Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
SUSCEPTIBILIDADE EROSIVA E GEOPROCESSAMENTO: PROPOSTA PARA O CASO DE SÃO JOÃO DEL-REI, MINAS GERAIS
AUTORES
Ferreira, A.C. (UFSJ/DEGEO) ; Figueiredo, M.A. (UFSJ/DEGEO) ; Lobo, C.F.F. (UFMG/IGC) ; Rocha, L.C. (UFSJ/DEGEO)
RESUMO
Os processos erosivos, enquanto riscos naturais, têm ocasionando perdas sócio-
econômico-ambientais e devem ser motivo de preocupação para gestores urbanos. Este
trabalho objetiva a confecção de um modelo para identificar áreas mais
susceptíveis a processos erosivos nas circunjacências da cidade de São João del-
Rei, MG. Identificou-se que áreas com maior potencial de risco erosivo se
concentram nas áreas de front de expansão urbana, próximas a vertentes de maior
declividade.
PALAVRAS CHAVES
Potencial Erosivo; Modelagem; São João del-Rei
ABSTRACT
The erosion while natural hazards, causing losses have socio-economic-
environmental and should be of concern to urban managers. This work aims to
elaborate a model to identify areas prone to erosion around the city of São João
del-Rei, MG. It was found that areas with greater potential risk of erosion is
concentrated in the areas of urban expansion front, close to areas of greater
slope.
KEYWORDS
Erosive Potential; Modeling; São João del-Rei
INTRODUÇÃO
Uma primeira definição de modelo já conhecida na literatura foi apresentada por
Chorley e Haggett (1975), a partir da qual é entendido como estruturação
simplificada da realidade que supostamente apresenta, de forma generalizada,
características ou relações tomadas como importantes, sendo aproximações
subjetivas da realidade, pois não incluem todas as observações ou medidas
associadas. Para Christofoletti (1999, p.19), a modelagem constitui procedimento
teorético que envolve um conjunto de técnicas objetivando compor um quadro
simplificado e inteligível do mundo, como atividade de reação do homem perante a
complexidade aparente do mundo que o envolve.
A crescente demanda por áreas de expansão urbana, aliada à falta de
planejamento, tem levado ao crescimento desordenado das cidades, geralmente
sobre terrenos sem a devida adequação (LIPORACI et. al., 2002). Dentre os
problemas ambientais, os processos erosivos se destacam como agravantes dos
riscos naturais, ocasionando perdas sócio-econômico-ambientais.
As ravinas e voçorocas têm sido um problema maior para as administrações
municipais, pois, geralmente são feições de grandes proporções e maior
complexidade morfodinâmica. Além dos aspectos nitidamente antropogênicos, a
susceptibilidade erosiva local pode estar também relacionada a indícios de
atividade neotectônica (SAADI, 1990; SAADI e VALADÃO, 1990; SAADI, 1991).
Esse trabalho tem como OBJETIVO PRINCIPAL a confecção de um modelo para
identificar áreas mais susceptíveis a processos erosivos superficiais no entorno
da cidade de São João del-Rei, MG. Com base nos parâmetros de declividade,
potencializados pela geomorfologia e pedologia locais, e pela capacidade de
atenuação decorrente da presença ou não de cobertura vegetal, incorporados às
ferramentas de geoprocessamento, os resultados permitiram indicar áreas de maior
necessidade de ações dos poderes públicos para minimizar os impactos ambientais
existentes, bem como suas implicações sócio-econômicas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas bases de dados digitalizados de cartas topográficas, pedológica
e de imagens orbitais para execução do módulo ArcMap©, integrante do pacote
ArcGis©. As bases foram trabalhadas com base em rotinas de álgebra de mapas,
permitindo, utilizando-se do módulo raster calculator©, a execução e funções
necessárias ao processamento das bases digitais que serviram de input a
elaboração do modelo. O modelo de potencial de erodibilidade proposto compreende
a influência diferenciada de três fatores ambientais: 1º) declividade → fator
condicionante; 2º) solo → fator potencializador; e 3º) cobertura vegetal → fator
atenuador.
Para definição dos parâmetros do fator declividade foram utilizadas agregações
de classes propostas por Granell-Pérez (2004), O cálculo de declividade foi
extraído da base topográfica digital da folha de São João del-Rei, na escala de
1:100.000. A partir desses vetores foi criado uma TIN (Trianguled Irregular
Network) no módulo 3D Analist/TIN Management e, em seguida, uma superfície de
declividade (Slope) na ferramenta Spatial Analyst.
Para estimar os parâmetros de potencial de erodibilidade do fator solo utilizou-
se o método de Roloff e Denardin (1994), que baseia-se em parâmetros físicos,
tais como percentagem de silte, areia fina e permeabilidade. Os tipos de solos
da área estudada foram classificados de acordo com três tipos de potencial de
erodibilidade (k), adaptado ao que foi proposto por Roloff e Denardin (1994):
latossolos (k=0,020), argissolos (k=0,033) e cambissolos/neossolos (k=0,037). O
fator vegetação foi categorizada em apenas dois níveis: ausência e presença.
O Potencial de erodibilidade (Pe) foi obtido do produto entre os Escores dos
Fatores Declividade (Efd) e Solo (Efs), somado ao Escore de Vegetação (Efv):
Pe = (Efd * Efs) + Efv
Os escores finais foram classificados em três classes, utilizando-se do método
natural breaks, distinguindo-se 3 níveis de erodibilidade: alta, média e baixa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A área estudada apresenta indícios de fragilidade ambiental, conforme discussão
a seguir. No entanto, para isso é necessário uma breve introdução ao tema.
Autores como Vitte e Santos (1999), partem do significado dos termos fragilidade
e meio ambiente para chegar ao conceito de fragilidade ambiental. De acordo com
o Dicionário Aurélio o termo frágil é definido como algo fácil de destruir,
pouco durável, transitório. Fragilidade é então, a qualidade do que é frágil. O
ambiente é aquele que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas. Assim, o
termo fragilidade do meio pode aparecer como ambiente de risco, ou risco
ambiental, o qual se define como perigo ou possibilidade de perigo ou perda, que
estão vinculadas à percepção humana da dinâmica da natureza.
Segundo Tricart e Killian (1982) as unidades ecodinâmicas estáveis são aquelas
que apresentam lenta evolução, tendendo a uma situação de clímax. Para os
referidos autores, essas condições se realizam nas regiões de baixa atividade
geodinâmica interna e dos processos mecânicos da geodinâmica externa. O balanço
pedogêsene/morfogênese é favorável à pedogênese. As unidades ecodinâmicas
fortemente instáveis são aquelas onde há forte morfogênese predominando sobre a
pedogênese. As unidades ecodinâmicas intermediárias são aquelas em que a
dinâmica atual é caracterizada por uma interdependência pedogênese/morfogênese.
O balanço pedogênese/morfogênese favorece alternadamente a pedogênese e a
morfogênese, mas sempre de forma sutil e não muito evidente. Assim, o conceito
de Tricart e Killian (1982) possui perspectiva morfodinâmica.
Para a área do presente estudo, a distribuição dos diferentes níveis de
erodibilidade na matriz analisada (Tab.1), um conjunto de 8.718 pixels -
correspondendo a 37,61% do total, foram classificados como de alto nível
potencial de erodibilidade (Pe alto) (Fig. 1). Essa mesma classe compreende um
total de 21,80 Km2 (de um total de 57,96 Km2 de toda a área). Em geral, essas
áreas estão localizadas nas proximidades da mancha urbana de São João del-Rei,
bem como nas vertentes mais íngremes que compõem as bordas das serras do
Lenheiro (faixa oeste) e de São José (faixa leste). Grande parte da planície de
inundação do córrego do Lenheiro e do Rio das Mortes, este, importante
tributário da alta bacia hidrográfica do Rio Grande, compõe uma área de baixo
potencial erosivo (Fig. 1), onde predominam os processos de sedimentação,
correspondendo, de acordo com Saadi (1990), Saadi (1991) e Saadi e Valadão
(1990), à zona do Gráben dos Rio das Mortes.
Numa perspectiva morfodinâmica, pode-se estabelecer que o ambiente pedogenético
da área estudada, com solos pouco desenvolvidos (Cambissolos), pode estar
associada ao neotectonismo regional, estudado por Saadi (1990), Saadi (1991) e
Saadi e Valadão (1990), cuja atuação seria responsável por desequilíbrios
hidrogeomorfodinâmicos nas vertentes locais, potencializando a erosão (com
extensa sedimentação nas planícies fluviais controladas pelo gráben) e
desencadeando nova pedogênese, correspondendo aos níveis atuais de
desenvolvimento pedológico. Esse nível seria correspondente ao intermediário
(intergrade) de Tricart e Killian (1982). Essa fase pedogenética (cambissolos) é
também considerada a mais susceptível à erosão (SALOMÃO, 1999; MORATO et al,
2003).
Assim, a ferramenta geoprocessamento reafirma-se como uma importante
contribuição à compreensão dos fatores discutidos, de forma a obter-se uma
associação mais precisa e direta como subsídio técnico para a tomada de decisões
no âmbito do planejamento urbano.
Figura 1
Modelo de Potencial Erosivo
Tabela 1
Distribuição do número de pixels
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em São João del-Rei, a erosão avança nos fronts de expansão urbana, por meio de
aberturas de novos empreendimentos, principalmente nos setores NW e SW. Estes
terrenos, sob intervenção humana, tornam-se mais susceptíveis à erosão.
Associado à história de neotectonismo na região, possível causador de
instabilidades hidrogeomorfodinâmicas das vertentes locais, a área investigada
deve ser alvo de criterioso planejamento de uso e ocupação, minimizando
eventuais manifestações de desastres naturais, na medida em que a ocupação
humana se intensifique.
A potencialidade oferecida por essa forma de análise espacial torna-se ainda
mais relevante, considerando-se o contexto atual, marcado pelo rápido
crescimento urbano e suas consequências. A tomada de decisões na administração
pública, em várias circunstâncias, exige ações rápidas e eficientes para
solucionar ou mitigar os impactos ambientais decorrentes da inadequada ocupação
do espaço.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a UFSJ e a UFMG pelo suporte logístico.
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