Anais: Geocronologia e evolução da paisagem
APLICAÇÃO DO ÍNDICE “RELAÇÃO DECLIVIDADE-EXTENSÃO (RDE)” NA BACIA DO RIACHO PIORÉ, IBIMIRIM (PE)
AUTORES
Ramos, D.A.M.C. (UFPE) ; Monteiro, K.A. (UFPE) ; Corrêa, A.C.B. (UFPE)
RESUMO
Esta pesquisa aplicou o método de Relação Declividade-Extensão (RDE) no Riacho
Pioré, drenagem de ambiente semi-árido, para a identificação de setores anômalos
no mesmo. Os cálculos demonstraram ao longo do perfil da drenagem a ocorrência de
trechos com anomalias de segundo grau, não sendo possível uma relação estreita com
tectonismo nem com expressivas áreas de deposição, sendo seus valores relacionados
ao controle das formas de fluxo controlado pela existência de um manto de
intemperismo.
PALAVRAS CHAVES
Morfometria; RDE; Semi Árido
ABSTRACT
This research applied a method called Slope-Length Index in Pioré River. This
drainage is located in the semi arid environment and this method was applied to
identify anomalous sectors in this drainage. Calculation showed that in the
drainage profile occur sectors with 2º degree anomalies, and because it is not
possible a short relationship with tectonics neither with depositional areas, but
the values can be related with control of flow types, controlled by the existence
of a weathering mantle.
KEYWORDS
Morphometry; SL Index; Semi Arid
INTRODUÇÃO
Os estudos relacionados com as drenagens fluviais sempre possuíram função
relevante na Geomorfologia e a análise da rede hidrográfica e dos canais
fluviais pode levar à compreensão e à elucidação de numerosas questões
geomorfológicas, pois os cursos de água constituem-se em processo morfogenético
dos mais ativos na esculturação da paisagem terrestre (CHRISTOFOLETTI, 1980).
Por ser uma área de constantes ações de transporte e deposição de sedimentos, as
bacias de drenagem possibilitam, através da aplicação de técnicas, como análise
do perfil longitudinal, relação-declividade-extensão, densidade de drenagem,
entre outros, identificar em seus cursos características que permitem um
diagnóstico da dinâmica existente na área.
Conforme SUERTEGARAY (2002), o relevo, sendo constituinte da paisagem
geográfica, deve ser entendido como um recurso natural, imprescindível para uma
gestão ambiental adequada.
Tendo por objeto de estudo do Riacho Pioré, Sub Bacia do Rio Moxotó, localizada
no município de Ibimirim-PE, a proposta de pesquisa se alicerça diante da
necessidade de aplicar técnicas que permitam um cotejamento mais realista entre
o mapeamento geomorfológico e a estruturação superficial da paisagem. Essa
abordagem serve como ferramenta auxiliar para a reconstrução da dinâmica dos
sistemas de superfície terrestre, na medida em que explicitam como os padrões de
dissecação, elaborados pela drenagem, podem ser controlados pela estrutura
geológica e pelas relações morfoestratigráficas de uma determinada área.
O objetivo geral foi a análise dos padrões morfométricos do relevo e da drenagem
da área, procurando estabelecer um vínculo formativo entre a concentração de
anomalias e regularidades, dos referidos padrões morfométricos, e a distribuição
dos compartimentos de relevo, a fim de instituir um vínculo formativo de caráter
lito-estrutural da área.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a confecção do trabalho foram utilizados dados topográficos do TOPODATA,
trabalhados em softwares de geoprocessamento. O recorte areal utilizado
corresponde à subdivisão 8s39_ e 8s375, que abarca o município de Buíque no
Estado de Pernambuco.
Foram calculados os índices RDEtrecho e RDEtotal do rio principal da
bacia do Riacho do Pioré.
Esta análise identifica, no perfil longitudinal de drenagem, alterações
em seu curso, relacionando a declividade do canal fluvial com a extensão do
referido trecho, fornecendo um índice para comparação de trechos em um mesmo
curso d’água com diferentes gradientes e extensão.
O índice RDE é calculado com a seguinte fórmula:
RDE = (∆H/∆L).L
Onde:
ΔH= diferença altimétrica entre dois pontos de um seguimento ao longo do curso
d’água;
ΔL= projeção horizontal da extensão do referido segmento;
L= comprimento total do curso d’água a montante do ponto para o qual o índice
está sendo calculado até a cabeceira.
Posteriormente os resultados obtidos em cada trecho foram divididos com
o RDE total da drenagem obtido pela relação entre a diferença total de altitude
e o log do comprimento da drenagem (RDEtotal = ∆H/logL). Os valores obtidos da
relação entre os RDE’s dos trechos e o RDE total indicam valores de anomalias no
perfil longitudinal da drenagem, de acordo com Seeber e Gornitz (1983), onde
valores entre 0 e 2 não apresentam anomalias, valores entre 2 e 10 apresentam
anomalias de segunda ordem e valores acima de 10 são anomalias de primeira
ordem.
Relacionado a este índice, tornou-se importante a construção do perfil
longitudinal das drenagens estudadas, analisado através da construção de uma
linha de melhor ajuste, a qual, teoricamente, resultaria em um estado de
equilíbrio para o sistema fluvial local.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A utilização do método RDE gerou uma tabela de valores que foram utilizados para
a produção de gráficos no intuito de melhor ilustrar os valores anômalos.
Para tal foram utilizados valores métricos obtidos em ambiente GIS, no intuito
de identificar índices que expressassem anomalias no perfil longitudinal.
Foram analisados 21 trechos ao longo do curso do rio principal. Destes, nenhum
apresentou anomalias de primeira ordem. Dos valores obtidos 7 trechos
apresentaram anomalias de 2º ordem, e 14 trechos tiveram como resultados valores
que são considerados não anômalos.
O RDE demonstrou que o Riacho do Pioré encontra-se em sua grande parte dentro de
um perfil longitudinal considerado normal, visto que a maioria dos trechos
apresenta valores abaixo de 2 e aqueles os quais apresentaram anomalias
classificam-se como de segunda ordem, ou seja, entre 2 e 10. As anomalias de
segunda ordem caracterizadas por não apresentarem valores expressivos, não podem
ser relacionadas diretamente para identificação de patamares correlacionados a
quebras bruscas no perfil (MONTEIRO, 2010) não evidenciando, em uma primeira
análise, ação tectônica, sendo seus valores relacionados ao controle das formas
de fluxo controlado pela existência de um manto de intemperismo.
Os resultados encontrados, relacionados com informações litológicas e
pedológicas demonstram que o curso do rio apresenta-se encaixado sobre rochas
sedimentares, onde o substrato cortado pelo canal possui uma composição
arenítica extremamente porosa e mantos de intemperismo arenosos, que não
favorece o escoamento da água e sim a percolação.
A drenagem demonstra cicatrizes de escoamento e dissecação por ação da água,
contudo, estes não formam canais perenes devido às propriedades do arenito, que
permite o fluxo de transição, resultando em infiltração bem superior ao fluxo, e
à dinâmica climática regional que concentra as chuvas entre 3 e 4 meses durante
o ano.
Sendo assim, essas características não favorecem a identificação de anomalias
maiores, ou seja, as anomalias de 1º ordem, tendo em vista que, áreas com
características litológicas e pedológicas que apresentam a existência de grandes
áreas de arenitos com mantos de alteração arenosos, permitem ao rio um estado de
estabilidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As paisagens constituem respostas a um complexo de processos, cada um exigindo
apropriadas escalas espaciais e temporais para serem estudadas (CHRISTOFOLETTI,
1981).
Os parâmetros morfométricos, aqui abordados, podem revelar indicadores físicos
específicos para um determinado local, de forma a qualificarem as alterações
ambientais, pois o perfil longitudinal da drenagem e como ela se comporta se
configuram como feições importantes, principalmente no que se refere aos estudos
do modelado da superfície terrestre (ALVES & CASTRO, 2003 apud MUTZEMBERG, 2007).
Por fim foi verificado que o RDE serve, com maior eficácia, para analisar a
relação do escoamento do canal que apresente substrato rochoso cristalino. Em
áreas de litologia arenítica porosa, com predomínio de infiltração, os processos
superficiais de ajuste da drenagem aos condicionantes estruturais, pode ser
mascarada, como no caso do canal ora estudado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CRISTOFOLETTI, A. 1980 - Geomorfologia; A análise de Bacias Hidrográficas, 2ª edição, São Paulo: Editora Edgard Blucher, 1980.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia Fluvial. v.1. São Paulo: Edgard Blücher, 1981.
ETCHEBEHERE, M. L.; SAAD, A. R.; FULFARO, V. J.; PERINOTTO, J. A. J. 2004 - Aplicação do Índice "Relação Declividade-Extensão - RDE" na Bacia do Rio do Peixe (SP) para detecção de deformações Neotectônicas. Revista do Instituto de Geociências - USP, v. 4, N. 2, p. 43-56, Outubro de 2004.
MONTEIRO, K. A. 2010 - Superfícies de Aplainamento e Morfogênese da Bacia do Rio Tracunhaem, Pernambuco. Dissertação de Mestrado, UFPE, Recife. 124pg.
MUTZENBERG, D. S. 2007 - Gênese e ocupação pré-histórica do sítio arqueológico Pedra do Alexandre: uma abordagem a partir da caracterização paleoambiental do vale do Rio Carnaúba-RN
SEEBER, L.; GORNITZ, V. 1983 - River profiles along the Himalayan arc as indicators of active tectonics. Tectonophysics, v. 92, p. 335-367.
SUERTEGARAY, D. M. A. Geomorfologia Física e Geomorfologia: Uma (RE)leitura. Ijuí, Editora Unijuí, 2002, 112 p.