Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO PRELIMINAR DO LITORAL SUL DO RIO GRANDE DO NORTE – NE DO BRASIL
AUTORES
Oliveira, F.F.G. (IBAMA E UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS - UEG)
RESUMO
Este trabalho levantou, preliminarmente, os modelados terrestres no litoral sul do
Estado do Rio Grande do Norte, considerando as relações e a integração dos fatores
estruturais, litológicos, climáticos, pedológicos e morfodinâmicos, a partir de
classificações taxonômicas estabelecidas por IBGE (2009) e Ross (1997). Foram
identificadas 12 unidades de relevo compartimentadas quanto às suas formas de
acumulação (A) e dissecação (D).
PALAVRAS CHAVES
Geomorfologia aplicada; Litoral potiguar; Mapeamento temático
ABSTRACT
This work conducted a survey, preliminarily, of the modeled land on the southern
coast of Rio Grande do Norte, considering the relations and the integration of
structural, lithological, climatic, soil and morphodynamic factors, starting from
taxonomic classifications established by IBGE (2009) and Ross (1997). 12 relief
units were identified compartmentalized as it?s forms of accumulation (A) and
dissection (D).
KEYWORDS
Applied geomorphology; Coastal potiguar; Thematic mapping
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, as discussões e estudos em torno da questão ambiental vêm
ganhando força, face ao avanço dos problemas ambientais decorrentes de ações do
Estado e da sociedade, os quais em sua grande maioria, consideram os
geossistemas somente como fontes inesgotáveis de recursos naturais e de beleza
cênica, ignorando seu aspecto geodinâmico e ecológico. No caso do litoral sul
potiguar, onde a ocupação é secular intensifica-se, o desenvolvimento da cana-
de-açúcar, da carcinicultura, da pecuária, do turismo e das cidades, ocupando
extensas faixas de terra sobre tabuleiros costeiros, dunas, mangues e restingas
o que agravou ainda mais o quadro ambiental na região.
Nesse contexto, o mapeamento geomorfológico e a espacialização de seus
fenômenos, se insere como um importante instrumento de ordenamento do
território. Desta forma, este trabalho objetiva levantar, preliminarmente, a
distribuição dos modelados terrestres inseridos na área de estudo, considerando
as relações e a integração dos fatores estruturais, litológicos, climáticos,
pedológicos e morfodinâmicos, a partir de classificações taxonômicas
estabelecidas por IBGE (2009) e Ross (1997). Essas classificações são definidas
a partir de níveis hierárquicos fundamentados em escalas de análise que
compartimentam em ordem decrescente de grandeza. IBGE (2009) estabelece cinco
ordens de grandeza (também definidas como táxons), definidas em função de sua
escala, como Domínios Morfoestruturais, Regiões Geomorfológicas, Unidades
Geomorfológicas, Modelados e Formas de Relevos Simbolizadas.
A área em estudo está situada na região Nordeste do Brasil, ocupando o trecho
sul do litoral oriental do Estado do Rio Grande do Norte, totalizando uma área
de 1.071,08 km². Encontra-se localizada entre as coordenadas geográficas
05°52’43,1” a 6°31’39,3” de latitude sul e 34°58’04,1” a 35°15’52,3” de
longitude oeste.
MATERIAL E MÉTODOS
A partir da fundamentação metodológica proposta por IBGE (2009) e Ross (1997),
mas adaptando aos objetivos e escala do trabalho, foi possível definir o nível
de abordagem tratado neste mapeamento, com o estabelecimento de quatro classes
taxonômicas hierarquizadas a partir de suas escalas espaciais de análise e aqui
definidas como ordem de grandeza. A primeira ordem de grandeza (1° táxon)
vincula-se às Bacias e Coberturas de Sedimentos Fanerozóicos da Bacia Potiguar e
Depósitos Sedimentares Quaternários. A segunda ordem de grandeza (2º táxon)
refere-se ao Domínio dos Planaltos Sedimentares, Domínio Litorâneo-Eólico e
Domínio Flúvio-Marinho. Sequencialmente, a terceira ordem de grandeza (3º táxon)
trabalhada é a unidade geomorfológica, representada pelos tabuleiros costeiros,
Campos de Dunas, Planícies, entre outros. A quarta ordem de grandeza (4º táxon)
relaciona-se à compartimentação dos modelados vinculados a dois grupos: relevos
de dissecação (prefixo D) e relevos de acumulação (prefixo A), discutidos mais a
frente.
O mapeamento foi realizado a partir da interpretação de fotografias aéreas do
levantamento aerofotogramétrico SETUR/SIN/IDEMA (2006), em 1:25.000. Essa escala
de mapeamento permitiria um maior detalhamento de análise, chegando-se ao nível
do 6º táxon, conforme proposição de Ross (1997). Contudo, não se pretendeu
chegar a esse táxon em função de que o 4º táxon, já atendia os objetivos deste
trabalho. Assim, foram estabelecidas preliminarmente, as unidades homogêneas de
mapeamento por correlação, considerando padrões ou chaves de interpretação
distribuídas hierarquicamente.
As curvas de nível utilizadas em várias etapas do mapeamento possuem uma
equidistância de 5 metros. Além do mapa final, foram elaborados, no software
ArcGis 9.3, mapas de apoio interpretativo que deram suporte ao entendimento dos
processos morfológicos da área de estudo, como o mapa clinográfico, mapa de
relevo sombreado, mapa de orientação de vertente e o mapa hipsométrico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos critérios expostos, determinou-se doze modelados na área de estudo,
descritos na tabela 1 e figura 1. A descrição para cada modelado tomou como
referência os trabalhos de Nunes (2006); IBGE (2009) e Prates; Gatto; Costa
(1981).
- Dunas Ativas
Compõem as frentes de barlavento no sentido SE-NO. São ativas pelos sedimentos
arenosos carreados pelos ventos, constituindo irregularidades morfodinâmicas.
Seus taludes têm face voltada para o oceano com formação de rupturas de deflação
(blowouts) e dunas do tipo hummock e shadow.
- Dunas Inativas
Formadas por dunas parabólicas e longitudinais, no setor norte da área,
e dunas transversais associadas às parabólicas, no setor sul da área. Ocorrem
com vegetação fixadora, podendo adentrar até 15 km no continente. Menos recentes
e recobrem sedimentos da Formação Barreiras e sua continuidade é interrompida
abruptamente por falésias ou canais hídricos.
- Planície Marinha
Área plana resultante de acumulação marinha, ocorrendo nas baixadas
litorâneas sob a influência dos processos de agradação marinhos. (IBGE, 2009).
São áreas extensas paralelas à linha de costa. É a faixa de terra que compreende
a praia e o pós-praia, até o contato com o sopé do campo de dunas ou ao talude
da falésia.
- Planície Fluvial
São encontradas na parte mais baixa dos rios, antes de suas
desembocaduras. São áreas largas e rebaixadas que são inundáveis no período das
grandes cheias do rio. (NUNES, 2006). Estão associadas aos rios Jacu, Pirangi,
Catu e Guaju, além das áreas à montante dos estuários de Canguaretama e Nísia-
Papeba-Guaraíras.
- Planície Flúvio-Lacustre
Segundo IBGE (2009) é uma área plana resultante da combinação de
acumulação fluvial e lacustre. Ocorre com a combinação de acumulação fluvial e
lacustre, sujeitos a inundações periódicas com barramentos. Conforma pequenos
trechos adjacentes à lagoa de Nísia Floresta e à lagoa da Base Aérea de Natal.
- Planície Flúvio-Marinha
Ocorrem associadas aos estuários do rio Curimataú e à lagoa de Nísia
Floresta. Também é encontrada nos pequenos estuários associados ao rio Catu,
Guaju e Pirangi. De acordo com Prates; Gatto; Costa (1981), geralmente são
colmatadas por um material argiloso, onde há uma proliferação generalizada de
manguezais.
- Planície Lacustre
IBGE (2009) as classifica como sendo uma área plana resultante de
processos de acumulação lacustre. Ocorre associada aos grandes sistemas fluviais
e aos vales de origem neotectônica. Maior ocorrência nas áreas adjacentes ao
complexo de lagoas associadas à Lagoa do Bonfim.
- Planície Lagunar
IBGE (2009) considera como uma área plana resultante da combinação de
vários processos formadores dos corpos lagunares associados às barreiras
costeiras. Ocorrem nas faixas costeiras conectadas às planícies marinhas,
planícies eólicas e/ou planícies fluviomarinhas, com predominância às margens da
laguna Guaraíras e lagoa de Papeba.
- Planície e Terraço Fluviais
Áreas planas resultantes de acumulação fluvial, periodicamente alagadas,
comportando meandros abandonados e cordões arenosos. Ocorrem nos vales com
preenchimento aluvial, contendo material fino a grosseiro, pleistocênico e
holocênico. (IBGE, 2009).
- Tabuleiro com Dissecação Homogênea Menos Intensa
Guerra; Guerra (1997) define os tabuleiros como uma forma topográfica de
terreno que se assemelha a planaltos, terminando geralmente de forma abrupta.
Tem topografia plana, sedimentar e de baixa altitude. Pela sua baixa
declividade, sua dissecação é menos intensa, com ocorrência de escoamentos
superficiais de lençol ou runnof.
- Tabuleiro com Dissecação Homogênea Mais Intensa
Ocorre próximo aos canais de drenagem com afloramentos de rochas da
Formação Barreiras e com dissecação mais proeminente em função da alta
declividade. Sua dissecação é condicionada tanto por vales fluviais paralelos ou
dendríticos, como por tectônica regional, como nas depressões do rio Curimataú e
Jacu.
Unidades geomorfológicas
Tab. 1 – Unidades geomorfológicas na área de estudo.
Mapa geomorfológico
Fig. 1 – Mapa geomorfológico preliminar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do mapeamento geomorfológico preliminar foi possível determinar que as
doze unidades mapeadas no litoral sul potiguar são reflexos de morfoestruturas,
vinculadas aos processos neotectônicos no litoral nordestino e morfoesculturação
quaternária, com o surgimento de grandes áreas de acumulação sedimentar.
As metodologias empregadas no mapeamento geomorfológico preliminar se mostraram
eficientes, na medida em que os resultados pretendidos foram alcançados. Contudo,
se faz necessário uma continuidade na análise geomorfológica da área para
aprofundamento da aplicação da metodologia, principalmente quanto aos índices de
dissecação.
Desta forma, este trabalho forneceu mais subsídios, mas sem esgotá-los, para o
entendimento dos processos geomorfológicos no litoral sul potiguar, com vistas à
orientação do processo de ocupação humana e de políticas públicas que absorvam
indicadores dos potenciais de uso da terra na perspectiva da espacialização das
vulnerabilidades de cada região.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
GUERRA, Antônio Teixeira; GUERRA, Antonio José Teixeira. Novo dicionário geológico-geomorfológico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Manual técnico de geomorfologia. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. (Manuais Técnicos em Geociências, n.5).
NUNES, Elias. Geografia Física do Rio Grande do Norte. Natal: Imagem Gráfica, 2006. 114p.
PRATES, Margarete; GATTO, Luiz Carlos Soares; COSTA, Maria Iranice Passos. Geomorfologia. BRASIL. MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA. Secretaria – Geral. Projeto RADAMBRASIL. Folhas SB. 24/25 Jaguaribe / Natal; geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1981.
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geomorfologia: ambiente e planejamento. 4. ed. São Paulo: Contexto, 1997.
SETUR/SIN/IDEMA. SECRETARIA DE ESTADO DO TURISMO DO RIO GRANDE DO NORTE. SECRETARIA DE ESTADO DE INFRA-ESTRUTURA.PRODETUR/IDEMA. Polo Costa das Dunas. Brasília: Topocart Topografia, Engenharia e Aerolevantamentos Ltda. Arquivos em formato digital (vetorial e matricial). Escala 1:25.000. 2006.