Integração de parâmetros geomorfológicos e biológicos no desenvolvimento de uma nova proposta de Índice de Sensibilidade do Litoral (ISL): Estudo de caso na região do Parque Estadual de Itapuã- RS.

Autores

Marinho, C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG) ; Nicolodi, J.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG)

Resumo

A metodologia oficial para determinar o Índice de Sensibilidade do Litoral (ISL) não considera aspectos biológicos em sua composição, o que subestima a sensibilidade costeira. Neste trabalho foi desenvolvido um novo método de classificação da costa a derramamentos de óleo, o qual foi aplicado em praias do Parque Estadual de Itapuã. Assim, as praias do Tigre e das Pombas tiveram suas sensibilidades aumentadas devido à presença de uma espécie endêmica e outra dependente da costa, respectivamente.

Palavras chaves

ISL; aspectos biológicos; aspectos geomorfológicos

Introdução

O aumento mundial do consumo de petróleo e seus derivados incentivaram a descoberta e exploração de novos campos petrolíferos, sendo os mesmos responsáveis pelo aumento da produção e transporte marítimo dos produtos, elevando também o risco de acidentes com óleo. Neste contexto enquadram-se os instrumentos de políticas públicas, desenvolvidos a fim de prevenir e minimizar os efeitos destes acidentes, como as Cartas de Sensibilidade Ambiental do Derramamento de Óleo (Cartas SAO). Estas fornecem informações biológicas, socioeconômicas e geomorfológicas sobre os ecossistemas costeiros. A informação mais relevante deste instrumento é o Índice de Sensibilidade do Litoral (ISL), definido a partir da declividade do litoral, tipo de substrato e ação hidrodinâmica de ondas e marés, segundo a metodologia oficial do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Esse índice varia de 1 a 10 em uma escala crescente de sensibilidade, sendo 1 os ambientes menos sensíveis ao contato com o óleo e 10 os mais sensíveis. Os aspectos biológicos e socioeconômicos apresentam-se apenas de forma descritiva, em ícones. O conceito de sensibilidade utilizado para a caracterização da linha de costa não agrega informações biológicas. Tendo em vista essa problemática, Marinho (2012) propôs a integração de variáveis biológicas no Índice de Sensibilidade do Litoral. A partir da integração de letras que indicam a sensibilidade biológica (A= alta sensibilidade, B= moderada sensibilidade, C= baixa sensibilidade), a autora chegou a resultados que mostraram que praias de características semelhantes apresentam sensibilidades biológicas distintas, reforçando ainda mais a necessidade de integração e metodologia ineficiente. Dessa maneira, o presente trabalho tem por objetivo desenvolver um Índice de Sensibilidade do Litoral (ISL) específico que integre parâmetros geomorfológicos e biológicos na determinação da sensibilidade costeira e aplicá-lo na região do Parque Estadual de Itapuã.

Material e métodos

Para a definição das variáveis biológicas utilizou-se o método proposto por Ihaksi et al. (2011) considerando quatro perguntas básicas: os grupos de espécies são vulneráveis ao óleo? Possuem valor de conservação? Dependem do ambiente costeiro? Sua localização pode ser prevista? Também, considera-se que as espécies criticamente ameaçadas de extinção, ameaçadas de extinção e espécies endêmicas sempre serão incluídas na classificação de sensibilidade. Assim, um Índice Biológico de Sensibilidade(IB) pôde ser desenvolvido. As variáveis geomorfológicas foram baseadas no método proposto pelo MMA, sendo: tipo de substrato e exposição as forçantes ondas e marés. Esta última variável classifica os ambientes em 4 tipos: protegido, semi-protegido, semi-exposto, exposto. Assim, o tipo de substrato e a exposição as forçantes foram cruzados em uma matriz e pontuados, afim de se estabelecer um Índice Geomorfológico de Sensibilidade (IG). Tal método foi baseado no trabalho do Instituto Nacional de Pesquisas Ambientais da Dinamarca. Como fator de multiplicação no IG foi utilizada a variável declividade do litoral, sendo denominado de Fator de Área Atingida (FAA). Varia entre 1, 2, 3 sendo alta, média e baixa declividade, respectivamente. Para o desenvolvimento do ISL utilizou-se um método de valoração das variáveis, a Matriz de Comparação Pareada, proposta por Saaty (1996). O índice foi desenvolvido através da sobreposição de sensibilidade geomorfológica com sensibilidade biológica, resultando na sensibilidade ambiental de determinada região, semelhante ao processo realizado na Ilha de Noirmoutier na França por Fattal et al. (2010). Por fim, para o mapeamento das praias da região quatro praias lagunares do Parque Estadual de Itapuã foram mapeadas. Os segmentos foram comparados de acordo com a metodologia do MMA e a desenvolvida no presente trabalho. O mapeamento foi baseado no trabalho proposto por Fattal et al. (2010).

Resultado e discussão

Para a definição do Índice Geomorfológico de Sensibilidade (IG) a matriz foi pontuada contando com a experiência de trabalhos de campo e de profissionais ligados à área de mapeamento de sensibilidade costeira. Assim, o IG variou de 1 a 5 de acordo com a pontuação proposta na figura 1. Dessa maneira o IG pôde ser definido como IG = IG×FAA. O Índice Biológico de Sensibilidade (IB) foi definido como IB = Ev + nVc + Ec + Lp, sendo Ev = espécie vulnerável, Vc = espécie com valor de conservação, sendo n = 1 espécie com valor de conservação, n = 2 espécie com valor de conservação + endêmica ou extinção e n = 3 espécie com valor de conservação + endêmica e extinção, Ec = espécie dependente da costa e Lp = localização prevista. Assim o IB varia de 1 a 6 de acordo com a presença ou ausência dessas variáveis. Dessa maneira, ISL = (IG × FAA) + IB. O mapeamento da região do Parque Estadual de Itapuã incluiu quatro praias. A Praia das Pombas, com os dados de granulometria adquiridos a partir do método proposto por Suguio (1973), classificou essa praia em areia grossa. Também, foi classificada em ambiente semi-protegido e de alta declividade. Como pertence a uma Unidade de Conservação de Proteção Integral apresenta-se como uma área com valor de conservação. A Praia da Pedreira foi definida pelo mesmo método e, portanto, classificada em praia de areia média, semi-exposta e de alta declividade. Também possui valor de conservação por estar em uma Unidade de Conservação de Proteção Integral e foi identificada como área nidificação de tartarugas tigre-d ´água, portanto, esse grupo de espécie depende da zona costeira para sobrevivência. A Praia de Fora, definida em praia de areia fina, exposta, média declividade, pertence a uma Unidade de Conservação de Proteção Integral e, portanto, também possui valor de conservação. Por fim, a Praia do Tigre, de areia grossa, média declividade e semi-exposta, possui a presença da espécie endêmica Ephedra tweediana, a qual depende da costa e possui valor de conservação por pertencer a uma Unidade de Conservação de Proteção Integral. Uma síntese é apresentada na figura 2.

Figura 1

Matriz para definição do Índice Geomorfologico de Sensibilidade preenchida

Figura 2

Síntese do processo de classificação do ISL das praias de Itapuã.

Conclusões

Após o desenvolvimento do novo método de classificação da sensibilidade costeira, apresentado nesse trabalho, pôde-se observar que duas das quatro praias mapeadas tiveram seus índices aumentados de acordo com a presença de variável de importância biológica. A Praia das Pombas e Praia do Tigre, ISL 4 segundo a metodologia oficial do Ministério do Meio Ambiente, tiveram suas sensibilidades classificadas em ISL 5 e ISL 10, devido a presença de espécie que depende da costa e espécie endêmica, respectivamente. Dessa maneira, o presente trabalho contribuiu para visão integrada entre recursos não vivos (abióticos) e recursos vivos (bióticos) na classificação da sensibilidade costeira, já que caracterizar a linha de costa apenas de acordo com sua característica física pode subestimar a real sensibilidade.

Agradecimentos

Agraceço ao Programa de Recursos Humanos da ANP, PRH-27: Estudos Ambientais em Áreas de Atuação da Indústria do Petróleo, ao Projeto de Mapeamento de Sensibilidade ao Óleo da Bacia de Pelotas – Cartas SAO_Bacia de Pelotas, ao Programa de Pós-graduação em Oceanografia Física, Química e Geológica da Universidade Federal do Rio Grande e ao Laboratório de Oceanografia Geológica – LOG/FURG.

Referências

FATTAL, P.; MAANAN, M.; ROLLO, I.; ROBIN, M.; POTTIER, P. 2010. Coastal Vulnerability to Oil Spill Pollution: the case of Noirmoutier Island (France).

IHAKSI, T.; KOKKONEN, T.; HELLE, I.; JOLMA, A.; LECKLIN, T.; KUIKKA, S. 2011. Combinating Conservation Value, Vulnerability and Effectiveness of Mitigation Actions in Spatial Conservation Decisions: An application to coastal oil spill combating.

MARINHO, C. 2012. Avaliação do Índice de Sensibilidade do Litoral ISL) no âmbito das Cartas SAO: Identificação de lacunas e proposição de variáveis biológicas em sua composição. Monografia de conclusão do curso de Oceanologia, Universidade Federal do Rio Grande – FURG.

MMA. 2007. Especificações e Normas Técnicas para a Elaboração de Cartas de Sensibilidade Ambiental para Derramamentos de Óleo. Brasília, Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental. 107 p.

NATIONAL ENVIRONMENTAL RESEARCH INSTITUTE. 2004. Environmental Oil Spill Sensitivity Atlas for Greenland Coastal Zone.

SAATY, T. L. 1996. The analytic hierarch process. RWS Publications.

SUGUIO, 1973. Introdução a sedimentologia.




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