ESTUDO DE FEIÇÔES EROSIVAS LINEARES NO TOPO DA SERRA DO TEPEQUÉM_RR
Autores
Cruz do Nascimento, E. (UFRR) ; Câmara Beserra Neta, L. (UFRR) ; Soares Tavares Júnior, S. (UFRR)
Resumo
Este estudo realizou um levantamento das feições erosivas lineares e seus aspectos morfométricos. As feições erosivas foram classificadas quanto à rede de drenagem e a presença da cobertura vegetal no talude e fundo do canal. 75% das erosões lineares já atingiram o lençol freático. No topo e na base dos taludes foram observados dutos biogênicos elaborados por erosões subsuperficiais. Portanto, a ação erosiva linear na serra do Tepequém esta em plena evolução deixando marcas na paisagem.
Palavras chaves
ravinas ; voçorocas; paisagem
Introdução
A área do estudo localiza-se no município Amajarí, no estado Roraima, denominada serra do Tepequém, apresenta variações altimétricas de 650 a 1100m destaca-se por suas características peculiares com planícies entre morros alinhados, escarpas abruptas formando uma diversidade de paisagens. As erosões lineares na serra do Tepequém tornaram-se palco de análises e estudos (BESERRA NETA, COSTA, BORGES, 2007; BESERRA NETA, 2008) visto que estas são visíveis e freqüentes nas planícies intermontanas. A pesquisa em questão retrata acerca das feições erosivas lineares da serra do Tepequém, bem como seus condicionantes, tendo como base dados morfométricos das calhas das mesmas.
Material e métodos
Foi realizado levantamento bibliográfico sobre a temática erosões lineares e da base cartográfica da serra do Tepequém. As imagens orbitais utilizadas no estudo foram retiradas do catalogo do CBERES, em 02/04/2007 com resolução de 20m. Foram realizadas duas etapas de campo (out. e dez/2010) que constaram das seguintes atividades: medições morfométricas das calhas de duas ravinas e seis voçorocas, considerando os seguintes aspectos: cabeceira, extensão, largura, profundidade, inclinação dos taludes e bifurcações. Os taludes das voçorocas foram descritos quanto à presença de dutos de origem biogênica e das águas subsuperficiais. Na aquisição dos dados foram utilizados: inclinômetro (declividade do terreno), máquina digital (aquisição de imagens), trena (dados morfométricos), e para obtenção das coordenadas Geográficas GPS tipo Garmim.
Resultado e discussão
As feições erosivas lineares estudadas na serra do Tepequém encontram-se
concentradas nas planícies intermontanas, nas proximidades dos igarapés, por
exemplo o igarapé Paiva, situado na porção sul da serra.
Na área onde se encontram as voçorocas os solos são arenosos recobertos por
savana arbustiva rasteira que o recobre parcialmente e favorece ao processo de
splash (erosão promovida pela chuva) que por conseqüência favorece ao efeito de
encrostamento do solo e dificultando a infiltração da água. A declividade dessa
área é representada por valores que variam de > 0,10º e < 4º. A partir de dados
de campo foram observados as seguintes características morfológicas das
voçorocas estudadas:
A voçoroca denominada vila1, atingiu o lençol freático apresentou canal em forma
de U, na cabeceira apresentou 3 bifurcações e paredes íngremes; a voçoroca vila
2, na porção jusante atingiu a rocha o que formou um canal estreito, sendo o
mesmo em forma de U; a voçoroca Tepequém 1, tem seu canal em formato de U que se
alarga e se afunda em direção a jusante; a voçoroca Tepequém 2 apresentou seis
bifurcações , há frente das mesmas encontram-se áreas de abatimentos em forma de
dolinas em função da erosão subsuperficial, esta já atingiu o lençol freático
com presença de térmitas o que deixa o solo instável; a voçoroca da Lixeira com
canal raso e estreito, fundo em forma de U, foi observado acúmulo de lixo no seu
canal junto a jusante; a voçoroca do Barata, apresenta canal em forma de V e já
tingiu o lençol freático.
Nas ravinas estudadas observou-se desmoronamentos recentes nas paredes e no
fundo acumulo de sedimentos, além de reentrâncias, demonstrando avanço no
processo erosivo. Quanto a largura das feições erosivas estas variaram de 2,25m
à 14,50m e comprimento de 6,08 m a 397m, a profundidade variou de 0,27 m a 12,30
m. Nos taludes das feições erosivas foram observados dutos biogênicos
(formigueiros) os quais apresentavam as seguintes dimensões: largura variando de
0,7 a 0,33 cm e comprimento de 0,7 a 0,36 cm. Também foram observados erosões
subsuperficiais na forma de dutos(figura 3), os quais apresentaram as seguintes
dimensões: largura variando de 0,12cm a 1,90m e comprimento de 0,14cm a 1,80m.
Desmoronamentos recentes situados nas paredes das feições erosivas demonstram
notavelmente acumulo de sedimentos no fundo do canal, tornando possível prever
que as erosões estão evoluindo. Quanto a rede de drenagem as voçorocas tiveram
75% conectadas e 25% desconectadas as redes de drenagem.
Quanto a cobertura vegetal nos taludes e fundo do canal das voçorocas,
predominou do tipo mista (66,67%) em relação as ativas (33,33%).
Conclusões
A ação erosiva linear na serra do Tepequém promove mudanças significativas na paisagem, visto que canais de profundidades variadas denotam nas áreas de planícies intermontanas surgimento de vales adaptados a estruturas geológicas. Através de dados morfométricos foi possível verificar a dimensão da degradação do solo na serra Tepequém, visto que se observou nas etapas de campo constante evolução das feições erosivas, tornando-nos possível prever que ao longo do tempo sua proporção será progressivamente continuada. A morfologia linear é condicionada por contatos litológicos e feições geológicas (falhas e fraturas) e as do tipo bifurcadas estão associadas aos processos de erosão superficial e subsuperficial. As drenagens apresentam controle estrutural por sua vez às voçorocas seguem esse mesmo controle, sendo do tipo conectada; onde ocorre a presença da cobertura vegetal o processo erosivo nos talude e vales e menos intenso.
Agradecimentos
Referências
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