Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
Estudo Geomorfológico no oeste do Rio Grande do Sul: município de Manoel Viana
AUTORES
Sccoti, A. (UFSM) ; Robaina, L.E.S. (UFSM) ; Trentin, R. (UFSM) ; Menezes, D.J. (UFSM)
RESUMO
O presente trabalho apresenta o mapeamento geomorfológico do município de Manoel
Viana, localizada no oeste do Rio Grande do Sul, que apresenta significativos
processos de dinâmica superficiais como voçorocas e areais. O principal objetivo
do
trabalho é analisar e caracterizar as unidades geomorfológicas do município em
níveis taxonômicos, trabalhando em diferentes escalas de análise e mapeamento.
PALAVRAS CHAVES
Compartimentação; Manoel Viana; Processos erosivos
ABSTRACT
This paper presents geomorphological mapping of the municipality of Manoel Viana,
located in the western Rio Grande do Sul, which has significant surfaces
processes as gullies and sandy. The main objective of this study is to analyze and
characterize the geomorphological units the municipality in taxonomic levels,
working on different scales of analysis and mapping.
KEYWORDS
Subdivision; Manoel Viana; Process erosion
INTRODUÇÃO
Para introduzir a reflexão acerca das questões geomorfológicas parte-se da
premissa de que o relevo - objeto de estudo da geomorfologia - é o resultado da
atuação de forças antagônicas sintetizadas pelas atividades tectônicas e
estruturais, e pelos mecanismos morfoclimáticos ao longo do tempo geológico,
podendo ocorrer de forma sucessiva ou simultânea.
Conforme Penteado-Orelhana (1985), a análise geomorfológica consiste na
identificação das formas de relevo, por meio de estudo de sua origem, estrutura,
natureza das rochas, clima e dos fatores endógenos e exógenos responsáveis pelo
modelado ou formação de determinados elementos da superfície terrestre, desta
forma, os estudos geomorfológicos podem contribuir no planejamento e conservação
dos recursos naturais, estabelecendo formas racionais de uso destes recursos,
sem alterar bruscamente o equilíbrio.
Estes estudos permitem ainda a análise espaço-temporal dos processos atuantes no
modelado do relevo terrestre, possibilitando a identificação ou prevenção de
processos de degradação ambiental relacionado aos elementos físicos. Desta
maneira, a análise geomorfológica insere-se nos estudo ambientais, contribuindo
para orientar a instalação das atividades humanas (CHRISTOFOLETTI, 2001).
Assim, o estudo do relevo realizado pela geomorfologia é entendido, conforme
Casseti (1991), como a busca na explicação das transformações do georelevo,
portanto, refere-se não apenas à morfologia (forma), mas também à fisiologia
(função), incorporando o movimento histórico das sociedades e vinculando com a
ciência geográfica.
MATERIAL E MÉTODOS
A definição geomorfológica do presente trabalho direciona-se nas propostas de
interpretação geomorfológica elaboradas por Ab’Sáber (1969) e Tricart (1977) e
que mais recentemente foram estudadas por Ross (1990, 1992), tendo como premissa
o planejamento ambiental através de uma proposta taxonômica.
A partir dessa assertiva, o produto final foi definido por unidades
geomorfológicas através da compreensão da funcionalidade da paisagem, visando à
análise, descrição e integração das diferentes formas de relevo e da drenagem,
identificação das litologias presentes, além da caracterização dos solos e dos
processos de dinâmica superficial, tendo como resultado, a compartimentação
geomorfológica.
Para o desenvolvimento do trabalho, utilizaram-se níveis de abordagem
desenvolvidos ao longo da pesquisa para as análises qualitativas e
quantitativas, destacando sempre que a análise geral do trabalho apresenta uma
sistemática de análise qualitativa dos dados; as especificações quantitativas
foram utilizadas com o intuito apenas de comparações entre classes e categorias
analisadas.
O levantamento de material cartográfico serviu de apoio para a construção dos
mapas. A base cartográfica, utilizada, foram as cartas topográficas do exército,
elaboradas pela Diretoria de Serviços Geográfico (DSG/IBGE, 1977), na escala
1:50.000, que após atualizações por meios de imagens de Satélite LANDSAT 5 e
dados de RADAR SRTM/TOPODATA de resolução 30 metros, permitiram a definição do
mapa base da área de estudo.
Para o levantamento morfométrico/morfológico do relevo e da rede de drenagem,
foram utilizados procedimentos técnicos com o auxílio de SIGs e a análise das
cartas topográficas e modelos digitais de terreno.
Para o processamento dos dados, foi construído um banco de dados
georreferenciado no software SPRING em associação com o ArcGis, contendo todas
as informações dos levantamentos, contribuindo para a organização e manipulação
dos dados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A compartimentação geomorfológica do município de Manoel Viana leva em
consideração os processos morfogenéticos e morfodinâmicos do relevo, através da
análise e caracterização dos parâmetros morfológicos e morfométricos das bacias
hidrográficas existentes no município.
Ao definir seis níveis taxonômicos, permeou-se por diferentes escalas
de análise e abordagem. No primeiro e segundo nível utilizou-se a escala de 1:
250.000 e no terceiro nível utilizou-se a escala de 1:100.000, sendo que estes
níveis tiveram como a base de análise a bacia hidrográfica do Rio Ibicui.
A partir do quarto nível, foi utilizado o recorte espacial do município de
Manoel Viana e a escala de análise base foi 1:50.000. Com o auxílio de trabalhos
de campo e sobrevôos da área, definiu-se as formas de relevo (4º nível), a
identificação dos padrões, tipos e setores das vertentes (5º nível) e das
feições resultantes dos processos de dinâmica superficiais (6º nível).
1º nível taxonômico: Este nível apresenta os Domínios Morfoestruturais. São
definidos dois grandes domínios morfoestruturais, a Depressão Periférica do Rio
Grande do Sul e o Planalto Serra Geral, conforme definição apresentada por
Robaina, et al. (2010).
2º nível taxonômico: Neste nível são apresentadas as províncias geomorfológicas
sobre as quais o município de Manoel Viana encontra-se, que são: a Depressão do
Ibicuí, o Planalto das Missões e o Planalto da Campanha.
3º nível taxonômico: Neste nível são apresentadas as unidades geomorfológicas,
correspondentes ao município de Manoel Viana que são: Patamares Residuais em
Arenitos, Modelado de Patamares da Campanha e Modelado de Rebordo do Planalto.
No 4° nível taxonômico são definidas seis formas de relevo: colinas suaves de
arenito, morrotes isolados e cornijas de arenito, rampas alúvio colúvio, colinas
suaves de vulcânica intercaladas com arenitos, Rampas alúvio colúvio do Ibicuí e
morros e morrotes de rochas vulcânicas. Colinas suaves de arenito: As colinas de
arenito são caracterizadas por áreas suavemente onduladas com pequenas
amplitudes, com substrato de rochas areníticas e solos arenosos e sua ocorrência
concentra-se na porção central do município de Manoel Viana;Morrotes isolados e
cornijas de arenito: Os morrotes de arenito são caracterizados pelo relevo
ondulado a fortemente ondulado, de morros e morrotes, regionalmente denominados
de cerros;Colinas suaves de vulcânica intercaladas com arenito: Esta unidade
pertencente modelado de patamares da campanha e representa 610,53 km² do total
da área de estudo. Ocorrem em altitudes menores que 180 metros e em declividades
predominantes ao redor de 5%;Morros e morrotes de rochas vulcânicas: os morros e
morrotes pertencente ao modelado do Rebordo abrangem uma área de 21,33 km²
naporção nordeste do município, locais que apresentam vertentes retilíneas
entalhadas, que formam vales encaixados de encostas íngremes, associadas ao
Rebordo do planalto, área de transição da depressão para o Planalto;Rampas
alúvio-colúvio dos arroios: Esta unidade compreende 161,36 km², onde o relevo
apresenta uma topografia plana, com o predomínio de rampas e declividades
menores de 5%;Rampas alúvio- colúvio do rio Ibicuí: No município de Manoel Viana
o Rio Ibicuí, forma depósitos de barra de pontal e de canal formando praias e
ilhas, importante característica da região.
O 5° nível é definido pelos padrões de vertentes e topos que ocorrem em cada
modelado de relevo definido.O município de Manoel Viana apresenta um relevo
característico, com predomínio de segmentos de vertentes retilíneos divergentes,
ocorrendo ainda com grande frequência os segmentos de vertentes retilíneas
convergentes, côncavas convergentes, junto ao fundo de vale e, convexas
convergentes, junto a porções superiores das vertentes.
O 6° nível taxonômico é caracterizado pelas feições superficiais que ocorrem que
na área de estudo.São comuns a ocorrência das feições superficiais de areais,
ravinas e voçorocas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compartimentação geomorfológica aqui apresentada procura definir, de forma
geral, as formas e unidades de relevo do município de Manoel Viana identificando
as principais feições encontradas nestas áreas.
O mapa geomorfológico representa um dos produtos muito importante na análise do
meio físico, que pode ainda ser utilizado como produto base para compartimentação
geoambiental, quando associado aos processos de uso e ocupação da terra e da
cobertura vegetal.
O refinamento das informações geomorfológicas, quanto à definição dos níveis
taxonômicos com maior o detalhamento de processos identificados no mapeamento
geomorfológico, permite melhor subsídio na identificação de potencialidades e
fragilidades da área.
No que diz respeito à relevância do trabalho, entende-se que o mesmo serve de base
para estudos de maiores detalhes e sugere-se aproximar a discussão para a
aplicação do planejamento e ordenamento territorial.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a FAPERGS e o CNPq pelo apoio financeiro na execução do trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
AB’SABER, A. N. Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o quartenário. Geomorfologia, São Paulo, Instituto de Geografia – USP, n.19, p,1-23, 1969.
CASSETI, V. Ambiente e Aproximação do Relevo. São Paulo: Contexto, 1991. 147 p.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia Fluvial. São Paulo: Edgard Blücher, 1980. 313 p.
______________. Aplicabilidade do Conhecimento Geomorfológico nos Projetos de Planejamento. In: GUERRA, A J. T.; CUNHA, S. B. (Org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p 415-440.
DEMEK, J. Generalization of geomorphological maps in progress made, geomorphological mapping. Brno, 1977.
DE NARDIN, D. Zoneamento Geoambiental no Oeste do Rio Grande do Sul: um Estudo em Bacias hidrográficas. 2009. 230 f. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. UFRGS, Porto Alegre. 2009.
Geomorfologia conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. p. 105-128.
GUERRA, A. T.; GUERRA, A. J. T. Novo Dicionário Geológico-Geomorfológico. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 652 p.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Diretoria de Serviços Geográfico. Porto Alegre: Primeira Diretoria de Levantamento, 1977.
MENEGOTTO, E.; SARTORI, P. L. P.; MARCIEL FILHO, C. Nova Sequencia Sedimentar sobre a Serra Geral no Rio Grande do Sul. Publicação Especial do Instituto de Solos e Culturas, Seção Geologia e Mineralogia, Santa Maria, 1:1-19, 1968.
MESCERJAKOV, J. P. Les concepts de morphostructure et de morphosculture: un nouvel instrument de l’analyse geomorphologique. Seção de Geomorfologia do Instituto de Geografia da Academia de Ciências das URSS. Moscou, 1968.
MÜLLER FILHO, I. L. Notas para o Estudo de Geomorfologia do Rio Grande do Sul, Brasil. Publicação Especial n. 1. Santa Maria: Imprensa Universitária. UFSM. 1970.
PENTEADO-ORELHANA, M. M. Metodologia Integrada no Estudo do Meio Ambiente. Geografia, Rio Claro, v. 10, n.20, out. 1985. p. 125-148.
ROBAINA, L. E. S.; TRENTIN, R., BAZZAN, T., RECKZIEGEL, E. W., DE NARDIN, D.; VERDUM, R. Compartimentação Geomorfológica da Bacia Hidrográfica do Ibicuí, Rio Grande do Sul, Brasil: Proposta de Classificação. . Revista Brasileira de Geomorfologia. v.11 n.2, 2010. p. 11 – 23.
ROSS, J. L. S. Geomorfologia. Ambiente e Planejamento. São Paulo: Contexto, 1990.
____________. O Registro Cartográfico dos Fatos Geomorfológicos e a Questão da Taxonomia do Relevo. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo; USP, Nº6, 1992.
ROSS, J. L. S.; MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, n.10, p.41-56, 1996.
SANTOS, R. F. dos. Planejamento Ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de textos, 2004.
SILVA, V. R. Análise sócio-ambiental da Bacia do Rio Biguaçu-SC: Subsídios ao Planejamento e Ordenamento Territorial. 2007. 209 f. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USP, São Carlos. 2007.
TRENTIN, R. Mapeamento Geomorfológico e Caracterização Geoambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Itu – Oeste do Rio Grande do Sul - Brasil. 2011. 216 f. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. UFPR, Curitiba. 2011.
TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977.