Anais: Ensino de Geomorfologia, formação e profissionalização do Geomorfólogo

Geoturismo e educação nas quedas d’água do Município de Indianópolis-MG: a prática de campo em busca de uma educação mais eficaz

AUTORES
Araújo, M.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA) ; Bento, L.C.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA) ; Rodrigues, S.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA)

RESUMO
O trabalho a seguir vem de encontro à prática do geoturismo como uma ferramenta didática a fim de utilizar as potencialidades do município de Indianópolis/MG, em específico suas quedas d’água. Para sua realização empregou-se análises qualitativas dos dados coletados em campo e em gabinete de modo a selecionar o local mais adequado para a realização de possíveis trabalhos de campo, os resultados serão divulgados eletronicamente de modo a facilitar o trabalho dos professores.

PALAVRAS CHAVES
Geoturismo; Trabalho de Campo; Educação

ABSTRACT
The next work is this in accordance the practice of geotourism as a teaching tool in order to utilize the potential of the city of Indianapolis / MG, in particular its waterfalls. For realization of this work we used qualitative analyzes of data collected in field and office in order to select the most appropriate place to conduct field work possible, the results will be disclosed electronically to facilitate the teacher's work.

KEYWORDS
Geotourism; Field work; Education

INTRODUÇÃO
Em 1990 surge no cenário mundial um novo segmento turístico de base natural definido como geoturismo, um novo meio de valorizar, divulgar e promover a geoconservação da Geodiversidade. Deste modo, a geodiversidade surge para alguns autores como Gray (2004) como a variedade de aspectos geológicos, geomorfológicos e do solo, incluindo suas dinâmicas. Segundo Brilha (2005), estes elementos são a base e o sustento da vida do planeta, assim merece a nossa atenção para o fato da necessidade de sua geoconservação sendo também o único registro da vida na Terra. No entanto, estes elementos estão atualmente em desvalorização, dando-se ênfase apenas para a vertente biológica principalmente quando relacionado ao turismo, desta forma, vê-se a necessidade da ressignificação destes termos a fim de sensibilizar a população em relação à importância da geodiversidade. Quando falamos em uma ressignificação, esta partiria da inserção dos conceitos relacionados ao patrimônio natural abiótico no contexto da educação ambiental, bem como no currículo de disciplinas pertencentes ao ensino fundamental e médio, como por exemplo, a geografia. Desta forma, fazer com que haja uma maior percepção dos recursos naturais e suas potencialidades de uso e relevância, fazendo com que seja rompida a atual postura de desvalorização. Para que haja essa divulgação nas escolas, usa-se o geoturismo como uma ferramenta didática, possibilitando aos alunos não só a vivência de novas experiências, mas também de difusão de difundir os conceitos relacionados à geodiversidade através de um conhecimento prático que o trabalho de campo proporciona, e também dinamizando as aulas de geografia. Diante disso, o trabalho aqui apresentado visa aproveitar o potencial geoturístico das quedas d’águas do município de Indianópolis/ MG, juntamente com a ampla geodiversidade que o mesmo possui, trabalhando estes conceitos com os alunos da Escola Municipal de Indianópolis.

MATERIAL E MÉTODOS
Os procedimentos metodológicos usados para a abordagem do trabalho baseou-se em três etapas: revisão bibliográfica, trabalhos de campo e trabalhos de gabinete. Sendo assim, das etapas de levantamento bibliográfico foram extraídas as metodologias a serem empregadas no decorrer do projeto, bem como conceitos e modelos teóricos dando assim maior credibilidade ao trabalho. A etapa de campo pauta-se no reconhecimento do potencial das quedas d’água do município, realizando um levantamento qualitativo destes potenciais averiguando se de fato um trabalho de campo com alunos do 9º ano seria de fato viável. Os conceitos relacionados a outras disciplinas como a Biologia podem ser trabalhados também durante o campo com os alunos, enriquecendo ainda mais o campo. Observou-se então durante essa etapa de trabalhos de campo, fatores como acessibilidade, o grau de conservação do ambiente onde a queda esta inserida, bem como a quantidade de exemplares da geodiversidade existentes nos locais. E, por fim, os trabalhos de gabinete consistiram em análises e interpretação dos dados obtidos em campo e em levantamento bibliográfico, de modo a sistematiza-los e divulga-los em meios digitais bem como em oficinas com os professores da Escola Municipal de Indianópolis.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tendo como base o trabalho de Bento (2010) e os trabalhos de campo realizados foi possível selecionar as quedas d’água que possuem maior relevância científica destacando questões sobre litologia, relevo e dinâmica da paisagem. Observou-se também se as quedas estão inseridas em áreas ainda preservadas, com uma grande variedade de elementos bióticos que também podem ser aproveitados para fins didáticos, enriquecendo ainda mais os trabalhos de campo. Este, por sua vez, apresenta-se de extrema importância para o aprendizado escolar principalmente no ensino de Geografia. Segundo Scortegagna & Negrão (2005), a execução de um trabalho de campo implica em que aluno aprenda percebendo, sendo assim é possível que ele enxergue tantos aspectos naturais como sociais bem de perto, de forma que ele mesmo possa fazer suas próprias constatações, facilitando sua aprendizagem, tornando-a mais palpável. Quando nos relacionamos com disciplinas que envolvem os aspectos naturais, como a Geografia e a Biologia, seu ensino em sala de aula torna-se ainda mais complexo, pois o nível de abstração necessário para seu entendimento é muito grande além de cansativo e maçante, isso pode fazer (e faz) com que o aluno perca o interesse na matéria complicando ainda mais o processo de aprendizado. Entretanto, quando o aluno é levado ao campo, lhe é dado a oportunidade de perceber o real, e assim o professor pode conflitar o que foi ensinado na sala de aula e o que ele possui ali na prática, fazendo com que ele perceba ao seu modo a dinâmica natural do meio. Com essa aproximação do aluno com real há o despertar do interesse deixando mais prazeroso e palpável o processo de ensino, isso faz com que o aluno construa conceitos mais próximos à sua realidade. Scortegagna & Negrão (2005), afirmam que os trabalhos de campo são fundamentais para a observação e interpretação do aluno, pois quando confrontados com algo palpável, que eles podem ver e tocar faz com que ele entenda e produza seu próprio conhecimento, e quando o aluno se apropria do conhecimento o processo de ensino seja mais completo e mais eficaz. Levando em consideração todos estes fatores, selecionou-se uma queda que se adequasse melhor e tivesse maior potencial para fins didáticos e geoturísticos. Levaram-se em consideração critérios qualitativos, dando prioridade para as quedas d’água que possuíssem perfil litoestratigráfico onde se fosse possível visualizar o máximo de exemplares, além de outros fatores como movimentações tectônicas já ocorridas como exemplo falhas tectônicas que ocorrem na região. Também foi considerado para a escolha da queda a distância e condições das trilhas de acesso, bem como a possibilidade de recreação e abordagem temática oferecida pelo local. Diante destes fatores montou-se um quadro comparativo (Figura 1), discriminando as características de cada queda identificada por Bento (2010) proporcionando aos professores não só da Escola Municipal de Indianópolis como também de áreas afins, para que os mesmos também possam escolher o local que mais se adapte às suas necessidades. No caso da queda selecionada buscamos priorizar as necessidades de nosso público alvo que são os alunos do 9º ano da Escola Municipal de Indianópolis, Indianópolis/ MG. A queda que apresentou melhores condições para a realização de campos foi o Salto de Furnas, o qual está localizado a 10 km do perímetro urbano de Indianópolis, no Ribeirão de Furnas e possui uma queda de 40 m onde se é possível visualizar camadas de gnaisse, arenito Botucatu e basalto da Formação Serra Geral. Na queda também há a presença do que chamamos de canhão, provocado por erosão regressiva, onde a rocha mais frágil (no caso o arenito) deixando sem sustentação os blocos mais resistentes no caso o basalto. Os exemplares de rochas encontrados no Salto de Furnas são datados do Pré- Cambriano e Mesozoico, abaixo na figura 2, encontra-se a representação do perfil litoestratigráfico do Salto de Furnas.

FIGURA 1

Quadro comparativo das quedas d’água catalogadas por Bento (2010)

FIGURA 2

Perfil Litoestratigráfico do Salto de Furnas

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Teve-se como objetivo selecionar locais adequados para a realização de trabalhos de campo que unam geoturismo e educação nas escolas, tendo como público alvo os alunos do 9º ano da Escola Municipal de Indianópolis. Sendo assim, os locais escolhidos foram as quedas d’ águas que são abundantes na região, dentre as 20 avaliadas qualitativamente. A priori, a queda que mais se adequou ao público alvo selecionado foi o Salto de Furnas, pois além da diversidade de elementos Geológicos e Geomorfológicos, possui grande beleza cênica e trilha acessível para diversos fins. Deste modo, escolhida a queda e proporcionando o trabalho de campo tem-se a pretensão de aproximar a população deste patrimônio natural existente na região e sensibiliza-los em relação a importância de sua conservação e também contribuir de forma significativa e prática no conteúdo a ser tratado nas escolas.

AGRADECIMENTOS
Agradecimentos ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo financiamento do projeto 401027/2010-4, a CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa de doutorado e a FAPEMIG pelo apoio na participação deste evento.

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