Anais: Geocronologia e evolução da paisagem
Evolução da paisagem no Médio São Francisco durante a Transição Pleistoceno/Holoceno
AUTORES
Alves, R. (UFU) ; Rodrigues, S. (UFU)
RESUMO
Esta pesquisa discute a evolução da paisagem entre o final do Pleistoceno e início
do Holoceno em um lençol de areia localizado no médio São Francisco. As mudanças
climáticas que ocorreram na região permitiram a formação do lençol de areia em
diferentes momentos, sucedidos por momentos de erosões. Estes diferentes momentos
de evolução da paisagem foram verificados através de análise das formas e datações
LOE.
PALAVRAS CHAVES
Datação; Paisagem; Médio São Francisco
ABSTRACT
This research discus the landscape evolution between the end of Pleistocene and
begins of Holocene in a sand sheet located in mid São Francisco. The climate
changes that had occurred in the region permit the formation of the sand sheet in
different moments, succeeded by moments of erosion. These different moments of
landscape evolution were verified beyond the analysis of relief forms and LOE
date.
KEYWORDS
Datting; Landscape; Mid São Francisco
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa trata da gênese e evolução da paisagem Quaternária entre o
Pleistoceno Superior e Holoceno Inferiorno no médio São Francisco, com destaque
para as evidências e fatos na bacia do rio Grande, um de seus principais
afluentes, que apresenta informações relevantes condizentes com as
interpretações paleoambientais anteriormente realizadas nessa região e em
algumas partes do Brasil. A área de pesquisa tem 7.504Km2, que corresponde a
1,2% da bacia do rio São Francisco. Está totalmente localizada na depressão do
São Francisco, nas proximidades de Taguá - município de Cotegipe/BA, com maiores
altitudes nas extremidades sul e norte, atingindo o máximo de 470m e mínima de
410m de altitude. Essa região encontra-se circundada por maiores elevações. O
rio Grande e o rio Preto são os dois principais canais, e na área de pesquisa os
seus afluentes são quase todos intermitentes.
Neste caso foram consideradas as feições do relevo formadas a partir de diversos
eventos climáticos, as características dos sedimentos/solos e as datações de
ocorrência dos principais processos envolvidos, para que uma reconstrução
paleoambiental pudesse ser feita na região do lençol de areia, além de destacar
os principais processos naturais (transportes eólicos e/ou hidráulicos)
envolvidos nessa dinâmica genético/evolutiva.
MATERIAL E MÉTODOS
O recorte temporal analisado se refere a datações LOE identificadas na área e
dados de outros autores que correspondem ao intervalo entre 21Ka AP (±2,7) e
7,8Ka AP (±0,840). Entretanto, para entender e explicar alguns processos será
necessário uma discussão com base em dados relativos ainda mais antigos do que
os identificados nessa paisagem. Os dados do intervalo de datações foram obtidos
da seguinte forma: análise da trincheira aberta na superfície da Planície
Aluvial do Rio Grande, próximo a Taguá (poço TS-TG), que registrou uma variação
entre 21Ka AP (±2,7) (SAR) e 9Ka AP (±1,5); análise da trincheira aberta no
terraço fluvial superior em Buritizinho (TS-BT), que apresentou idades entre
19Ka AP (±1,2) (SAR) e 10,5Ka AP (±0,7); análise das amostras coletadas a 30cm
de profundidade, sendo que uma foi retirada no centro da Planície Aluvial do Rio
Grande (P 117), entre o rio Grande e o córrego Vereda e a outra foi coletada do
fundo do terraço fluvial superior do rio Grande (PT 101), localizado a montante
de Taguá, com datas respectivas de 7,8Ka AP (±0,840) (SAR) e 7,6Ka AP (±0,570).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O intervalo de tempo estudado teve início no UMG, passa pela transição
Pleistoceno/Holoceno (10,5Ka AP) e termina no início do Hipsitermal (Fig. 1). No
decorrer desses 12.800 anos, houve a época mais fria dos últimos 130.000 anos,
uma mudança climática abrupta caracterizada pelo Younger Dryas em um período
interestadial e a transição de um período glacial para um interglacial. O
resultado principal foi à modificação das formas do relevo nessa superfície, que
deixou de ser predominantemente deposicional e passou a ser uma superfície de
erosão.
Durante o UMG a temperatura era mais amena e as precipitações diminuíram nas
regiões tropicais, o que pode ter provocado uma expansão dos climas semi-áridos
(NOAA PALEOCLIMATOLOGY, 2009; PMIP, 2009). Com essas características climáticas,
principalmente pela diminuição e má distribuição da precipitação que também
ocorre nesse tipo de clima, houve condições ideais para a expansão das
deposições que formam o lençol de areia considerado nesta pesquisa, pois os
fluxos advindos da chapada se tornaram difusos e em forma de torrentes. Havia,
portanto, um avanço maior da área do depósito em detrimento ao aumento de sua
espessura, que também crescia, mas com menor intensidade.
A datação mais antiga foi registrada a 1,4m de profundidade na trincheira
próxima a Taguá. No entanto, sabe-se que a espessura média do depósito é de 9m,
o que implica que aproximadamente 7,6m de sedimentos não foram datados. A
análise das datações permite extrapolar uma taxa de sedimentação para o período
entre o UMG e a transição Pleistoceno/Holoceno, que era de 2,9cm Ka-1 na
superfície do lençol de areia e de 5,3cm Ka-1 no terraço superior do rio
Preto. A média entre esses valores é 4,1cm Ka-1, e admitindo uma taxa de
sedimentação constante, seria necessário um intervalo de tempo que extrapola a
duração da última glaciação, que começou a pouco mais de 110Ka AP, para que todo
esse sedimento fosse depositado (Tab. 1).
O importante nessa análise é que ela evidencia a possibilidade desses sedimentos
serem resultados das flutuações climáticas envolvendo pelo menos dois ou mais
períodos glaciais e dois (ou mais) interglaciais, incluindo o atual. Houve então
outros diversos ciclos de deposição e erosão mais antigos do que os
identificados aqui pelas datações e feições.
De acordo com os intervalos de datações, a expansão do lençol teria predominado
até a transição Pleistoceno/Holoceno. Há diversos autores que caracterizam o
início do Holoceno como sendo de intensa precipitação nas regiões tropicais.
Na região de Taguá existia uma nítida conexão entre a margem direita e esquerda
do rio Grande, separadas agora pelos dois níveis de terraços. Acredita-se que o
período úmido do início do Holoceno foi o responsável pela concentração dos
fluxos na superfície do lençol de areia, o que iniciou a formação do nível de
terraço superior, pois a sua gênese já ocorria a 7600 anos antes do presente.
Algumas características ímpares do posicionamento geográfico da área podem ter
dado origem a uma concentração precoce do fluxo, erodindo o lençol de sedimentos
no intervalo entre 19Ka AP (±1,2) e 10,5Ka AP (±0,7), logo após o UMG, quando a
temperatura da terra começou a ascensão. Portanto, o terraço superior do baixo
curso do rio Preto tem sua gênese ligada a processos ocorridos em momentos mais
antigos, diferente do que foi observado no terraço superior as margens do rio
Grande. Isso pode ser explicado pela erosão remontante, que já estaria em
atividade, e que demoraria mais tempo para ter efeito no terraço em Taguá,
localizado em uma região mais a montante e em altitudes mais elevadas.
Fig.1
Fig. 1 – Datações e seus respectivos limites
inferiores e superiores.
Tab.1
Tab. 1 – Taxa de sedimentação por trincheira e a
média para o final do último período glacial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além do entendimento cronológico da gênese e evolução da paisagem, os dados
possibilitaram a análise da evolução geomorfológica. Houve uma maior diversidade
das formas do relevo, o que acabou dando destaque para essa discussão. Foram
identificadas, seguindo uma sequência de ocorrência geocronológica, deposições
aluviais, paleocanais, formação de terraços aluviais, eventos eólicos (dunas e
pans) e a rede de drenagem em pleno processo evolutivo, e seguindo os antigos
caminhos pelos quais passava durante a formação dos depósitos. As sucessões dos
ciclos erosivos e deposicionais, ajustados em função de mudanças climáticas,
mostram que essa paisagem agradacional é extremamente frágil às variáveis
naturais.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a FAPEMIG pelo apoio na participação deste evento.
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