Anais: Geocronologia e evolução da paisagem
Análise espacial e geoambiental dos municípios ao longo do Rio Paraíba do Meio no Estado de Alagoas.
AUTORES
Gama, N.A. (UFAL) ; Ramos, A.S. (UFAL) ; Sandes, L.V.O. (UFAL) ; Lima, R.C.A. (UFAL)
RESUMO
O objetivo desta pesquisa é analisar a evolução espacial da Bacia Hidrográfica do
rio Paraíba do Meio no Estado de Alagoas, incluindo a ocupação de suas margens e
as fontes de poluição, no intuito de gerar mapas geoambientais, uma vez que, em
sua história recente, ocorreu uma grande enchente, causando a destruição de
cidades ao longo de seu percurso. Ao término desta pesquisa, espera-se encontrar
respostas sobre a vulnerabilidade do meio ambiente nas áreas urbanas ao longo do
rio Paraíba.
PALAVRAS CHAVES
Ocupação; Bacia Hidrográfica; Geologia
ABSTRACT
The objective of this research is to analyze the spatial evolution of the River
Basin in the Middle Paraíba State of Alagoas, including the occupation of its
banks and sources of pollution in order to generate maps geoenvironmental, since,
in its recent history, a great flood occurred, causing the destruction of cities
along its route. Upon completion of this research, we expect to find answers about
the vulnerability of the environment in urban areas along the river Paraiba.
KEYWORDS
Occupation; Basin Hydrographic; Geology
INTRODUÇÃO
Historicamente o homem ocupa regiões marginais dos cursos d’água, pelo fato do
Homem depender do consumo diário deste bem mineral para a sua subsistência,
ainda, quanto mais próximo estivesse destes fluxos contínuos, melhoravam
significativamente suas condições de transporte e suas inter-relações com outros
centros urbanos. Ao falarmos deste fato histórico, não podemos deixar de citar a
importância para a agricultura de estar locada próximo aos corpos hídricos. O
crescimento da população juntamente com a falta de planejamento vem provocando
diversos desastres. O estado de Alagoas é carente de projetos e monitoramentos
de prevenção de cheias e secas, ficando apenas com a resolução de problemas
pós-desastres. Para a solução dos problemas de cheias no Estado de Alagoas, faz-
se necessária a criação de um Centro de Gerenciamento e Prevenção de Desastres
Naturais, ligados ao tempo e ao clima. De acordo com as previsões numéricas a
longo prazo, os eventos extremos no Brasil serão mais frequentes nos próximos 20
anos, quando serão registrados índices altos de precipitação em curtos espaços
de tempo, como o observado nos dias 17 e 18 de junho de 2010, nas bacias
hidrográficas dos rios Mundaú, Paraíba do Meio e Una-Jacuípe.
Um dos problemas principais que contribuem para as inundações é a retirada da
cobertura vegetal, para TUCCI (2009), a cobertura vegetal tem como efeito a
interceptação de parte da precipitação que pode geras escoamento e a proteção do
solo contra a erosão. A perda desta cobertura tem produzido como conseqüência o
aumento da freqüência de inundações devido à falta de interceptação da
precipitação.
MATERIAL E MÉTODOS
A Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas -
SEMARH/AL decidiu subdividir o Estado de Alagoas em 16 Regiões Hidrográficas com
a finalidade de administrar os seus recursos hídricos superficiais com maior
eficácia.
Em seguida foi montada uma base cartográfica na escala 1: 700.000, com a base
digital da SEMARH, que reúne várias cartas topográficas. Esta base serviu para
localizar a Região Hidrográfica do Paraíba, e no apoio à realização dos
trabalhos de campo.
O roteiro estabelecido teve como objetivo levantar dados geológicos,
geomorfológicos, geoambientais ao longo da bacia. Foi verificado ainda o aspecto
do leito do rio Paraíba quanto à ocupação urbana e rural, agropecuária, a
retirada de mata ciliar e a descarga direta de efluentes no rio.
Considerando que as características fluvio-morfológias indiquem as
características da bacia contribuinte, favoráveis ou não a ocorrência de picos
de cheia, calculamos o índice de conformação ou forma (Kf) e o índice de
compacidade ou Gravius (Kc).
Segundo GARCEZ & ALVARES (1988), o coeficiente de Compacidade é a relação entre
o perímetro de uma bacia hidrográfica e a circunferência de círculo de área
igual à da bacia. É calculado pela seguinte expressão: Kc=(0,28xP)/√A
Sendo:
Kc = Coeficiente de compacidade;
P = Perímetro da Bacia(Km);
A = Área da Bacia(Km²).
Para GARCEZ & ALVAREZ (1988), o coeficiente de conformação é a relação entre a
área de uma bacia hidrográfica e o quadrado de seu comprimento axial, medido ao
longo do curso de água, da desembocadura ou seção de referencia à cabeceira mais
distante, no divisor de águas. É calculado pela seguinte expressão: Kf=A/(L*L)
Sendo:
Kf = Coeficiente de conformação;
A = Área da bacia(Km²);
L = Comprimento(Km).
Bacias estreitas e longas têm fatores de forma baixos. Quanto menor o fator de
forma de uma bacia, menos propensa à enchentes a mesma será.
Kf = 1(bacia quadrada);
Kf = 0,785(bacia circular);
Kf = 0,5(bacia retangular).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A bacia hidrográfica do Rio Paraíba tem sua nascente no Estado de Pernambuco e
entra no estado de Alagoas pelo município de Quebrangulo. Situa-se
aproximadamente entre os paralelos 08º 44’ e 09º 39’ de latitude sul e
meridianos 35º 45’ e 36º 45’ de longitude oeste de Greenwich. Limita-se ao norte
com a Bacia do Rio Ipanema no Estado de Pernambuco, ao sul com as Bacias dos
Rios São Miguel e Sumaúma, a leste com a Bacia do Rio Mundaú, e a oeste com as
Bacias dos Rios Traipú e Coruripe todos em Alagoas.
A Bacia do Rio Paraíba possui uma área total de 3.127,83 km², representando
11,2% da área do Estado de Alagoas (27.933,1 km²), totalizando um perímetro de
captação de 459,60 km.
De sua área total, apenas 1.175,33 km² equivalente a 37,6% da bacia, localizam-
se no Estado de Pernambuco, sendo esta área limitada por um perímetro de 217,96
km e com seu curso d’água percorrendo 45,41 km neste Estado. Sendo complementada
por 1.952,5 km² (62,4% da área total) pertencente ao território alagoano com
perímetro de 241,64 km, neste percorrendo mais 126,57 km até a desembocadura no
Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba no litoral de Alagoas.
Relacionando a forma da Bacia do Rio Paraíba a um círculo e calculando o
coeficiente de compacidade, a mesma apresenta:
Kc=(0,28x459,6)/√3127,83 = 2,30
Por isto, o valor encontrado difere das experiências dos habitantes da bacia,
que conhecem o poder destrutivo das periódicas enchentes que ali ocorrem.Como a
Bacia do Rio Paraíba apresenta um padrão de drenagem dentrítica, com padrão
próximo ao retangular, a mesma apresenta fator de forma igual a:
Kf=(3127,83)/(171,98x171,98)=0,106
O cálculo acima revela a fragilidade desta variável para indicar o problema de
enchentes da Bacia do Rio Paraíba, pois apesar de seu valor baixo, é
indiscutível a condição do Paraíba ser fortemente sujeito a enchentes.
Geologicamente os municípios de Quebrangulo, Paulo Jacinto, Viçosa, Cajueiro e
Capela localizam-se sobre o complexo magmático que compõe o embasamento do
Maciço Pernambuco-Alagoas. Já o município de Atalaia está situado também sobre
as rochas que compões o embasamento do Maciço Pernambuco-Alagoas, porém, a
sudeste do município, ocorre a cobertura da Formação Barreiras.
No levantamento de campo foi verificado que a bacia Hidrográfica do rio Paraíba
sofre com a ocupação desordenada do leito de seu rio principal, com o lançamento
de efluentes domésticos, com o descarte inapropriado de resíduos sólidos em seu
curso d’água pela população ribeirinha e foi verificado a elevação média mínima
correspondente a 4,80 m e máxima correspondente a 7,30 m das águas do rio
Paraíba durante a enchente de 2010 (figuras 1 e 2).
Vários fatores geoambientais foram levantados nas campanhas de campo como o
inapropriado despejo de lixo e esgoto diretamente no rio Paraíba, fato que deixa
a população ainda mais vulnerável, a doenças provenientes da contaminação dos
recursos hídricos. Foram também avaliados a presença de postos de combustíveis,
matadouros e lixões, afim de que seja montado um mapa geoambiental ao término do
projeto de pesquisa.
Foi observado que a população ribeirinha dos municípios estudados, despejam seus
efluentes diretamente no rio Paraíba. Quanto aos resíduos sólidos, todos os
municípios os destinam a lixões.
De acordo com os dados disponibilizados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP)
em seu web site, o município de Quebrangulo possui 3 postos de combustível,
Paulo Jacinto possui 1, Viçosa possui 4, Cajueiro possui 3, Capela possui 2 e
Atalaia possui 17.
Segundo a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas-ADEAL,os
municípios de Quebrangulo, Viçosa, Capela e Cajueiro possuem matadouros
municipais, o município de Paulo Jacinto teve seu Matadouro interditado,
enquanto o município de Atalaia não possui nenhum matadouro.
Figura 1
Exemplo de esgoto doméstico lançado diretamente no
Rio Paraíba e marca d’água referente ao nível
alcançado pelo rio durante a enchente em Cajueiro.
Figura 2
Exemplo de esgoto doméstico e resíduos sólidos
dispostos diretamente no Rio Paraíba sem tratamento
em Paulo Jacinto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As enchentes na Bacia do Rio Paraíba são provocadas pelas precipitações de alta
intensidade em suas áreas de drenagem, onde o escoamento superficial alcança
grande velocidade sob forma de enxurrada devido à topografia íngreme das partes
altas, ao embasamento cristalino aflorante no seu alto e médio vale e à retirada
de vegetação natural nas nascentes, margens (matas ciliares) e encosta de vales.
Sendo assim, o nível da água dos rios e riachos, cujas calhas estão assoreadas, se
eleva rapidamente, provocando inundações das cidades que se localizam ao longo das
margens do rio.
A bacia hidrográfica do rio Paraíba possui um plano de recursos hídricos, mas o
poder público ainda não conseguiu compatibilizar e sincronizar um sistema de
gestão integrado com a população ribeirinha. É necessário que haja mútua
conscientização para melhor preservar a integridade das comunidades e do meio
ambiente.
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a FAPEAL pela oportunidade de participação no projeto
de pesquisa, assim como pela disponibilidade das bolsas PIBIC/UFAL. Agradeço a
Universidade Federal de Alagoas pela disponibilidade de vans para a realização dos
trabalhos de campo, também agradeço ao Instituto de Geografia, Desenvolvimento e
Meio Ambiente por ceder gentilmente o Laboratório de Geologia Costeira e Ambiental
que foi imprescindível para a realização da pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
Agência Nacional do Petróleo. Consulta de postos de combustíveis. Disponível em < http://www.ibge.gov.br/home/download/geociencias.shtm>. Acesso em 14 de Junho de 2012.
Gama, N. A.; Lima, R. C. A.; Oiveira, J. G. Aspectos geoambientais das áreas urbanas dos municípios ao longo do Rio Paraíba. In: CONGRESSO DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 6. Maceió, AL. Anais..., Maceió: CTEC, 76-16-1, p.1-5, 2012.
Garcez, L. N.; Alvarez, G. A. Hidrologia. Edgar Blücher: São Paulo, p.49, 1988.
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Tucci, C. E. M. (org.) Hidrologia: ciência e aplicação. – 4 ed. – Editora da UFRGS/ABRH: Porto Alegre, p.623, 2009.