Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
Mapeamento Geomorfológico da bacia do Riacho do Saco, Pernambuco.
AUTORES
Barros, A.C.M. (UFPE) ; Souza, J.O.P. (UFPE) ; Corrêa, A.C.B. (UFPE)
RESUMO
Este trabalho teve foco na elaboração de um mapa das unidades geomorfológicas que
compõem a bacia do Riacho do Saco. A sua localização, no contato entre o maciço da
Baixa Verde e a Depressão Sertaneja, confere uma diversidade de formas de relevo,
que estão estreitamente ligadas à dinâmica dos processos superficiais atuantes.
Portanto, buscou-se elaborar um mapa que sirva como ferramenta para a compreensão
da relação processo-forma na bacia, considerando-a como um sistema fluvial.
PALAVRAS CHAVES
mapeamento; unidades geomorfológicas; sistema fluvial
ABSTRACT
This paper focused on drawing up a map of geomorphological units which compose the
Riacho do Saco watershed in a detailed scale. It presents a variety of landforms
due to the location between Borborema upland and semiarid lowland. Therefore, this
paper tried to elaborate the watershed mapping as a tool to indentify its
landforms and understand its processes as a fluvial system.
KEYWORDS
mapping; geomorphological units; fluvial system
INTRODUÇÃO
Este trabalho voltou-se para a compreensão de um sistema geomorfológico fluvial
semiárido através da contribuição fornecida por um mapeamento geomorfológico de
detalhe, focando-se na dinâmica de distribuição de matéria e energia na bacia,
considerada sob uma perspectiva sistêmica, onde o conhecimento da conectividade
na bacia fornece uma base para conhecer a dinâmica dos fluxos de matéria e
energia ao longo deste sistema fluvial (BRIERLEY, FRYIRS e JAIN, 2006).
Segundo Souza (2012), para se trabalhar uma bacia hidrográfica como recorte
espacial é necessário que haja uma sintonia sistêmica, que se volte para a
análise tanto dos processos, quanto da estrutura deste sistema fluvial. Para
tanto Argento (1998) sugere que em mapeamentos geomorfológicos com escala
1:25000, dados das coberturas/formações superficiais e da morfodinâmica devem
ser levadas em consideração, ou como símbolos direto de ocorrência ou detalhadas
no relatório/texto. Neste contexto, Christofoletti (1999) diz que “o fluxo e o
material sedimentar são os dois componentes fundamentais da estruturação do
canal fluvial”, o que reafirma a necessidade de que haja um entendimento da
compartimentação geomorfológica de uma bacia hidrográfica numa escala local para
o entendimento da dinâmica de fluxos e transporte de sedimentos dentro dela, de
modo que a partir do entendimento de sua configuração geomorfológica, é possível
compreender seu funcionamento como um sistema fluvial.
Portanto, este trabalho teve como objetivo identificar a compartimentação do
relevo da bacia, visando a compreensão de suas características físicas,
sobretudo da dinâmica de fluxos de água e sedimentos, estabelecendo um panorama
inicial da (dês)conectividade ao longo da bacia.
MATERIAL E MÉTODOS
Argento (1998) defende que ao se fazer um mapeamento temático geomorfológico;
visando a analise ambiental, gestão ambiental ou territorial; não é necessário
um emprego de técnicas detalhadas, porque sua base está relacionada com mapas
planialtimétricos e esses, sim, devem ser construídos a partir de uma base
cartográfica rígida; contudo ainda é necessário seguir regras cartográficas
básicas para haver uma padronização confiável dos resultados (ARGENTO, 1998).
Neste contexto os dados ASTER GDEM representariam dados rígidos que podem ser
utilizados para gerar informações planialtimétricas.
Para a confecção do mapa foram utilizadas as características geomorfológicas que
interferem sobre os processos superficiais da área. Para tanto, foram utilizados
dados ASTER (Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer),
com resolução espacial básica de 30m, adequando-se à elaboração de mapeamentos
de maior detalhe. Do processamento destes dados no sotware ArcGIS 9.3, foi
extraído um MDE e mapeamentos derivados, como também informações obtidas nos
trabalhos de campo e a partir de imagens QUICKBIRD. O tratamento dos dados foi
realizado a partir do SIG Arcgis 9.3, tentou-se detalhar o mapeamento para a
escala de 1:25000, assim foi de extrema importância os dados obtidos em campo,
para identificação dos padrões de cobertura superficial, e a analise das imagens
QUICKBIRD para a delimitação precisa dos compartimentos geomorfológicos
(PINHEIRO, KUX e VILLWOCK, 2005).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tendo em vista a homogeneização das feições geomorfológicas, elas foram
identificadas e classificadas conforme sua morfologia, morfometria e cobertura
superficial. Foi feita uma adaptação da nomenclatura proposta na metodologia dos
estilos fluviais, que dá ênfase ao diferentes estilos morfológicos do plaino
aluvial e nas características funcionais dos sistemas fluviais (BRIERLEY e
FRYIRS, 2005; FRYIRS e BRIERLEY, 2005). Tentou-se gerar informações voltadas
para o estudo dos processos, principalmente fluviais, em um ambiente semiárido.
Portanto, o mapa geomorfológico da bacia do riacho do Saco contemplou além dos
compartimentos gemorfológicos, a tipologia de canais, corpos d’água, e tipos de
ruptura de declive.
Deste modo tentou-se, a partir da identificação e interpretação das unidades
geomórficas, interpretar os processos e o comportamento do sistema
geomorfológico. Com base nessa ideia a compartimentação e interpretação
geomorfológica proposta para a bacia do Riacho do Saco foi a seguintes:
Corpos d’água: Lagos Naturais e Lagos Artificiais – foram mapeados 12 lagos
naturais, dos quais somente os maiores podem ser visualizados no mapa. Estes
lagos naturais estão concentrados nas áreas planas de altitude acima de 700m e
não exercem grande influência na sedimentação da bacia. No entanto, os lagos
artificiais atuam na retenção de sedimentos e, conforme CASTILLO et al. (2007)
no aumento do nível de base local, podendo induzir o processo de sedimentação à
sua montante.
Canais – foram classificados conforme a proposta teórico-metodológica dos
estilos fluviais (BRIERLEY & FRYIRS, 2005), onde são divididos de acordo coma
presença de planícies de inundação geradas pelo extravazamento de seu fluxo,
podendo ser classificados como confinados, não confinados e semiconfinados.
Cimeiras - com altitude entre 700 e 1100m, subdivididas a cada 100m e também de
acordo com o tipo de ruptura apresentada, podendo ser subdivididas em cimeiras
planas e convexas. As superfícies de cimeira correspondem aos patamares mais
altos da paisagem e atuam como áreas fonte de sedimento (SCHUMM, 1977),
correspondentes, a Serra da Baixa Verde. No caso das cimeiras próximas ao
pedimento intermontano, não apresentam rupturas bem marcadas e nem forma
regular.
Cristas - foram identificadas três áreas de crista, caracterizadas como
“elevação alongada das encostas mais ou menos abruptas e topo estreito”(SUGUIO,
1998 apud. SOUZA, 2011)que foram diferenciadas pela altimetria de suas
cimeiras. Sua proximidade e continuidade sugerem uma gênese comum desta unidade,
tendo sido posteriormente obliterada pela superimposição e dissecação da
drenagem.
Encostas – as áreas com declividade maior que 18° e que não encaixaram no padrão
de cristas, foram classificadas como encostas, subdividas de acordo com o o grau
de declividade, resultando em encostas com declividade maior que 18° e com
declividade maior que 25°, ambas com cobertura coluvionar, observando-se uma
maior concentração nas encostas côncavas alveolares e nas porções de média e
baixa encosta.
Pedimentos – foram subdivididos de acordo com a altitude, apresentando solos
rasos, pavimento detrítico e predomínio de erosão laminar. Foi também
identificado um pedimento intermontano, com cobertura superficial heterogênea e
manto de intemperismo mais desenvolvido.
Planícies de Inundação – encontram-se nas áreas de menor declividade, havendo
uma concentração expressiva nas proximidades das cabeceiras de drenagem, onde
quase sempre apresentam uma continuidade. Observa-se também a presença de uma
grande planície de inundação localizada à montante do Açude do Saco I, que pode
ter sido influenciada pela subida do nível de base local pela construção da
barragem.
Mapa Geomorfológico da bacia do Riacho do Saco
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mapeamento Geomorfológico da bacia do Riacho do Saco possibilitou a
identificação das feições geomorfológicas presentes na bacia, ilustrando a
compartimentação da bacia em unidades geomorfológicas.Foram identificadas duas
áreas amplas de estocagem de sedimentos, uma no centro do pedimento intermontano,
sedimentos fornecidos pelas cimeiras que apresentam cobertura coluvial e que se
concentraram nestas áreas próximas provavelmente porque não conseguiram ser
transportados devido ao regime climático semiárido, e a outra a montante do açude
do Saco vinculada ao aumento do nível de base e a flutuação do mesmo, relacionada
com o açude. Considerações mais concretas sobre a gênese destas grandes áreas de
estocagem e a procedência dos sedimentos podem fornecer informações sobre
contextos climáticos pretéritos se houver a contribuição de estudos mais
aprofundados na área.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, pelo financiamento desta e de outras pesquisas a bacia do riacho do Saco.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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