Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
AS UNIDADES DE RELEVO COMO BASE PARA A COMPARTIMENTAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITU – OESTE DO RIO GRANDE DO SUL
AUTORES
Trentin, R. (UFSM) ; Robaina, L.E.S. (UFSM)
RESUMO
Faz-se neste trabalho a caracterização da Bacia Hidrográfica do Rio Itu em
unidades de relevo, através das características da drenagem e do meio físico. Com
a grande diversidade do relevo e de peculiaridades da rede de drenagem, a área
apresentou grande diferenciação. Com as técnicas de quantificação e síntese
cartográfica foi possível definir sete unidades de relevo. A definição das
unidades de relevo acaba definindo através de suas individualidades certas
aptidões às diversas formas de uso.
PALAVRAS CHAVES
Bacia Hidrográfica; Unidades de Relevo; Oeste do Rio Grande do Su
ABSTRACT
In this work was done the characterization of River Basin Itu in units of relief
through the drainage characteristics and the physical environment. With the
diversity of topography and characteristics of the drainage area showed a great
differentiation of the physical environment. With the techniques of quantification
and synthesis mapping was possible to define seven units of relief. The definition
of units of relief just defining their individuality through certain skills to the
various use.
KEYWORDS
Hidrografic Basin; Relief Units; West of Rio Grande do Sul
INTRODUÇÃO
O estudo das formas de relevo se apresenta como objeto de estudo da
Geomorfologia, tanto nos aspectos de gênese como evolução destas formas. Embora
o relevo, numa rápida observação, pareça ser um componente estático do meio,
está em constante processo de evolução, com velocidades variadas, interagindo, a
todo instante, com os demais componentes da paisagem.
O estudo da geomorfologia, por permitir a análise espaço-temporal dos processos
atuantes no modelado do relevo terrestre, possibilita identificar ou prever
processos de degradação ambiental relacionado aos elementos físicos em uma
determinada área. A análise geomorfológica constitui-se, desta forma, em um
importante instrumento de análise e determinação de ações mitigadoras ou
preventivas para evitar esses impactos ao meio ambiente.
A geomorfologia fornece-nos uma visão integrada do meio físico, que conforme
Casseti (1981), “visa à organização de um esboço geomorfológico e estabelece uma
síntese da compartimentação e seus reflexos na ocupação do solo”.
Ross e Muroz (1996) salientam que a abordagem geomorfológica, tem as suas bases
conceituais nas ciências da Terra, com fortes vínculos nas ciências Humanas, à
medida que serve como suporte para o entendimento dos ambientes naturais, onde
as sociedades humanas organizam o espaço físico-territorial.
Assim sendo o presente trabalho apresenta como objetivo a caracterização das
unidades de relevo da bacia hidrográfica do Rio Itu, através dos atributos de
drenagem e parâmetros físicos da área, unidades estas que são a base para a
compartimentação geomorfológica da área e serve de subsídio para os estudos de
análise geoambientais.
O Rio Itu localiza-se no oeste do Rio Grande do Sul, estendendo-se pelos
municípios de São Francisco de Assis, Manuel Viana, Itaqui, Unistalda,
Maçambará, São Borja e Santiago. Com uma área de 2.809,61 km² está inserida
entre as coordenadas geográficas de 54º52’20” a 55º53’15” de longitude oeste, e
de 28º58’00” a 29º24’40” de latitude sul.
MATERIAL E MÉTODOS
Para o desenvolvimento do trabalho, empregaram-se níveis de abordagem
desenvolvidos ao longo da pesquisa para as análises qualitativas e
quantitativas, destacando-se sempre que a análise geral do trabalho apresenta
uma sistemática básica de definição das unidades de relevo de forma a servir de
base para a compartimentação geomorfológica.
Os trabalhos são desenvolvidos com o uso do software Arcgis 10, tomando como
base cartográfica as cartas topográficas do Exército, de escala 1:50.000 do ano
de 1975, sendo utilizadas também, as SHP do IBGE (2007) contendo as malhas
cartográficas dos municípios. Na digitalização das cartas foram extraídas todas
as informações cartográficas presentes.
Para Goulart (2001), as Unidades de Relevo são o conjunto de formas semelhantes,
geneticamente homogêneas, individualizadas em razão de suas características
morfológicas e morfográficas. De acordo com Lollo e Zuquette (1998) há duas
maneiras distintas de estabelecer as Unidades de Relevo: o enfoque fisiográfico
e o enfoque paramétrico. O enfoque fisiográfico baseia-se na delimitação das
unidades com base na visualização dos processos de formação do relevo; o enfoque
paramétrico tem o objetivo de delimitar áreas diferenciadas utilizando
parâmetros representativos tais com declividade, amplitude, extensão e
parâmetros diversos de rede de drenagem.
Seguindo-se a linha do enfoque paramétrico, o mapa de Unidades de Relevo foi
elaborado a partir da interpretação e cruzamento das informações obtidas.
Baseado nestas informações construiu-se um mapa de Unidades de Relevo,
utilizando como base a metodologia de Lollo e Zuquette (1988).
Para a caracterização das unidades de relevo são utilizadas informações
referentes à morfometria da drenagem; análise das vertentes, análise
hipsométrica que ocorreu a partir da interpretação do comportamento espacial das
curvas de nível e pontos cotados e a análise da declividade que foi elaborado
através da definição de três limites de declividade, 2%; 5% e 15%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A bacia hidrográfica do Rio Itu, apresenta hierarquia de 7ª ordem e comprimento
total dos cursos d’água de 4.834,4 km. A magnitude da bacia é de 3.266 canais. A
densidade de drenagem total é de 1,72 km/km².
A bacia hidrográfica possui uma área de 2.809,6 km² e perímetro de 328,79km,
apresentando o índice de circularidade é de 0,32 que representa uma bacia com
baixa circularidade, marcado por um forte controle estrutural.
A bacia hidrográfica do Rio Itu apresenta um padrão de drenagem
predominantemente retangular-dendrítico, o que demonstra o significativo
controle estrutural que a disposição das camadas geológicas estabelece junto aos
cursos d’água, pois suas drenagens obedecem às linhas das falhas e fraturas
geológicas da região.
A amplitude altimétrica da bacia hidrográfica do Rio Itu é de 375 metros, sendo
que seu ponto cotado com maior altitude se encontra a 435 metros acima do nível
do mar e sua foz junto ao Rio Ibicuí está a 60 metros de altitude. As altitudes
de 120 a 200 metros ocupa a maior área da bacia, com 43,73% e entende-se por
toda a sua porção central.
A declividade de 5 a 15% é a que ocupa a maior área da bacia hidrográfica, com
38,3%, compreendendo, principalmente, o alto e médio curso da bacia. Mediante as
análises percebe-se que a bacia hidrográfica apresenta 90,2% de sua área total
com declividades inferiores a 15%. Sendo este o limite máximo para o emprego de
maquinário agrícola, evidencia-se um grande favorecimento do relevo, quanto às
condições topográficas, ao desenvolvimento agropecuário da bacia hidrográfica.
A compartimentação do relevo, da bacia hidrográfica do Rio Itu, permitiu a
individualização de sete unidades de relevo, apresentadas no Quadro 01 e na
Figura 01. Estas unidades foram definidas por porções do relevo com
características distintas, seja pelas declividades, comprimento das vertentes,
altitudes ou amplitudes.
Unidade I: apresenta forma de relevo definida como rampa em fundo de vales
apresentando declividades inferiores a 2%, altitudes que não ultrapassam os 80
metros, amplitudes em torno de 20 metros e localizada no baixo curso da bacia,
principalmente associada aos cursos de água.
Unidade II: apresenta forma de relevo denominada como rampas, porém associada às
colinas apresentando um modelado suavemente ondulado com amplitudes inferiores a
100 metros. As declividades são inferiores a 5% e localiza-se principalmente no
médio curso e algumas áreas de interflúvios no baixo curso.
Unidade III: apresenta formas de relevo definidas como colinas apresentando
modelado ondulado, com declividades de 5 a 15% e altitudes inferiores a 200
metros. Esta unidade é a que ocupa a maior área na bacia hidrográfica,
localizada principalmente no baixo curso e porções do médio curso.
Unidade IV: apresenta forma de relevo de colinas com vertentes onduladas e
declividades entre 5 e 15%, porém as altitudes são superiores a 200 metros, por
vezes podem ser associadas a morros de encostas suaves. Esta unidade localiza-se
principalmente no alto curso da BHRI associada às áreas de interflúvios.
Unidade V: apresenta formas de relevo definidas como morrotes e morros, com as
vertentes onduladas a fortemente onduladas, localizada na porção central da
bacia hidrográfica com as altitudes inferiores a 200 metros, por vezes ocorrem
associações de morros de encostas suaves.
Unidade VI: apresenta associação de formas de relevo de morrotes e morros com
encostas suaves, com as declividades predominantes superiores a 15% e vertentes
fortemente onduladas, porém as altitudes são superiores a 200 metros. Esta
unidade localiza-se principalmente no alto curso da bacia hidrográfica
associadas à porção de Rebordo do Planalto.
Unidade VII: apresenta formas de relevo definidas como morros apresentando as
vertentes em forma de escarpas, com declividades superiores a 15%. Esta unidade
localiza-se principalmente no Rebordo do Planalto associado aos cursos d’água
encaixados onde as vertentes são escarpadas com altas declividades.
Quadro 01
Figura 01
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou estabelecer as unidades de relevo da bacia hidrográfica do do
Rio Itu, a fim de se estabelecer uma base para o desenvolvimento de trabalhos de
compartimentação geomorfológica e para os zoneamentos e análises geoambientais que
possam subsidiar ações de planejamento por parte dos órgãos responsáveis.
Devido a grande diversidade do relevo e de certas peculiaridades quanto à rede de
drenagem, a bacia hidrográfica apresenta uma importante diferenciação de áreas
homogêneas. Com o uso das técnicas de quantificação das informações e da síntese
cartográfica, o presente trabalho definiu sete unidades homogêneas de relevo.
A síntese cartográfica representada pelas Unidades de Relevo é um elemento base
para o desenvolvimento de trabalhos subsequentes. Além disso, para se estabelecer
propostas de gestão é necessário obter-se informações sobre o relevo e com isso
compreender os processos de dinâmica superficial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CASSETI, V. Estrutura e Gênese da Compartimentação da Paisagem de Serra Negra (MG). Goiânia: Editora da UFG, 1981, 124 p.
GOULART, A. C. O. Relevo e Processos Dinâmicos. Geografares, Vitória, n.2, jun. 2001.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA. Malha municipal digital. Disponível em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas/malhas_digitais/municipio_2007
LOLLO, J. A.; ZUQUETTE, L. V. Uso de Redes Neurais Artificiais para Identificação Preliminares de Unidades do Meio Físico. In: VIII Simpósio Brasileiro de Cartografia Geotécnica. Florianópolis: Anais, 1998.
ROSS, J. L. S.; MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, n.10, p.41-56, 1996.