Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
Riscos Ambientais na Cabeceira da Bacia do Rio Sarapuí (Zona Oeste do Rio de Janeiro)
AUTORES
Barbosa, D.R. (UNIVERSIDADE GAMA FILHO) ; Silva, F.G. (UNIVERSIDADE GAMA FILHO) ; Mello, E.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ; Antonio, G.B. (UNIVERSIDADE GAMA FILHO) ; Leite, B.C. (UNIVERSIDADE GAMA FILHO) ; Citrângulo, T.V. (UNIVERSIDADE GAMA FILHO) ; Rodrigues, N.M. (UNIVERSIDADE GAMA FILHO)
RESUMO
Na cidade do Rio de Janeiro, o processo de urbanização acelerado tem causado
inúmeros problemas de ordem ambiental para a população, sobretudo associado às
inundações periódicas. O trabalho busca identificar os pontos de risco ambiental
de inundações na bacia do rio Sarapuí, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, através do
mapeamento em escala de detalhe.
PALAVRAS CHAVES
Inundações; Geografia do Risco; Rio de Janeiro
ABSTRACT
In the city of Rio de Janeiro, the process of urbanization accelerated has caused
numerous environmental problems for the population, mainly associated with the
periodic flooding. The work seeks to identify the points of environmental risk of
flooding on the headboard of the basin of the river Cabeceira Sarapuí, in the West
Zone of Rio de Janeiro, through the mapping scale detail.
KEYWORDS
Inundation; Geography of Risk; Rio de Janeiro
INTRODUÇÃO
O modelo de desenvolvimento adotado pela sociedade contemporânea não vem levando
em conta a degradação da biosfera e se apropria do espaço geográfico para se
organizar social e economicamente, dominando a natureza e a modelando conforme o
seu interesse.
As inundações têm aumentado consideravelmente nas últimas décadas,
principalmente na Cidade do Rio de Janeiro, onde a ocupação e uso insustentável
do espaço geográfico é uma realidade e, por isso, o risco ambiental de
inundações precisa ser considerado no desenvolvimento de políticas públicas e
planejamento urbano. Essas consequências podem ser observadas na bacia do rio
Sarapuí, localizado na Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro, causando
prejuízos sociais e econômicos para a população ribeirinha.
Nesse sentido, é preeminente a necessidade de estudos científicos voltados para
a identificação do risco ambiental na Cidade do Rio de Janeiro, para que medidas
preventivas sejam tomadas, no sentido de minimizar as perdas geradas pelas
inundações. O trabalho aqui proposto busca identificar os pontos de risco
natural e de risco ambiental de inundações na bacia do rio Sarapuí.
MATERIAL E MÉTODOS
A bacia hidrográfica é reconhecida como unidade espacial da Geografia Física
desde meados do século XX. Atualmente, outras ciências, ditas ambientais,
incorporaram, em seus estudos, a análise dessa unidade especial, no sentido de
desenvolver programas de proteção ambiental. Teodoro et al. (2007) define bacia
hidrográfica como um conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes,
formada, nas áreas mais altas do relevo, por divisores de água. Por sua vez,
Coelho Netto (1994) afirma que qualquer alteração antrópica, irá desembocar em
alterações nos cursos d’água, tanto à montante quanto à jusante da bacia
hidrográfica, comprometendo assim, seu equilíbrio dinâmico.
Para a análise da bacia hidrográfica do rio Sarapuí, o trabalho foi desenvolvido
em diferentes etapas. A primeira consistiu no levantamento bibliográfico, com
busca de informações, junto aos principais órgãos ambientais e artigos
científicos. A segunda etapa consistiu inicialmente na delimitação da área de
estudo e dos prováveis pontos de inundação em plantas cadastrais, em escala
1:10.000, elaboradas pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Esse material foi
atualizado a partir do software Google Earth Pro.
A área de inundação da bacia do rio Sarapuí foi obtida através da utilização da
primeira curva de nível a partir da área de baixada, localizada na carta
cadastral. Para a identificação dos pontos considerados de risco natural de
inundações (no que se refere aos elementos geomorfológicos) foram consideradas
as discussões propostas pela DCJ (2007) que aponta as áreas de confluência de
rios, redução brusca da declividade dos cursos d´água e estrangulamento dos
mesmos.
Os cartogramas de Geologia e Unidades Geomorfológicas foram elaborados a partir
de CPRM (2001). Sobrepostos às figuras, foi colocada a base cadastral
construída na plataforma ArcGis 10. Os trabalhos de campo foram realizados em
2011 e 2012, quando foram realizadas os registros fotográficos e análises
ambientais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Risco está diretamente associado à noção de incerteza de perdas materiais e
econômicas causadas ou não por processos naturais, tais como os processos
endógenos e exógenos da Terra, e daqueles associados às relações humanas. O
risco natural é a denominação comumente utilizada para fazer referência àqueles
riscos que não podem ser facilmente atribuídos ou relacionados à ação humana.
De acordo com Veyret & Meschinet Richemond (2007), os riscos ambientais
resultam da associação entre os riscos naturais e os riscos decorrentes de
processos naturais agravados pela atividade humana e pela ocupação do
território. No que se refere ao risco ambiental de inundações seria a
possibilidade de sua ocorrência através de práticas antrópicas, a exemplo da
ocupação do fundo dos vales fluviais.
A bacia do rio Iguaçu-Sarapuí apresenta uma área de drenagem de 726Km2, dos
quais 168Km2, representam a sub-bacia do Sarapuí, cuja cabeceira localiza-se na
Zona Oeste do Rio de Janeiro. A área de estudo delimitada foi nomeada de
Cabeceira do rio Sarapui, com 3,2km2, uma vez que ela abrange apenas a parte da
bacia dentro do Rio de Janeiro, onde estão os seus principais formadores: os
rios das Tintas, Viegas, do Lúcio e das Sardinhas.
De acordo com o Tucci (1997), as inundações ocorrem quando as águas dos rios,
riachos, galerias pluviais saem do leito de escoamento devido a falta de
capacidade de transporte de um destes sistemas e ocupa áreas onde a população
utiliza para moradia, transporte (ruas, rodovias e passeios), recreação,
comércio, indústria, entre outros.
A área de inundação corresponde a trecho alagável da bacia hidrográfica e, no
rio Sarapui representa 50% da área toda da unidade geomorfológica. Após todas as
análises feitas em campo e através de mapeamento foi possível constatar 74
pontos suscetível ao risco natural de inundações. Através do cruzamento das
informações da área inundável com o uso e ocupação da bacia hidrográfica,
constatou-se que desse total, 20% estão passíveis do risco ambiental de
inundação, como se constata na figura 01.
O perfil topográfico longitudinal do rio Sarapuí demonstra que a maior parte do
seu curso principal localiza-se em uma unidade geomorfológica sub-
horizontalizada, onde a vegetação foi excluída para dar lugar a ocupação
desordenada. A maior parte das Áreas de Preservação Permanente (APPs) das
margens dos rios, outrora com amplas matas ciliares, está atualmente ocupada por
vegetação secundária de pequeno porte (macegas, de forma geral) e edificações
que alcançam as margens dos rios.
O processo de ocupação da região está diretamente associado ao crescimento
urbano-industrial da Região Sudeste, na segunda metade do século passado. A
área onde se encontra a Cabeceira do rio Sarapui concentra um grande contingente
populacional e industrial, formando o que Farias Filho (2005) chama de periferia
metropolitana. A área ocupada representa 34% da bacia hidrográfica.
A ocupação das margens dos rios por populações de baixa renda se apresenta como
um dos fatores agravantes para o problema das inundações. Na bacia do rio
Sarapuí, há 21 favelas, que, de acordo com o IBGE (1996), são agrupamentos de
50 ou mais domicílios ocupando densa e desordenadamente o espaço sem a
existência de títulos de propriedade.
Essas ocupações irregulares, construídas às margens do Estado, são pouco
providas de saneamento básico, fazendo com que resíduos sejam lançados
diretamente nos corpos hídricos, provocando o assoreamento e poluição que
compromete o sistema de vazão das águas, resultando em um transbordamento em um
espaço de tempo pequeno.
Figura 01
Risco Ambiental da Cabeceira do Rio Sarapuí
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O médio curso da Cabeceira do rio Sarapuí encontra-se restrito a canais
artificiais, uma vez que a Baixada de Bangu está densamente ocupada, fazendo com
que o curso fluvial tenha que transportar grande carga sedimentar oriunda das
encostas desmatadas e do lançamento de resíduos sólidos e esgotos pela população
do entorno.
As inundações do rio Sarapuí têm aumentado consideravelmente nas últimas
décadas,
principalmente por causa do adensamento populacional em seu leito maior. As
pesquisas apontaram que há inúmeros pontos de inundação e assoreamento, no
entanto
as inundações são comuns nas comunidades de Barão de Capanema, Jardim Bangu, da
Posse, do Jardim Clarisse, Taquaral, Viegas e Jardim Alecrim. Nesses lugares, é
fundamental a avaliação dos riscos ambientais de inundações e uma atuação mais
direta do poder público no sentido de encontrar uma solução negociada para que a
população tenha a sua condição de cidadania preservada.
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