Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
MAPEAMENTO DE UNIDADES DE RELEVO DO ESTADO DO PARÁ
AUTORES
Furtado, A.M.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Ponte, F.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)
RESUMO
Este trabalho é uma análise sumária do mapeamento geomorfológico do estado do
Pará, com base nos trabalhos RadamBrasil e IBGE. A escala 1:250.000 ensejou a
utilização de três táxons onde se inclui primeiro as unidades morfoestruturais,
correspondendo a estrutura geológica, representadas pela Bacia Sedimentar
Amazônica, embutida entre os dois escudos cristalinos. Dentro desse contexto foram
inseridas as unidades de relevo que constituíram o 2º táxon e um 3º táxon com
respectivas subunidades.
PALAVRAS CHAVES
mapa do estado do Pará; mapeamento geomorfológico; planejamento ambiental
ABSTRACT
This work is a brief analysis of the geomorphological mapping of the state of
Para, based on the work of RADAMBRASIL and IBGE.The 1:250,000 scale gave rise to
the use of three taxons which includes primarily the morphostructural units,
corresponding to the geological structure represented by the sedimentary basin of
Amazon, built between the two crystalline shields.Inside this context were
inserted the units of relief that constituted the second taxon and a third taxon
with its subnits.
KEYWORDS
map of the state of Para; geomorphological mapping; environmental planning
INTRODUÇÃO
Dentre os mapeamentos temáticos, um dos mais complexos é a cartografação
geomorfológica, embora seja obviamente a de maior importância para o estudo do
relevo, levando em conta as informações que o mesmo pode fornecer para os
estudos ambientais.
No âmbito geral o relevo do estado do Pará é respaldado pela estrutura geológica
e tectônica, onde se destaca o domínio da bacia sedimentar Amazônica, e o de
duas estruturas cristalinas, localizadas ao norte e ao sul da referida bacia.
Considerando que o estado do Pará está inserido estruturalmente na porção leste
da bacia sedimentar Amazônica, e sendo esta possuidora de cinco sub-unidades
estruturais, que são a bacia do Acre, a bacia do Solimões, a área em questão,
abrange as outras três subunidades: as bacias sedimentares do médio e baixo
amazonas e a bacia sedimentar do Marajó, separadas respectivamente pelos arcos
de Monte Alegre e do Gurupá. Em relação às áreas cristalinas, ao norte e sul do
estado, as unidades de relevo se apresentam mais complexas e altimetricamente
diferenciadas tanto pela tectônica quanto pela litologia.
De modo geral, tais estruturas se refletem no conjunto das unidades de relevo,
cujo ordenamento e sistematização são distribuídos no espaço geográfico
paraense.
O objetivo do referido trabalho, é a definição das diferentes unidades, pela
compartimentação topográfica, baseada na similitude das formas de relevo,
altimetria, declividade e demais características responsáveis pela morfologia
atual. Ressalta-se que a mensuração morfométrica ocorreu a partir do MDE–SRTM,
através de produtos como o modelo tridimensional do terreno e a declividade, o
que permitiu enriquecer e proceder a uma melhor abordagem a respeito da
definição das unidades.
De acordo com Ross (1990), a subdivisão em táxons vem nortear este mapeamento
geomorfológico como o mesmo estipulou para o estado de São Paulo em seis táxons.
Entretanto, por questões de escala o mapeamento realizado utilizou apenas três
táxons (Tabela 01).
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia adotada fundamentou-se na concepção de ROSS (1990), no que tange a
classificação das unidades de relevo em táxons, segundo o conceito de
morfoestrutura e morfoescultura, que segundo a escala adotada, permitiu a
definição de três táxons.
Os procedimentos adotados podem ser divididos em três etapas, que são: 1)
Levantamento bibliográfico, para nortear a definição da metodologia a ser
adotada, bem como, a cerca dos aspectos estruturais, litológicos e unidades
geomorfológicas; 2) Construção de um banco de dados georreferenciado, composto
por dados pré-existentes como a base cartográfica do estado do Pará e pelo layer
de geomorfologia do IBGE/SIPAM, referenciados ao SIRGAS2000 e escala 1:250.000;
3) Download e interpretação do MDE/SRTM/NASA. Nesta última etapa, procedeu-se
inicialmente a extração das curvas de nível do referido MDE, onde optou-se pelo
espaçamento (equidistância) de 100 metros entre as isolinhas, atendendo assim o
nível de detalhe proposto pela escala adotada, para posterior geração dos
produtos de elevação/topografia (grade triangular irregular do terreno – TIN) e
de declividade, os quais auxiliaram na mensuração de elementos morfométricos,
conforme descritos na tabela 01.
Em virtude do grande potencial e da importância representada por esse Modelo de
Elevação, torna-se relevante uma descrição acerca do referido produto. Esse DEM
foi produto de uma missão organizada e executada pela NASA, em parceria com a
Alemanha e Itália, no ano de 2000, denominada SRTM (Shuttle Radar Topographic
Mission), que resultou no recobrimento de 80% da superfície terrestre. O ônibus
espacial utilizado nesta missão, levou acoplado em sua estrutura, um sensor de
radar (SAR) com capacidade de detecção interferométrica, o qual gerou dados
tridimensionais do terreno, com resoluções de 30 e 90 metros (MEDEIROS, 2009).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para uma melhor abordagem, procedeu-se a mensuração morfométrica (tabela1), a
qual auxiliou na definição das seguintes unidades (Figura1).
1 – Planície Amazônica: Constitui-se numa área alongada, tendo como eixo o rio
Amazonas, abrangendo parte do médio e todo o baixo curso desse rio. Inclui as
áreas alagadas e inundáveis. A colmatagem existente é responsável pelo complexo
sistema de drenagem.
2 – Planícies Marinhas e Fluviomarinhas: Correspondem às áreas de acumulação
quaternária, com depósitos marinhos e fluviomarinhos. O primeiro se estende
da porção norte/leste do Marajó, enquanto o litoral de rias tem
continuidade a partir da baía do Marajó, até o golfão maranhense.
3 – Planícies e Terraços: Consistem em zonas deposicionais, com planícies
adaptadas aos ambientes inundáveis de sedimentação recente, enquanto os terraços
são correlatos ao período pleistoceno superior.
4 – Planaltos Rebaixados: Estende pelos dois lados da bacia Amazônica,
apresentando litologia predominantemente sedimentar de
formações paleozóicas, como também sedimentos Barreiras, estendendo-se ao
nordeste paraense.
5 – Planalto Bacia Sedimentar do Amazonas: É representada por relevos residuais
das bordas norte-sul, apresentando também setores tabulares, com litologia
sedimentar (paleozoica). Eventualmente se apresenta dissecado por drenagem pouco
densa, inserindo interflúvios tabulares.
6 – Planalto Setentrional Pará–Maranhão: Corresponde a relevos em forma de
chapadas, constituída por rochas sedimentares, que correspondem a bacia
sedimentar do meio norte.
7 – Depressão do Gurupi: Está embutida entre as áreas mais elevadas dos
tabuleiros e chapadas, representados por sedimentos da bacia sedimentar do meio
norte, que estão presentes no limite entre os estados do Para e do Maranhão.
8 – Planalto do Tapajós: Representada por litologias predominantemente
paleozoicas. Dispõe de extensa superfície tabular com fraca declividade, onde há
também a presença de formas colinosas e vertentes ravinadas.
9 – Depressão Ortoclinal do Médio Tocantins: É formada por rochas com coberturas
metassedimentares de grande variedade. O relevo é ora plano, ora dissecado, onde
suas subunidades podem ser visualizadas na tabela 01.
10 – Colinas e Cristas Gurupi: Esta inserida na faixa de dobramentos e
coberturas metassedimentares, constituindo-se numa área de menor extensão do que
as circunjacentes de cobertura sedimentar.
11 – Planaltos Residuais: Correspondem a maciços dissecados, alguns conhecidos
como serras, constituídos por rochas cristalinas. Apresentam cristas, vertentes
ravinadas e colinas, associadas a mesas.
12 – Planaltos Dissecados: Apresentam formas talhadas em rochas cristalinas, e
metamórficas,com as feições mais baixas funcionando como áreas interplanálticas.
Existem formas de topos planos, que se apresentam como interflúvios tabulares.
São representados ao sul pelo conjunto dos Carajás e Cubencranquem.
13 – Depressões Periféricas: Apresentam altimetria inferior às áreas
circunjacentes, distribuídas em litologias pré-cambrianas, no contato com os
planaltos dissecados. Possuem relevos residuais em grupos ou dispersos.
14 – Depressão Interplanáltica: Compreende superfície aplainada com morfologia
levemente ondulada, drenada por uma rede de baixa densidade, e representada por
terrenos que também sofreram efeitos de aplainamentos, inserida em áreas
cristalinas.
15 – Serras e Chapadas do Cachimbo: Constituem relevos aplainados em rochas pré-
cambrianas,com estruturas controladas por falhas e fraturas, com eventuais
dissecações em cristas e vales.
16 – Pediplanos: Representadas áreas aplainadas, ou levemente entalhadas pela
drenagem. Também formam relevo colinoso, considerando que as fases de
rebaixamento, corresponderam a períodos de aridez do cenozoico, enquanto o clima
atual é responsável pela dissecação.
17 – Colinas do Amapá: Consiste em relevo pouco dissecado, com vertentes
convexas e topos arredondados, com declives moderados.
Tabela 01
Unidades de relevo e seus respectivos elementos
morfométricos
Figura 01
Mapa das unidades de relevo do estado do Pará
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mapeamento realizado consistiu na caracterização das 17 unidades
morfoesculturais, mostrou embora parcialmente a complexidade de formas do relevo
do estado do Pará, de acordo com a análise feita. Esta permitiu a interação entre
as formas de relevo com os aspectos tectônicos, litológicos e morfogenéticos.
O trabalho também veio demonstrar a importância do mapeamento geomorfológico como
subsídios ao entendimento da paisagem com base nos principais compartimentos do
relevo do estado, para futuras pesquisas em caráter de maior detalhe, sobretudo
para os estudos ambientais.
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