Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
O USO DE SIGs NA ANÁLISE DA EVOLUÇÃO MORFOESTRUTURAL NO NOROESTE DO ESTADO DO CEARÁ, NORDESTE DO BRASIL.
AUTORES
Lira, M.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Claudino-sales, V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ)
RESUMO
Os Sistemas de Informações Geográfica-SIGs são definidos como o estudo e a
aplicação das técnicas de levantamento e de utilização de informações métricas e
gráficas, georreferenciadas. Nos últimos anos, o uso de geotecnologias tem
contribuído significantemente para o desenvolvimento dos estudos geológicos e
geomorfológicos. Neste estudo utilizamos imagens Shuttle Radar Topographic
Mission-SRTM para identificar a fisionomia dos relevos do “front” da Serra da
Ibiapaba no noroeste do Ceará.
PALAVRAS CHAVES
Geotecnologia; Geomorfologia; SRTM
ABSTRACT
The systems of Geographical Information-SIGs are defined as the study and
application of techniques for removal and use of information and metrics graphics,
georeferenced. In recent years, the use of geotechnologies has contributed
significantly to the development of studies geological and geomorphological. In
this study we use images Shuttle Radar Topographic Mission-SRTM to identify the
features of reliefs of the "front" of the Serra da Ibiapaba in northwest of Ceará.
KEYWORDS
Geotechnology; geomorphology; SRTM
INTRODUÇÃO
Uma das formas de apreensão da organização da paisagem natural é associada ao
uso de algum Sistema de Informação Geográfica-SIG. O Sistema de Informação
Geográfica - SIG acha-se atrelado a ferramentas das geotecnologias, a qual é
definida como o estudo e a aplicação das técnicas de levantamento e utilização
de informações métricas e gráficas, georreferenciadas. Tais técnicas são
largamente utilizadas pelas Ciências da Terra. Nos últimos anos o uso dos SIGs
tem auxiliado a construção de mapeamentos geológicos e geomorfológicos, entre
outros tipos de mapeamento, em diversas escalas e níveis de detalhe.
Na construção do mapeamento deste trabalho foram usados os Sistemas de
Informações Geográficas - SIGs para uma melhor compreensão espacial na análise
da evolução morfoestrutural do noroeste do estado do Ceará, onde é encontrado um
mosaico geológico e geomorfológico com características diversificadas. O SIG
utilizado foi o software Global Mapper através das imagens do Shuttle Radar
Topographic Mission (SRTM).
MATERIAL E MÉTODOS
O procedimento metodológico adotado no presente trabalho no referente ao caráter
geomorfológico e geológico esta associado ao “Princípio do Uniformitarismo”, que
foi elaborado por James Hutton no final do século XVIII e aperfeiçoado por
Charles Lyell em 1802. Tal princípio define a existência de uma continuidade
temporal dos processos internos e externos, e foi expresso através da afirmação
“o presente é a chave do passado”. Através desse percurso metodológico, os
pesquisadores buscam desvendar e esclarecer os passos da evolução dos grandes
elementos que compõem as paisagens naturais (CLAUDINO-SALES, 2004) inter-
relacionando os fatores físicos atuantes no presente como reflexo do tempo
pretérito.
Quanto ao uso de SIGs foi utilizado o Global Mapper 11 com as imagens
dos dados SRTM com resolução espacial de 90m. Foram realizadas as seguintes
etapas: recorte da área, geração das curvas de nível (100m) e geração da imagem
em 3D dos referidos relevos. E a construção de mapas de unidades de relevo no
ArcGIS 10.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na área de estudo é encontrado um grupo de serras cristalinas com altitudes na
ordem de 750m. Trata-se das serras da Ubatuba, Timbaúba, São Joaquim e Dom
Simão. Encontramos ainda o “front” da cuesta da Serra da Ibiapaba, com
características de glint modelado na borda da bacia sedimentar paleozóica do
Parnaíba. A definição de glint é para forma de relevo de borda de bacia
sedimentar, na qual a depressão periférica foi modelada em terrenos cristalinos.
A etapa de evolução do relevo do Ceará corresponde à separação dos continentes
sul-americano e africano, no Cretáceo Superior, com o rifting intracratônico,
seguido de abertura transformante do Atlântico setentrional há 119 Ma (MATOS,
2000). Essa atividade produziu rifts, os quais foram posteriormente aborados.
Nessa etapa evolutiva ocorreu também o soerguimento de ombro de rift na
superfície de piso do estado. Durante esse soerguimento, a borda da Bacia
Sedimentar do Parnaíba foi soerguida solidariamente (CLAUDINO-SALES, 2002).
A partir dessa deformação, a área de passou a sofrer a ação erosiva, que deu
início ao recuo do glint. Com a erosão, o escudo cristalino foi rebaixado nos
setores menos resistentes, gerando a depressão periférica, chamada de Depressão
Sertaneja (AB´SABER, 1969). As litologias mais resistentes deram origem aos
maciços cristalinos em análise, bem como a forma de glint (Fig. 01). Assim, os
relevos estudados foram produzidos por erosão diferencial no Terciário em rochas
que foram soerguidas durante a reativação tectônica do Cretáceo.
Geologicamente, a área está situada na Província Borborema, formada por
litologias de idade arqueanas que foram retrabalhadas durante a colagem que
produziu o supercontinente Panotia, por volta de 500 milhões de anos – trata-se
da Orogênese Brasiliana (BRITO NEVES, 1999). A Província Borborema é composta
por vários domínios geológicos com diferentes características estruturais e
evolutivas (BRITO NEVES et al, 2001), e se estende por todo o Nordeste.
O domínio que caracteriza a área de estudo é o denominado NW do Ceará, ou Médio
Coreaú, um cinturão dobrado, onde são encontradas diversas litologias com
distintas idades (TORQUATO e NOGUEIRA NETO, 1996). Possui importantes
falhamentos, como o lineamento Sobral – Pedro II (SANTOS e BRITO NEVES, 1984). A
estrutura é dobrada, caracterizada ainda pela existência de grabens e horsts,
como é típico de áreas da crosta onde ocorreram colisões de placas tectônicas
(RADAMBRASIL, 1981).
A partir da análise geológica e evolutiva das formas de relevo e do
posicionamento altimétrico relativo, foi possível individualizar as seguintes
unidades geomorfológicas na área de estudo: Planalto (glint) da Ibiapaba,
maciços residuais e depressão periférica.
A utilização de Modelos Digitais de Elevação (MDEs) em Geomorfologia permite a
identificação, com rapidez e precisão, de variáveis associadas ao relevo. Tal
foi o caso do modelo de elevação SRTM utilizado nas análises geomorfológicas no
noroeste do Estado do Ceará. Essas informações podem ser úteis para outros
estudos geomorfológicos e estruturais. Com efeito, os elementos estruturais,
como lineamentos, que são perfeitamente identificáveis através do
geoprocessamento, condicionam as feições morfológicas.
O uso do SRTM (Shuttle Radar Topografhic Mission) destaca em particular os
elementos topográficos orbitais de radar inferométrico (FLORENZANO, 2008), onde
se poder ver o relevo em três dimensões. Embora não apresentem boa resolução
espacial, demonstraram-se muito eficientes na compartimentação das diferentes
unidades geomorfológicas presente no noroeste do estado do Ceará.
Os dados topográficos são variáveis frequentemente solicitadas para a análise
das unidades morfológicas (VALIARANO, 2008).O Global Mapper foi utilizado na
criação dos mapas topográficos, incluindo os modelos de dados de elevação (MDE),
permitindo a visualização 3D com qualquer imagem e vetor sobrepostos ao modelo
de elevação (Fig.02
Figura 02:
a. Imagem SRTM SA-24-Y-C (MIRANDA, 2011); b. Curvas
de nível de 100m geradas através do da imagem SRTM
no Global Mapper 11; c Imagem SRTM em 3D.
Figura 01:
Área de estudo, Noroeste do estado do Ceará,
Nordeste do Brasil
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os recursos compartilhados que permitem acesso à informações sobre a Terra
jamais
imaginados, as imagens de sensores em resolução cada dia mais refinada, os quais
permitem a construção de projeções em 3D que simulam a realidade com bastante
eficiência. O uso de SIGs têm se apoiado em recursos de SR, o que permitiu que
relevos fossem reconhecidos e estudados, complementados com ida a campo. Essas
informações têm facilitado à construção de bases cartográficas digitais.
A imagem do radar SRTM, embora não apresente boa resolução espacial, por se
tratar
de um modelo de elevação do terreno, demonstrou ser muito eficiente no
reconhecimento da compartimentação das diferentes unidades geomórficas. A
qualidade dos sensores facilitam a distribuição e o avanço dos softwares para
SIGs, tornando as pesquisas com imagens de satélite mais próximas do cotidiano
das
pessoas. As interfaces tendem inclusive a se adaptarem aos usuários, aumentando
a
qualidade dos produtos resultantes dessas aplicações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
AB´SABER, A.N. Províncias geológicas e domínios morfoclimáticos no Brasil. Geomorfologia, 15, Instituto Geográfico-USP, São Paulo. 1969. 85-123
BRITO NEVES, B. B. América do Sul: quatro fusões, quatro fissões e o processo acrescionário andino. Rev. Brasileira de Geociências, 29(3) 379-392. 1999.
CLAUDINO-SALES, V. Geografia e Analise Ambiental: abordagem crítica. Geousp-espaço e tempo, São Paulo, n. 16, p. 125-141, 2004.
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FLORENZANO, T. G. Sensoriamento Remoto para Geomorfologia. In: FLORENZANO, T. G. (org.). Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos. 2008. 31-71.
MATOS, R.M.D.Tectonic evolution of the Equatorial South Atlantic. American Geophysical Union, Geophysical Monograph 115:331-354. 2000.
MIRANDA, E. E. de; (Coord.). (2005). Brasil em Relevo. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite. Disponível em: http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br. (Consultado em 18 de fevereiro 2012).
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TORQUATO, J. R; NOGUEIRA NETO, J. A. Historiografia da Região de Dobramentos do Médio Coreaú. Rev. Brasileira de Geociências. 26(4): 303-314. 1996.