MOVIMENTOS DE MASSA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO YUNG - JUIZ DE FORA/MG: INTERPRETAÇÕES A PARTIR DA UTILIZAÇÃO DO MODELO SINMAP

Autores

Menon Júnior, W. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA) ; Zaidan, R.T. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA)

Resumo

Os movimentos de massa são uma das causas mais frequentes de perdas humanas e econômicas em todo o mundo. A Bacia Hidrográfica do Yung, localizada na cidade de Juiz de Fora - MG (Brasil), é uma bacia que tem uma grande recorrência destes processos físicos. Desde o início da década de 1970, estudos têm sido focados na construção de modelos para prever essas mudanças no relevo. Dentre as metodologias de previsão, o modelo SINMAP mostrou ser uma ferramenta válida nesta bacia hidrográfica estudada.

Palavras chaves

Modelo SINMAP; Movimentos de Massa; Bacia do Yung

Introdução

Os movimentos de massa constituem uma das causas mais frequentes de perdas humanas e econômicas ao redor do mundo. A ameaça de ocorrência destes eventos tem sido objeto de estudo para diversos pesquisadores da comunidade científica (HIGHLAND & BOBROWSKY, 2008; ARISTIZÁBAL, et. al., 2010). No Brasil, grandes desastres estão associados aos movimentos de massa nas encostas e é no domínio de “mares de morros” onde ocorre a maior parte destes eventos dentre todo o território brasileiro. Isto é devido à decomposição das rochas cristalinas, as quais tornam o meio físico complexo e difícil em relação às construções e ações humanas (FERNANDES & AMARAL, 1996; AB’SÁBER, 2012). Diante disso, desde o final dos anos 1960 e início de 1970, estudos têm sido direcionados para o desenvolvimento de modelos capazes de prever mudanças de curto prazo nas formas de relevo. Na Geografia Física, a geomorfologia é uma das vertentes de estudo que tem mais se apropriado dessa forma de análise (HUGETT, 2007). A previsão possibilita o prognóstico e subsidia a minimização dos impactos negativos. Dentre diversos modelos matemáticos utilizados no meio acadêmico, o SINMAP (Stability INdex MAPping - Mapeamento de índice de estabilidade), elaborado por Pack (2005) têm mostrado um grande acerto nos resultados obtidos. Dentre as 156 bacias hidrográficas que compõem a drenagem do município de Juiz de Fora, a bacia escolhida para este estudo é a Bacia Hidrográfica do Córrego do Yung (BHCY) contida na bacia do médio Paraibuna, que, por sua vez, pertence à bacia do rio Paraíba do Sul. Esta unidade de análise ambiental é aquela que possui o maior numero de ocorrência dos movimentos de massa na cidade, isto é notável no trabalho de outros autores que investigaram este tipo de processo (ZAIDAN, 2009; FARIA, 2013). Assim, o objetivo central deste trabalho é analisar a distribuição espacial dos movimentos de massa na BHCY, a partir da aplicação de modelo matemático de previsão SINMAP.

Material e métodos

A metodologia SINMAP (Stability INdex MAPping - Mapeamento de índice de estabilidade), desenvolvida por Pack (1998) é um modelo análogo abstrato, matemático-estocástico, de base física, baseado no modelo do talude infinito (por exemplo, Hammond et al, 1992;. Montgomery e Dietrich, 1994) que busca equilibrar os componentes desestabilizadores da gravidade, devolvendo os componentes de atrito e coesão sobre um plano de ruptura paralelo à superfície do solo. E, integra em sua análise, o Índice Topográfico de Umidade, ou seja, a partir dessa combinação há a definição do Índice de Estabilidade (IE). Para a aplicação da metodologia em ambiente GIS, foi utilizado o módulo SINMAP 2.0 para ArcGIS 9.3. A cerca dos parâmetros de entrada utilizados, aqueles que subsidiaram a aplicação do modelo são: 1 - DEM (Digital Elevation Model) da Bacia do Yung: Gerado a partir do modelo topográfico de perfilhamento à Laser - o Light Detection and Ranging (LiDAR) no intervalo de coordenadas 670500/670000E e 7593000/7602000N sistema UTM (Universal Transverso de Mercator), referenciado no DATUM SAD69 (South American Datum) com resolução espacial de 2m x 2m, cedido pela defesa civil - PJF; 2 - Dados das propriedades físicas, hidrológicas, e do solo (parâmetros geotécnicos e hidrológicos): Baseados em bibliografias que registraram episódios de Movimentos de Massa e em locais de condições ambientais próximas à da BHCY, para tais parâmetros foram utilizados os trabalhos de RADAMBRASIL (1983), Carvalho (1989), Ferreira et. al. (1999), Guimarães (2000), Lopes et. al. (2007). 3 – Pontos de Cicatrizes de Escorregamentos: Para a validação do modelo na BHCY, foram inseridos os pontos das cicatrizes mapeados por Faria (2013). Tal trabalho teve em seu total mapeado um número de 79 cicatrizes, que estão divididas em 3 tipos: 42 Induzidos, 32 Naturais e 05 duvidosos (Natural - origem a partir de causas naturais, Induzido - origem antrópica, Duvidoso - pode ser causado por origem antrópica ou natural).

Resultado e discussão

O resultado final foi o mapa de estabilidade de encostas. Nele, de acordo com a metodologia proposta por Pack (1998), estão presentes as 6 classes de estabilidade, que, de acordo com a tabela, parte da menos estável até a mais estável, são elas: Stable, Moderately Stable, Quase-Stable, Lower Threshold, Upper Threshold e Defended. As três primeiras citadas correspondem às classes de maior estabilidade, e as três últimas são designadas aquelas de maior instabilidade. Portanto, a seguir estão os valores tabelados, e o respectivo mapa de instabilidade correspondente. A partir da análise dos dados da tabela e da análise do mapa, destaca-se que 78,57% da área total da bacia, ou 15,24km² da bacia possui parcial estabilidade ou plena estabilidade, de acordo com o modelo, sendo que 51,17% ou 9,93km² da área total da bacia corresponde à áreas de completa estabilidade (Stable), onde foram encontrados duas cicatrizes de escorregamentos, referentes à cortes de taludes de origem antrópica. Diante disso, a área cai drasticamente para a classe moderadamente estável (Moderately Stable), sendo apenas 12,05% ou 2,34km² da área total, nesta estão situados três cicatrizes de escorregamentos, os quais têm os mesmos fatores de origem da classe Stable. No que tange as áreas quase estáveis (Quasi-Stable), passa para 15,35% ou 2,97km² da área total da Bacia do Yung, nesta classe fica evidente uma transição de estabilidade, pois os números de cicatrizes de escorregamentos aumentaram, ou seja, um total de seis (6) para esta área, estes já possuem, além da origem antrópica, causas naturais de ocorrência. Diante dos dados, pouco mais de 21% da área da Bacia Hidrográfica do Córrego do Yung, ou 4,16km² do total são consideradas áreas de baixa, alta e altíssima instabilidade, segundo o modelo SINMAP. Desse total de áreas instáveis 8,32% ou 1,62km² estão no limiar inferior de instabilidade (Lower Threshold), significando que o número de cicatrizes de escorregamentos situados nesta classe foram o total de três, que são de origem induzida, ou seja, além do fator de instabilidade, a ocupação humana afetou na indução deste processo. Diante disso, os valores do limiar superior de instabilidade (Upper Threshold) são de 5,56% da área total da bacia, ou 1,08km² respectivamente, na qual duas cicatrizes de escorregamentos foram classificadas neste índice e são de origem duvidosa, ou seja, pode ser um evento causado tanto pela instabilidade natural da área, quanto à própria ocupação humana no local. O percentual de 7,55% corresponde à área de completa instabilidade (Defended) da Bacia do Yung, isso gira em torno de 1,46km² da área total. Nesta é importante ressaltar que foi aquela classe onde mais se encontraram cicatrizes de escorregamentos, um total de 62 (78,35% do total), isso gira em torno de uma cicatriz de escorregamento a cada 0,024km² da classe Defended. Em geral, isto indica que não é somente a questão do material e os processos envolvidos que causam os movimentos de massa na bacia, o fator antrópico é considerável neste aspecto, pois das setenta e nove cicatrizes encontradas, quarenta e duas são induzidas (53,17% do total). Portanto, associados às áreas de instabilidade é somado a grande quantidade de ocupações residenciais irregulares, as quais possibilitam que estes eventos de movimentos de massa se tornem cada vez mais recorrentes. Além disso, as parcelas de áreas mais instáveis correspondem aquelas onde a declividade é maior do que nas demais áreas.

Tabela

Classes de Estabilidade e respectivos valores encontrados na BHCY

Mapa

Mapa de Estabilidade de Encostas da Bacia do Yung e respectivas cicatrizes de escorregamento.

Conclusões

Através do mapa de estabilidade foi possível evidenciar os locais com maiores susceptibilidades à ocorrência de movimentos de massa na Bacia do Yung e estimar quais são as áreas mais vulneráveis a esse tipo de evento, mostrando como o modelo SINMAP é uma ferramenta útil no estudo da dinâmica destes processos, mesmo que os dados geotécnicos e hidrológicos tenham sidos adaptados à essa. Apesar da limitação de resolução espacial para a operação do modelo SINMAP - o qual somente permite uma entrada de um MDE de 8000x8000 pixels, a BHCY apresentou 86% de acertos para área, mostrando um bom resultado para esse tipo de modelo, sendo que 78,5% das cicatrizes encontram-se em áreas de máxima instabilidade (Defended). A carência de dados compatíveis de inserção para o modelo, a partir da região de estudo é latente. Em trabalhos futuros recomenda-se que sejam feitas análises dos parâmetros, visando um melhor resultado e melhor adequação com a área de estudo.

Agradecimentos

Agradecemos ao CNPq e à PROPESQ/Universidade Federal de Juiz de Fora pela concessão da bolsa de IC, que auxiliou na execução deste projeto.

Referências

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