platicúrtica, isto é, distribuição bimodal com as modas
amplamente separadas. Essa amostra é composta por 31,95% de cascalho e 68,05% de
areia.
O gráfico 2A referente ao ponto Imbé, demonstra um comportamento distinto, por
ser uma amostra uniforme pode-se considerar a média (2,43) do diâmetro dos
grãos um bom indicativo do comportamento amostral, considera-se a partir da
média que a classe predominante é areia fina. Bem como o desvio padrão (0,33)
indicando um pacote muito bem selecionado em uma curva aproximadamente simétrica
(0,01), isto é, uma distribuição aproximadamente normal. Por fim, a curtose
de 0,97 confirma uma distribuição granulométrica sob uma curva de frequência
mesocúrtica, isto é, uma distribuição unimodal. Tal amostra apresenta uma
composição de 100% de areia.
A distribuição representada pelo gráfico 3A referente à amostra Praia do
Laranjal, também
apresenta uma distribuição bimodal, esta contém média de 1,21, indicando a
classe de areia média. O desvio padrão (1,46) demonstra um sedimento pobremente
selecionado, reafirmando a heterogeneidade na composição granulométrica da
amostra. A assimetria (0,29), neste caso, revela-se positiva, ou seja, a curva
se mostra senoidal devido o pacote ser bimodal. Enfim, a curtose (0,60) revela
uma distribuição granulométrica do sedimento sob uma curva de frequência muito
platicúrtica, isto é, distribuição bimodal com as modas amplamente separadas. A
composição sedimentar é de 2,10% de cascalho e 97,9% de areia.
Por fim, o gráfico 4A referente ao ponto Praia das Pombas, o mais significativo
para este trabalho, apresenta-se com um comportamento extremamente distinto dos
demais. Com uma distribuição composta por média de 0,68, indicando que a
classe predominante no pacote seja de areia grossa, e seu respectivo desvio
padrão (1,62), a amostra revela-se pobremente selecionada, formando uma curva
de assimétrica (-0,24) negativa, isto é, a curva se mostra senoidal devido o
pacote sedimentar ser polimodal. Para reafirmar o comportamento descrito acima,
a curtose de 0,68 mostra que a distribuição granulométrica do sedimento se
apresenta sob uma curva de frequência platicúrtica, ou seja, distribuição
polimodal.
De acordo com as características granulométricas apresentadas acima, torna-se
imprescindível à contextualização destes resultados com o atual método utilizado
pelo MMA no mapeamento das bacias sedimentares brasileiras no que se refere ao
Índice de Sensibilidade do Litoral ao óleo. O atual método classifica, por
exemplo, uma praia mista de areia e cascalho, ou conchas e fragmentos de corais;
como as analisadas nos gráficos 1A, 3A e 4A, como ISL 5 (MMA, 2002), porém não
abrange a forma com que os pacotes sedimentares estão dispostos no relevo. Bem
como as variáveis de tempo, entradas de frentes e etc, as quais mudam
consideravelmente a competência do transporte sedimentar e a provável
sazonalidade destes processos concordando com as impressões sedimentares.
Os gráficos descrevem o comportamento das amostras analisadas.
O mapa refere-se à Bacia de Pelotas bem como aos pontos analisados para este estudo.
Conclusões
Com o presente trabalho foi possível desenvolver uma análise mais detalhada do substrato da Bacia Sedimentar de Pelotas, considerando as heterogeneidades granulométricas expressas no ambiente que configuram a área de estudo. Através da compreensão do comportamento sedimentar em amostras polimodais, este trabalho pode contribuir para o aperfeiçoamento da metodologia utilizada pelo MMA nos mapeamentos das áreas costeiras, uma vez que a mesma nem sempre mostra eficácia em casos de praias com heterogeneidade granulométricas. Portanto, é de fundamental importância à incorporação de análises específicas como esta em teorias generalizadoras, pois considera as particularidades significativas do ambiente, não consideradas até o momento.
Agradecimentos
Agradeço à todos que contribuíram de alguma forma para este trabalho. Às fontes financiadoras: Universidade Federal do Rio Grande- FURG Laboratório de Oceanografia Geológica- LOG Instituto de Oceanologia- IO Projeto Principal: CARTAS DE SENSIBILIDADE AMBIENTAL AO DERRAMAMENTO DE ÓLEO – CARTAS SAO - BACIA DE PELOTAS (344774/2012 – PROPESQ)
Referências
MMA, 2002. Especificações e Normas Técnicas para Elaboração de Cartas de Sensibilidade Ambiental para Derramamentos de Óleo. Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos, Programa de Proteção e Melhoria da Qualidade Ambiental, Projeto de Gestão Integrada dos Ambientes Costeiro e Marinho.
SUGUIO,K. Introdução à sedimentologia. São Paulo, Edgard Blucher, Ed. Da Universidade de São Paulo, 1973.
FOLK, R. L., WARD, W. C. Brazos river bar: A study in the significance of grain size parameters. Journal of Sed. Petrol., 1957.