Anais: Ensino de Geomorfologia, formação e profissionalização do Geomorfólogo
A Zona Costeira nos Livros Didáticos de Geografia: buscando possibilidades para um ensino contextualizado.
AUTORES
Magalhães, D.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ)
RESUMO
Discute a zona costeira no livro didático de Geografia. Tece comentários sobre o
ensino contextualizado de Geografia. Discute a prática docente, avaliação do livro
didático, e a zona costeira brasileira e cearense. A metodologia baseou-se em
revisão bibliográfica e análise de livros didáticos. Observou-se que a temática é
pouco discutida, e quase sempre está associada às questões ambientais, sugerindo
que (re)pensemos práticas de ensino e a produção de material didático.
PALAVRAS CHAVES
Zona Costeira; Livros didáticos; Geografia
ABSTRACT
This paper discusses how geography textbooks address the subject “coastal zone”.
The work also discusses the teaching practice, assessment of the textbook and on
the coastal zone of Brazil and Ceará State. The methodology was literature review,
and analyses of textbooks. It is concluded that the subject “coastal zone” is
rarely discussed, and when it happens, is almost always associated with
environmental issues. This fact suggests the need of (re)thinking the teaching
practice on classrooms.
KEYWORDS
Coastal zone; Textbook; Geography
INTRODUÇÃO
Os livros didáticos são os materiais pedagógicos de maior uso nas aulas de
Geografia. Eles historicamente, conforme aponta Vesentini (2009), apresentam uma
estrutura que privilegia uma sequência de certa forma preestabelecida: primeiro
realizam uma abordagem sobre o quadro natural geral da área de estudo (Brasil ou
qualquer outra parte do mundo); em seguida, os aspectos
populacionais/demográficos dessas áreas; os aspectos econômicos; e, finalmente,
realizam-se apontamentos relacionados à geopolítica e à geografia política
mundial. Dessa forma, os conteúdos foram relativamente cristalizados nesses
materiais.
Assim, temas que poderiam ser abordados geograficamente, como a temática da zona
costeira, pouco aparecem nos textos, ou surgem de forma superficial, dispersa
entre tantos outros temas. Por exemplo, ao considerarmos a cidade de Fortaleza,
situada na zona costeira cearense, poder-se-ia contextualizar o ensino de
Geografia com a realidade dessa área, sendo possível elencar uma série de
discussões pertinentes ao tema. Tal fato não acontece.
No entanto, para se pensar em um ensino contextualizado, são necessários
materiais didáticos e metodologias adequadas ao seu desenvolvimento. Essa quase
hegemonia nos põe a necessidade de discutirmos o livro didático de Geografia, no
sentido de compreender sua utilidade, abordagem dos conteúdos, forma de
veiculação das informações, e sua função na construção de uma consciência
crítica pelos estudantes, mesmo que haja o entendimento de que o mesmo é só mais
um dos materiais que podem instrumentalizar as situações de ensino-aprendizagem.
Cabe-nos então questionar o que é o livro didático, o que o faz tão importante
ao ensino (nesse caso, o ensino de Geografia), o que possui de característica
marcante capaz de destacá-lo em relação a outras linguagens que, se
contextualizadas no espaço escolar, podem (e devem) fazer parte do processo de
construção do conhecimento.
MATERIAL E MÉTODOS
Dividimos nossas discussões em três momentos distintos: o primeiro corresponde a
uma reflexão sobre o livro didático de Geografia, o que ele representa para o
ensino da Geografia escolar, suas vantagens e limitações. O segundo discute
diferentes aspectos da zona costeira de modo a revelar a importância de se
estudar esse conteúdo nas aulas de Geografia. O terceiro e último momento
refere-se a uma análise de algumas obras que abordam de diferentes formas a zona
costeira.
Devemos salientar que este trabalho resulta de uma releitura sobre o Trabalho de
Graduação em Licenciatura em Geografia do autor na Universidade Federal do Ceará
em 2011, logo, a metodologia utilizada é uma adequação daquela empregada na
pesquisa original. Assim, buscando um melhor ordenamento metodológico
desenvolvemos a seguinte sequência: revisão bibliográfica, análise de livros
didáticos e elaboração do presente texto.
Na revisão bibliográfica realizada, buscamos textos de diferentes autores
(livros, sites e periódicos) que discutissem a temática da zona costeira, além
da análise de livros didáticos de Geografia e de práticas pedagógicas para o
ensino dessa Ciência/disciplina escolar.
O segundo momento configurou-se na análise de diferentes livros didáticos de
Geografia, com o objetivo de identificar nesses materiais a forma como a
temática da zona costeira é discutida, já que esse é o principal objetivo da
presente pesquisa. Para tanto, analisamos livros utilizados em diferentes etapas
da Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio). Ao todo foram cinco livros
didáticos, escolhidos aleatoriamente no tocante à realidade nacional, e de forma
orientada no tocante à realidade do Estado do Ceará.
O terceiro e último momento consistiu na sistematização dos dados adquiridos
para a produção do texto ora apresentado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Zona Costeira representa a área de interação entre três elementos da dinâmica
natural do planeta: o continente, o oceano e a atmosfera. Essa diversidade de
ambientes constrói um mosaico complexo, de extrema relevância ambiental e
social, palco das mais intensas trocas de energia e matéria da Terra (BRANDÃO,
2008).
Produzidas basicamente por processos tectônicos, diversas vezes foram formadas e
destruídas zonas costeiras na história geológica. No Brasil, a atual
configuração das regiões costeiras deriva da separação do Gondwana (face
meridional do megacontinente Pangea), que aqui se completou há aproximadamente
100 MA (Cretáceo – Era Mesozóica) (CLAUDINO-SALES, 2005).
A ação dos processos endógenos e exógenos na esculturação do relevo costeiro
brasileiro produziu uma área com diferentes aspectos geomorfológicos, de modo
que uma série de unidades ambientais podem ser reconhecidas nas paisagens
costeiras brasileiras: praias, planícies flúvio-marinhas, terraços marinhos,
falésias, campos de dunas, pontas litorâneas, costões rochosos, dentre outros.
Enquanto isso é crescente a pressão social exercida sobre a zona costeira, e
essa se expressa claramente no dado de que atualmente 2/3 da população mundial
vive a menos de 50 km do mar (UNESCO, 1997). O próprio Brasil é exemplo claro
disso ao percebermos que, dos dezessete estados costeiros, treze de suas
capitais estão localizadas em regiões costeiras.
Não diferente do resto da costa brasileira, a cearense também é utilizada para
os mais diferenciados fins que, aliás, coincidem em sua maioria: habitação,
pesca, atividades portuárias, comércio, turismo. O fato é que, no Ceará, também
é crescente a pressão social exercida sobre a zona costeira.
Se foi a partir do século XX que a população mundial “descobriu” a região
costeira como lugar preferencial de moradia (VASCONCELOS, 2005), no Ceará, esse
processo fortaleceu-se a partir da década de 1980, com o incentivo do Governo do
Estado à atividade turística. Foi a partir desse período que se fortaleceu o
processo de expansão imobiliária na zona costeira cearense, com o aumento de
segundas residências nas cidades e vilas litorâneas, e, consequentemente, o
acirramento das disputas territoriais e fundiárias mais recentes no estado.
Mas, afinal, como a zona costeira é trabalhada nos livros didáticos? E mais,
como a zona costeira cearense é vista/inserida nesse processo?
Os livros analisados foram: 1) Geografia geral e do Brasil: estudos para a
compreensão do espaço, de James Onnig Tamdjian e Ivan Lazzari Mendes, Editora
FTD; 2) Coleção Geografia do Século XXI, Brasil: o despontar de uma grande
potência, de Francisco Coelho Sampaio, Editora Positivo; 3) Geografia: Homem &
Espaço. O capitalismo, as condições de desenvolvimento, os blocos econômicos e o
espaço americano, de Elian Alabi Lucci e Anselmo Lázaro Branco, Editora Saraiva;
4) Construindo o Ceará – Geografia, de Tércia Correia Cavalcante, Zenilde Baima
Amora, José Borzachiello da Silva e Antônia Carols da Silva, Edições Demócrito
Rocha; 5) Geografia do Ceará, de Francisco Coelho Sampaio, Atual Editora.
Ao considerarmos um tema específico (a zona costeira) para buscar compreender a
maneira como o mesmo é, ou não, retratado nos livros escolares de Geografia,
pudemos observar diversos aspectos.
O primeiro refere-se à prática pedagógica em si. Nesse tocante, verifica-se que
há a necessidade constante de o professor analisar criticamente o livro didático
que tem à sua disposição, haja vista que assim pode pensar melhor suas ações em
relação a esse material e ao ensino de Geografia.
O segundo indica que a zona costeira é um tema pouco abordado nos livros de
Geografia do Ensino Básico. Podemos afirmar isso pelo fato de que, para
desenvolvermos este estudo, buscamos em inúmeras obras referências diretas ou
indiretas ao tema, e poucas vezes estas foram encontradas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos livros analisados podemos perceber que a zona costeira surge sempre
relacionada a outros assuntos, como o turismo, por exemplo. Dificilmente é
explorada em um tópico ou capítulo específico para o seu estudo.
Vimos também que uma forma interessante de se abordar essa temática é
contextualizando-a ao cotidiano dos estudantes, através de metodologias
diferenciadas de ensino, como o estudo do meio.
Pode-se também concluir, com base nas análises realizadas, que livros didáticos
produzidos no próprio estado que discutem, nesse caso, o Ceará, são muito úteis em
termos de possibilitar um ensino contextualizado da Geografia.
A partir da nossa pesquisa, concluímos que a zona costeira tem uma importância
muito grande na atual configuração espacial do Brasil, e todo esse destaque deve
ser devidamente retratado nos livros didáticos, a fim de subsidiar um ensino capaz
de provocar reflexões acerca da realidade geográfica do país, buscando a
construção de conhecimentos significativos e cidadãos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
BRANDÃO, R. de L. Regiões costeiras. IN: SILVA, Cássio Roberto da (editor). Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado, para entender o presente e prever o futuro. Rio de Janeiro: CPRM, 2008.
CLAUDINO-SALES, V. Os litorais cearenses. IN: SILVA, J. B.; CAVALCANTE, T.; DANTAS, E. W. C. (Orgs). Ceará: um novo olhar geográfico. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2005
PONTUSCHKA, N. N.; PAGANELLI, T. Y.; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender Geografia. 1ª ed. – São Paulo: Cortez, 2007.
UNESCO. Methodological Guide to integrated coastal managenament. 1997.
VASCONCELOS, F. P. Gestão Integrada da Zona Costeira: ocupação antrópica desordenada, erosão, assoreamento e poluição ambiental no litoral. Fortaleza: Premius, 2005.
VESENTINI, J. W. A questão do livro didático no ensino de Geografia. IN: VESENTINI, José William (org.). Geografia e ensino: textos críticos. 11ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2009.
LISTA DOS LIVROS DIDÁTICOS ANALISADOS
CAVALCANTE, T. C.; AMORA, Z. B.; SILVA, J. B. da; SILVA, A. C. da. Construindo o Ceará: Geografia. 3ª ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2009.
LUCCI, E. A. Geografia: homem & espaço: o capitalismo, as condições de desenvolvimento, os blocos econômicos e o espaço americano – 7ª série / Elian Alabi
Lucci, Anselmo Lázaro Branco. 20ª ed – São Paulo: Saraiva, 2005.
SAMPAIO, F. C. A organização do espaço americano – 7ª série. 2ª ed. – Curitiba: Positivo, 2005.
______. Geografia do Ceará: 4º ano. 1ª ed. – São Paulo: Atual, 2008.
TAMDJIAN, J. O. Geografia geral e do Brasil: estudos para a compreensão do espaço: ensino médio / volume único. James & Mendes – São Paulo: FTD, 2005.