Anais: Geocronologia e evolução da paisagem
Morfotectônica no baixo curso do Rio Paraíba
AUTORES
Tavares, B.A.C. (UFPE) ; Lira, D.R. (UFPE) ; Cavalcanti, L.C.S. (UFPE) ; Corrêa, A.C.B. (UFPE)
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise das feições morfotectônicas no
baixo curso do rio Paraíba, Nordeste do Brasil. O rio Paraíba é caracterizado pela
ocorrência de diversas capturas e falhas ao longo do seu curso. Para identificação
das feições morfotectônicas foram utilizadas imagens de satélite LANDSAT 5 TM. Com
a identificação das feições podemos verificar um controle estrutural sobre o curso
do rio Paraíba a partir da disposição da sua inflexão e relação com o relevo
local.
PALAVRAS CHAVES
Rio Paraíba; Morfotectônica; Captura de drenagem
ABSTRACT
This paper aims to do a analysis of the morphotectonics features in the low stream
of the Paraíba river, Northeastern Brazil. The Paraíba River is caracterized by
the occurence of several drainages captures over the stream. To identify the
morphotectonics features is was used satellite imagery from the LANDSAT 5 TM. With
the features identification it was verified a structural control over the Paraíba
river from the disposition of its capture and relation with the local landform.
KEYWORDS
Paraiba river; Morphotectonics; Drainage captures
INTRODUÇÃO
As formas do relevo são explicadas a partir das interações entre os materiais
estruturadores do relevo e os processos no espaço e no tempo, a morfologia e a
sedimentação em áreas de margem passiva de continente são resultados de fatores
controladores cujo mais importante está relacionado à abordagem tectono-
climática da evolução do relevo. Nesse sentido a cartografação detalhada das
formas do relevo conduziu à elucidação da gênese do gráben, visto que as formas
derivam sempre de processos formativos pretéritos e atuais.
Dentro do contexto acima definido, este trabalho vincula-se a uma linha de
investigação ainda pouco explorada pela ciência geomorfológica da região, que
procura desvendar a evolução da paisagem a partir de uma integração de dados
geológicos e geomorfológicos, para desse modo estabelecer quais os fatores
controladores da gênese do relevo. Para esse fim, o gráben do Cariatá foi
escolhido como objeto de estudo.
A área de estudo está situada há 85km da cidade do Recife, e tem sua maior
expressão territorial no município de Itabaiana, do estado da Paraíba (Figura
1). Desde a sua identificação (BRITO NEVES et al., 2001 a, b), a unidade
denominada Gráben do Cariatá deixou clara sua importância para a interpretação
do cenário geomórfico e morfotectônico regional, desafiando algumas hipóteses
pretéritas relacionadas à evolução geomorfológica do piemonte do Planalto da
Borborema. Neste sentido, os estudos sobre a sedimentação neogênica no referido
gráben tem trazido novas respostas para a compreensão da história recente do
relevo da área (BEZERRA et al. 2008). Dessa forma este trabalho é voltado para
a elucidação dos eventos formativos do Quaternário Superior do saliente
nordestino, confinadas entre os tabuleiros costeiros (Formação Barreiras) e as
escarpas orientais da Borborema.
MATERIAL E MÉTODOS
O gráben do Cariatá foi escolhido como objeto de estudo. Ele está situado há
85km da cidade do Recife , entre as coordenadas 35º20’30’’W e 7º20’00’’S e tem
sua maior expressão territorial no município de Itabaiana, do estado da Paraíba.
A análise morfotectônica foi baseada na identificação de anomalias
geomorfológicas. Estas feições foram sugeridas primeiramente por Goy et al.
(1991) e indicam a ocorrência de atividade neotectônica. Também foram analisadas
feições associadas à falhamentos como facetas triangulares e trapezoidais
(WALLACE, 1978), Shutter Ridges (COTTON, 1948), escarpas (STEWART & HANCOCK,
1990 E 1991), capturas de drenagem (BIANCOTTI, 1979), depósitos superficiais
deformados (VERSTAPPEN, 1983), anfiteatros de erosão, cristas, vales
assimétricos e vales lineares.
Para a identificação das feições morfotectônicas, foram utilizadas imagens de
satélite do LANDSAT 5 TM, manipuladas no software Erdas 9.3 e ArcGis 9.3. Foi
feito um empilhamento de bandas 1 a 5 e 7 e a composição utilizada foi a 753,
para assim poder visualizar as feições morfotectônicas, como capturas de
drenagem, vales retilíneos, facetas triangulares e trapezoidais, cristas,
anfiteatros de erosão, que foram identificadas segundo metodologia de Hiruma
(1999) e Missura (2006).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os sistemas fluviais são bastante sensíveis a movimentos crustais, podendo
ocorrer migração de canais, rios em gancho e formação de lagos marginais, como
respostas às alterações na inclinação de uma superfície. Nesta área há várias
ocorrências de captura de drenagem por parte do coletor principal da área, o rio
Paraíba. No trecho imediatamente à montante do gráben, a direção principal do
rio é N-S, invertendo-se bruscamente para E-W na área deste estudo. Nas áreas
próximas às capturas observa-se o bloqueio das drenagens laterais que demandam o
Paraíba provavelmente em função da maior taxa de sedimentação ao longo do eixo
principal da planície. A resposta hidrológica deste bloqueio é a formação de
lagoas e áreas de drenagem com afloramento dos níveis freáticos. Nas
proximidades da cidade de São Miguel de Itaipu ocorre a captura mais notável do
rio Paraíba, sendo possível observar na paisagem a ocorrência de um boqueirão de
vento sobre-elevado por onde antes passava a calha do rio no sentido leste
(Perfil C-D). À jusante da captura o antigo vale do rio Paraíba permaneceu com
direção E-W agora ocupado pelo rio Mumbaba, de pequena extensão longitudinal e
baixa vazão. A nascente do Mumbaba ocorre em meio a um vale suspenso (boqueirão
de vento) à jusante da qual já se estabelece uma planície com mais de 100 metros
de largura. Neste trecho observam-se ainda terraços escalonados bastante
desconectados em altimetria do nível contemporâneo da calha do Mumbaba. Este
evidente rebaixamento do nível de base à leste da inflexão do Paraíba pode ter
sido uma das causas da mudança de orientação no seu curso.
No perfil C-D possível observar a assimetria do antigo Vale do Rio Paraíba, a
sua margem direita encontra-se bem mais ressaltada na paisagem em relação à
margem oposta. Também é possível notar as diferenças de altimetria que se
encontram o rio Mumbaba e o rio Paraíba, estes com fluxo paralelo entre si. O
rio Mumbaba encontra-se em uma cota em torno dos 70 metros e o rio Paraíba em
torno dos 20 metros. Esta situação, de assimetria do vale e desnível dos leitos
dos rios, sugere que pode ter ocorrido duas situações distintas em termos de
evolução desse setor à leste do gráben. Primeiro, a borda leste do gráben teria
sofrido um processo de flexura, o que soergueu todo este setor do gráben,
contribuindo para a captura do rio principal, o rio Paraíba, esta flexura,
explicaria a assimetria do vale e captura do rio Paraíba. Por último, este
evento de flexura, ocasionou um aumento do desnível altimétrico nesta área, na
porção à nordeste do gráben, onde o rio Paraíba tem o seu fluxo paralelo ao
Mumbaba, teve o seu nível rebaixado. Desse modo o rio Paraíba passou a ter uma
maior incisão nesta área. Isto pode explicar a diferença altimétrica entre os
dois rios nesta porção do gráben.
Neste setor, onde o rio Paraíba foi capturado, é notável também uma assimetria
do vale, sendo a margem direita a mais elevada, em concordância com a situação
encontrada no antigo vale do rio Paraíba, onde atualmente o rio Mumbaba tem o
seu fluxo. Isto corrobora ainda mais com a idéia de soerguimento desta porção do
gráben. Nesta margem com maior ressalto na paisagem, não encontramos nenhum
capeamento sedimentar, e sim, o afloramento de rocha cristalina ao longo de
vertente, até as proximidades do rio leito do rio Paraíba, o que demonstra uma
declividade bem maior desse vale, o que corrobora com a presença de rochas do
embasamento, pois o capeamento sedimentar que haveria neste setor teria sido
dissecado.
Localização e Perfis
Relação das Feições morfotectônicas com os perfis
topográficos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na Zona de captura ocorre o barramento de várias drenagens que demandam o rio
Paraíba, isto evidencia uma subida do nível de base local, fazendo que a própria
sedimentação trazida pelos pequenos drenos comande o barramento dessa drenagem,
por conta da incompetência erosiva desses pequenos canais. A inflexão do rio
principal ocorreu nas proximidades de São Miguel de Itaipu. Neste trecho o rio
Paraíba abandonou seu antigo vale no qual corre atualmente o rio Mumbaba. No
antigo vale do rio Paraíba pode-se observar o desajuste morfológico do rio atual
com a dimensão do seu vale, visto que a cabeceira do rio Mumbaba está a poucos
quilômetros do antigo vale do rio Paraíba. A região do divisor tabular do rio
Mumbaba/Paraíba apresentou uma estrutura superficial marcada pela presença de
depósitos de barras fluviais extremamente consolidados. A posição desse depósito
no topo do boqueirão de vento sugere que os mesmos são derivados do antigo leito
do rio Paraíba, quando tinha o fluxo para leste.
AGRADECIMENTOS
Á FACEPE
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