FOTOGRAFIA E ANTROPOGEOMORFOLOGIA: PANORAMA DAS TRANSFORMAÇÕES FISIOGRÁFICAS DA PAISAGEM NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS.

Autores

Henriques, R.J. (IGC/UFMG)

Resumo

A modificação antrópica da paisagem evidenciada no município de Belo Horizonte é produto, sobretudo, da maneira como o homem se apropria do espaço e o transforma. A fotografia é o principal registro visual dessa modificação e discorre o enfoque desse trabalho utilizando-se de uma metodologia comparativa para evidenciar as principais diferenças que a paisagem do município exibiu ao longo da história de sua formação.

Palavras chaves

Modificação da paisagem; Antropogeomorfologia; Fotografia

Introdução

A área de estudo do trabalho se refere à capital de Minas Gerais, Belo Horizonte (Figura 01). Segundo a classificação do IBGE (2006), seu arcabouço morfoestrutural corresponde ao domínio de Crátons Neoproterozoicos cujo município se insere na unidade de relevo definida por Depressão de Belo Horizonte. Depressão esta que se expressa como escudo exumado constituído primordialmente por granitos e gnaisses (COMIG, 2003). Em sua porção sul, pertencente à extremidade setentrional do Quadrilátero Ferrífero, há uma proeminente feição escarpada denominada “Serra do Curral” disposta em uma orientação WSW-ENE. Esta Serra é assinalada por intenso controle litoestrutural cuja estratigrafia está disposta sob fortes mergulhos de camadas (CPRM/SEMAD/CEMIG, 2005). Belo Horizonte, foi fundada em 12 de dezembro de 1897 na região do arraial de Curral d´EL Rey. Seu plano de urbanização, influenciado por características positivas e progressistas do início do século XX, teve seu projeto atrelado a um modelo racionalista republicano (MONTE-MÓR, 1994, p.14; GROSSI, 1997, p.20; CALVO, 2013, p.72). Posteriormente, com a criação de uma região metropolitana em 1973, o município passou por acelerada e desordenada urbanização cujo produto se evidencia na atual configuração da paisagem da capital (FREITAS, 2007, p.144; DUARTE, 2009, p.22;). O município, desse modo, torna-se um exemplo prático da expressiva transformação de uma paisagem predominantemente natural em uma consideravelmente urbana por meio da ação antrópica em uma escala temporal compreendida por pouco mais de cem anos. A fotografia, por sua vez, constitui-se no principal aparato de registro visual que revela a intensidade dessa modificação. É nessa abordagem que se insere este trabalho cujo objetivo visa traçar um panorama, sobretudo, comparativo entre a paisagem de Belo Horizonte do início da história de sua fundação em 1897 em contraponto com a configuração registrada o início do século XXI.

Material e métodos

Para desenvolvimento do trabalho foram feitas consultas a fotografias dos acervos históricos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e de sites e blogs na internet que abrangessem imagens do século XX e XXI. Utiliza-se de uma metodologia comparativa na qual são priorizadas perspectivas visuais semelhantes e aplicado tonalidades de cinza como forma de haver melhor discernimento acercas das transformações ocorridas na paisagem. Realiza-se embasamento bibliográfico sobre a evolução histórica do município desde o período de sua fundação (1897) até o atual cenário da capital mineira (2014), de modo a ser averiguada a maneira como a urbanização se desenvolveu no município. Utiliza-se uma escala de análise que abarca a área investigada e se desenvolve um estudo primordialmente qualitativo de modo a identificar o quanto a paisagem do município foi modificada em seu decorrer histórico por meio da ação antrópica de ocupação. O planalto da Serra do Curral é utilizado como principal marco de referência visual e, o produto comparativo das fotografias é sintetizado através do software CorelDRAW X3 (Figura 02).

Resultado e discussão

A comparação entre fotografias evidencia que houve considerável modificação fisiográfica da paisagem de forma generalizada no município de Belo Horizonte no decorrer de pouco mais de um centenário por meio da ação antrópica. Em relação à sua historicidade socioeconômica e urbanística, a transferência da antiga capital Vila Rica para a então região de Curral d´EL Rey, por meio de modelo de um planejamento urbanístico modernista, atraiu migrantes de diversas localidades, sobretudo aqueles pertencentes à sociedade de renda mais elevada. Posteriormente, com a criação de uma região metropolitana para Belo Horizonte em 1973, a instalação de siderúrgicas e indústrias atraiu elevado contingente populacional na qual impôs pressão na capacidade do município em atender essa demanda. Belo Horizonte, dessa maneira, cresceu de forma desordena e acelerada cujo setor imobiliário foi aquele que se desenvolveu de modo mais intensivo implantando, progressivamente, elevado crescimento vertical e adensamento urbanístico. Se antes uma descrição da paisagem resultaria em identificações constituídas predominantemente por elementos físicos, atualmente é impraticável descrever a mesma localidade sem acrescentar o elemento antrópico em seu meio. Na Figura 01 foram inseridas imagens de diferentes temporalidades, uma referente à primeira metade da história de formação de Belo Horizonte em contraponto àquelas posteriores à década de 1990. Em todas elas se evidencia considerável antropização ocorrida na capital. Chama atenção a fotografia referente a pouco menos de dois anos da fundação da nova sede da capital de Minas Gerais (1895), foto essa que se refere ao arraial de curral d`EL Rey que se constituía por pequenos casebres, vegetação adensada e possuindo a escarpa da serra como proeminente feição geomorfológica. Em contrapartida, em meados do século XXI, a serra continua possuindo sua expressividade, contudo, o meio urbano no primeiro plano da imagem passa a se configurar como elemento significativo constituinte da paisagem. Essa mesma observação é feita sobre os comparativos entre 1915 e 2012, no qual, o ângulo da perspectiva abrange uma orientação SE da borda setentrional da escarpa do Quadrilátero Ferrífero. Essa comparação, em função de abarcar uma área de maior extensão da Depressão de Belo Horizonte, destaca ainda mais a expressividade do meio urbano verticalizado o que deixa, por sua vez, a serra como um elemento em segundo plano. A Avenida Afonso Pena, principal via de circulação da porção central da capital, é outro exemplo nítido de transformações ocorridas em seu entorno. Enquanto em 1928 a via é destacada na paisagem em função de sua largura e extensão, no ano de 2007 essa mesma via se amalgama com as diversas edificações de seu entorno. A porção centro-sul, tradicionalmente ocupada pela parcela de maior renda da população, em 1910 já possuía uma malha urbanizada considerável para a época, enquanto em 1995 foi expressivo o crescimento verticalizado. Entre as imagens comparadas, a Serra do Curral na primeira metade do século XX era possível ser observada de forma plena, em contraponto, épocas mais recentes da fundação do município, o sopé de sua vertente já se torna predominantemente ocultado por detrás das edificações.

FIGURA 01

Divisões administrativas e hipsométricas do município de Belo Horizonte, Minas Gerais.

FIGURA 02

Comparação visual da modificação fisiográfica da paisagem de Belo Horizonte, Minas Gerais.

Conclusões

Este trabalho, por meio da comparação fotográfica e de sua historicidade, evidenciou a intensa urbanização e, por consequência, a considerável modificação fisiográfica da paisagem. O planalto da Serra do Curral teve sua imponência afrontada pelo expressivo crescimento verticalizado ocorrido na Depressão belo horizontina até meados do século XXI. Nesse contexto, permite-se que haja um panorama acerca do modo como o homem é capaz de se apropriar de determinado espaço e de transformá-lo em uma dada escala temporal geologicamente desprezível. Averiguações estas que somam aos crescentes estudos no ramo da antropogeomorfologia no Brasil.

Agradecimentos

Referências

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