Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
Mapeamento da espacialidade dos deslizamentos no município de Nova Friburgo - RJ
AUTORES
Dias, L.F. (UFJF) ; Lima, P.H.F. (PMNF)
RESUMO
O Mega Desastre ocorrido na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro em janeiro
de 2011 gerou grandes alterações na geomorfologia da paisagem, tanto de zonas
urbanas como de zonas rurais, em áreas com matas preservadas e em áreas altamente
impactadas antrópicamente. O trabalho possui o recorte territorial focado no
município de Nova Friburgo e objetiva mapear a espacialidade dos eventos com o
intuito de possibilitar estudos de causalidades e análises espaciais para a
prevenção.
PALAVRAS CHAVES
movimentos de massa; Desastre de 2011; Mapeamento
ABSTRACT
Mega Disaster occurred in the Região Serrana of the state of Rio de Janeiro in
January 2011 led to major changes in the geomorphology of the landscape, both
urban and rural areas, in areas with preserved forests and in areas highly
impacted anthropically. The work has focused on cropping land in the Nova Friburgo
town and aims to map the spatial events in order to allow studies of causality and
spatial analysis for prevention.
KEYWORDS
mass moviments; disaster; mapping
INTRODUÇÃO
Em âmbito mundial, tem-se verificado, nas últimas décadas, um aumento das
ocorrências de desastres naturais e dos prejuízos decorrentes. Constata-se uma
tendência global para o significado incremento do número de desastres a partir
da década de 70 que, conforme EM-DAT (2009) passou de 50 registros por ano para
350 em 2008, tendo chegado a 500 em 2005.(TOMINAGA, 2011) No Brasil, os
principais fenômenos relacionados a desastres naturais são derivados da dinâmica
externa da Terra, tais como, inundações e enchentes, escorregamentos de solos
e/ou rochas e tempestades. Estes eventos ocorrem normalmente associados a
eventos pluviométricos intensos e prolongados, nos períodos chuvosos que
correspondem ao verão na região sul e sudeste e ao inverno na região nordeste.
(TOMINAGA,2011) De acordo com EM-DAT, o Brasil encontra-se entre os países do
mundo mais atingidos por inundações e enchentes, tendo registrado 94 desastres
cadastrados no período de 1960 a 2008, com 5.720 mortes e mais de 15 milhões de
pessoas afetadas (desabrigados/desalojados). Considerando somente os desastres
hidrológicos que englobam inundações, enchentes e movimentos de massa, em 2008 o
Brasil esteve em 10° lugar entre os países do mundo em número de vítimas de
desastres naturais, com 1,8 milhões de pessoas afetadas (OFDA/CRED, 2009) ;
(TOMINAGA,2011)
Em Nova Friburgo,são recorrentes as precipitações que causam inundações e
deslizamentos.Nos registros históricos encontrados no Centro de Documentação Dom
João VI lemos logo nos primeiros anos da colonização suíça: “ As catástrofes são
inúmeras tanto na cidade como nos campos. As esperanças nascidas com as
primeiras brotações definham e morrem, diante da calamidade provocada pelas
chuvas. Desanimados, abandonam as fazendas e retornam para cidade. Contudo, Nova
Friburgo também sofre." Ocorreram no município algumas inundações memoráveis
como as de 1979, dezembro de 1996 e janeiro de 2007, mas nenhuma tão
catastrófica como a de 2011.
MATERIAL E MÉTODOS
Desde a ocorrência do mega desastre muitos estudos têm sido realizados por
diversos órgãos e instituições. Na Secretaria Municipal do Meio Ambiente da
Prefeitura Municipal de Nova Friburgo, iniciou-se um levantamento de dados
georreferenciados a partir das imagens disponibilizadas no Google Earth. A
vetorização dos movimentos de massa foi gerada e organizada a partir do Google
Earth no formato KML. Para a integração com o banco de dados oficial da
prefeitura foi utilizado o software livre QuantumGIS, que permite a leitura do
formato KML e o converte para shapefile . No entanto, o sistema de referência de
coordenadas do Google Earth é o WGS84, enquanto a base cartográfica da
prefeitura é no datum SAD69, tornando necessária a compatibilização dos data. As
curvas de nível com equidistância de 20 metros e a hidrografia, camadas
vetoriais utilizadas para a análise espacial, foram originadas nas cartas
topográficas digitalizadas do IBGE, na escala 1:50.000. Além disso, foi
utilizada a camada vetorial sistema viário,e a camada vetorial da cobertura do
solo vetorizadas a partir de imagens do satélite Quickbird de 2005 com resolução
espacial de 1 metro, na ocasião do Plano Diretor Participativo de Nova Friburgo.
No QGIS foi calculada a área de cada deslizamento e classificada por bairro e
localidade, conforme a figura 2 ilustra.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A distribuição espacial dos deslizamentos foi classificada levando-se em conta
os bairros e localidades rurais do município. Essa organização dos dados foi
fundamental para compreender as dimensões desastrosas do evento. Assim como na
forma das encostas, vários fatores controlam a sua declividade. Tal variável
pode ser medida diretamente no campo, com um aparelho chamado clinômetro, ou,
então, pelas cartas topográficas, em que se leva em conta a distância entre as
curvas de nível. Quanto mais detalhada for a escala do mapa, maiores serão as
possibilidades de se produzirem mapas em que a distribuição espacial das
declividades esteja mais bem representada. (GUERRA,2003) Desta forma, optamos
por utilizar as cartas topográficas.A escala originária de 1:50.000 das cartas
do IBGE não permitem um grau de detalhamento adequado para analisar as formas
das encostas, mas ainda assim, foram úteis para identificar a declividade geral
das encostas. O volume pluviométrico ultrapassou 400 mm em 5 horas de acordo com
Paulo Canedo, doutor em hidrologia pela Lancaster University (1979), em palestra
proferida no auditório do SENAI em Nova Friburgo. Um volume de precipitação de
tal proporção ocasionou deslizamentos generalizados em todos os tidos de
encostas com diferentes coberturas do solo e níveis de interferência antrópica.
Neste evento climático, não é possível estabelecer parâmetros de causalidade dos
deslizamentos em função de singularidades paisagísticas. De maneira geral as
características do embasamento litológico em conjunto com a dinâmica
geomorfológica da região – solos rasos em encostas longas e íngremes - propiciam
maiores riscos a movimentos de massa. A pluviosidade é sem dúvida um importante
fator condicionante dos escorregamentos. Na região tropical úmida brasileira, a
associação dos escorregamentos à estação das chuvas, notadamente às chuvas
intensas, já é de conhecimento generalizado. Durante a estação chuvosa, que em
geral corresponde ao verão, as frentes frias originadas no Círculo Polar
Antártico encontram as massas de ar quente tropicais ao longo da costa sudeste
brasileira, provocando fortes chuvas e tempestades. Estas chuvas, muitas vezes,
deflagram escorregamentos que, não raro, podem se tornar catastróficos
(GUIDICINI&NIEBLE, 1984 apud TOMINAGA, 2011). O nível de precipitação
supracitado
ocasionou alterações na paisagem e na fisionomia dos rios e canais fluviais
conforme CUNHA(2003). O córrego Dantas, por exemplo, sofreu um alargamento de
sua calha, passando de 3,50 m para 8,00 m, e um forte assoreamento.
Na figura 2 destaca-se que as localidades com maior número de deslizamentos
foram Conquista, com 408, Campo do Coelho, com 336 e Pilões, com 251. Todas
essas localidades, assim como Córrego Dantas, proporcionalmente o bairro mais
atingido – 15% de sua área, são ao longo do eixo da RJ-130, a rodovia estadual
entre Nova Friburgo e Teresópolis.
Vale notar que as localidades destacadas no parágrafo anterior são rurais, com
exceção de Córrego Dantas. Apesar de não possuírem o maior quantitativo de áreas
atingidas por escorregamentos, nas localidades urbanas, observa-se um número de
óbitos muito maior, em função da densidade de ocupação do solo, como por exemplo
em vários loteamentos de Conselheiro Paulino, 6º. Distrito, e no Centro da
cidade. As informações entre os veículos de informação apresentam dados
divergentes. As últimas informações apresentam 905 mortos na região serrana,
sendo 426 no município de Nova Friburgo. No município, os bairros e localidades
que mais tiveram mortos foram: Conselheiro Paulino (129), Campo do Coelho (66),
Centro(59), Córrego Dantas (33), Duas Pedras (28), São Geraldo (17).
Figura 1
Mapa da espacialização dos escorregamentos no
município de Nova Friburgo - RJ
Figura 2
Tabela de deslizamentos por bairro e localidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de um Sistema de Informações Geográficas (SIG), como o Quantum GIS, permitiu
a elaboração de planos de informação que proporcionam a análise espacial das
consequências da tragédia.
A interpretação do mapa não permite inferir que a ocupação antrópica tenha sido
determinante na incidência dos movimentos de massa uma vez que os escorregamentos
ocorreram de maneira dispersa em todo município. Portanto os fatores que
apresentam correspondência direta com a geração dos movimentos de massa são a
pluviosidade (de proporções catastróficas; inédita) e o relevo. Para se evitar
novas tragédias em Nova Friburgo e região são necessárias algumas atitudes
desafiadoras que segundo GUERRA(2003), está em compatibilizar a expansão da área
urbana às características físicas do município sendo imprescindível impedir novas
ocupações, sejam informais ou não, garantindo a preservação da vegetação nativa,
que envolve a área urbana e está presente no seu interior.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
AMARAL, R. do., SANTORO, J. & TOMINAGA, L.K. Desastres Naturais: Conhecer para Prevenir. 1ª edição. São Paulo: Instituto Geológico, 196p,2011.
GERAIGES, A. I. L. (Org.) ; ROSS, J. L. S. (Org.) ; LUCHIARI, A. (Org.) . América Latina: sociedade e meio ambiente. Expressão popular, 2008.
GUERRA, A. J. T. & CUNHA, S.B. A Questão Ambiental. Editora Bertrand Brasil. 1ª edição, 248p, 2003.
GUERRA, A. J. T. (Org.) ; CUNHA, S. B. (Org.) . Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. 1. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. v. 1. 416 p.