Anais: Geocronologia e evolução da paisagem
Interpretação dos Condicionantes Neotectônicos no Relevo da Bacia do Ribeirão do Varjão, Região de Sorocaba – SP.
AUTORES
Carou, C. (UFSCAR) ; Arruda, E. (UFSCAR)
RESUMO
O trabalho visa a interpretação de condicionantes neotectônicos na Bacia do
Ribeirão do Varjão, região de Sorocaba – SP, e a influência dos mesmos na
compartimentação do relevo da área. A bacia está inserida no Planalto Atlântico e
sob a influência das Zonas de Cisalhamento Moreira e de Mairinque. Constata-se na
área a presença de anomalias de drenagem, assim como tectônica recente local na
espacialização da sedimentação na bacia.
PALAVRAS CHAVES
Geomorfologia; Neotectônica; Bacia Hidrográfica
ABSTRACT
This article aims the neotectonic constraints interpretation at the Varjão River,
zone of Sorocaba – SP. This watershed is influenced by Shear Zone Moreira and the
Mairinque, and is inserted at the Atlântico Plateau. It appears the area presence
of anomalies drainageas recent local tectonic in the specialization of
sedimentation in the watershed.
KEYWORDS
Geomorphology; Neotectonic; Watershed
INTRODUÇÃO
A pesquisa é realizada na bacia do Ribeirão do Varjão e possibilitou diversas
considerações sobre o relevo da área e seu desenvolvimento a partir da
correlação entre as estruturas pré-cambrianas, a tectônica mesozóica, bem como
aquelas que atuaram no sudeste brasileiro durante o Terciário e Quaternário,
reativando linhas de fraqueza antigas, ou criando novas rupturas. Foram
utilizados os parâmetros e técnicas de identificação apresentados na literatura
nacional e internacional, para a interpretação dos elementos presentes na
paisagem que evidenciam os eventos miocênicos. O Ribeirão do Varjão está
localizado nos municípios de Alumínio e Mairinque – SP. A bacia hidrográfica em
foco possui aproximadamente uma área de 323 Km² e seu curso principal tem
extensão de aproximadamente 18 km. A geologia local é estudada a partir da
compreensão do batólito granitóide que deformou blocos regionais, influenciando
a topografia atual como a Serra de São Francisco. Esta série de intrusões
graníticas deformou o material neoproterozóico depositado anteriormente,
originando rochas metamorfizadas correspondentes ao Grupo São Roque. Deste modo,
compreende-se de fato o controle estrutural no relevo tanto sob o ponto de vista
da erosão diferencial, associado à diversidade litológica, quanto da tectônica
diretamente relacionada aos eventos rúpteis e dúcteis da área. Almeida (1946) já
mencionada a diversidade de elementos tectônicos desta área disposta entre o
chamado Planalto de Ibiúna e a Serrania de São Roque. Assim como, Ab Sáber
(1953) descrevia a linha de quedas apalachianas neste setor do estado onde se
encontra a bacia do Ribeirão do Varjão. No entanto, a mesmo a partir da
abordagem dada por Riccomini (1989) e Hasui (1990) e colaboradores, é necessário
a realização de estudos na área em questão que analisem as diferentes
temporalidades da tectônica e sua influência no relevo local.
MATERIAL E MÉTODOS
Para o desenvolvimento desta pesquisa foi necessária uma abordagem direta e
outra indireta. A respeito da primeira abordagem foram realizados trabalhos de
campo para uma análise in loco, podendo assim, identificar processos naturais
que não são evidenciados em documentos cartográficos e observar diretamente o
objeto de estudo e suas especificidades. Já a abordagem indireta foi realizada
através de revisões bibliográficas, análises de cartas topográficas e imagens de
satélite, mapeamento topomorfológico e elaboração de mapas temáticos a parir de
imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission). As cartas topográficas
permitiram a análise inicial das anomalias geomorfológicas da rede de drenagem,
setores retilíneos e ângulos, e sua correspondência com os eventos tectônicos.
Nesta etapa metodológica foram elaborados os mapas de declividade, mapa
hipsométrico, de curvas de nível e geológico, sendo que os dois primeiros
utilizou-se das imagens SRTM e o geológico de dados do Serviço Geológico
Brasileiro (CPRM), sendo ambos processados no software ArcGis 10. Optou-se no
referido trabalho pela análise morfométrica pelo fato da mesma conseguir
abranger aspectos muito relevantes para o objetivo final deste trabalho, tanto
quanto resultados mais precisos a partir de análise de coeficientes de grande
relevância. Para isso, foram analisados trabalhos de HASUI (1990), GONTIJO
(1999) e SANTOS (1999), entre outros de grande importância para o tema. No que
se refere à base teórica, optou-se pela Teoria Sistêmica (CHRISTOFOLETTI, 1980),
um método muito eficaz de se analisar uma bacia hidrografia, pois a mesma
possibilita ao pesquisador trabalhar com um complexo de variáveis a partir de
uma organização dos elementos e suas características espaciais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O trabalho vem permitindo a compreensão dos aspectos litológicos, tectônicos e
climáticos na dinâmica do relevo da bacia do Ribeirão do Varjão a partir da
análise das características da rede de drenagem e sua adaptação ou
superimposição à diversidade litológica encontrada na área. A espacialização dos
ambientes deposicionais recentes, como rampas coluviais e terraços fluviais tem
permitido a interpretação das fases de retomada erosiva das superfícies
encontradas. Observa-se que o padrão de drenagem da referida bacia pode ser
considerado como dendrítico, mas apresentando alguns padrões diferentes em
determinadas sub-bacias que apresentam anomalias de drenagem - como é o caso do
Córrego Santa Rita. Faz-se necessária a relação entre a litologia granítica da
Serra de São Francisco, superfície Japi subnivelada descrita por Almeida (1964)
e a ocorrência do relevo associado à topografia sobre o Grupo São Roque, que por
compreender rochas de diversos graus de metamorfismo, permite a adaptação da
rede de drenagem resultando em padrão e setores de diferentes densidades de
drenagem. No Ribeirão do Varjão notou-se que as áreas de mais baixas, media e
baixa bacia, possuem uma litologia referente ao metamorfismo dado pela intrusão
da Serra de São Francisco, possuem em algumas partes, um padrão sub-retangular a
dendrítico que corresponde á áreas de menor resistência, apresentando feições
geomorfológicas anômalas, como inflexões e cursos retilíneos. Observa-se que a
orientação destes lineamentos tende para NE e que, considerando os regimes
transcorrentes/transpressivos aqui analisados de influencia, a área segue,
relativamente, a orientação dos mesmos, tanto para suas inflexões como para seus
lineamentos evidentes. A porção NE da bacia do Ribeirão do Varjão, onde
predominam litologias metamórficas, pode ser analisada como a área de maior
incidência de anomalias de drenagem. Caracteriza-se como segunda área de alta
densidade de anomalias, o setor S - SE da bacia. Observaram-se também, em campo,
setores com anfiteatros escalonados, diferentes níveis de terraços
desarticulados por soleiras rochosas, com hiatos na sedimentação. Estudos mais
específicos devem ser realizados, incluindo a datação de sedimentos, para que se
chegue a uma proposta de cronologia de eventos da área, marcada por diferentes
movimentos e ação do clima sobre o o relevo. Tectonicamente, a área sofre
influência das Zonas de Cisalhamento Moreira e Mairinque (GODOY, 2010) que são
regimes transcorrentes presentes próximos á área de estudo, sendo considerada a
hipótese de surgimento de falhas e fraturas secundárias destas Zonas de
Cisalhamento em toda região. Considera-se também a proximidade à Zona de
Cisalhamento Taxaquara como um importante fator de influência tectônica local.
Desta forma, o Ribeirão do Varjão se caracteriza como uma área sob influência de
regimes tectônicos antigos e reativações das estruturas regionais. Constatou-se
ainda a relação do clima na evolução do relevo regional, tanto na dissecação dos
vales, movimentos de massa e espessura do manto de alteração, aspecto este, que
poder ser evidenciado a partir da exploração local de bauxita.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise sistêmica, pode-se concluir que a área de estudos compreende
um sistema aberto que tectonicamente pode ser controlado por sistemas
transcorrentes locais e a morfotectônica do bloco São Roque em que está inserida.
A bacia possui evidências de pulsos neotectônicos recentes, sendo ou não de
reativações, influências essas que são amplamente visíveis na paisagem quaternária
do Ribeirão do Varjão. Certamente, o grande desafio da presente pesquisa está
sendo a correlação entre estrutura pré-cambriana, reativações recentes e a ação do
clima que erodindo de modo diferencial as litologias da área, podem criar
adaptações da drenagem frente à descontinuidade de contatos erosivos, não estando
diretamente relacionadas aos movimentos cenozóicos. Portanto, a localização da
área estudada bem representa uma interpretação de tectonismo recente no sudeste
brasileiro, bem como da ação climática na pesquisa geomorfológica na mensuração
das influências exercidas na paisagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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