Anais: Ensino de Geomorfologia, formação e profissionalização do Geomorfólogo
RECURSOS SENSORIAIS APLICADOS AO ENSINO DE GEOMORFOLOGIA PARA DEFICIENTES VISUAIS NO CENTRO DE APOIO PEDAGÓGICO PARA DEFICIENTES VISUAIS DO MARANHÃO (SÃO LUÍS-MA).
AUTORES
Gomes, A.F.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Vale, M.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Passinho, D.C.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Soares, J.C.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Gomes, I.B.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)
RESUMO
A Educação Inclusiva representa uma das grandes inquietações da sociedade
brasileira contemporânea atual. Este estudo tem por objetivo analisar metodologias
de ensino de geografia física com ênfase em geomorfologia operacionalizadas no
Centro de apoio pedagógico ao deficiente visual do Maranhão (CAP-MA), em São Luís.
A pesquisa foi realizada ancorada em trabalho empírico constituído de observação e
utilização dos mapas em alto-relevo e maquetes por alunos cegos nas aulas de
geografia física.
PALAVRAS CHAVES
Educação Inclusiva; Geomorfologia; CAP-MA
ABSTRACT
Inclusive Education is one of the major concerns of contemporary Brazilian society
today. This study aims to examine teaching methods of physical geography with
emphasis on geomorphology operationalized in the centro de apoio pedagógico ao
deficiente visual do Maranhão (CAP-MA) in São Luís. The research anchored in
empirical work consists of observation and use of maps in relief and models for
blind students in the classes of physical geography.
KEYWORDS
Inclusive Education; geomorphology; CAP-MA
INTRODUÇÃO
O processo educativo de alunos com necessidades educacionais especiais,
inicialmente foi baseada em uma educação segregadora, somente nas primeiras
décadas do século XXI a educação se torna inclusiva a partir de exigências e
mudanças na sociedade, principalmente na mentalidade dos docentes para a
construção de uma escola qualitativa e aberta a todos.
A questão da inclusividade nos espaços sociais educacionais representa
consideravelmente uma das grandes inquietações da sociedade contemporânea, e os
projetos efetuados pelas Universidades vêm colaborando na perspectiva de obter
um resultado positivo de inclusão escolar, tendo em vista adquirirem espaços
para a discussão do tema. A comunidade escolar deve estar preparada para
conseguir lidar com a heterogeneidade vivida em sala de aula.
A ciência geográfica tem como um dos objetivos, o de observar e diagnosticar as
relações entre o homem, a sociedade e o meio ambiente, indicando mudanças que
ocorrem em ambos, no decorrer da escala temporal e espacial, procurando
estabelecer relações de compreensão para explicar a realidade do estado atual do
envoltório geográfico.
Nesse contexto verifica-se a necessidade de busca por novas metodologias para o
ensino de geografia como disciplina inclusiva, tendo como suporte a utilização
de indicadores táteis (recursos sensoriais em alto-relevo que subsidiam o ensino
geomorfológico para cegos), como mapas, maquetes e globos em alto-relevo
voltados para deficientes visuais.
Nessa ótica, este trabalho vem a analisar e problematizar acerca de alguns
resultados observados no Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual do
Maranhão (CAP-MA), onde se buscou refletir sobre o ensino de Geomorfologia tendo
como ferramenta a cartografia tátil e utilização de maquetes e outros materiais
em alto-relevo.
MATERIAL E MÉTODOS
O desenvolvimento da pesquisa foi feito com fundamentação nos métodos dedutivo e
indutivo (GUERRA e GUERRA, 1997) e apoio dos métodos quantitativos e
qualitativo.
Foram utilizados os métodos quantitativo e qualitativo na quantificação,
tabulação dos dados, bem como na consolidação destes em gráficos, já a
perspectiva da qualificação foi operacionalizada no percurso investigativo, no
processo de análise e interpretação acerca dos dados referentes à percepção dos
discentes da disciplina de geografia referente aos conteúdos de geomorfologia do
Maranhão, como relevo e hidrografia.
A pesquisa empírica foi realizada mediante coleta de dados e posterior análise
da experiência do CAP-MA como suporte para a efetivação da política de educação
especial no que tange ao atendimento do público aqui especificado.
O percurso investigativo se constituiu na construção de uma problematização
acerca da utilização de alguns recursos didáticos específicos que o CAP opera,
como: livros em Braille, do Ensino Fundamental e Médio, globo terrestre em
relevo identificando os continentes, oceanos e acidentes geográficos, maquetes
temáticas e mapas em relevo feitos com papel específico chamado Brailex,
analisando as possibilidades da utilização destes recursos nas aulas de
Geografia. Tendo como procedimentos metodológicos os seguintes passos:
Levantamento e análise da literatura relacionada ao tema, como suporte para o
desenvolvimento da pesquisa;
Observação e conversas informais com os professores para identificar e avaliar
as metodologias aplicadas pelos mesmos em sala de aula;
Inserção de entrevistas com alunos para analisar o grau de conhecimentos dos
mesmos sobre Geografia e Geomorfologia, e de que forma os mapas táteis
possibilitam a aquisição de conhecimentos e elucidação de duvidas na área da
Geomorfologia;
O percurso investigativo constou também observação participante para o
acompanhamento de aulas da disciplina Geografia nos módulos que englobam Relevo,
Hidrografia e áreas afins.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Brasil, a Educação Especial é influenciada por experiências vividas na Europa
e nos Estados Unidos, sendo assim, os primeiros registros que datam do século
XIX, indicam como iniciativas pioneiras no que diz respeito à educação de cegos
a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos (hoje, Instituto Benjamim
Constant) em 1854, na cidade do Rio de Janeiro.
O atendimento escolar especial aos portadores de deficiência teve seu início, no
Brasil, na década de cinqüenta do século passado. Foi precisamente em 12 de
setembro de 1854 que a primeira providência neste sentido foi concretizada por
D. Pedro II. Naquela data, através do Decreto Imperial n° 1.428, D. Pedro II
fundou, na cidade do Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos
(MAZZOTTA, 1996, p.28).
Em relação ao Maranhão, no âmbito privado, em 1964, ocorreu a instalação de uma
classe especial para deficientes visuais. Esta funcionou até 1967, na Escola São
João, e era mantida pela Maçonaria. Com o aumento da demanda houve a necessidade
da criação de escola especializada nesse tipo de atendimento, assim foi fundada
em 20 de setembro de 1967 pela professora Maria da Glória Costa e Silva a Escola
de Cegos do Maranhão-ESCEMA. (COELHO, 2006)
Nesse contexto o CAP-MA, tem como proposta pedagógica o desenvolvimento
educativo, o diagnóstico, o acompanhamento ao aluno e orientação familiar. Além
disso, realiza cursos para alunos, professores e comunidade sobre alfabetização
em Sistema Braille, estimulação precoce, entre outros. Possui uma equipe
multidisciplinar composta por pedagogos, assistentes sociais, terapeutas
ocupacionais, fonoaudiólogos e psicólogos.
A análise dos dados coletados em campo apontou que a utilização de mapas de
alto-relevo pode proporcionar aos alunos a aquisição de conhecimentos nas áreas
de Geografia, englobando principalmente relevo, hidrografia e vegetação, através
da implementação da cartografia tátil. (Figura 01)
Os recursos sensoriais são confeccionados utilizando materiais de diferentes
texturas e espessura associados com materiais em relevo feitos com papel
específico chamado Brailex. Esses materiais possuem identificação em Braille,
são coloridos e tem a superfície áspera ou apenas saliente, e são utilizados
para produção dos mapas em alto-relevo.
A partir da avaliação das entrevistas com 20 discentes e 2 docentes da
instituição escolar foco do presente estudo, foi possível identificar que um
número significativo, cerca de 90% dos alunos afirmou ter uma melhor compreensão
do conteúdo da disciplina através dos mapas, pois estes facilitam o aprendizado
e o desempenho na disciplina, e apenas 10% afirmou ainda ter dificuldade nos
conteúdos apresentado, mesmo com a utilização dos recursos.
O corpo docente que participou da experiência demonstrou interesse em continuar
a desenvolver o método de ensino, pois os resultados apontam para uma melhoria
no desempenho dos discentes a partir da incorporação deste método nas aulas
práticas, o que não era possível sem o uso da metodologia ora em análise, os
entrevistados afirmaram que apenas aulas dialogadas deixam o discente apenas no
campo da imaginação, sem uma real exemplificação sensorial acerca dos fenômenos
estudados. (Figura 02)
Os professores afirmaram ainda, que as aulas de geografia relacionadas aos temas
geomorfológicos como relevo, vegetação e hidrografia da ilha do Maranhão e
interior do estado, possibilitaram um maior interesse por parte dos alunos e
consequentemente maior envolvimento com o conteúdo estudado. Após a aplicação do
método o desempenho em notas melhorou 80%, fazendo com que as médias tivessem um
significativo aumento, sendo que apenas 20% mantiveram o mesmo desempenho.
Com a observação em aula e da realização das entrevistas foi possível
identificar que o CAP – MA opera uma metodologia eficaz, obtendo significativo
êxito, garantindo aquisição considerável de conhecimento didático relacionado à
Geomorfologia e áreas afins.
Figura 01
Mapa em alto-relevo do Estado do Maranhão para o
ensino de geomorfologia, relevo do Estado.
Figura 02
Aplicação do método: aluno cego estudando o relevo
maranhense através do mapa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se perceber através desse estudo que alunos cegos, baixa visão, que a
utilização de metodologias adequadas permite que os mesmos desenvolvam as suas
competências e habilidades. Se tratando de um aluno com deficiência visual, o
docente deve estar atento aos materiais utilizados em suas aulas, pois estas devem
conter as especificidades e envolver os alunos.
A utilização dos mapas táteis, e em alto-relevo proporcionou aos alunos com
deficiência visual a inclusão ao ensino de Geografia, tendo como suporte entender
os aspectos geomorfológicos compreendendo o relevo, a hidrografia e a distribuição
da vegetação no espaço em que vivem, adquirindo uma significativa experiência
sensorial, ultrapassando assim os limites da teoria.
Dessa forma, concluímos que o CAP – MA, no que se refere ao ensino da
Geomorfologia, trabalha com uma metodologia voltada para atender aos anseios e a
realidade especifica vivenciada pelos alunos com o intuito de proporcionar um
aprendizado qualitativo e inclusivo.
AGRADECIMENTOS
Aos funcionários do Centro de Apoio pedagógico ao deficiente visual do Maranhão
(CAP_MA), pela paciência e dedicação com a qual nos atenderam sempre,
principalmente a Andressa Vieira que foi de grande importância durante as
observações feitas no local e no esclarecimento das duvidas seguintes referentes
ao ensino de
geomorfologia para os alunos cegos, e a minha família por apoiar sempre minhas
atividades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
COELHO, Washington Luís Rocha. Educação Especial. Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. Núcleo de Educação à Distância. São Luís, 2006.
GUERRA, Antônio José Teixeira; e GUERRA. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
MAZZOTTA, Marcos José Silveira. Educação especial no Brasil: História e políticas públicas. SP: Cortez, 1996.