Ambientes deposicionais neocenozoicos nas superfícies de aplainamento na Depressão Periférica Paulista

Autores

Dias, R.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS) ; Perez Filho, A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS)

Resumo

A Depressão Periférica Paulista compartimentada em superfícies de aplainamento por processos erosivos, devido influências paleoclimáticas quaternárias, é recoberta em grande parte por sedimentos neocenozoicos. Resultados obtidos pela análise granulométrica, interpretados por meio do Diagrama de Flemming, permitiram classificar os mesmos baseados em critério hidrodinâmico. Tais resultados forneceram subsídios para auxiliar a determinação dos ambientes deposicionais nas diferentes superfícies.

Palavras chaves

superfícies aplainamento; ambiente deposicional; Diagrama de Flemming

Introdução

A evolução da paisagem na Depressão Periférica Paulista está associada à elaboração das superfícies de aplainamento, devido a influências paleoclimáticas. Ocasionadas por condições naturais, as mesmas resultam da ação dinâmica dos fluxos de matéria e energia, definidas, por Christofoletti (1980), como sistemas abertos. Segundo Penteado (1968) e IPT (1989), a Depressão Periférica Paulista corresponde à faixa de ocorrência sedimentares infrabasálticas Paleozoica e Mesozoica recoberta por sedimentos neocenozoicos, conforme Melo e Ponçano (1983), incluindo também, zonas descontínuas de corpos intrusivos, sob formas de diques e “sills” de diabásio. Compreender as diferentes superfícies de aplainamento capeadas por sedimentos neocenozoicos é fundamental para o entendimento evolutivo da paisagem, levando- se em consideração os condicionantes estruturais e litológicos, que afetaram sua distribuição. Neste contexto, uma fonte para possíveis interpretações de ambientes deposicionais ocorre por meio da determinação da energia do agente de transporte, em geral estimada pela análise e classificação granulométrica, com auxílio do Diagrama Triangular de Flemming. Desta forma, é possível determinar tipo de sedimento e classe textural dos depósitos neocenozoicos, evidenciando interpretações sobre a natureza dos principais mecanismos de erosão e transporte, a fim de correlacionar com ambiente deposicional em área continental, por meio do critério hidrodinâmico. Nesta perspectiva, as classificações das análises feitas por meio de tal diagrama foram fundamentais para determinação da tipificação dos ambientes deposicionais, com base no critério textural, refletindo condições hidrodinâmicas de energia específicas. Segundo Flemming (2000), quanto mais esse conjunto localiza-se próximo ao eixo de areia, maior é o nível energético; e quando localizado próximo do eixo de argila, menor é a energia disponível no ambiente.

Material e métodos

A partir da análise da literatura sobre evolução da Depressão Periférica Paulista, foi definida como área de estudo a Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí, na qual foram identificadas superfícies de aplainamento, altos e baixos terraços fluviais, e aluviões recentes (PENTEADO, 1968; MELO, 1995). Foram coletadas 72 amostras, em diferentes profundidades, para realização de análise granulométrica, em 37 pontos, com objetivo de se obter a classe textural do material de recobrimento denominado de formações superficiais. Tais formações foram interpretadas por meio da porcentagem de areia, argila e silte. A análise granulométrica foi baseada no método da pipeta (CAMARGO et al., 1986). Após a mesma, com a finalidade da determinação da tipificação dos ambientes deposicionais, foi realizada a distribuição das partículas sedimentares em classes texturais, pelo diagrama triangular proposto por Flemming (2000). Foram consideradas as proporções entre as frações areia/silte/argila, e interpretadas com dois componentes principais: areia e lama (silte+argila), constituídos por partículas menores do que 2 mm de diâmetro. De acordo com a razão areia/lama define-se 6 tipos de sedimentos: Areia (com menos de 5% de lama); Areia levemente lamosa (com 5-25% de lama); Areia lamosa (com 25-50% de lama); Lama arenosa (com 50-75% de lama); Lama levemente arenosa (com 75-95% de lama); Lama (com mais de 95% de lama) (FLEMMING, 2000). Flemming (2000) dividi estes 6 tipos de sedimentos em 25 classes texturais conforme proporções entre as frações areia/silte/argila. Este diagrama foi elaborado com o objetivo de permitir a classificação de sedimentos lamosos, por meio de critério hidrodinâmico, permitindo a distinção entre os diferentes regimes.

Resultado e discussão

A Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí foi compartimentada em duas superfícies Neogênicas: Superfície de Urucaia e Superfície de Rio Claro, originadas a partir de mudanças climáticas durante final do Terciário e no Quaternário (PENTEADO, 1968). Penteado (1968) demonstra que após extenso período de pediplanação da Superfície de Rio Claro, ocorreram episódios curtos de mudanças climáticas, que deixaram marcas na paisagem, esculpindo patamares intermediários, constituindo altos e baixos terraços fluviais. Os 37 pontos de coleta foram plotados no Mapa Hipsométrico (Figura 1), nas respectivas superfícies geomorfológicas, especializando os dados da análise granulométrica no alto, médio e baixo cursos do rio. Os resultados foram plotados no Diagrama de Flemming (2000) (Figura 2) para interpretação do ambiente energético que predominou na deposição dos sedimentos nas diferentes superfícies de aplainamento. A partir da interpretação do Diagrama de Flemming (2000), verifica-se que o ambiente deposicional do material de recobrimento localizado sobre Superfície de Urucaia foi de alta energia, devido predomínio de Areia e Areia Levemente Lamosa (classes S e A-II). Já material que recobre a Superfície de Rio Claro apresentou menor nível energético, já que houve diminuição na quantidade de areia, com aumento significativo da argila, implicando em ambiente de menor energia, classificado de Areia Lamosa (classes B-IV, C-V e A-II). Deste modo, pode-se afirmar que a deposição do material de recobrimento das formações superficiais localizados nas superfícies de Urucaia e Rio Claro, caracterizam-se por material depositado em ambiente fluvial e flúvio-lacustre. Em ambiente fluvial, predominantemente no alto curso da bacia, houve deposição do material que recobre a Superfície de Urucaia, devido predomínio da areia na constituição do mesmo. Já em relação a Superfície de Rio Claro, observa-se que ora predominava ambiente fluvial, ora flúvio-lacustre, já que houve aumento no teor de argila, portanto menor energia de transporte, para deposição. Em relação aos Altos Terraços, verifica-se que o ambiente deposicional apresentou nível energético semelhante ao da Superfície de Rio Claro, já que predomina material com característica lamosa, implicando em ambiente com menor energia para deposição (classes B-III e B-IV). Isto corrobora afirmações de Penteado (1968), na qual afirma que na base dos depósitos da Formação Rio Claro, encontram-se presente cascalheiras aluviais representadas pelos Altos Terraços. Em relação aos Baixos Terraços e Aluviões Recentes, resultados apontam alto nível energético, já que houve predomínio de sedimento com características de areia. Esta deposição ocorreu nas cheias excepcionais dos canais fluviais, devido ao alto fluxo energético que recobriu áreas de planícies de inundação e baixo terraço, depositando sedimentos mais arenosos (classes S, A-I e A-II). Neste contexto, a partir dos resultados da análise granulométrica verifica-se predomínio, em sua maioria, de areia no material de recobrimento das formações superficiais, o que confirma evidências em trabalho de campo dos pacotes arenosos sem estruturas sedimentares recobrindo as superfícies Neogênicas. Com auxílio do Diagrama de Flemming (2000), pode-se interpretar a variação do ambiente deposicional destes sedimentos, comprovando ideias de Penteado (1968), a respeito das oscilações climáticas quaternárias, na deposição das coberturas neocenozoicas da Depressão Periférica Paulista. Nesta perspectiva, destacam-se afirmações de Suguio (2003) sobre eficiência do transporte em ambiente fluvial, no qual os rios representam um dos mais importantes agentes geológicos para evolução do relevo, onde se verifica pela textura a natureza do meio de deposição. Sedimentos de granulação grossa indicam rápida deposição por águas movimentadas. Já sedimentos finamente granulados sugerem águas tranquilas. Assim, a textura do sedimento varia a partir da intensidade do meio de transporte dos grãos.

Localização dos pontos de coleta para análise granulométrica nas diferentes superfícies de aplainamento na Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí.


Plotagem dos pontos de coleta no Diagrama de Flemming, para definição do ambiente deposicional a partir da proporção areia/lama.

Conclusões

O material de recobrimento das formações superficiais na Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí caracteriza-se por dois ambientes deposicionais que se alternaram durante o Quaternário. Primeiro corresponde a regime mais energético associado às formações superficiais arenosas, que recobrem Superfície de Urucaia, Baixos Terraços e Aluviões Recentes. O segundo, cujo aumento da proporção de lama implica ambiente deposicional com energia decrescente, como flúvio-lacustre, observado no recobrimento da Superfície de Rio Claro e Altos Terraços. Logo, análises por meio do Diagrama de Flemming são fundamentais para determinação da tipificação dos ambientes deposicionais, com base no critério textural, refletindo condições hidrodinâmicas de energia específica. Deste modo, análises em execução de datações absolutas (LOE) dos materiais de recobrimento das superfícies de aplainamento fornecerão subsídios para explicações do ambiente deposicional relacionado às oscilações climáticas quaternárias.

Agradecimentos

Agradecimento a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela Bolsa de Doutorado, processo número 2011/21491-7.

Referências

CAMARGO, O.A. de; JORGE, J.A.; MONIZ, A.C.; VALADARES, J.M.A.S. Métodos de Análise Química, Mineralógica e Física de solos. Campinas: IAC, 1986.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blucher, 1980.
FLEMMING, B.W. A revised textural classification of gravel-free muddy sediments on the basis ternary diagrams. Continental Shelf Research, n. 20, p. 1125-1137, 2000.
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO-IPT. Compartimentação estrutural e evolução tectônica do Estado de São Paulo. São Paulo, 1989. (IPT. Relatório, 27394, volumes 1 e 2).
MELO, M.S. A Formação Rio Claro e depósitos associados: sedimentação neocenozóica na Depressão Periférica Paulista. São Paulo. 144p. (Tese de Doutorado, IG-USP). 1995.
MELO, M.S.; PONÇANO, W.L. Gênese, distribuição e estratigrafia dos depósitos cenozoicos no Estado de São Paulo. São Paulo, IPT. 74 p., 1983 (IPT, Monografias 9).
PENTEADO, M.M. Geomorfologia do Setor Centro-Ocidental da Depressão Periférica Paulista. (Tese de Doutoramento). Inédito. Rio Claro, 1968.
SUGUIO, K. Geologia Sedimentar. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 2003. 400p.