Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
MAPEAMENTO DE PLANÍCIES FLUVIAIS: contribuição metodológica a partir do caso do Rio Paraibuna em Juiz de Fora, MG.
AUTORES
Lima, L. (UFMG) ; Carmo, L. (UFMG) ; Souza, A. (UFMG) ; Barros, L. (UFMG) ; Felippe, M. (UFMG)
RESUMO
Este trabalho expõe a metodologia empregada no mapeamento da planície de inundação
do rio Paraibuna no município de Juiz de Fora, Minas Gerais. O mapeamento foi
empreendido como suporte para a definição da Linha Limite de Terrenos Marginais
(LLTM), os quais são de domínio da União. O trabalho se insere no projeto
Mapeamento de Planícies Fluviais, uma parceria entre a Superintendência do
Patrimônio da União (SPU) e o Grupo de Pesquisa (CNPq) Geomorfologia e Recursos
Hídricos (IGC/UFMG).
PALAVRAS CHAVES
geomorfologia fluvial; sensoriamento remoto; Linha Média de Enchentes
ABSTRACT
This work presents the methodology used to map the fluvial plains of Paraibuna
river in the municipality of Juiz de Fora, state of Minas Gerais. The mapping was
an important procedure to the definition of the Limit Line of Marginal Lands,
which are Union domains. The work is within the project Mapping of Fluvial Plains,
a partnership between the Superintendência do Patrimônio da União (SPU) and the
Research Group (CNPq) Geomorphology and Hydric Resources (IGC/UFMG).
KEYWORDS
fluvial geomorphology; remote sensing; Midline of Ordinary Flood
INTRODUÇÃO
Os terrenos marginais de rios federais são de patrimônio da União (BRASIL, 1946)
e são delimitados pela Linha Média de Enchentes Ordinárias (LMEO). Verifica-
se,em geral, uma correspondência entre os terrenos marginais delimitados pela
LMEO e a ocorrência das planícies fluviais, feições relativamente planas e
adjacentes aos canais fluviais, geradas pela deposição de material sedimentar no
regime atual dos rios (LEOPOLD et al., 1964; CHARLTON, 2008) Essas unidades são
passíveis de mapeamento a partir das bases conceituais da Geomorfologia e
ferramentas do Geoprocessamento.O objetivo do trabalho é apresentar o mapeamento
de um trecho da planície do rio Paraibuna em Juiz de Fora, desenvolvida no
escopo do projeto “Proposta metodológica de delimitação de planícies fluviais de
rios de Minas Gerais por meio de parâmetros geomorfológicos, cartográficos e de
geoprocessamento”,parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
por meio do Grupo de Pesquisa (CNPq) Geomorfologia e Recursos Hídricos, e a
Superintendência do Patrimônio da União (SPU).O município de Juiz de Fora é um
dos mais importantes da Mesorregião Zona da Mata Mineira, apresentando uma
população de 516.247 habitantes (IBGE, 2010). O principal eixo de expansão da
mancha urbana de Juiz de Fora é o vale do Rio Paraibuna, que pode apresentar
cerca de 2 km de amplitude. O Rio Paraibuna é afluente da margem esquerda do rio
Paraíba do Sul e possui 234 km de extensão,drenando uma área de aproximadamente
8.447 km² (IGAM, 2010). Localizada na Serra da Mantiqueira, a altitude
aproximada de sua nascente é de 1200 m, enquanto sua foz está a 280 m. No trecho
trabalhado, a altitude do canal no varia entre 710 m e 505 m, aproximadamente. A
área apresenta feições típicas de planícies de inundação, tais como meandros
abandonados e lagoas marginais. Ressalta-se que,em vários trechos, o canal
passou por modificações em seu traçado natural com canalizações, retificações e
desvios.
MATERIAL E MÉTODOS
A planície fluvial foi delimitada sobre bases detalhadas – escala de 1:10.000.
Foi adotado o sistema de coordenadas UTM (Universal Transverse of Mercator),
fuso 23 sul, sendo o datum horizontal o SIRGAS 2000.
O software de geoprocessamento utilizado foi o ArcGIS 9.3 (ArcMap, ArcView,
ArcScene e ArcCatalog), tendo sido usadas as seguintes bases cartográficas
(formato shapefile): curvas de nível equidistantes em 1m e 5m e mosaico de
imagens QuickBird – obtidos na Prefeitura de Juiz de Fora; Modelo Digital de
Terreno (MDT) – elaborado pelo Laboratório de Geomorfologia-UFMG; e Base
hidrográfica (1:50.000) – IBGE.
O mapeamento da planície fluvial do rio Paraibuna teve como etapa preliminar a
conferência e correção de erros topológicos. Posteriormente foi elaborado o
Modelo Digital de Terreno e sobreposto o mosaico de imagens QuickBird. A
demarcação das linhas limítrofes da planície de inundação foi baseada na
identificação de feições geomorfológicas típicas de ambientes de planície e na
ruptura de declive entre a encosta e as áreas planas marginais ao rio,
evidenciada por curvas de nível e pelo MDT. Os limites estabelecidos foram
classificados de acordo com o seu grau de confiança: “Limite atual”, “Limite
Antigo” (anterior a intervenções antrópicas, como aterros e desvios), e “Limite
Duvidoso” (limite obscuro). Por fim, foi gerado um polígono correspondente à
planície de inundação na área e o layout dos mapas.
Com o intuito de tornar a delimitação da planície mais precisa, resgatou-se a
hidrografia nas cartas topográficas do IBGE da década de 1970. A observação
dessas cartas fornece informações do traçado do rio àquela época e sua
comparação com as imagens atuais permite constatar as transformações
antropogênicas nos canais fluviais desde então.
Por fim, foi realizado trabalho de campo para coleta de coordenadas geográficas
que validassem as áreas mapeadas em gabinete. Os pontos foram base para a
correção de eventuais deslocamentos do mapeamento dos limites da planície.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A maior parte da área mapeada encontra-se densamente ocupada,integrando o núcleo
urbano do município de Juiz de Fora. Assim, diversas modificações morfológicas
no fundo do vale do rio Paraibuna são observadas neste trecho,com destaque para
as áreas aterradas e trechos de retilinização e desvio do canal fluvial, o que
dificultou a delimitação da planície. Adicionalmente, a presença marcante das
atividades antrópicas também dificultou a identificação de feições típicas de
planícies. Quando fora da área urbana, o rio Paraibuna apresenta padrão
meandrante e menor pressão antrópica quanto à ocupação de suas margens. A
interpretação geomorfológica do trecho mapeado permitiu a identificação tanto de
feições típicas de planície, quanto de ambientes com outros indícios de
inundação periódica, como áreas mais úmidas e áreas com sedimentos
característicos, totalizando 48 feições. Quanto à definição dos limites da
planície, os trechos foram classificados como “limite atual”, “limite duvidoso”e
“limite antigo”. Esta última categoria representa os trechos da planície
original que foram abandonados em função de intervenções humanas no curso
fluvial. Para a verificação dos trechos retificados do canal foi necessário
recorrer a mapas antigos e a entrevistas informais com moradores, questionados
quanto ao alcance das inundações na área. A validação do mapeamento foi feita
por meio de trabalhos de campo, averiguando-se os limites definidos em gabinete
e evidências morfológicas que confirmassem a extensão da planície, através da
coleta de diversos pontos por receptores de GPS. Os campos foram realizados por
uma equipe formada por técnicos do Laboratório de Geomorfologia da Universidade
Federal de Minas Gerais (IGC/UFMG) e servidores da Secretaria do Patrimônio da
União (SPU).
FIGURA 1:
Mapa final da planície do rio Paraibuna em área de
Juiz de Fora.
FIGURA 2:
Perfil Longitudinal do rio Paraibuna, trecho de
mapeamento da planície fluvial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta metodológica apresentada neste trabalho para o mapeamento de trecho da
planície fluvial do rio Paraibuna, em Juiz de fora, consiste em uma associação de
técnicas de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto com interpretações
geomorfológicas baseadas na fotointerpretação e trabalhos de campo. Os
procedimentos de gabinete possibilitaram a identificação da planície com precisão
satisfatória. A verificação em campo foi fundamental, tendo em vista as
interferências antrópicas na planície. Nesses casos, as entrevistas com a
população local também contribuíram para os ajustes nos limites. Portanto, a
metodologia aplicada e os resultados obtidos contribuem de modo significativo na
demarcação da Linha Média de Enchentes Ordinárias (LMEO) e da Linha Limite de
Terrenos Marginais (LLTM) em rios de domínio da União. Sendo assim, reitera-se a
eficácia e replicabilidade da metodologia em outros rios federais, desde que
observada a acurácia das bases cartográficas e as adaptações necessárias
AGRADECIMENTOS
À Superintendência de Patrimônio da União (Minas Gerais) pela parceria; à
Prefeitura de Juiz de Fora pelo fornecimento das bases cartográficas e imagens de
satélite; ao grupo de pesquisa (CNPq) Geomorfologia e Recursos Hídricos; e ao
Laboratório de Geomorfologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal
de Minas Gerais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
GUERRA, Antônio José Teixeira (org.). Geomorfologia urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. IGAM. Rede hidrográfica ottocodificada do estado de Minas Gerais – Bacia do Rio Paraíba do Sul. Escala 1:50.000. IGAM, 2010. BRASIL. Decreto-Lei nº 9.760, de 5 de setembro de 1946. Dispõe sobre os bens imóveis da União e dá outras providências. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1946. LEOPOLD, L. B.; WOLMAN, M. G.; MILLER, J. P. Fluvial Processes in Geomorphology. New York: Dover Publications Inc., 1995.CHARLTON, R. Fundamentals of Fluvial Geomorphology. London: Routledge, 2008.