Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
Compartimentação morfológica do município de Ituiutaba, estado de Minas Gerais, Brasil
AUTORES
Martins, F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA) ; Costa, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA)
RESUMO
No município de Ituiutaba foi desenvolvido a compartimentação morfológica a partir
da análise da dinâmica do relevo pretérito e atual. Considerou-se a disposição da
rede de drenagem na área do município e os processos de degradação e agradação a
ela relacionados. Este estudo resultou no mapeamento de quatro grandes unidades
morfológicas. Assim, a evidência de áreas homogêneas ou similares é ferramenta
importante para subsidiar o planejamento ambiental e otimizar o ordenamento
territorial.
PALAVRAS CHAVES
Compartimentos do relevo; rede de drenagem; município de Ituiutaba
ABSTRACT
In the municipality of Ituiutaba was developed a morphological compartmentation
from the analysis of the past and current landform dynamic. It was considered the
arrangement of drainage network in the area of the municipality and the processes
of degradation and aggradation related to it. This study resulted in four major
mapping of morphologic units. Thus, the evidence of areas with homogeneous or
similar characteristics is important to support environmental planning and to
optimize land use.
KEYWORDS
landform compartments; drainage network; municipality of Ituiutaba
INTRODUÇÃO
O município de Ituiutaba está localizado na mesorregião geográfica do Triangulo
Mineiro e Alto Paranaíba. Possui, de acordo com IBGE (2010), área de
aproximadamente 2.598,046 km2 e perímetro urbano correspondente a 37,40 km2.
Sabe-se que as formas das vertentes no período atual são devidas,
principalmente, ao fator histórico, pois, o relevo é resultado da ação de
processos morfogenéticos, o qual contempla ambos fatores, exógeno e endógeno.
Entretanto, o homem, através do processo de apropriação do relevo o modifica e
altera esta evolução. Casseti (1995) exemplifica que esta alteração está
intrinsecamente relacionada com a retirada de cobertura vegetal, que dificultará
a infiltração da água no solo, acentuando o processo de transporte, ou seja,
aumentando o fluxo por terra, proporcionando uma desagregação mecânica do solo
e, como consequência, os processos de ravinamentos, voçorocamentos e até mesmo
deslizamento de terras. Os processos erosivos são um dos problemas ambientais
mais significativos na área urbana e rural do município de Ituiutaba.
Este desequilíbrio ambiental é conseqüência de um uso da terra e manejo
inadequados às característica do ambiente na área do município. Por isso, é
necessário compreender e espacializar as áreas homogêneas, viabilizando um
planejamento eficaz.
Nesta ótica, objetivou-se efetuar a compartimentação morfológica de Ituiutaba a
partir da análise da esculturação do relevo pela ação da rede de drenagem.
Assim, a compartimentação do relevo do município de Ituiutaba se constitui base
para fundamentar ações por parte dos planejadores e para estudos posteriores,
com agregação de análise morfométrica e outros componentes de estruturação da
paisagem. Além de proporcionar subsídio ao posterior reconhecimento de áreas que
apresentam vulnerabilidades à sua utilização, o que pode contribuir para ações
mais racionais ou planejadas quanto aos componentes do georelevo do município.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizou-se a proposta de Ross (1992) quanto à taxonomia das formas do relevo,
sendo este estudo proposto para estabelecer principalmente o 3o taxon.
A compartimentação morfológica foi estabelecida a partir de dados obtidos de
imagens de satélite TM/Landsat 5, correspondente às órbitas 221 e 222, ponto 73,
fotografias aéreas e cartas topográficas de Ituiutaba, Cachoeira Dourada,
Gurinhatã e Serra de São Lourenço. O limite municipal foi adquirido através do
shapefile dos municípios do estado de Minas Gerais no site da GEOMINAS. Para o
processamento destes materiais, utilizou-se o software ArcGis 9.2.
A análise foi feita com maior ênfase ao grau de dissecação do relevo, comandada
pela distância dos interflúvios e o aprofundamento da drenagem (Crepani et al.,
1998) e, com a caracterização processual que pode ser evidenciada através das
formas de agradação e degradação identificadas.
A partir do mosaico das órbitas/ponto 221/73 e 222/73 do satélite TM/Landsat 5
e
as fotografias aéreas, trabalhou-se com a análise do relevo em sua interação com
a drenagem.
Para auxiliar na interpretação das formas e processos geomorfológicos da área
foram feitos mapas de declividade e hipsometra, possibilitando, juntamente com o
mosaico das cartas topográficas, análise e espacialização dos relevos residuais.
Esses mapas subsidiaram a compartimentação subseqüente, a qual foi elaborada no
mesmo software, a partir da vetorização das áreas com características de maior
similaridade e/ou homogeneidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao analisar a dinâmica dos processos de agradação e degradação no “Pontal do
Triângulo Mineiro”, Martins e Rocha (2011) observaram que as porções leste e
nordeste são as mais elevadas, e que os rios Tijuco, São Lourenço e Prata
correspondem aos principais pontos de dissecação na Bacia do Rio Paranaíba.
Esses rios compõem as drenagens de maior importância, tanto por serem
agentes ativos na esculturação do relevo, quanto socialmente, ao serem, os rios
Tijuco e São Lourenço, utilizados para captação de água.
O mapa hipsométrico demonstra que o rio Tijuco está entalhando o relevo na
porção nordeste do município, e por ser afluente do rio Paranaíba, a porção
oeste já se encontra mais erodida que as demais áreas. Para Martins e Rocha
(2011), a erosão a oeste do município de Ituiutaba pode ser explicada devido ao
acentuado encaixe da drenagem, pois a dissecação se processou de maneira
intensa, acarretando o afloramento de basaltos, enquanto que os locais em que a
drenagem continua a encaixar, ainda restam, na forma de residuais, apenas os
arenitos mais resistentes.
Nos interflúvios dos rios Tijuco e Prata, tanto à sua margem direita quanto a
esquerda, a atuação da drenagem deixou apenas os relevos residuais. Entretanto,
a drenagem ainda continua a entalhar essa feição geomorfológica, erodindo suas
bordas.
Martins e Rocha (2011), ao analisarem o processo de dissecação do relevo
ressaltaram que, “a grande dissecação de oeste para leste a partir dos
tributários do rio Paranaíba mostram que as áreas com a presença de relevos
residuais estão preservadas apenas nos divisores, ou seja, a concentração desta
feição geomorfológica se encontra no centro” (MARTINS; ROCHA, 2011,p.8).
Nessa perspectiva, Ituiutaba, conforme Mamede e outros (1983), está inserida na
unidade Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná, constituindo a sub-
unidade Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná, caracterizada por
litologias de espessuras e resistências distintas.
Este arranjo estrutural, submetido às ações, principalmente da rede de
drenagem, como foi previamente ressaltado, promove a formação de quatro Unidades
Morfológicas, que foram também divididas em subunidades.
As grandes unidades (3º Taxon de Ross, 1992) são o Planalto de Ituiutaba, as
Superfícies de Cimeira, Chapada Embutida e Depressão Interplanáltica. O Planalto
de Ituiutaba e a Superfície de Cimeira são compostos por sub-unidades, sendo,
Planalto – Margem esquerda e o da direita do Rio Tijuco e Superfícies de cimeira
do Ribeirão São Lourenço e a do Ribeirão São Gabriel.
Os planaltos constituem, segundo Guerra e Guerra (1997), um termo de
valor apenas descritivo se não for associado ao problema da estrutura. O termo
planalto é usado para definir uma superfície elevada, mais ou menos plana
delimitada por escarpas íngremes onde o processo de degradação supera os de
agradação. Assim, esta é a forma de relevo tabular, extensa, que ao menos por um
dos dois lados é circundada por superfícies mais baixas.
As superfícies de cimeira representam as áreas com maiores altitudes, nas quais
ocorre a presença marcante de relevos residuais.
Conforme Guerra e Guerra (1997), as chapadas são do ponto de vista
geomorfológico um planalto sedimentar típico, pois trata-se de um acamamento
estratificado que, em certos pontos, está nas mesmas cotas da superfície de
erosão, talhadas em rochas pré-cambrianas.
As depressões são representadas pelas áreas dissecadas, embutidas nos
planaltos, cujas feições morfológicas estão relacionadas à litologia,
representadas por basalto.
Caracterizou-se o relevo do município de Ituiutaba de maneira em que, os locais
com maiores altitudes estão em processo de dissecação e são áreas que contem
feições geomorfológicas do tipo relevo residuais. Em contraposição, os locais
mais rebaixados e retilíneos foram muito dissecados pela drenagem e atualmente
são áreas em que afloram os basaltos da Formação Serra Geral.
Mapa Hipsométrico do Município de Ituiutaba/MG
Mapa de Compartimentação Morfológica do Município de Ituiutaba/MG
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A área de estudo possui problemas quanto a processos erosivos do tipo
voçorocamento, e, portanto, compartimentar o relevo com áreas homogêneas é
necessário para o direcionamento do uso da terra e manejo do solo de forma
eficiente e coerente com as características de determinado compartimento. Por
isso, a compartimentação geomorfológica do município de Ituiutaba se constitui
em uma ferramenta imprescindível para subsidiar um ordenamento territorial
otimizado.
Este trabalho viabiliza a realização de outros estudos, os quais, a partir de
uma análise geossistêmica, considerando a cobertura pedológica, uso da terra,
declividade, morfometria, entre outros, permitirá espacializar áreas de maior ou
menor susceptibilidade a processos erosivos.
Para um eficaz planejamento territorial, é necessário compreender o ambiente em
questão, sua dinâmica e características, intervindo, posteriormente, para
solucionar, minimizar e/ou até mesmo evitar alguns desequilíbrios de ordem
ambiental.
AGRADECIMENTOS
Ao PIBIC/CNPq/UFU, pela concessão da bolsa de estudo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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CREPANI, E. et al. Sensoriamento remoto e geoprocessamento aplicados ao zoneamento Ecológico – Econômico. São José dos Campos: INPE, 1998.
GUERRA, A. T.; GUERRA. A. J. T. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. 652p.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso em 01 jun. 2012.
MAMEDE, A. et. al. Geomorfologia. In: PROJETO RADAMBRASIL–PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO NACIONAL. Levantamento de recursos naturais. Rio de Janeiro: Ministério das Minas e Energia/Secretária Geral, v. 31, (folha SE. 22 Goiânia), 1983.
MARTINS, F. P.; ROCHA. L. C. O papel da incisão da rede de drenagem na dissecção dos relevos residuais do “Pontal do Triângulo Mineiro”. In: Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, XIV, 2011, Dourados/MS. Anais... Dourados: UFGD, 2011.
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ROSS, J. A. S. O registro cartográfico e a questão da taxonomia do relevo. Revista de Geografia, São Paulo, v. 6, s/n, 1992.