Anais: Geocronologia e evolução da paisagem
EVOLUÇÃO DOS COMPARTIMENTOS DO RELEVO EM ÁREAS SEMIÁRIDAS: CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MORFOGÊNESE NA MESORREGIÃO DO SERTÃO SERGIPANO
AUTORES
Macedo, H.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Araújo, H.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Bezerra, G.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Carvalho, I.S.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)
RESUMO
O relevo terrestre é um dos componentes mais importantes do quadro físico da
Terra. A metodologia utilizada para o desenvolvimento desse estudo baseou-se em
duas fases distintas: gabinete e campo. Os resultados encontrados apresentam como
ocorreu evolução da compartimentação geomorfológica das áreas semiáridas da
mesorregião do sertão sergipano, permitindo uma melhor compreensão de como a
morfogênese atuou e continua atuando sobre esse ambiente.
PALAVRAS CHAVES
Evolução do Relevo; Morfogênese; Geomorfologia Estrutural
ABSTRACT
The terrestrial relief is one of the most important components of the physical
conditions of the Earth. The methodology used for the development of this study
was based on two distinct phases: office and field. The results have occurred as a
geomorphological evolution of the partitioning of semi-arid areas of the middle
region of the interior of Sergipe, allowing a better understanding of how
morphogenesis acted and continues to serve on the environment.
KEYWORDS
Evolution of the landscap; Morphogenesis; Structural Geomorphology
INTRODUÇÃO
O relevo terrestre é um dos componentes mais importantes do quadro físico da
Terra. As suas singularidades determinam a distribuição dos solos, vegetação e
em certos casos, as características climáticas de um determinado lugar (Jatobá,
1994). A gênese e a evolução do relevo em qualquer parte das áreas emersas do
planeta são formadas pela ação dos agentes erosivos, que acabam atuando sobre os
corpos litológicos, e dos fenômenos estruturais.
Os fatores externos do relevo terrestre compreendem o conjunto de processos de
formação do modelado que estão condicionados pelo intemperismo, desnudação e
acumulação. Os processos erosivos são decorrentes de forças externas, sendo que
a sua principal fonte de energia é a representada pelo sol, não podendo se
esquecer de outra importante fonte que é a aceleração da gravidade segundo
Jatobá (1994).
Os compartimentos do relevo encontrados no recorte da presente pesquisa são
típicos do nordeste brasileiro (os pedimentos, o Pediplano e os inselbergs) e
tem sido interpretada como formas remanescentes de paleoclimas secos durante a
era cenozoica. O semiárido do Nordeste do Brasil é caracterizado pelas altas
temperaturas, solos rasos, vegetação hiperxerófila e a chuva mal distribuída ao
longo do ano (Macedo, 2011). Sendo assim, a análise, classificação e
identificação genética das formas de relevo, são baseadas em modelos
fundamentados na relação entre a geologia, o clima, a ação do intemperismo, os
solos, a erodibilidade, a dinâmica fluvial juntamente com a distribuição de
biocenoses (Macedo, 2011).
Entre outros objetivos, o presente trabalho analisou a evolução da
compartimentação geomorfológica em áreas semiáridas da mesorregião do sertão
sergipano, partindo de uma caracterização geológica e climática para a
compreensão de como a morfogênese atuou e continua atuando sobre esse ambiente
ainda pouco explorado pela ciência.
MATERIAL E MÉTODOS
O artigo foi desenvolvido a partir de uma série de etapas metodológicas,
descritas a seguir. Na primeira etapa foi realizada uma revisão bibliográfica e
levantamento das variáveis associadas às condições geológicas pretéritas e
atuais baseados nos seguintes materiais: literatura especializada, documentos
cartográficos, dados secundários, elaboração de cartas temáticas e pesquisa
direta.
Na analise dos documentos cartográficos, destaca-se a utilização como
referência os mapas topográficos da Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (SUDENE), na escala de 1:100.000, Folhas: SC – 24-Z-A-III Carira e SC-
24-Z-B-I (Gracho Cardoso), ano de 1974 e o Atlas Digital sobre Recursos Hídricos
de Sergipe – CD Rom (2010) elaborado pela Secretaria de Recursos Hídricos do
Estado de Sergipe, como também atualização e acréscimos de elementos importantes
espacializados na área da pesquisa.
Na segunda fase foi desenvolvido trabalho de campo com observações in loco
utilizando-se o GPS como instrumento de apoio e a câmera fotográfica digital,
além dos registros em caderneta de campo.
Finalmente, na terceira etapa deste projeto, foi realizada a sistematização das
informações obtidas e a redação final do texto possibilitando uma analise geral
da área estudada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em ambientes semiáridos os pedimentos, pediplanos e inselbergs são estruturas
comuns em meio a paisagem na mesorregião do sertão sergipano. Os pedimentos,
segundo Jatobá (1984) pode ser caracterizado como sendo uma superfície plana
sobre rochas duras, apresentando um perfil côncavo nas partes superior e media
da vertente e suavemente inclinada em direção ao talvegue mais próximo. Já
pediplano, segundo Passos (2011) pediplano representa um testemunho dos ciclos
de pediplanação, constituindo-se como um remanescente preservado em rochas que
impõem maior resistência a erosão sendo bastante dissecados. Os inselbergs de
acordo com Penteado (1978), pode ser definido como sendo uma forma residual dos
processos de pediplanação, apresentando vertentes abruptas e silhueta de domo ou
de castelo.
Esses compartimentos estão presentes na unidade Geomorfológica em Sergipe
denominado de Pediplano sertanejo, que é caracterizado pela predominância de
modelados de dissecação homogênea, ou seja, pela erosão linear, com áreas
restritas de dissecação diferencial marcada pelo controle estrutural (rocha e
tectônica) que compõem a unidade (Macedo, 2011).
Segundo Penteado (1978) o comportamento de uma estrutura em relação à erosão
depende da natureza das rochas, sob a ação de diferentes meios morfoclimáticos.
As propriedades básicas das rochas influenciam no modo de escoamento
superficial, na desagregação mecânica e na composição química (Penteado, 1978).
A mesorregião do sertão sergipano esta inserido na região limítrofe de duas
provinciais estruturais segundo Almeida (1977), a província São Francisco e a
província Borborema.
A estrutura, de acordo com Penteado (1978), tem importante papel no relevo,
porém ele não pode explicar sozinho as paisagens. Por isso aos fatores
estruturais são somados os fatores climáticos.
O clima é um dos mais destacados integrantes da esfera geográfica, influenciando
consideravelmente todos os outros componentes do espaço, especialmente o relevo.
Segundo Tricart (1959) a influência do clima sobre as formas de relevo se dá de
duas formas: direta e indireta. A influência direta, parte dos principais
elementos do clima atuando diretamente sobre as rochas que se acham expostas na
atmosfera, sendo a temperatura do ar, a umidade, os ventos e a precipitação,
seus principais representantes. Já a influência indireta sobre a morfogênese
materializa-se através da cobertura vegetal, sendo a vegetação um obstáculo a
atuação do elemento climático sobre as formações superficiais. Em regiões com ou
sem cobertura vegetal tem tendência a ocorrer um escoamento superficial
acelerado e uma infiltração rápida (Jatobá, 1994).
Assim como todo planeta, a mesorregião do sertão sergipano passou por inúmeras
oscilações climáticas ao longo da sua formação, variando em certos períodos
entre o clima com características muito úmidas e outras, muito seca,
principalmente durante o atual período, o Quaternário (10.000 a.p.) sendo o
responsável mais próximo pelas atuais formas encontradas nessa região.
O clima nessa mesorregião é caraterizado atualmente por apresentar temperaturas
elevadas e deficiência hídrica durante quase todos os meses do ano. Em geral,
nos meses de abril, maio e junho ocorrem reposição hídrica pelas chuvas,
ocasionando excedentes nos meses de maio, junho e julho. No mês de agosto,
inicia-se o processo de retirada de umidade, prolongando-se até o mês de março,
quando retorna as chuvas (Santos, 2008).
Segundo Jatobá (1994), são comuns depósitos coluviais como indicadores de
paleoclimas mais secos, caracterizados pela presença, quase que constante, de
uma pavimentação detrítica (Figura 01).
Depósitos coluviais
Depósitos coluviais caracterizando paleopavimentos
no corte da estrada estadual
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos no ambiente semiárido na mesorregião do sertão sergipano ainda são
incipientes, e busca por novas respostas para inúmeras questões de pesquisa, que
ainda precisam de respostas. Esses estudos referentes ao ambiente semiárido
precisa ainda introduzir novas técnicas e métodos, para permitir a reconstituição
das condições paleoambientais, possibilitando estabelecer sua interpretação.
Porém de maneira preliminar podemos considerar que as áreas semiáridas, a partir
das características físicas aqui apresentadas e sua morfogênese, apresentam um
equilíbrio extremamente frágil diante da dinâmica ambiental. Essas superfícies são
marcadas por um grande grupo de processos correlacionados às alternâncias
climáticas que atuam de modo diverso, ou seja, a degradação lateral.
Tal processo, além de esculpir o relevo de modo diferenciado, origina depósitos
característicos e, que quando preservados, são elementos-chave para interpretação
da evolução da paisagem atual.
AGRADECIMENTOS
Quero expressar minha gratidão ao meu orientador o Prof. Dr. Hélio Mario de Araújo
, aos meus companheiros de pesquisa, Givaldo Bezerra e Izabella S.M.Carvalho
pelas discussões. Agradecer a CAPES, pela oportunidade de fazer parte do quadro de
bolsistas e possibilitar a realização dessa pesquisa
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
PENTEADO, Margarida Maria. Fundamentos de Geomorfologia. 2. ed.; Rio de Janeiro: IBGE, 1978.
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geomorfologia – Ambiente e Planejamento. 8 ed.; São Paulo: Editora Contexto, 2007.
SANTOS, Vera Lúcia Alves; CRUZ, Maria Tereza Souza. Atlas Escolar Sergipe: espaço geo-histórico e cultural. 1ed.; João Pessoa: Editora Grafset, 2008.
MACEDO, H.S. A evolução do relevo em áreas semi-áridas: um estudo de caso na mesorregião do sertão sergipano. in: XXIV SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DO NORDESTE. ANAIS, ARACAJU, 11 A 14 DE NOVEMBRO 2011.
JATOBA, Lucivânio. A geomorfologia do Semi-árido. in: Nucleo de Educação Continuada, UFPE, Recife, 1994.