ZONEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DA ILHA DO MEDO - MA.

Autores

Castro, E. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA) ; Moraes, A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA) ; Pinheiro, E. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA) ; Pontes, J. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA) ; Silva, R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA) ; Soares, V. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA)

Resumo

A Ilha do Medo, no Golfão Maranhense a noroeste da Ilha do Maranhão, possui geologia estratigráfica das Formações Açuí, Barreiras e Itapecuru. Os agentes climáticos e oceanográficos agem sobre elas criando as feições de relevo, que mostram em sua face N-NE por tálus, falésias e cavernas, as praias arenosas nas faces W/E/S e sedimentação em dunas numa faixa de sentido NE-SO, recobrindo colinas mais altas. Sua forma é de ‘ferradura’ côncava para Sul, esculpida pela drenagem das colinas existentes.

Palavras chaves

Ilha do Medo; Geomorfologia; Ambientes Costeiros

Introdução

O estudo em tela abrange a Ilha do Medo com coordenadas S02º31’00’’ e W44º23’00’’, na Baia de São Marcos à Oeste do Golfão Maranhense que vez é alimentado pelos rios Mearim, Pindaré e Grajaú. Ela está a noroeste da Ilha do Maranhão, na qual está a capital, São Luís. Ela está separada pelo canal do boqueirão de orientação NE-SW, com pouco mais de 900 metros de largura e de 20 a 30 metros de profundidade. O Golfão conta com intrincada área de canais, restingas, manguezais e ilhas, desenvolvidos por ação fluvial a partir da mesma geologia, outrora parte do continente. O Maranhão tem predominância das rochas sedimentares que se formam por meio do intemperismo que desintegra da rocha original transportando os sedimentos para áreas mais baixas (ARMESTTO, 2012). O processo de erosão costeira, o de degradação e a sedimentação são perceptíveis em toda a ilha, ocorrendo principalmente por fatores climáticos e oceanográficos, como o processo de regressão e transgressão marinha que causam abrasão marinha, modelando e carregando sedimentos para áreas de deposição em ondas que chegam a uma velocidade mais de 11km/h (UFMA, 2009). A geologia da ilha apresenta uma sobreposição da Formação Barreiras sobre a Itapecuru. A primeira é composta por areno-argilas de cores variadas, com tendência avermelhada, granulação variando de fina a média e horizontes conglomeráticos e níveis lateríticos em função da percolação de água subterrânea, possuindo também matriz argilosa caulinítica com cimento argilo- ferruginoso (ROSSETTI; GÓES e TRUCKENBRODTL, 1990). A Formação Itapecuru apresenta duas unidades: basal e superior. Na basal, há maior quantidade de conglomerados e os arenitos vermelhos-acastanhados intercalados com siltitos e argilitos, na superior, há a presença de arenitos médios e finos, às vezes siltosos, intercalados com siltitos, argilitos e níveis carbonáticos em direção ao topo (CUNHA E DEL’ARCO, 1998; COLARES E ARAÚJO, 1990 e FERREIRA, JR., 1996).

Material e métodos

O trabalho foi iniciado por levantamento bibliográfico para contexto da ilha do Medo, especialmente quanto à sua formação geológica e geomorfologia, áreas de estratificação e afloramentos. Os materiais utilizados envolvem artigos, livros, estudos de impactos ambientais. Nesta fase buscaram-se imagens que pudessem expressar a forma que se esperava com as análises da base geológica estudada. Trabalhou-se sobre carta topográfica 1:10.000 (ZEE, 2013a, 2013b). Os primeiros estudos serviram para a prospecção que integrou à geomorfologia elementos cársticos, pela ocorrência de cavernas. Foram observados os processos responsáveis pela geomorfologia local, coletados dados para a produção cartográfica, utilizando bússola, GPS, trena, clinômetro, preenchimento de fichas e registros fotográficos. Confeccionou-se mapa temático geomorfológico como resultado dos estudos, com utilização de software GlobalMapper13, a qual foi finalizada em programa gráfico CorelDraw X6, para adequação de legenda.

Resultado e discussão

A Ilha do Medo encontra-se no Golfão maranhense, na baía de São Marcos, que apresenta uma vasta zona estuarina, com orientação NE-SW e cuja, morfologia é amplamente aberta sobre a plataforma continental em larguras de 50 km na parte norte, 15 km na parte central (entre Alcântara e a Ponta de São Marcos), 25 km, ao nível da ilha dos Caranguejos e 4km na foz do rio Mearim. Juntamente com a baía de São José, constitui o Golfão tem à sua frente a plataforma continental que apresenta uma depressão, chamada de “depressão maranhense”. A ilha encontra- se na porção da baía de estuário ativo, com um canal central bem desenvolvido e dominado por correntes de vazante (COSTA et al, 1977; MUEHE, 2006). As cotas altimétricas estão abaixo de 40 metros (ZEE 2013a; 2013b). Sua estrutura geomorfológica abrange falésias, estirâncio, praia, dunas, depósitos de tálus e planícies de maré. Sua evolução teve início com: [...] o soerguimento da faixa litorânea no plioceno, implicando em superimposição da rede de drenagem e erosão da Formação Barreiras, seguido por um novo soerguimento com retomada do aprofundamento dos vales a um nível mais inferior. No Pleistoceno seguiu-se pela maior regressão marinha, responsável pela morfologia atual da baia de São Marcos, e o surgimento da ilha do Maranhão (UFMA 2009, p. 66). Nessa época se deu, também, a sua separação da Ilha do Medo e da ilha das pombinhas, onde ainda é possível o acesso quando a maré está baixa. O local sofre ação direta da amplitude de marés, que têm uma média de 6.6 m com ondas de 0.9 a 1.1 m de altura, o que explica a presença de planícies Flúvio-Marinha, com sedimentos arenosos e argilo-arenosos (CARVALHO, 2009 pag. 102). A presença de falésias, que segundo GUERRA e GUERRA (2009) são formas em relevos litorâneos abruptos ou escarpas, abrange grande parte da Ilha. Durante a preamar as falésias são atingidas causando a desintegração da rocha, já que a mesma é constituída por materiais friáveis. Por essa razão há um imenso depósito de tálus no estirâncio, contendo blocos abatidos e testemunhos das concreções da geologia removida pela erosão e abrasão marinha. A associação da friabilidade da rocha com a agitação decorrente das ondas favorece a presença de marmitas na camada de rochosa exposta na faixa de maré, a figura 1 apresenta as unidades geomorfológicas da ilha do Medo. A litologia que sofre a ação das marés é a dos arenitos Itapecuru predominantemente exposto nas falésias, “[...] com espessuras de 15 a 20 metros, correm em extensões contínuas na porção setentrional da Ilha do Maranhão, nas falésias da ilha, e entre a Baía de Cumã e de São Marcos” (UFMA, 2009, p.05). No sopé das falésias, cuja formação Itapecuru apresenta-se mais resistente, há a formação de cavernas que ocorrem por serem altamente suscetíveis à erosão hidráulica. Nessa área encontram-se frequentemente blocos e matacões denominados depósitos de tálus (UFMA, 2009, p. 70). Sobreposta a Formação Itapecuru, a Formação Barreira surge com características de materiais inconsolidados areno-argilosos. Com textura que vai do amarelo ao vermelhado, essa formação origina relevos de tabuleiros e colinas (suaves e altamente inclinadas). Os argirsolos vermelho-amarelos, possuem concreções que em alguns pontos se apresentam em linhas de pedra, ricas em minerais ferruginosos que, expostos, sofrem oxidação adquirindo coloração vermelha escurecida. A geologia mais recente é a Formação Açuí, é de sedimentos quaternários inconsolidados, depositados em áreas mais baixas, de geomorfologia de planícies, ambiente fluvial e fluvio-marinho e marinho litorâneo. Também se apresentam em dunas mais altas e sobre a litologia Barreiras em linhas de deposição mais antigas em sentido NE-SO.

Figura 1

Mapa das unidades geomorfológicas da ilha do Medo em São Luís do Maranhão. Fonte: CASTRO et al. 2014

Figura 2

No sentido horário: Tálus, Marmita e dunas no sentido NE-SO com ilha das Pombinhas ao fundo. Fonte: CASTRO et. al., 2014.

Conclusões

No contato da formação Barreiras e Itapecuru na ilha do Medo com o mar, notam-se encostas íngremes que se encontram em processo de recuo, as falésias ativas. É incontestável que o ambiente costeiro juntamente com sua dinâmica de variações de nível de marés, correntes e ventos representa o principal responsável pela evolução das feições presentes na Ilha do Medo. Ela está em acelerada transformação tanto por erosão quanto por sedimentação. A geomorfologia local demonstra a ação das correntes de baía que a separaram do continente e da ilha do Maranhão, bem como a ilha das Pombinhas, e das Duas Irmãs. É importante salientar, ainda, que esse tipo de ambiente é muito sensível às mudanças e algumas alterações nos fluxos de corrente e de ventos causadas pelo homem podem comprometer seu equilíbrio e o processo de deposição e erosão de sedimentos que são naturais em ambientes costeiros.

Agradecimentos

Referências

ARMESTO, R. C. G. processos naturais modificadores do relevo, Brasil. Temas Geológicos Para Educação Ambiental CPRM. Caderno I. Brasília: CPRM, 2012.
CARVALHO, I. S. Pegadas de dinossauros em depósitos estaurinos (Cenomaniano) da Bacia de São Luís (MA), Brasil. O Cretáceo na Bacia de São Luís-Grajaú. Coleção Friederich Katzer: Museu Paraense Emílio Goeldi.
COSTA, J.L.; ARAÚJO, A.A..F.; VILLAS BOAS, J.M.; FARIA, C.A.S.; SILVA NETO, C.S. & WANDERLEY FILHO, V.J.R. Projeto Gurupi. Relatório Final. Belém: DNPM/CPRM, 1977.
COSTA, F. A. A; et al. Estudo dos processos erosivos instalados na praia de pipa – RN. Universidade Federal do Rio Grande de Norte. 2005.
FEITOS¬¬¬A, C; et al. Aspectos Geomorfológicos da Ilha do Medo, São Luís – MA. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOMORFOLOGIA, 6. 2006. Goiânia – GO.
MUEHE, D. Erosão e progradação do litoral brasileiro. Brasília: MMA, 2006.
ROSSETTI, D de F.; GÓES, A. M.; TRUCKENBRODTL, W. A influência marinha nos sedimentos Barreiras. In: Bol. Mus. Paraense Emílio Goeldi, série Ciências da terra.. Belem: Mus. Emílio Goeldi, 1990., 2, 1990.
UFMA. Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental da Refinaria Premium I. V.2. São Luís - MA, 2009.
ZEE-MA. Carta topográfica reg.12. Disponível em http://www.zee.ma.gov.br/. Acesso em: 12 nov. 2013a.
ZEE-MA. Carta topográfica reg.21. Disponível em http://www.zee.ma.gov.br/. Acesso em: 12 nov. 2013b.


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