Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
Estudo da fragilidade ambiental no Parque Nacional da Serra da Bocaina, Estado do Rio de Janeiro
AUTORES
Moraes, L.M.A.V. (UFRJ) ; Alexandre, S.T. (UFRJ) ; Brizzi, R.R. (UERJ) ; Souza, H.S. (UFRJ) ; Lopes, C.F. (UFRJ) ; Bezerra, J.F.R. (UFRJ) ; Guerra, A.J.T. (UFRJ)
RESUMO
Faz-se nesta pesquisa a análise da fragilidade ambiental do Parque Nacional da
Serra da Bocaina (PNSB), uma área preservada estabelecida por Decreto Federal nº
70.694/1972. O objetivo principal é analisar a fragilidade ambiental nos
municípios de Paraty e Angra dos Reis, especificamente no PNSB, por atribuição de
pesos e cruzamentos dos mapas de solos, uso da terra e cobertura vegetal,
precipitação e declividade, através do método proposto por Ross (1994), a partir
técnicas de geoprocessamento.
PALAVRAS CHAVES
Unidades de Conservação ; Geoprocessamento; Fragilidade ambiental
ABSTRACT
The aim of this paper is to analyze the environmental fragility in Serra da
Bocaina National Park (PNSB), a conservation area, established by the Federal
Decree No. 70694 on June 8th, 1972. The main objective is to analyze the
environmental fragility in Paraty and Angra dos Reis municipalities, specifically
in the PNSB, by assigning weights and overlaying soils, slope angle, land use and
precipitation maps, regarding the methodological procedures developed by Ross
(1994), using GIS techniques.
KEYWORDS
Conservation Units; GIS; Environmental Fragility
INTRODUÇÃO
Os estudos geográficos sobre Unidades de Conservação ambiental criadas no
território brasileiro vêm aumentando, uma vez que são essas áreas as de maior
importância para a biodiversidade. Conforme Castro Junior et al. (2009), as
florestas tropicais têm sido alvo de mais preocupações, visto que esses habitats
ocupam aproximadamente 7% da superfície terrestre, possuem mais da metade das
espécies da biota mundial e estão sendo destruídos rapidamente. Nesse contexto
surgiu a necessidade de estudos sobre Unidades de Conservação, sendo escolhido o
Parque Nacional da Serra da Bocaina no Estado do Rio de Janeiro, em função de
sua relevância ambiental. O Parque vem sofrendo diversos danos com o manejo
inadequado, que por vezes, origina-se da falta de conhecimento dos riscos que
existem em cada área.
Apesar de ser uma importante Unidade de Conservação, para a biodiversidade,
sendo reconhecida como um dos 25 hotspots no mundo, o Parque possui conflitos
que afetam as unidades e seu entorno.
Analisando a localização da área, situada próxima à concentração de grande parte
da população brasileira, com atividades econômicas diversas; o turismo que incha
cada vez mais o espaço limitado entre o mar e a escarpa, somado a sua evolução
histórica, em termos de ocupação e exploração de recursos naturais. Logo, não é
possível considerar a fragilidade ambiental apenas desafio científico, de
dimensões ecológicas e econômicas, com soluções puramente técnicas.
MATERIAL E MÉTODOS
O mapa de fragilidade ambiental baseou-se em: Mapa de solos da EMBRAPA (2003),
em 1:250.000, no siteGeoportal EMBRAPA; Ortofotos do IBGE (2005), em 1:25.000;
Mapa pluviométrico do Rio de Janeiro, em 1:2.000.000, do site do INEA; Imagens
SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission, 2004), em 1:250.000.
Os métodos adotados para a elaboração dos mapas de solos, índices
pluviométricos, declividade e uso da terra abrangeram o processamento e
organização dos dados no Arcgis 9.3. O mapa de fragilidade ambiental foi
produzido a partir da álgebra dos mapas (solos, índices pluviométricos,
declividade e uso da terra) da função Raster Calculator da ferramenta Spatial
Analyst do Software Arcgis 9.3. A álgebra de mapas usa expressões matemáticas
que contêm operadores e funções, sendo a álgebra utilizada nesta pesquisa a
aritmética, com formula: [Uso da terra] * 0.3 + [Solos] * 0.3 + [Precipitação] *
0.2 + [Declividade] * 0.2. Os números representam os pesos atribuídos à cada
mapa, conforme a tabela 1. O mapa de fragilidade ambiental seguiu a estrutura
adaptada de Ross (1994) e Ross e Fierz (2005), resultando em cinco classes:
muito baixa, baixa, média, forte e muito forte.
A elaboração do mapa de solos, a partir da fonte já citada, baseou-se na função
clip disponível no Arctoolbox do Arcgis 9.3, chegando a definição de quatro
classes: Cambissolos, Latossolos Vermelho-amarelos e Neossolos Flúvicos e
Litólico. O mapa de uso e cobertura da terra foi produzido a partir das
ortofotos do IBGE, por meio da classificação supervisionada Maximum Likelihood
no software Arcgis 9.3, obtendo-se as classes gramíneas e florestas. O mapa de
precipitação também originado pela função clip(Arctoolbox) do Arcgis 9.3,
resultou em três intervalos de precipitação: 1438 – 1730 mm, 1731 – 2022 mm,
2023 – 2314 mm. O de declividade foi gerado com curvas de nível extraídas do
SRTM, por meio da função contour da ferramenta 3D analyst do Software Arcgis
9.3, com classes entre 0º a mais de 45º.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O cruzamento das informações, referentes ao uso da terra, pedologia, índices
pluviométricos e declividade, e com base na experiência na área de estudo,
resultou no mapa de fragilidade ambiental do Parque Nacional da Serra da
Bocaina, no Estado do Rio de Janeiro, na qual foi possível identificar as
fragilidades muito baixa ou nula, baixa, média, forte e muito forte. Com o
mapeamento dessas áreas tem-se a indicação das áreas potencialmente mais frágeis
da paisagem, no que se referem a áreas degradadas, sendo fundamentais para o
planejamento ambiental-territorial.
As áreas com muito baixa e baixa fragilidade ambiental apresentam declividades
variando de baixa a média e solos predominantemente caracterizados como
Cambissolos, com exceção nas regiões próximas à planície costeira, onde os solos
são caracterizados como Latossolos vermelho-amarelos. Acima dos 900 m, as áreas
com muito baixa e baixa fragilidade apresentam cobertura florestal densa e
gramíneas nos limites do Parque e estão localizadas na unidade geomorfológica
Planalto da Bocaina (Figura 1). Os “menores” índices pluviométricos no PNSB
estão presentes nessas áreas variando entre 1.438 mm a 1.730 mm.
As áreas com fragilidade média localizam-se principalmente na porção sul do PNSB
e também acompanhando as escarpas da Serra do Mar (Figura 1). As declividades
variam de média a alta, e os solos caracterizados como Cambissolos e Neossolos
Litólicos, os índices pluviométricos variam entre 1.438 mm e ultrapassam os
2.000 mm. Em relação à cobertura vegetal, encontram-se as florestas
predominantemente nessa classe, sendo intercaladas por pequenas manchas de
gramíneas.
A fragilidade ambiental forte no PNSB está representada nas áreas mais elevadas
da Serra do Mar (Figura 1), caracterizada com alta declividade variando entre 30
e 45º, e solos tipo Neossolos Litólicos e cobertura florestal densa com
afloramentos rochosos pontuais. Essa classe apresenta os maiores índices
pluviométricos da área de estudo, com valores maiores que 2.300 mm na porção
sul. Em relação a classe de fragilidade ambiental muito forte (Figura 1), esta
foi localizada pontualmente, não sendo representativa espacialmente. Percebe-se
claramente a importância do estudo da fragilidade ambiental para o diagnóstico
dos danos ambientais no PNSB no Estado do Rio de Janeiro.
TABELA DE PESOS (FRAGILIDADE AMBIENTAL)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do mapa de fragilidade ambiental do PNSB no estado do Rio de Janeiro foi
possível classificar os níveis críticos deste ambiente à degradação. Através deste
método foram feitas análises para melhor entender as características espaciais das
áreas que apresentam riscos reais de degradação ambiental. A combinação dos
diferentes fatores influentes permitiu indicar as áreas de maior ou menor
fragilidade da paisagem e em que direção esforços devem ser tomados para mitigar o
desgaste deste ambiente.
Este trabalho segue na linha das novas ferramentas SIG que vieram para facilitar e
até mesmo antecipar a tomada de decisão dos gestores das Unidades de Conservação,
tanto no manejo adequado, quanto na própria regeneração de áreas já afetadas.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus.Ao CNPq e a FAPERJ pelo apoio financeiro aos
respectivos projetos do LAGESOLOS/UFRJ, coordenados por Antonio Guerra:
Diagnóstico de danos ambientais em Unidades de Conservação: P. Estadual da Serra
do Mar (Núcleo Picinguaba) e P. Nacional da Serra da Bocaina (APA do Cairuçu) e
Reserva Ecológica da Juatinga e Diagnóstico de danos ambientais em Unidades de
Conservação: P. Nacional da Serra da Bocaina (APA do Cairuçu) e Reserva Ecológica
da Juatinga
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CASTRO JÚNIOR, E; COUTINHO, B. H.; FREITAS, L. E. (2009). Gestão da Biodiversidade e Áreas Protegidas. In – Abordagens Geográficas das Unidades de Conservação .Guerra, A.T.; Coelho, M. C. N (org). Editora Bertrand Brasil, Rio de Janeiro.
ROSS, J. L. S.; FIERZ,M.S.S. (2005) Algumas Técnicas de Pesquisa em Geomorfologia. In: Luis Antonio Bittar Venturi. (Org.).Praticando Geografia – Técnicas de campo e laboratório. 1 ed.São Paulo: Oficina de Textos, p 65 – 84.
ROSS, J. L. S.; (1994) Análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. Revista do Departamento de Geografia. n.8, p.63-74.