Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
Morfometria do relevo com dados SRTM/NASA para análise da desertificação no Território do Sisal-Bahia
AUTORES
Oliveira Cerqueira, M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Matos Cardoso Vale, R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA)
RESUMO
O Território do Sisal, inserido em Área Suscetível à Desertificação (BRASIL,
2004), apresenta múltiplos processos de degradação, onde formas insustentáveis de
uso do patrimônio ambiental encontram-se na sua gênese. O objetivo dessa pesquisa
é elaborar mapas morfométricos a partir dos dados SRTM/NASA(2003) por meio de
sensoriamento remoto e SIG (VALERIANO, 2004), que avaliados junto aos dados pré-
existentes e de trabalho de campo, possibilitam investigar evidências de
degradação neste Território.
PALAVRAS CHAVES
Sensoriamento Remoto; SIG; Semiárido
ABSTRACT
The Sisal Territory, located at the Susceptible Desertification Area (BRAZIL,
2004), shows multiple degradation processes, which presents in their genesis forms
of unsustainable use of natural heritage. The goal of this research is to develop
morphometric maps from SRTM / NASA (2003) data, by means of remote sensing and GIS
(VALERIANO, 2004). The evaluation between pre-existing data and fieldwordk makes
it possible to investigate evidences of degradation in this Territory.
KEYWORDS
Remote Sensing; GIS; Semi Arid
INTRODUÇÃO
O semiárido atinge 70% da Bahia, suscetível à desertificação (BRASIL,2004),
sobretudo, onde pastagens e agricultura tradicional produziram repercussões
socioambientais negativas. Para a Convenção de Combate à Desertificação é “um
processo de degradação das terras áridas, semiáridas e subúmidas secas,
resultante de variações climáticas e atividades humanas” (ONU,1994,p.4). É
fenômeno de autoaceleração e retroalimentação (BISWAS e BISWAS in:
MENDONÇA,2007) cuja mitigação requer custos e tempo para recuperar terras
atingidas, antes que ocorra esterilidade ambiental (WARREN,1992).
O Território do Sisal, com 20.473km2, localizado nas coordenadas 09°46’18” e
12°11’23”S, 38°06’09” e 40°24’52”W. A sisalicultura coloca a Bahia como maior
produtor e exportador nacional (87%) (BAHIA,2007). A agropecuária, insustentável
e quase sem aporte tecnológico, ocupa caatingas e pastagens plantadas, e gera
degradação. O pisoteio acarretou danos severos e acelerou a erosão, que na
estação chuvosa torrencial, remove horizontes superficiais. No semiárido, a
recomposição vegetal é lenta, resultando em exposição dos solos, aumento da
insolação e evaporação, com redução da fertilidade e transformação de espaços
vegetados em degradados. Os desdobramentos têm sido o comprometimento
socioeconômico e do patrimônio natural.
O uso das terras no semiárido é, sob muitos aspectos, orientado pelo relevo em
relação aos fatores e dinâmicas da paisagem: insolação, ventos, recursos
hídricos e pedogeomórficos; importantes quando se avalia a apropriação e suas
conseqüências (CASSETI,1991). A análise da morfometria do relevo demonstra que
áreas de baixa altitude, plano-onduladas e pouco dissecadas são ocupadas mais
rápida e densamente, gerando processos denudacionais.
O objetivo dessa pesquisa é elaborar mapas morfométricos com dados SRTM(2003)
por meio de sensoriamento remoto e SIG,que avaliados junto aos dados pré-
existentes e de campo, possibilitam investigar evidências de degradação neste
Território.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizada a organização, manipulação e construção de banco de dados
(CERQUEIRA e VALE, 2011). Em seguida recortou-se a área em estudo no MDT/SRTM-
NASA (2003) e foram corrigidos os “vazios de dados”. Os dados do MDT têm 90m de
resolução espacial, foi aplicada krigagem linear, técnica utilizada por
Valeriano (2004), tomada como base nessa pesquisa. Este interpolador é útil para
a elaboração de subprodutos, por “calcular a cota de um ponto de interesse pela
média ponderada das amostras de sua vizinhança” (FLORENZANO, 2008, p.77), que
através de geoestatística, distribui os pesos de acordo com a variabilidade
espacial, suavizando as mudanças abruptas de relevo, superdimensionadas, caso
não se aplique este interpelador. Este melhora a acuidade visual e possibilita
elaborar variáveis morfométricas, para análise mais detalhada dos compartimentos
do relevo, declividade, morfogênese e morfodinâmica.
Após testes, chegou-se a um MDT com resolução espacial de 30m, que
ampliou o realce das formas, e, a partir do mesmo, foram gerados as variáveis:
altimetria, curvas de nível, declividade, aspecto e relevo sombreado, tendo por
classificação o método Quantili, que realça o contraste entre as classes.
Através de técnicas de Sistema de Informações Geográficas (SIG) foram elaborados
mapas temáticos desses subprodutos na escala de 1:100.000. Tais variáveis
auxiliam na visualização das rugosidades das superfícies, inclusive por delinear
de forma clara as transições morfológicas. Estes temas são utilizados na
cartografia geomorfológica (CAMARGO et al., 2011; MARENT et al., 2010;
FLORENZANO et al., 2008; SANTOS et al., 2006) devido à sua capacidade em
distinguir, em múltiplas escalas, as formas da superfície, seus limites,
transições e compartimentos, subsidiando avaliações da morfodinâmica. Deste
modo, podem apontar setores mais suscetíveis à morfogênese, portanto instáveis,
que a depender do uso evoluem para dinâmicas degradacionais, dando origem à
desertificação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise do relevo partiu dos sistemas de paisagem, onde a natureza geológica,
geomorfológica, climática, hidrográfica, pedológica e o uso das terras foram
levados em consideração, importantes frente à morfogênese e morfodinâmica, e
cruciais para avaliar a desertificação. No Território dominam rochas magmáticas
que comportam greenstone belt (BARBOSA, 2003). A depressão, formada por
processos de pediplanação (CASSETI, 2005), é a unidade geomorfológica
predominante nesse substrato. Sobre os folhelhos da Bacia Recôncavo-Tucano se
desenvolveu tabuleiros com formas de dissecação e aplanamentos embutidos (SIG-
BAHIA, 2003). Isoietas de 400 a 500mm e máximas de 900mm/ano, temperaturas
médias de 20,7° a 26,8°C e evapotranspiração real entre 339 e 916mm, produzem
índice de aridez acentuado, de 30 a 66% (SEI, 2009), modificado segundo o
relevo, a circulação atmosférica e processos de retroalimentação entre biomassa
e ciclo hidrológico. As secas sazonais, agravadas pelo La Niña, acentuam o
stress hídrico. A dissecação dos relevos, orientada pelo sistema hidrográfico, é
ampliada nos períodos chuvosos torrenciais. Os solos predominantes na área são:
Neossolos, Cambissolos, Latossolos, Planossolos Háplicos e Vertissolos, friáveis
e suscetíveis à erosão. A apropriação desse patrimônio ambiental, influenciada
por este mosaico pedoclimático, baseou-se na supressão de grande parte da
caatinga e do cerrado para formar pastagens e cultivos. O cerrado nos tabuleiros
é mais conservado, visto ser menor, a rusticidade climática. Nas depressões, o
uso é intenso e a progressiva incorporação de áreas “primitivas” de caatinga à
agropecuária é crescente e amplia a deterioração. Técnicas de SIG possibilitaram
elaborar mapas (Figuras 1 e 2) na escala de 1:100.000: altimetria, aspecto,
curvas de nível, declividade, e relevo sombreado, com base em Florenzano (2008),
Valeriano (2004). A área apresenta amplitude de relevo de 782m compartimentada:
de 124 a 260m vales de morfogênese de acumulação; de 260 a 332m nível
interfluvial inferior; de 332 a 404m domínio fluvial com forte ação
denudacional; de 404 e 530m relevos residuais e tabuleiros com processos de
incisão regressiva; de 530 a 906m lineamentos do nível interfluvial superior,
preservados, rochosos e de lenta morfogênese. O aspecto exibiu a dissecação;
apesar do exagero vertical forneceu compreensão das formas das superfícies e
direção do escoamento, inclusive pluvial. Foram escolhidas duas classes devido
ao alinhamento estrutural N/S do relevo: de 0° a 167,25° orientação para leste,
e de 167,25º a 360° para oeste, que realçaram relevos mais movimentados e
residuais à NW e N, e superfícies menos dissecadas nos tabuleiros e depressão,
separando dinâmicas geomórficas, respectivamente, mais ou menos ativas. As
curvas de nível com equidistância de 50m foi adequada para demarcar rupturas de
declive e apontar o controle estrutural do substrato rochoso. As encostas dos
tabuleiros apresentam trechos escarpados ou dissecados por erosão acelerada com
múltiplas formas de ravinas. As encostas mais íngremes, nas serras e nos maciços
residuais, também controlados por litotipos, são resistentes à erosão. Com base
na segmentação do terreno a declividade foi separada em 5 classes: de 0° a 1,72º
depressões e topos dos tabuleiros; 1,72° a 4,30° drenagens, ravinas e cicatrizes
de dissecação; 4,30º a 9,12º encostas suaves; 9,12° a 44º encostas íngremes. O
relevo sombreado com ângulo de 26° a 246° realçou a rugosidade das superfícies,
ressaltando os lineamentos estruturais, a organização hidrográfica, e os
modelados lineares, planares, tabulares, côncavos, convexos, e rupturas de
declive. Os resultados indicam que a degradação é maior e tem origem no uso
intenso das depressões, devido às morfologias plano-onduladas sobre solos de
maior aptidão agropecuária, onde são ativos processos geomórficos acelerados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A apropriação da natureza é uma prática que exerce pressão sobre os recursos
ambientais e desencadeia impactos negativos, a exemplo da degradação e sua
versão
mais aguda, a desertificação. O substrato e solos derivados, pari e passu, com o
relevo, condicionam o perfil fisiológico e morfodinâmico das paisagens no
Território e, as degradadas, desenvolvem aridez nas depressões, densamente
ocupadas por agropecuária tradicional. O aporte de água, até 900mm, é perdido
por
evapotranspiração real, 916mm, conduzindo para maior suscetibilidade à
desertificação nos espaços desmatados e agro-ocupados. Os tabuleiros abrigam
remanescentes de cerrado, constituem áreas de agropecuária menos intensa,
limitada
por solos distróficos e relevos escarpados.
A metodologia adotada respondeu favoravelmente às expectativas, uma vez que,
identificou, com boa qualidade espacial, as formas do relevo e possibilitou
correlacionar suas morfometrias às áreas mais vulneráveis à desertificação, ou
seja, as depressões.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Programa de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Feira
de Santana e ao Grupo de Pesquisa "Natureza, Sociedade e Ordenamento Territorial"
- GEONAT/UEFS - pelo apoio irrestrito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
BAHIA. Sistemas de Informação Geográfica – SIG/Bahia. 2003.
BAHIA. Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos – SEI. 2009.
BARBOSA, Johildo S. F; SABATÉ, Pierre; et. al. O Cráton do São Francisco na Bahia: uma síntese. Paraná, Revista Brasileira de Geociências: 2003.
BAHIA, Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação – Secti. Plano de Desenvolvimento do APL de Sisal da Bahia. Jun, 2007. Salvador, BA.
BRASIL. Pan-Brasil. Programa Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; Secretaria de Recursos Hídricos, 2004.
CAMARGO, Flávio F., FLORENZANO, Teresa G., ALMEIDA, Cláudia M., OLIVEIRA, Cleber G. Mapeamento geomorfológico com imagens estereoscópicas digitais do sensor Aster/Terra.São Paulo, UNESP, Geociências, v. 30, n. 1, p. 95-104, 2011.
CASSETI, Valter. Ambiente e apropriação do relevo. Contexto. São Paulo, 1991.
CERQUEIRA, Mílvia O. e VALE, Raquel M. C. Formação de Banco de Dados Geográficos para subsidiar estudos do processo de desertificação no Território do Sisal - Bahia In: Anais do XV Seminário de Iniciação Científica. Feira de Santana, BA, 2011.
FLORENZANO, Teresa Gallotti (org). Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.
MARENT, Breno R.; SALGADO André A. R. Mapeamento das unidades do relevo da porção nordeste do Quadrilátero Ferrífero – MG. Geografias. Belo Horizonte 06(1) 118-139 janeiro-junho de 2010.
MENDONÇA, Francisco; DANNI-OLIVEIRA, Inês Moresco. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo, SP: Oficina de Textos, 2007.
NASA. MDT/SRTM. 2003. Disponível em: <http://seamless.usgs.gov/>. Acesso: 14 jun. 2009.
ONU. Convenção das Nações Unidas de combate à desertificação nos países afetados por seca grave e/ou desertificação, particularmente na África - UNCCD. 1994.
VALERIANO, M. M. Modelo Digital de Elevação com Dados SRTM Disponíveis para América do Sul. São José dos Campos: INPE, 2004.
______. Dados Topográficos. In: FLORENZANO, T. G (Org.). Geomorfologia: Conceitos e Tecnologias. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.
VASCONCELOS SOBRINHO, J. Processos de Desertificação Ocorrentes no Nordeste do Brasil: sua Gênese e sua Contenção. Recife, SEMA/SUDENE, 1982.
SANTOS, Leonardo J. C., OKA-FIORI, Chisato, CANALI, Naldy E. FIORI, Alberto Pio; SILVEIRA, Claudinei T., SILVA, Julio M. F.; ROSS, Jurandyr L. S.. Mapeamento geomorfológico do estado do Paraná. Revista Brasileira de Geomorfologia - Ano 7, nº 2, 2006.
WARREN, Andrew. Desertificação : causas e consequências / F. Kenneth Hare, et al.; tradução Henrique de Barros e Ario Lobo de Azevedo . Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 1992.
<http: //www.dds.cr.usgs.gov/srtm/version1/South_america>. Acesso em 23 set. 2010.
<http: //www.ingá.com.br>. Acesso em: 27 abr. 2010.