Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
DETERMINAÇÃO DA SUSCETIBILIDADE À EROSÃO LAMINAR NA BACIA DO RIO ARAGUARI – MG – A PARTIR DA ANÁLISE MULTIFATORIAL
AUTORES
Andrade, I. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA) ; Pinese Jr, J.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA) ; Rodrigues, S.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA) ; Pedrosa, A.S. (UNIVERSIDADE DO PORTO)
RESUMO
O objetivo do trabalho é mapear a susceptibilidade à erosão laminar da Bacia
Hidrográfica do Rio Araguari, a partir da interpolação dos fatores: solo,
declividade, geologia, uso da terra e curvatura. Para a obtenção do mapa final
foram analisados os 5 fatores permanentes, onde as classes de cada fator foi
hierarquizada de 1 a 5. Após ensaios com diferentes graus de influencia para cada
fator, foi escolhido como mais apropriado o resultado com influências iguais para
cada fator.
PALAVRAS CHAVES
Erosão laminar; análise multifatorial; Bacia do Araguari
ABSTRACT
The objective of the research is to map the sheet erosion susceptibility for the
Araguari river watershed, from the interpolation of factors: soil, slope, geology,
land use and curvature. To obtain the final map were analyzed 5 permanent factors,
which the classes of each factor was hierarchized from 1 to 5. After trials with
different influence for the factors was chosen as most appropriate outcome the
equal influence for each factor.
KEYWORDS
Sheet erosion; multivariate analysis; Araguari River watershed
INTRODUÇÃO
Com a intensificação da ocupação do cerrado brasileiro o bioma passou a sofrer
interferências antrópicas merecedoras de atenção, visto a necessidade de
organização e planejamento da ocupação deste espaço.
De acordo com Rodrigues (2008):
Os intensos processos de desenvolvimento da sociedade e da economia no âmbito
industrial e agrícola levaram a uma antropogenização elevada no meio ambiente
provocando uma degradação acelerada do mesmo, fator este potencializado devido à
forma de ocupação desordenada da terra em todo o país e também do Domínio do
Cerrado.
A área desta pesquisa é a bacia hidrográfica do Rio Araguari, que ocupa uma
extensão de 22.041 km², situada no oeste de Minas Gerais, na mesorregião do
Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, área geomorfologicamente classificada pelo
Projeto RADAMBRASIL (1983) como unidade de Planaltos e Chapadas da Bacia
Sedimentar do Paraná.
Pedrosa (2006) ao discutir a importância do conhecimento geomorfológico para a
mitigação dos riscos naturais afirma que:
A geomorfologia pode, então, desempenhar um papel relevante na determinação da
susceptibilidade específica a um determinado contexto geomorfológico. Por um
lado, o conhecimento do contexto geomorfológico é imprescindível à tentativa de
antecipação da sua reação face a um factor natural ou antrópico potencialmente
indutor da ruptura do equilíbrio dinâmico.
O objetivo do trabalho é mapear a susceptibilidade à erosão laminar da Bacia
Hidrográfica do rio Araguari, com a interpolação dos fatores: solo, declividade,
geologia, uso e ocupação da terra e curvatura do terreno, através da análise
multifatorial. Pretende-se contribuir para a compreensão da distribuição
espacial das áreas de maior suscetibilidade à erosão laminar e quais os fatores
que tem maior influência no aparecimento deste processo morfogenético, buscando
ainda desvendar quais os fatores mais contribuem para o seu aparecimento.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a elaboração do mapa de susceptibilidade à erosão laminar, inicialmente foi
montado um banco de dados georreferenciado em escala 1:1.000.000, que
posteriormente foi trabalhado no software ArcGIS 9.2 através de técnicas de
geoprocessamento.
Foram gerados mapas intermediários dos fatores permanentes, considerados mais
importantes, a saber: Geologia, Uso e Ocupação da Terra, Tipos de Solo,
Curvatura em Planta do Terreno e Declividades. Estes fatores permanentes foram
posteriormente classificados por meio de pesos variando de 1 a 5 para os itens
impactantes no resultado final do mapa, partindo do menor para o maior peso
respectivamente, em relação à contribuição ao processo de erosão laminar.
Foram feitas interpolações entre os mapas, alterando-se o grau de influência de
cada um, para que fosse possível analisar a interferência de cada item no
resultado final, e buscando assim resultados satisfatórios e condizentes com a
realidade local.
Para o processamento dos dados utilizou-se a ferramenta Weighted Overlay, que
permite o cruzamento ponderado de diversos fatores analisados, assim como as
diversas relações entre eles. É Necessário reclassificar os valores dos dados de
entrada para uma escala comum, neste caso de 1 a 5 para todos os fatores
permanentes. Os dados de entrada são ponderados pela importância, quando se
aplica, e somados para produzir um dado de saída, representando o mapa de
suscetibilidade.
Para a avaliação do processo executado foram gerados alguns ensaios procurando
determinar qual a interrelação existente entre os diversos fatores considerados
de forma a definir a maior importância de uns relativamente aos outros, além de
um ensaio com influências iguais para todos os fatores analisados.
Após o processamento e análise dos resultados obtidos, dentre os ensaios gerados
com diferentes graus de influência para cada fator permanente escolheu-se o
resultado gerado com influências iguais para cada fator como o melhor resultado
para a bacia hidrográfica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a obtenção do mapa de susceptibilidade à erosão laminar para a bacia foram
analisados e classificados os 5 fatores permanentes, onde as classes de cada
fator foram hierarquizadas de 1 a 5 conforme sua contribuição ao processo
(Tabela 01).
Após a análise dos resultados obtidos a partir do cruzamento ponderado, dentre
os ensaios gerados com diferentes graus de influência para cada fator
permanente, escolheu-se o resultado gerado com influências iguais para cada
fator como o melhor resultado para a bacia hidrográfica.
Geologia
A partir do mapeamento realizado foi possível encontrar 13 tipos litológicos ou
combinação litológica na bacia do rio Araguari.
A área leste da bacia apresenta classes litológicas onde foi atribuído um peso
elevado, pela presença de quartzitos e os complexos xistos e filitos da parte à
montante da bacia hidrográfica, e ainda as coberturas detrito-lateríticas
localizadas próximo à área urbana de Uberlândia.
Os granitos, granitoides, basaltos, carbonitos e os piroxenitos, encontrados
mais comumente nos vales dos principais rios da bacia, foram classificados com
peso intermediário. Já as argilas, siltitos, arenitos, folhelhos com arenitos e
sedimentos inconsolidados, de distribuição heterogênea pela bacia, foram
classificados com pesos muito fracos e fracos.
Uso e ocupação da terra
Para a determinação das classes de uso e ocupação da terra foi feita uma análise
de uma composição da imagem LANDSAT 5TM elaborada para a área da bacia, e
definindo 5 classes de uso.
Áreas de Vegetação Arbórea Natural são encontradas de forma muito fragmentada e
heterogênea pela bacia. As áreas de Agricultura e Silvicultura ocupam
principalmente os topos planos da porção central e noroeste da bacia
hidrográfica.
No leste da bacia predominam as práticas de pecuária extensiva, com pastagens
condicionadas pela dissecação profunda do terreno e acentuadas pelas
características edáficas.
Tipos de solo
A bacia do rio Araguari apresenta 8 tipos diferentes de solos (Tabela 01). Os
tipos de solo mais ocorrentes na bacia hidrográfica em estudo são os gleissolos
e os latossolos, tendo sido atribuído peso 2 a estes solos, já que as suas
características apresentam uma baixa suscetibilidade à erosão laminar. Os solos
mapeados como de maior suscetibilidade à erosão laminar foram os cambissolos
háplicos, que receberam peso 5 e apresentam maior ocorrência na parte leste da
bacia.
Curvaturas
O mapeamento das curvaturas do terreno apresentou resultado final fortemente
fragmentado, com todas as formas ocorrendo ao longo da bacia. Destaca-se a
prevalência de áreas planas na parte sudoeste da bacia, região das chapadas do
Triângulo Mineiro. Na parte leste ocorre um relevo dissecado, com maior
ocorrência de vertentes convexas nas regiões de nascente. Esse relevo causa
maior concentração de fluxo de água e torna a área vulnerável.
Declividades
A maior extensão da bacia apresenta declividades entre 0˚ - 6˚ e de 6˚ - 12˚ e
que foram consideradas as de menor suscetibilidade à erosão laminar, sendo
atribuídos os pesos 1 e 2 respectivamente. As classes de maior declive
apresentam fraca representatividade na bacia hidrográfica, sendo a classe de 12°
a 20°, de peso médio, aquela que tem uma maior influência, localizada na parte
leste da bacia.
Suscetibilidade à Erosão Laminar
Da análise multifatorial realizada obteve-se o mapa de suscetibilidade á erosão
laminar para a bacia hidrográfica do rio Araguari. É possível perceber que a
maior suscetibilidade está na parte sudeste da bacia, condizendo com as áreas de
relevo fortemente dissecado. Do médio ao baixo curso da bacia estão as áreas de
menor suscetibilidade à erosão.
O mapa demonstra claramente que o uso da terra que tem menor influência no
aparecimento deste processo morfogenético, já que o seu zoneamento se relaciona
mais concretamente com as características edáficas e litológicas na bacia.
Tabela 01
Fatores permanentes analisados e a hierarquia de
pesos atribuídos.
Figura 01
Mapa de Suscetibilidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração de modelos de predição de processos de erosão laminar é de difícil
delimitação nos seus aspectos técnicos e operacionais, uma vez que o operador pode
terum conhecimento superficial da área, porém deve ter elevado conhecimento dos
processos atuantes.
Dentre os diferentes ensaios gerados com diferentes graus de influência para cada
fator permanente escolheu-se o resultado gerado com influências iguais para cada
fator. Este fato sugere que a heterogeneidade dos fatores Uso e Ocupação da Terra,
Declividade e Curvatura do Terreno influenciaram o resultado na escala da
vertente, enquanto os fatores com maior homogeneidade, como a Geologia e os Tipos
de Solos influenciaram espacialmente de forma mais ampla o resultado.
Desta forma, a análise espacial utilizando os Sistemas de Informações Geográficas
como ferramenta de planejamento territorial permite analisar de forma integrada o
espaço e direcionar esforços para a minimização dos impactos e riscos pela ação
humana no território.
AGRADECIMENTOS
A FAPEMIG - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, pela
colaboração no financiamento para a participação no IX SINAGEO, e à CAPES -
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela bolsa de
pesquisa aos Mestrandos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
PEDROSA, A. S. A Integração de Prevenção dos Riscos no Ordenamento Territorial. Colóquio: Paisagem e Riscos Naturais: perspectivas de planejamento comparado. Porto. 2006.
PEDROSA, A. S. ROCHA, E. A. V. RODRIGUES, S. C. Proposta de Modelagem da Susceptibilidade a Erosão Laminar. Um Estudo de Caso na Bacia do Ribeirão Vai – Vem (GO). Brasil. VII Seminário Latino-Americano e III Seminário Ibero-Americano de Geografia Física. Manaus. 2012.
RADAMBRASIL, Projeto. Levantamento de recursos naturais. Rio de Janeiro, Folha SE 22, Goiânia, vol. 31, 1983.
RODRIGUES, S. C. Geomorfologia e Recuperação de Áreas Degradadas: Propostas Para o Domínio dos Cerrados. In: NUNES, J. O. R., ROCHA, P. C.(org). Geomorfologia aplicação e metodologias. Editora Expressão Popular, São Paulo. 2008.