Anais: Ensino de Geomorfologia, formação e profissionalização do Geomorfólogo
USO DO TRABALHO DE CAMPO ENQUANTO ESTRATÉGIA AO ENSINO DE GEOMORFOLOGIA DO QUATERNÁRIO.
AUTORES
Souza, S.O. (UFES) ; Cruz, E.A. (UFES) ; Silva, K.A. (UFES) ; Fileti, R.B. (UFES) ; Silva, T.B. (UFES) ; Lima, V.S. (UFES) ; Zacché, V.B. (UFES) ; Goulart, C.O. (UFES) ; Souza, G.T. (UFES)
RESUMO
Entendendo o Trabalho de Campo como toda atividade oportunizada fora da sala de
aula que busque concretizar etapas do conhecimento e/ou desenvolver habilidades em
situações concretas perante a observação e participação. Este trabalho tem o
intento de debater o uso desta estratégia aplicada ao ensino de Geomorfologia, bem
como descrever a experiência desfrutada frente ao trabalho de campo sobre
Geomorfologia do Quaternário vivenciada pelos discentes do curso de pós-graduação
em Geografia da UFES.
PALAVRAS CHAVES
Ensino de Geomorfologia; Trabalho de Campo; Quaternário
ABSTRACT
Understanding the Fieldwork as any activity outside the classroom that seeks to
implement stages of knowledge and/or develop abilities in practical situations
before the observation and participation. This study is meant to discuss the use
of this strategy applied to the teaching of geomorphology, as well as describ the
enjoyed lived in the fieldwork on the Quaternary Geomorphology experienced by
students from the postgraduate studies in Geography, UFES.
KEYWORDS
Teaching Geomorphology; Fieldwork; Quaternary
INTRODUÇÃO
O principal objetivo do estudo da Geomorfologia terrestre é o relevo e este
constituiu um importante fator na vida do homem. Sua influência na construção
civil, práticas agrícolas e até mesmo como estratégia militar entre outros
tornam o tema passível de diversos estudos, entretanto, oferece uma gama de
abordagens. Tendo como base a observação do relevo, discutir-se-á ao longo deste
texto a importância do Trabalho de Campo enquanto estratégia capaz de despertar
os alunos para o ensino de Geomorfologia, bem como relatar a experiência de
campo desenvolvida com os alunos do curso de Geografia da Universidade Federal
do Espírito Santo, através da disciplina Geomorfologia do Quaternário.
O trabalho de campo tornou-se um recurso metodológico eficaz ao estudo da
Geomorfologia, sendo, atualmente, bastante difundido em universidades, escolas e
até mesmo em simpósios. Os benefícios desta prática são notórios, uma vez que
cresce no Brasil o número de publicações científicas proporcionadas pela
pesquisa de campo.
Considerar-se-á, segundo Pereira e Souza (2007, p. 2) o trabalho de campo (TC)
como: “Toda e qualquer atividade investigativa e exploratória que ocorre fora do
ambiente escolar... ’’ Assim, considera-se o TC como toda atividade oportunizada
fora da sala de aula que busque concretizar etapas do conhecimento e/ou
desenvolver habilidades em situações concretas perante a observação e
participação (CASTROGIOVANNI, 2001).
Dentre as Ciências da Terra, a Geomorfologia tem importante papel em analisar a
vulnerabilidade do meio ambiente e direcionar sua ocupação e proteção evitando
hecatombes.Assim, apresentar-se-á procedimentos utilizados na etapa de campo
mencionada anteriormente, bem como as observações e resultados obtidos quando
analisados os aspectos geomorfológicos relacionados ao período Quaternário de
diferentes pontos. Espera-se que este material dê suporte a outras pesquisas e
possa nortear educadores no desenvolvimento e execução do trabalho de campo.
MATERIAL E MÉTODOS
A preparação teórica para a etapa de campo programada para os dias 05 e 06 de
maio do presente ano ocorreu durante as aulas da disciplina Geomorfologia do
Quaternário. Inicialmente revisaram-se termologias acerca de feições do relevo e
suas características. Adiante foram extraídas aerofotos, disponibilizadas
gratuitamente no site do IEMA dos pontos a serem visitados. Com auxílio do mapa
Geomorfológico do estado do Espírito Santo na escala de 1: 200.000 do Professor
Kenitiro Suguio, definiu-se os pontos de apoio e elementos referenciais na
paisagem.
Adiante, sob orientações do professor responsável os alunos inferiram
interpretações acerca da gênese, composição e processos que contribuíram para a
formação de cada área estudada, resgatando e visualizando na prática feições
como hollows (convexos e côncavos), anfiteatros, tabuleiros, vestígios
neotectônicos, voçorocas, falésias etc.
Com auxilio do GPS Garmim demarcaram-se as coordenadas e registrou-se em
caderneta informações das áreas estudadas, e ainda, desenharam-se croquis e
perfis dos pontos analisados. Além do mais o registro também foi efetuado por
filmadoras e câmeras digitais. Para análise dos minerais presentes no solo
utilizou-se uma lupa com lente de aumento de 10 mm. A leitura dos dados e
conversão das informações foram executadas no software ArcGIS 9.3 e
posteriormente gerou-se um mapa temático que singulariza o trajeto percorrido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o objetivo de identificar as feições do relevo formadas no período
Quaternário, os discentes de Geomorfologia do Quaternário, realizaram nos dias
supracitados, um trabalho de campo verificando, in loco, diversos elementos
estudados, a saber: complexos de rampa de colúvio, hollows, linhas de seixos,
paleovales, paleodepósitos, terraços fluviais,etc. O que nos possibilitou uma
leitura da paisagem concreta e objetiva (MOURA;PEIXOTO; SILVA,1991 et. al ).
Ao longo de dois dias, visitou-se diferentes pontos situados na parte sul do
estado do Espírito Santo. Vale lembrar que esta unidade federal, situada na
região sudeste do Brasil está inserido no domínio morfoclimático dos mares de
morros, apresenta clima tropical com variações para tropical de altitude
(AB’SÁBER, 1977). Inserido no domínio das florestas ombrófilas densas, e
ecossistemas associados típicos da Mata Atlântica. No que tange a geologia, a
região encontra-se inserida na faixa ribeira-araçuaí do Complexo Paraíba do Sul,
cuja litologia predominante é constituída de granitos-gnaisses formando
patamares escalonados de direção predominante norte-sul. Na porção leste da
área, observam-se tabuleiros do domínio da formação Barreiras, datada do
terciário, e também planícies quartzosas marinhas do período Quaternário.
Acompanha-se a seguir, uma breve descrição dos principais pontos estudados e os
aspectos relevantes frutos da análise geomorfológica.
O ponto um correspondente a região metropolitana de Vitória em direção a Serra
permitiu visualizar planos distintos na paisagem, datados do período Terciário e
Quaternário. Feições geomorfológicas relacionadas ao cristalino e aos eventos
que ocorreram nos períodos anteriores já mencionados são evidentes, como por
exemplo, a presença de um platô Terciário originado na formação Barreiras e uma
franja deposicionária, oriundos de épocas mais secas.
Adiante, no ponto dois, distrito de Jabaquara – município de Anchieta
identificou-se na paisagem o trabalho proporcionado por afluentes do rio
Benevente nos conjuntos geomorfológicos presentes. As observações relacionadas
permitem inferir a presença de planícies e terraços baixos distintos do ambiente
geológico, erosões e processos de escorregamentos e também, hollows côncavo-
planos, conforme estudado na literatura nas aulas.
Em Alfredo Chaves, ponto três, percebe-se a adaptação dos vales às linhas de
fraqueza, o que favorece a formação de descontinuidades. A evidência de facetas
trapezoidais indica e confirma a existência de processos neotectônicos na
localidade. Os pontos quatro e cinco localizados em Cachoeiro de Itapemirim,
foram próximos e apresentam características semelhantes. As evidências são de
rampas de colúvio (ponto cinco) e nítidas cascalheiras associadas às dinâmicas
de escoamento em períodos distintos (ponto quatro) . A presença de um córrego
nas áreas de estudo justifica a presença de paleoterraços e terraços. No
município de Mimoso do Sul, ponto seis, evidencia-se uma erosão gravitacional
associada também à erosão concentrada. O material pedogênico encontra-se exposto
e o talude de corte não apresenta a rocha sã.
Em Presidente Kennedy foram estudadas duas localidades. Na localidade A,a
presença de grãos equigranulares e finos confirma que as oscilações eustáticas
em conjunto com a drenagem originaram uma planície fluvio marinha com cristas
praias. Já na localidade B, o agente de seleção dos grãos é o vento, por esse
motivo, verifica-se maior polimento e concentração de quartzo na areia e nas
dunas. No penúltimo ponto (nove),a área de estudo foi o litoral de Marataízes,
particularmente as falésias. Datadas do terciário, estas possuem aparência
maciça, entretanto, são formadas por sedimentos que ora são sílticos, ora são
argilosos. Por fim, retornando ao município de Anchieta, o ponto dez, permitiu
visualizar processos de erosão da planície praial na praia central ocasionados
por correntes de deriva litorânea.
Figura 02 - Bloco diagrama que ilustra feições neotectônicas.
Elaboração: SOUZA, 2012.
Figura 01 – Mapa de Localização dos Municípios estudados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Preocupamo-nos com a valorização da geomorfologia e com o necessário
enriquecimento das aulas com técnicas que melhor deliberem o sabor geomorfológico.
Nesse sentido, todas as experiências descritas corroboram pela eficácia do
trabalho de campo, justificando a sua aplicação. No Entanto, como qualquer outro
instrumento de ensino, a realização do TC deve ser calcada, inicialmente, pelo
conhecimento prévio dos conteúdos envolvidos e do espaço a ser estudado. Assim,
considerando que o ensino de Geomorfologia deve buscar a compreensão dos
fenômenos, as ações pedagógicas não podem perder o sentido da totalidade-mundo. O
planejamento de trabalho de campo deve propiciar aos alunos um envolvimento
enquanto pesquisadores, sujeitos ativos e participantes da construção do
conhecimento, descrevendo, analisando, refletindo e questionando o espaço em que
vivem. Portanto, é evidente que a educação pela experiência leva os alunos a
passarem da curiosidade ingênua para uma curiosidade epistemológica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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