Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
Correlação das variáveis condicionadas pela geomorfologia com os registros de incêndio no Parque Nacional do Itatiaia
AUTORES
Sousa, G.M. (UFRRJ) ; Nunes, M.T.O. (UFRJ) ; Colares, I.V.V. (UFRJ) ; Tomzhinski, G.W. (ICMBIO) ; Fernandes, M.C. (UFRJ)
RESUMO
O Parque Nacional do Itatiaia localiza-se na Serra da Mantiqueira tem os incêndios
florestais como problemática. Algumas variáveis condicionadas ao relevo são
importantes para avaliar os incêndios resultam da ação do homem em conjunto a
paisagem. O presente trabalho busca estabelecer uma relação entre a radiação
solar, formas de encosta, declividade e altitude com os incêndios registrados. Os
resultados apontam concentrações de incêndios em determinadas classes dos
elementos mapeados.
PALAVRAS CHAVES
Incêndios florestais; Modelo Digital de Elevaçã; Cartografia Geoecológica
ABSTRACT
The Itatiaia National Park is located in the Mantiqueira Mountain Range and
wildfires has problematic. Some variables conditioned to relief are important for
evaluating the fires resulting from human activity along the landscape. The
present study was to establish a relationship between solar radiation, slope
angle, slope geometry and altitude with fires recorded. The results indicate
concentrations of fires in certain classes of mapped elements.
KEYWORDS
Wildfires; Digital elevation model; Geoecological Cartography
INTRODUÇÃO
O Parque Nacional do Itatiaia (PNI) foi o primeiro Parque Nacional criado no
Brasil em 1937 e encontra-se situado nos Estados do Rio de Janeiro (municípios
de Resende e Itatiaia); e de Minas Gerais (municípios de Bocaina de Minas e
Itamonte). Esta Unidade de Conservação (UC) possui diversos arranjos
geomorfológicos que compõem a Serra da Mantiqueira que apresenta relevo
montanhoso com grandes afloramentos rochosos e altitudes variando de
aproximadamente 540 m a 2791,55 m no Pico das Agulhas Negras, o quinto mais alto
do País (IBGE, 2005).
O PNI sofre com constantes incêndios florestais concentrados no Planalto do
Itatiaia (BRADE, 1956; RIBEIRO, 2002; TEIXEIRA, 2006) que são provenientes de
atividades humanas realizadas no seu interior e entorno que já proporcionaram
grandes incêndios eliminando espécies de fauna e flora modificando os
ecossistemas e sua biodiversidade.
Visando o manejo destes fragmentos florestais existentes torna-se
importante a elaboração de um mapa de susceptibilidade à ocorrência de incêndios
visando um melhor combate a este fenômeno que ocorre todos os anos nesta UC. A
construção da susceptibilidade depende de conjugação de fatores que merecem ser
observados na paisagem com maior precisão para que sejam definidos visando a
inserção em um modelo de conhecimento baseado em técnicas de análise orientada a
objeto.
Esses modelos evoluíram em conjunto com as geotecnologias em que destacamos o
sensoriamento remoto e o geoprocessamento que propiciam a verificação da
paisagem como um sistema ambiental que necessita de dados adquiridos de inúmeras
fontes devido a complexidade e a existência de dados.
Portanto o objetivo do trabalho é de realizar a análise de elementos que variam
com a morfologia do relevo com o auxílio de áreas queimadas no período de 2001 a
2011 cedidas pelo Parque Nacional do Itatiaia visando trazer subsídios a
metodologia de susceptibilidade a ocorrência de incêndios.
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia é baseada nos estudos de Tomzhinski (2012) e utiliza dados da
paisagem extraídos de Modelos Digitais de Elevação (MDE) gerados a partir das
cartas topográficas do IBGE: Agulhas Negras (MI-2712/4); Passa Quatro (MI-
2712/3); Alagoa (MI-2712/2) e; São José do Barreiro (MI-2742/2). Esses dados
foram verificados em conjunto com os Relatórios de Ocorrência de Incêndios (ROI)
do PNI que possibilitam a comparação dessas variáveis relacionadas as áreas
queimadas identificadas em campo e refinam a metodologia desenvolvida nos
estudos de Silva et al. (2009), Sousa et al. (2010) e Fernandes et al. (2011).
O MDE propicia produtos que visam dar subsídios aos fatores geradores e
facilitadores da ignição e espalhamento do fogo na paisagem. As variáveis
condicionadas pela geomorfologia extraídas para este estudo são declividade do
terreno, forma das encostas, radiação solar global e altitude. Essas variáveis
foram definidas através de conhecimentos de campo e observações verificadas na
área de estudo.
Os ROIs (ICMBio, 2011) foram elaborados em trabalho realizado pela Brigada de
Incêndio do PNI desde o ano de 2001 e apresentam dados de áreas queimadas que
ocorreram dentro da área do PNI e fora dos domínios do Parque numa área ampliada
em 3 km. A partir de 2008, as áreas atingidas passaram a ser delimitadas com o
auxílio de receptores GPS contabilizando até 2011 o total de 147 áreas. Além do
período mencionado foram inseridas duas áreas correspondentes a grandes
incêndios que ocorreram nos anos de 2001 e 2007 que foram identificados com o
auxílio de imagens Landsat 5 TM adquiridas do site do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE, 2011).
Os resultados foram adquiridos no software ArcGIS 9.3 por meio da ferramenta de
estatística por zona (Zonal Statistics) que apresenta parâmetros de mínimo,
máximo, desvio padrão e o valor majoritário que identificam as características
das áreas queimadas provenientes dos ROI.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A metodologia em questão traz como principal inovação o refinamento das técnicas
elaboradas em estudos anteriores a partir da utilização das áreas queimadas
adquiridas através dos ROIs que tornam possível o conhecimento das
características da paisagem e posterior predição de futuras áreas que poderão
sofrer com o fenômeno dos incêndios florestais tão presente no PNI.
Os resultados mostram que existem características predominantes de variáveis
favoráveis aos incêndios no PNI e que podem propagar o fogo com maior velocidade
em alguns casos. As variáveis identificadas nas áreas delimitadas pelos ROI
podem ser observadas na tabela 1 que aponta quais características possuem maior
representatividade nas classes adotadas. As classes utilizadas foram baseadas
nos estudos de Tomzhinski (2012).
Tabela 1 – Quantidade de ROI por variável condicionada pela geomorfologia
A tabela 1 indica valores referentes ao total de ROIs em relação as variáveis de
radiação solar, forma das encostas, declividade e altitude. A incidência de
radiação solar foi separada em três faixas denominadas alta (acima de 1834,5
KWh/m2), média (1606,4 a 1834,5 KWh/m2) e baixa (radiação média até 1606,3
KWh/m2). Essa variável apresentou que a classe de alta é bastante presente
quando é considerado o número de áreas identificadas nos ROI.
Já com a forma das encostas é percebido que as áreas convexas estão presentes
majoritariamente em 119 áreas analisadas indicando a importância dessa variável
no fenômeno dos incêndios. As áreas planas possuem pouca representatividade
mostrando que a inclinação do terreno tem grande significado para o espalhamento
do fogo como é percebido na variável de declividade que aumenta o número de ROI
em conjunto com a inclinação do terreno.
Em relação a altitude não existe uma tendência que confirma uma relação entre
esta variável e os ROIs utilizados neste estudo. A altitude pode ter alguma
representatividade nas classes de cobertura da terra que pode indicar outra
medida que é a combustibilidade que é determinada como a biomassa existente na
paisagem. Essa variável foi observada por Tomzhinski (2012) e sugere outro
parâmetro que não é geomorfológico, mas torna possível a comparação com as
variáveis advindas do MDE.
Os resultados adquiridos na metodologia apontam que as variáveis que são
condicionadas a morfologia do relevo mais interessantes para o estudo da
susceptibilidade dos incêndios no PNI são a radiação solar e forma das encostas.
Em relação a variável de declividade ocorre que torna-se interessante para o
combate no momento dos incêndios, não resultando em parâmetro com grande impacto
de predição se comparada com a forma das encostas.
A altitude pode ser vista como um fator predominante na geração do fenômeno dos
incêndios, mas no caso das áreas queimadas do PNI, não trouxe indícios que
apontem essa particularidade. Essa variável pode ser incluída na
combustibilidade tendo em vista que o porte da vegetação é modificado de acordo
com a altitude do terreno e a área de estudo possui condições propícias ao
incêndios.
Tabela 1 – Quantidade de ROI por variável condicionada pela geomorfolo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados gerados neste estudo podem ser de grande valia para o planejamento
das ações de prevenção e combate aos incêndios florestais no PNI e de outras UCs,
bem como para o seu manejo de maneira geral. Além disso, auxiliam na compreensão
da questão do fogo e seu papel na formação da paisagem.
Dentre as contribuições à metodologia de susceptibilidade a ocorrência de
incêndios temos como pontos importantes: o estabelecimento de parâmetros para a
classificação das variáveis, utilização da classe planar para forma de relevo,
análise da declividade e altitude frente aos incêndios.
O conhecimento dos valores dessas variáveis condicionadas pela geomorfologia torna
possível o refinamento da metodologia com a inserção desses resultados em técnicas
de modelagem através da classificação orientada a objeto que dá a possibilidade de
junção desses parâmetros visando o apoio e planejamento de campo para os
brigadistas do PNI.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
BRADE, A. C. A flora do Parque Nacional do Itatiaia. Boletim do Parque Nacional do Itatiaia, Nº 5. Itatiaia/RJ, 114p., 1956.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeto Pontos Culminantes: IBGE calcula nova altitude do Monte Roraima. Nota de imprensa atualizada em 29/07/2005. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=412&id_pagina=1&titulo=IBGE-calcula-nova-altitude-do-Monte-Roraima>. Acesso em 20/06/2011.
ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Registros de Ocorrência de Incêndios e Dados Digitais de Ocorrências de Incêndios. Núcleo de Prevenção e Combate a Incêndios do Parque Nacional do Itatiaia. Não publicado. Ministério do Meio Ambiente, Brasil., 2011.
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Catálogo de Imagens de Satélite. Disponível em: http://www.dgi.inpe.br/CDSR/. Acesso em Julho de 2011.
RIBEIRO, K. T. & MEDINA, B. M. O. Estrutura, Dinâmica e Biogeografia das Ilhas de Vegetação Sobre Rocha do Planalto do Itatiaia. In.: Boletim do Parque Nacional do Itatiaia, Nº 10. Itatiaia/RJ, 84p., 2002.
SILVA L. C. V.; FERNANDES M. C., ARGENTO M. S. F. Mapa geoecológico de potencialidade à ocorrência de incêndios no Parque Nacional do Itatiaia/RJ. In.: Revista Brasileira de Cartografia; 61-3:285-292., 2009.
SOUSA, G.M.; COURA, P.H.F.; FERNANDES, M.C. Cartografia Geoecológica da Potencialidade à Ocorrência de Incêndios: Uma proposta Metodológica. In.: Revista Brasileira de Cartografia, Edição Especial, v.1, 2010.
TEIXEIRA, L. N. Perfil dos Incêndios do Parque Nacional do Itatiaia e Entorno. Monografia do Curso de Especialização em Gestão do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Associação Educacional Dom Bosco, Resende, RJ. 52p., 2006.
TOMZHINSKI, G.W. Análise Geoecológica dos Incêndios Florestais no Parque Nacional do Itatiaia. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós Graduação em Geografia – PPGG/UFRJ. 137 f., 2012.