Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
VULNERABILIDADE AMBIENTAL A OCUPAÇÃO DO RELEVO DA CIDADE DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP
AUTORES
Pedro, L.C. (Universidade Estadual Paulista) ; Samizava, T.M. (CETESB)
RESUMO
Objetiva-se com este trabalho identificar a vulnerabilidade ambiental a ocupação
do relevo da cidade de Presidente Prudente. Foi implementado banco de dados
geográficos, constituído de variáveis ambientais. Foram adotadas metodologias de
análise espacial, com finalidade da produção de um cenário de vulnerabilidade
ambiental à ocupação do relevo. Verificou-se que áreas consideradas vulneráveis
foram os fundos de vale e vertentes íngremes, isso gerou uma série de problemas.
PALAVRAS CHAVES
relevo; vulnerabilidade; mapeamento
ABSTRACT
The aim of this work is to identify environmental vulnerability occupation wise
relief in Presidente Prudente County. The geographic database was build depth
information. The spatial analysis was based on Boolean and Fuzzy logic to
production of the environmental vulnerability for urban occupation. Vulnerable
areas were occupied and altered by antropic action, causing floods, landslides,
among other environmental impacts.
KEYWORDS
relief; vulnerability; mapping
INTRODUÇÃO
Nos ambientes urbanos é fácil identificar diferentes formas de impactos oriundos
do processo de expansão territorial. Este processo envolve uma série de
práticas, como a retirada da vegetação, que contribuem para a manifestação de
diferentes problemas, como por exemplo, os processos erosivos, alagamentos etc.
Dessa forma, o relevo é ocupado pelos agentes de produção do espaço urbano,
sendo estes os responsáveis pela transformação da paisagem e impactos. Estes
agentes modificam o relevo, transformam, retificam e canalizam os cursos d’
água, além de construir avenidas em áreas de planície aluviais.
Neste contexto, alguns compartimentos geomorfológicos acabam se tornando
vulneráveis as ocupações. Uma vez que, a vulnerabilidade ambiental pode ser
apreendida como o “grau de exposição que determinado ambiente está sujeito a
diferentes fatores que podem acarretar efeitos diversos, tais como impactos e
riscos, derivados ou não das atividades socioeconômicas” (TAGLIANI, 2011, p.42).
A vulnerabilidade ambiental é compreendida neste trabalho como a fragilidade do
relevo no ambiente urbano diante do ato da ocupação, de tal modo que o
equilíbrio dinâmico é quebrado ao ponto de manifestar problemas neste ambiente.
Diante disso, a análise da vulnerabilidade frente ao ato de ocupação do relevo é
de fundamental importância para orientar o processo de expansão territorial, bem
como a implantação de parcelamentos do solo, tendo em vista que, as práticas
adotadas pelos agentes de produção do espaço urbano não levam em consideração a
dinâmica da natureza, principalmente se este for atender uma população de baixo
poder aquisitivo.
Assim, objetiva-se com este trabalho identificar os compartimentos
geomorfológicos que apresentam vulnerabilidade a ocupação na cidade de
Presidente Prudente/SP, de forma a compreender como as áreas identificadas como
vulneráveis foram ocupadas, além de identificar os principais problemas
decorrentes dessa dinâmica de ocupação.
MATERIAL E MÉTODOS
A carta de vulnerabilidade foi elaborada a partir do cruzamento de variáveis
físicas. As classes de compartimentos geomorfológicos foi extraído de Nunes et
al.2006), enquanto que a informação de rochas e solos foi adaptado de Godoy
(1989). A geração da superfície de declividade e profundidade do aquífero
freático foram desenvolvidos por Samizava et al.(2008a).
A metodologia de análise espacial foi baseada na aplicação de lógica fuzzy para
modelagem dos ambientes de variações incertas e lógica booleana para excluir
áreas provadamente consideradas vulneráveis.
As informações temáticas nominais, do relevo, dos solos e rochas, foram
convertidos para numéricos, por meio de funções de ponderação e aplicação de
funções de pertinência fuzzy, baseada na abordagem de importação semântica para
contatos proposto por Burrough e McDonnel (1998) e que pode ser melhor
compreendida em Samizava et al. (2008b).
O resultado da integração espacial é uma superfície de vulnerabilidade, gerado a
partir de uma combinação linear entre as variáveis, cuja escala de mensuração
varia de 0 a 1, sendo que o valor 0 (zero) representa vulnerabilidade alta e 1
(um) retrata vulnerabilidade nula.
A atribuição dos valores de pertinência e os limiares utilizados para as zonas
de transição das variáveis Vulnerabilidade baixa 1, Vulnerabilidade
intermediária 0,5 e vulnerabilidade alta 0.
A modelagem das zonas de transição foi realizada com base em funções sigmoidais
e lineares de pertinência.
O peso de cada variável foi estimado com base no método de análise
multicriterial Analitical Hierarchy Process,(SAATY, 1990), que consiste na
comparação pareada dos entes, reduzindo-se a subjetividade inerente à análise do
especialista. Os pesos calculados apresentam-se Declividade 0,4122, Profundidade
do Lençol freático 0,1775, Compartimentos Geomorfológicos 0,3287 e rochas e
solos 0,0816.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A representação computacional da vulnerabilidade ambiental produzida pela
integração das informações espaciais é apresentada na Figura 01.
Verifica-se que, conforme os pesos estimados, as variáveis com maior importância
estão relacionados com aquelas que traduzem as formas do relevo (geomorfologia e
declividade), demonstrando a importância dos estudos geomórficos para fins de
planejamento urbano.
A ocupação do relevo de Presidente Prudente/SP iniciou-se nas áreas de topos das
colinas suavemente onduladas (NUNES et al., 2006; PEDRO, 2008), e a partir do
momento que este compartimento geomorfológico foi completamente ocupado, a
expansão territorial urbana passou a incorporar novos compartimentos do relevo
(Figura 02). Dessa forma, as altas e médias vertentes, assim como algumas
cabeceiras de drenagem foram apropriadas e ocupadas.
Atualmente é possível observar na carta de expansão territorial urbana e
geomorfologia (Figura 02), que o processo de ocupação urbana se estendeu até os
fundos de vales, sendo estes identificados como áreas de alta vulnerabilidade
ambiental urbana.
É possível constatar a partir da análise da carta de vulnerabilidade a ocupação
do relevo (Figura 01), que as áreas menos vulneráveis a ocupação urbana estão
relacionados ao compartimento geomorfológico denominado domínio dos topos
suavemente ondulados, pois apresentam baixas declividades, que atingem até 10%,
solos profundos do tipo Latossolos e Argissolos e aquífero freático profundo.
As áreas com vulnerabilidade intermediária, mormente, estão associadas ao
domínio das vertentes côncavas, convexas e retilíneas, cujas declividades
predominantes variam 20 a 30%, onde prevalecem os solos rasos do tipo Neossolos
e Argissolos. Nas altas e médias vertentes o aquífero freático encontra-se, em
sua maioria, em maior profundidade, o que minimiza o risco de contaminação.
Já em relação as baixas vertentes é possível identificar que estas estão
relacionadas baixa profundidade do aquífero freático, portanto, mais
vulneráveis.
Ainda nos reportando as vertentes, chamamos a atenção para aquelas que estão
associadas a presença das cabeceiras de drenagem, cujas morfologias apresentam-
se em formas côncavas. Esse tipo de morfologia é responsável pela recarga do
aquífero freático, bem como as nascentes dos cursos d’ água, que compõem a rede
hidrográfica da cidade. Este compartimento encontra-se em áreas que variam de
alta a média vulnerabilidade ambiental a ocupação do relevo, e que atualmente
encontram-se alteradas, uma vez que vem passando por processos de retificação,
soterramento, assoreamento, terraplanagem, impermeabilização, entre outras. Os
problemas referentes a ocupação são: a concentração de poluentes e aumento da
velocidade de escoamento de águas pluviais, devido à impermeabilização do solo e
carreamento de detritos remanecentes nas ruas e residências (fezes animais,
resíduos domiciliares, detergentes das águas de lavagem etc), corroboradas por
ligações clandestinas de esgoto, podendo acarretar na poluição ou contaminação
das coleções hídricas, inclusive do aquífero freático, quando há uso clandestino
e inadequada de poços de abastecimento; a umidade dessas áreas, principalmente
devido ao nível freático raso, que pode gerar problemas de infiltração nas
residências; escorregamento de terra, causado quando não são adotadas medidas
adequadas de construção de engenharia, provocando rachaduras nas paredes,
subsidência do terreno, ou mesmo o desmoronamento de taludes artificiais; por
fim, existem os processos erosivos, decorrentes do desprendimento, transporte e
deposição de sedimentos nas planícies aluviais e canais fluviais.
Planícies aluviais predominam as formações quaternárias, Planossolos e
Gleissolos considerados solos mal drenados. Este compartimento compõe as áreas
identificadas com alta vulnerabilidade ambiental à ocupação do relevo.
Vulnerabilidade ambiental urbana de Presidente Prudente
Expansão Territorial de Presidente Prudente
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A identificação de áreas de vulnerabilidade ambiental a ocupação do relevo é um
estudo fundamental para subsidiar o planejamento urbano, pois a carta pode
contribuir para o ordenamento territorial, indicando áreas mais apropriadas a
ocupação, a partir de estudos integrados das variáveis físicas (relevo, solo,
declividade entre outras).
No entanto, é preciso avançar no estudo da vulnerabilidade ambiental a ocupação
do
relevo, pois além das variáveis físicas, como a geomorfologia, os solos, a
declividade, profundidade do aquífero freático, a temática deve ser avaliada
juntamente com variáveis socioeconômicas, como renda, escolaridade, densidade de
ocupação, entre outras; uma vez que, a população de baixo poder aquisitivo são,
na
sua ampla maioria, aquelas que ocupam áreas mais frágeis, como as de fundos de
vale mais sujeitas a inundações e alagamentos, ou áreas de vertentes íngremes,
que
podem desmoronar quando as obras civis não consideram as devidas técnicas
estruturais de engenharia.
AGRADECIMENTOS
Programa de Pós-Graduação em Geografia FCT/UNESP pelo suporte físico para
desenvolvimento do trabalho e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
pelo financiamento da pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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