Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
CARTA DE UNIDADES GEOAMBIENTAIS - FOLHA ITIRAPINA, ESCALA 1:50.000.
AUTORES
Moura, C.A. (UNESP-PÓS GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS E MEIO AMBIENTE) ; Mattos, J.T. (UNESP-FACULDADE DE ENGENHARIA DE GUARATINGUETÁ)
RESUMO
Este artigo apresenta os resultados de uma análise integrada do meio físico para
identificar áreas com tendência à instabilidade se submetidas a intervenções
humanas. A análise partiu da fotointerpretação e compartimentação das unidades
geoambientais e em seguida a determinação dos atributos tropia e densidade de
textura. Após isto por análise morfométrica do relevo fez-se a determinação dos
atributos declividade, dissecação horizontal e dissecação vertical para cada
unidade geoambiental e por fim elaborou-se a Carta de Unidades Geoambientais.
PALAVRAS CHAVES
análise integrada; fotointerpretação; Itirapina
ABSTRACT
This paper reports the results of an integrated analysis of the physical
environment to identify areas prone to instability if subjected to human
intervention. The analysis started from the photointerpretation geoenvironmental
units and partitioning, and then determining the entropy attributes and density of
texture. After this for morphometric analysis of relief was done to determine the
attributes slope, horizontal dissection and dissection vertical geoenvironmental
for each unit produced and finally to the Map of Geoenvironmental Units.
KEYWORDS
integrated analysis; fotointerpretation; Itirapina
INTRODUÇÃO
O meio físico e seus variados sistemas ambientais apresentam diferentes níveis
de tendência à instabilidade – em razão de suas características genéticas - se
submetidos a intervenções humanas que modificam as paisagens preexistentes. Além
disso, é a interação dos fatores morfogenéticos, litológicos e deformacionais
determina a suscetibilidade de cada unidade na natureza. Para se estabelecer a
dinâmica das unidades é preciso realizar uma análise sistêmica ou integrada da
natureza e que abranja o maior número possível de elementos ambientais.
A proposta de integração de dados do meio físico é comumente utilizada
em estudos ambientais, visto que permitem uma visão sistêmica da natureza. Sendo
assim, entendendo-se as formas de relevo como fruto da interação da estrutura
geológica, do clima, atual e passado, e, atualmente, da atividade antrópica,
cujas relações interferem nas características pedológicas e na cobertura
vegetal, verifica-se que a visão sistêmica possibilita estabelecer e analisar
tais inter-relações, assim como compreender os vínculos de dependência entre
estes fatores (Cunha e Mendes, 2005).
Assim sendo este trabalho teve como objetivo elaborar uma carta de
unidades geoambientais como também analisar os resultados da integração de duas
reconhecidas técnicas de mapeamento. A primeira trata-se da análise morfométrica
de relevo e a segunda a fotointerpretação geológica. A integração destas
técnicas permitiu uma visão mais ampla dos processos atuantes nas unidades
geoambientais delimitadas.
A área estudada compreende a folha topográfica Itirapina escala
1:50.000, na região central do estado de São Paulo localizada a cerca de 220
Km da capital paulista. Esta área compreende na Zona do Médio Tietê na unidade
morfológica da Depressão Periférica Paulista entre os rebordos pré-cambrianos do
Planalto Cristalino e as escarpas das zonas das cuestas dos derrames basálticos
do Planalto Ocidental Paulista (Almeida, 1964).
MATERIAL E MÉTODOS
Neste trabalho adotou-se uma análise integrada do meio físico através de
fotointerpretação e análise morfométrica do relevo para cada unidade. Foram
utilizadas imagens do satélite Landsat 7 do sensor ETM+, com órbita/ponto 220/75
e 220/76, de 16 de maio de 2003. Estas imagens foram obtidas no catálogo de
imagens do INPE. As folhas topográficas foram obtidas no site do IBGE.
Na compartimentação das unidades geoambientais utilizou-se o método
sistemático de fotointerpretação geológica inicialmente proposto por Guy (1966),
adequado para as condições brasileiras por Rivereau (1972) e Soares e Fiori
(1976) e adaptado para imagens de satélite por Veneziani e Anjos (1982).
Nas imagens do satélite Landsat foram aplicados critérios analíticos e
interpretativos de elementos de relevo e drenagem para compartimentação do meio
físico em unidades da paisagem. Na fotointerpretação determinaram-se os
seguintes atributos: tropia e densidade de textura.
Já na análise morfométrica determinou-se a declividade, dissecação
horizontal e dissecação vertical. As cartas de dissecação (horizontal e
vertical) foram desenvolvidas inicialmente por Spiridonov (1981) e aprimoradas
cartograficamente conforme a proposta de Mendes (1993). Neste trabalho a
extração das variáveis morfométricas foi feita de forma automática no programa
Arcmap.
Segundo Mendes (1993) as cartas de dissecação vertical e horizontal
possibilitam a identificação de setores susceptíveis aos processos
morfogenéticos a partir da dinâmica fluvial, apresentando o grau de entalhamento
do relevo bem como o potencial erosivo nos interflúvios, respectivamente.
As cartas de dissecação (horizontal e vertical) foram desenvolvidas
inicialmente por Spiridonov (1981) e aprimoradas cartograficamente conforme a
proposta de Mendes (1993). Neste trabalho a extração das variáveis morfométricas
foi feita de forma automática no programa ArMap 9.3.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A execução da Carta de Unidades Geoambientais seguiu as seguintes etapas:
Divisão das unidades por fotointerpretação (unidades da paisagem); Agrupamento
das unidades segundo os tipos de modelado: Acumulação (Ac), Aplainamento(Ap) e
Dissecação(Di) (IBGE,1995): Classificação das unidades conforme os atributos:
tropia, declividade, densidade de textura, dissecação horizontal e vertical e
numeração das unidades geoambientais segundo o ordenamento crescente da
tendência a instabilidade ambiental. A carta de declividade tem como
objetivo quantificar a inclinação ou o declive do terreno. Esta carta foi obtida
do modelo numérico de terreno elaborado na extensão 3D Analist doArcMap 9.3 das
curvas de nível de 20 em 20 metros. Esta carta foi dividida em quatro intervalos
de declividade.
A Carta de densidade de drenagem foi preparada no programa ArcMap 9.3
pela extensão 3D Analist, no estimador Kernel com raio de busca de 1000m e
célula de saída de 100m. Na análise da dissecação horizontal são determinados os
locais onde a drenagem possui concentração ou não. Nos locais de grande
concentração de drenagem os processos erosivos e gravitacionais são mais
intensos, pois a dinâmica do ambiental nestes locais é estimulada pela ação
erosiva dos rios.
A dissecação vertical esta relacionada com a amplitude das curvas de
nível dentro de cada unidade, esta caracteriza a intensidade de aprofundamento
da drenagem e o grau de entalhamento dos vales. A dissecação vertical foi obtida
carta hipsométrica elaborada no 3D Analyst do ArcMap 9.
A classificação das unidades para os atributos densidade de textura,
declividade, tropia, dissecação vertical e dissecação horizontal foi feita
estabelecendo-se quatro classes as quais foram atribuídos os valores de 1 a 4
segundo a tendência destas unidades a instabilidade geodinâmica. Na figura 1
detalhes dos critérios e parâmetros utilizados na classificação das unidades.
Para a determinação das classes de tendência a instabilidade do meio
físico foram considerados os seguintes intervalos: entre 5 a 8 – baixa
tendência; 9 a 12 - moderada tendência; 13 a 16 – alta tendência e 17 a 19 -
muito alta tendência, os quais foram preenchidos com as seguintes cores
respectivamente: verde, amarelo, laranja e vermelho.
As 74 Unidades geoambientais obtidas se distribuiram da seguinte forma
entre as classes: 10 foram classificadas como de baixa tendência instabilidade,
34 como de moderada, 16 como de alta tendência a instabilidade e por fim 14 como
de muito alta tendência.
As unidades classificadas como de baixa tendência à instabilidade
possuem predominantemente relevo de modelado de acumulação, com baixa densidade
de drenagem, com predominância de rochas da formação Botucatu e Pirambóia, estas
áreas apresentam baixas restrições ao uso com exigências mínimas de manutenção
em condições naturais.
As unidades geoambientais classificadas como de moderada e alta
tendência à instabilidade estão predominantemente localizadas em relevos de
modelado de dissecação e aplanamento com moderada densidade de drenagem, em
áreas de rochas da Formação Pirambóia e Itaqueri. Essas unidades têm restrições
ao uso e ocupação e necessitam de obras de infraestrutura para manutenção do
equilíbrio dinâmica quando da instalação de obras de engenharia de grande porte.
Por fim as unidades classificadas como de muito alta tendência à
instabilidade são constituídas por relevos de dissecação, com preponderância de
rochas da Formação Geral e Itaqueri, localizadas em áreas de alta densidade de
drenagem e elevadas declividades. Nestas áreas não são recomendadas ocupações
sem estudos ambientais prévios que viabilizem ambientalmente a instalação de
obras de engenharia. A carta obtida pode ser observada na figura 2.
Figura 1
Quadro com os critérios utilizados na classificação
das unidades geoambientais.
Figura 2
Representação da Carta de Unidades Geoambientais
classificadas segundo a tendência de instabilidade
do meio físico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As técnicas cartográficas de análise integrada dos atributos da paisagem para
constituição de unidades geoambientais sofrem atualmente uma grande
transformação no sentido técnico visto a crescente disponibilidade de dados de
sensoriamento remoto e ao acesso a Sistemas de Informação Geográfica.
A integração das técnicas de análise morfométrica de relevo e
fotointerpretação geológica permitiu uma visão mais ampla dos processos atuantes
nas unidades geoambientais delimitadas.
A utilização de técnicas de sensoriamento remoto orbital aplicado ao
estudo integrado do meio físico contribuiu com extremo valor ao procedimento
metodológico utilizado, fornecendo subsídios para a elaboração da Carta de
Unidades Geoambientais segundo a tendência de Instabilidade do Meio Físico.
Dessa análise integrada foi elaborada uma carta com propósito de criar
uma ferramenta de gestão acessível a qualquer profissional da área ambiental, ou
seja, tornar mais sistemática e operacional a utilização dos procedimentos de
integração de dados ambientais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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