Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico
A importância do mapeamento geomorfológico na identificação de áreas suscetíveis a denudação – um estudo do setor sudoeste da alta bacia do rio Itanhaém/SP
AUTORES
Machado, A.C.P. (UNESP - CAMPUS DE RIO CLARO) ; Cunha, C.M.L. (PROFESSORA LIVRE DOCENTE - UNESP RIO CLARO)
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar a análise das características
geomorfológicas do setor sudoeste da alta bacia do rio Itanhaém, localizada
na área norte do município homônimo. Utilizando o método sistêmico, a
análise da morfografia da área permitiu constatar que o relevo desta área
possui potencial natural aos processos morfogenéticos decorrentes de suas
características morfoestruturais e morfométricas.
PALAVRAS CHAVES
Itanhaém; Mapeamento geomorfológico; Planalto Atlântico
ABSTRACT
The aim of this article is to show the analysis of the geomorphological
characteristics of the southwestern sector of the upper Itanhaém river
basin, located at the area north of the city namesake. Using systemic
method, the morphographic analysis allowed recognize that the relief of this
area has a natural potential to the morphogenetic processes due to their
morphometrics and morphoestructural characteristics.
KEYWORDS
Itanhaém; Geomorphological mapping; Atlantic Plateau
INTRODUÇÃO
Os ambientes costeiros agregam um conjunto de ecossistemas frágeis
que sofrem degradação crescente oriunda da pressão exercida pelas
atividades humanas. Assim, a gestão destes ambientes norteando o uso
antrópico faz-se necessária nos dias atuais, constituindo-se num grande
desafio.
A utilização de mapas geomorfológicos no âmbito do gerenciamento
contribui para a elucidação de características do relevo, subsidiando o
planejamento ambiental, visto que esses podem apontar setores do
relevo que apresentam suscetibilidade à atuação antrópica. Através da
identificação e representação das formas do relevo é possível inferir os
processos que ocorrem sobre este, sejam naturais ou induzidos pela
atuação antrópica.
Neste contexto, a bacia hidrográfica do rio Itanhaém é uma das maiores
do Estado de São Paulo e sua dinâmica ainda é pouco estudada.
Ocupando área de transição entre três compartimentos geomorfológicos
distintos (Planalto Atlântico, Serra do Mar e Planície Costeira), se
encontrando influenciada pela complexa relação entre Oceano e
Continente, a alta bacia do rio Itanhaém agrega uma complexidade que
demanda estudos científicos.
O Planalto Atlântico, foco de análise deste artigo, agrega particularidades
estruturais e morfológicas. A área de estudo caracteriza-se como Planalto
Paulistano, na sub-zona Morraria do Embu (IPT, 1981). Segundo estudos
de Machado e Cunha (2010), apresenta densa rede hidrográfica
comandando os processos morfogenéticos, os quais são vinculados à
ação gravitacional, predominante em alguns setores.
Deste modo, o objetivo desta pesquisa é a análise das características
geomorfológicas do setor sudoeste da alta bacia do rio Itanhaém,
localizada na área norte do município homônimo. Este estudo enfatiza a
morfografia deste setor contribuindo, portanto, com as pesquisas
referentes ao litoral paulista e também com gerenciamento costeiro da
área, visto que detecta características do relevo que impõem limites ao
uso antrópico.
MATERIAL E MÉTODOS
A presente pesquisa é regida pela Teoria Geral dos Sistemas. Assim,
conforme Christofoletti (1979) considera-se que os sistemas devam
constituir-se de elementos que possuam determinados atributos e se
interrelacionam pela entrada e saída de matéria e energia.
Os sistemas podem ser classificados de acordo com vários critérios. Nesta
pesquisa optou-se pela utilização da concepção de sistemas controlados,
visto que, de acordo com Christofoletti (1979), são caracterizados pela
ação humana associada aos sistemas de processos-respostas. Deste
modo, entende-se que qualquer alteração na forma do relevo causa uma
alteração no modo como os processos sobre o relevo se realizam.
Seguindo tais pressupostos, foi elaborada uma carta geomorfológica da
área, a qual se baseou nas propostas de Tricart (1965) e Verstappen e
Zuidam (1975), adotando as adaptações necessárias para a
representação do relevo da alta bacia do rio Itanhaém (SP).
Estes autores defendem como principal fonte de informação os pares
estereoscópicos de fotografias aéreas, nos quais as formas são
registradas através dos símbolos e os processos através do agrupamento
destes. (CUNHA2001, p. 62).
Neste contexto, foram utilizadas para esta pesquisa as fotografias aéreas
na escala 1:25.000 do cenário de 1962. Nesta escala foi possível
observar as formas de vertentes, formas de fundos de vales, tipos de
interflúvios, formas localizadas denudacionais, formas referente à atuação
antrópica (mineração, estradas, etc), dentre outras.
A carta geomorfológica foi elaborada na escala de 1:50.000, de maneira
que os dados coletados através da fotointerpretação foram
posteriormente convertidos para esta escala que, de acordo com Tricart
(1965) trata-se de uma carta de detalhe. Nesta, observa-se a relação
entre a morfoestrutura e os agentes externos que originaram as
morfoesculturas do relevo.
Diante de tais considerações, apresenta-se a seguir os resultados
obtidos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A carta geomorfológica do setor sudoeste da alta bacia do rio Itanhaém
(Figura 1), cuja legenda está disponível na figura 2, apresenta a forte
influência estrutural comandando os processos morfogenéticos. O relevo
falhado, tendo como principal direção o rumo NE – SW comanda a
hidrografia nesta área, delineando a presença de diversos cotovelos de
drenagem.
A complexa organização estrutural comanda a morfogênese por erosão
diferencial dada a variação das rochas, caracterizadas por IPT (1981,
citado por NOGUEIRA, 2001) e DNPM (1991, citado por NOGUEIRA,
2001) como sendo hornblenda, biotita e gnaisses localmente
migmatizadas, que respondem de maneira diferenciada aos agentes
morfogenéticos.
Assim, as zonas de fraqueza, definem os vales encaixados e a evolução
do relevo, pelo entalhamento destas, obedece as redes fraturadas de
entorno. Neste contexto, à medida que o vale é entalhado, há a
reativação da erosão regressiva a montante, comprovada pela presença
de voçorocas nas cabeceiras de drenagem. Ainda neste viés, os topos
variam de 700 a 800 metros caracterizando-se pelos maiores cumes da
área de estudo, tendo, portanto, seu potencial erosivo acentuado. O
desnível altimétrico neste setor corresponde a cerca de 200 metros,
apresentando linhas de cumeada aguda, fatos que contribuem para
ocorrência de escorregamentos, oriundos da ação gravitacional,
registrados através das cicatrizes mapeadas.
A presença de voçorocas em diversas nascentes de setores preservados
pela Mata Atlântica sugere a ocorrência de processos de erosão
regressiva, mostrando um desequilíbrio presente neste setor, associado a
diversos fatores como a estrutura, a litologia, a declividade, o tipo de
solo, a densa rede hidrográfica, os fatores climáticos, etc.
Além disso, foram espacializadas formas do relevo que inferem fragilidade,
tais como as rupturas topográficas. Tais rupturas impõem uma nova
dinâmica à vertente frente aos processos morfogenéticos. Setores que
apresentam topografias mais suavizadas, por exemplo, atribuem menor
energia à ação das águas correntes, bem como à ação gravitacional. Em
contrapartida, setores que apresentam uma topografia com alta
declividade atribuem maior energia à ação escultural do relevo, ampliando
a potência deste. Neste cenário de 1962, observou-se uma grande
quantidade de rupturas abruptas que se apresentam de maneira
descontínua, revelando a complexidade estrutural bem como a evolução
do relevo a partir desta.
No que se refere às formas dos cumes, notou-se que as linhas de
cumeada tendem a apresentar-se com formas em cristas, que geram
setores onde a ação gravitacional pode intensificar a remobilização de
sedimentos vinculados à ação das águas sobre a estrutura.
Diante destas considerações, é importante destacar que o potencial
morfogenético é aumentado durante o verão, período de maior
pluviosidade nesta área.
Figura 1
Setor sudoeste da alta bacia do rio
Itanhaém/SP. A legenda encontra-se disponível
na figura 2. Elaboração: a autora.
Figura 2
Legenda da carta geomorfológica. Elaboração: a
autora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise do mapeamento geomorfológico realizado nessa pesquisa priorizou
as feições denudacionais e também as feições que indicam alterações no
equilíbrio geomorfológico, como rupturas topográficas. Assim, a análise do
setor sudoeste da alta bacia do rio Itanhaém permitiu constatar o potencial
natural que o relevo possui aos processos morfogenéticos comandados pela:
•Forte influência morfoestrutural, refletida na configuração da hidrografia;
•Forte influência das características morfométricas – os valores altimétricos e
declives, passíveis de serem constatados através da análise das curvas de
nível, contribuem para o desencadeamento de feições denudacionais tais
como voçorocas e cicatrizes de escorregamento;
Diante de tais considerações, observa-se que a carta geomorfológica,
através da identificação e representação das formas do relevo, torna
possível um melhor entendimento dos processos que ocorrem sobre este,
evidenciando setores que apresentam restrições às atividades humanas.
AGRADECIMENTOS
Ao Programa CNPq/PIBIC, pelo apoio à pesquisa - Processo nº.
119420/2010-4.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em geografia. São Paulo: Hucitec, Edusp, 1979.
CUNHA, C. M. L. A cartografia do relevo no contexto da gestão ambiental. Tese (Doutorado em Geografia). Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Universidade Estadual Paulista. Rio Claro, 2001.
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NOGUEIRA, S. M. B. Análise da suscetibilidade ambiental e diretrizes para o zoneamento do Nucleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar (SP). Volume I. Dissertação (Mestrado em Geografia). UNESP. Instituto de Geociências e ciências Exatas. Rio Claro, 2001.
MACHADO, A. C. P.; CUNHA, C. M. L. Análise quantitativa do relevo por intermédio das cartas morfométricas da alta bacia do Rio Itanhaém, Baixada Santista/SP. Revista Climep - Climatologia e estudos da paisagem, v. 5, p. 5-35, 2010. Disponível em: http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/climatologia/article/view/4026 Acesso em: 10 Ago. 2011.
TRICART, J. Principes et méthodes de la géomorphologie. Paris: Masson, 1965. 496p.
VERSTAPEN, H.T; ZUIDAM, R. A. van. System of geomorphological survey. Nertherlands: Manuel ITC Textbook, vol. VII. 1975. 52p.