Anais: Geocronologia e evolução da paisagem
Aspectos geoambientais das áreas urbanas de municípios alagoanos ao longo do rio Mundaú.
AUTORES
Ramos, A.S. (UFAL) ; Gurgel, V.A. (UFAL) ; Gama, N.A. (UFAL) ; Lima, R.C.A. (UFAL)
RESUMO
Devido aos acontecimentos ocorridos em Junho de 2010 no Estado de Alagoas
e Pernambuco, faz-se necessário o acompanhamento e monitoramento das regiões
ribeirinhas ao longo do rio mundaú. A ocupação em áreas inapropriadas torna-se um
fator preocupante, pois esta pode gerar possíveis vítimas em um futuro
evento extremo que possa a vir ocorrer. Por isso é imperativo conhecer as
características do meio físico e fazer investimentos na prevenção e previsão de
desastres.
PALAVRAS CHAVES
Meio ambiente; Rio Mundaú; Ocupação
ABSTRACT
Due to the events happened in June of 2010 in the State of Alagoas and
Pernambuco is made necessary the accompaniment and monitoring of the riverine
areas along the Mundaú river. The occupation in areas improper turned a
preoccupying factor, because that occurrence can generate possible you slay in a
future extreme event that is able to come to happen. Therefore it is imperative to
know the characteristics physical middle and to do investments in the prevention
and forecast of disasters.
KEYWORDS
Environment; Mundaú River; Occupation
INTRODUÇÃO
Diante de um cenário de desastres naturais que com certa frequência atingem a
região Nordeste do Brasil, surge a necessidade de se evitar ao máximo os danos
provenientes desses fenômenos. A intervenção dos órgãos públicos, somada à
solidariedade da população em geral, tem se mostrado, ao longo dos anos,
bastante efetiva nos eventos pós-desastre. No entanto, vidas não deixam de ser
perdidas, casas não deixam de ruir e pessoas não deixam de perder seus bens, de
modo que é bastante razoável se imaginar que a prevenção seja a real resolução
desse problema crítico que assola, sobretudo, as áreas mais carentes das cidades
ribeirinhas alagoanas.
O objetivo deste trabalho é analisar a ocupação de suas margens, caracterização
das fontes de poluição e de contaminação, o uso e ocupação do solo, para se
gerar mapas geoambientais ao término do projeto de pesquisa.
A partir de todas essas considerações, é possível observar a forte relação
existente entre a ocupação inadequada das várzeas do rio Mundaú nos perímetros
urbanos e os graves problemas ambientais existentes.
Faz-se necessária a busca por novas propostas de ocupação que levem em conta
fatores essenciais para qualidade de vida do ser humano e a proteção dos
recursos naturais, para auxiliar a implementação de políticas públicas na Região
Hidrográfica do Mundaú.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram realizadas campanhas de campo, nos meses de setembro e outubro de 2011 e
janeiro de 2012, nos municípios atingidos pela enchente ocorrida em Junho de 2010.
Foram realizadas medições de altura estimada do nível normal do rio e do nível
atingido durante a cheia através do uso do GPS (Global Position System), também
foram feitos registros através de fotos. Além de ser feita observação das
características físicas, tais como: geologia,topografia e drenagem, foram também
observadas as fontes de poluição, ocupação em áreas de várzea, postos de
combustíveis e matadouros. E para suporte teórico foram consultados o Plano
Diretor de Recursos Hídricos do rio Mundaú.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com o Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia do rio Mundaú a
bacia do rio Mundaú possui uma área total de 4.126 km², está inserida nos
Estados de Pernambuco, onde se localiza a sua nascente, e em Alagoas, onde o rio
desemboca, na laguna que leva o seu próprio nome (Figura 1).
Os municípios em estudo que fazem parte da região alagoana do rio Mundaú, são:
São José da Laje, Santana do Mundaú, União dos Palmares, Branquinha, Murici e
Rio Largo. Através do banco de dados do IBGE/SEMARH-AL é possível perceber que o
rio Mundaú corta a região urbana de todos eles. TUCCI (2009) afirma que as
primeiras civilizações se desenvolveram próximas aos rios e litoral devido a
dificuldade de meios de transporte, entretanto, a população mais experiente
ocupava áreas mais altas. Com o crescimento acelerado e desordenado nas cidades,
as áreas de risco considerável, como várzeas inundáveis foram ocupadas. Para
SOUZA (2011) a ocupação urbana desordenada às margens dos rios, alinhada a
descaracterização das mesmas foi um fator agravante para a tragédia de Junho de
2010.
Vários fatores geoambientais foram levantados nas campanhas de campo como o
inapropriado despejo de lixo e esgoto diretamente no rio Mundaú, fato que deixa
a população ainda mais vulnerável a doenças como esquistossomose e leptospirose.
Foram também avaliados a presença de postos de combustíveis, matadouros, e
lixões, afim de que seja montado um mapa geoambiental ao término do projeto de
pesquisa.
Baseado nos dados levantados ao longo do projeto tem-se que todas as cidades no
vale do Mundaú despejam seus efluentes diretamente no rio. E, quanto aos
resíduos sólidos, todos os municípios os destinam a lixões, exceto o município
de Rio Largo que faz este descarte em um aterro controlado. De acordo com a
Agência Nacional do Petróleo (ANP) o município de São José da Laje possui apenas
2 postos de combustíveis na área urbana, Santana do Mundaú (2), União dos
Palmares (21), Branquinha (3), Murici (6) e Rio Largo (23), contabilizando um
total de 57 postos de combustíveis ao longo do vale do Mundaú em Alagoas.
Segundo a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (ADEAL) antes da
enchente havia 7 matadouros em funcionamento na região hidrográfica do rio
Mundaú, passada a enchente, só restaram 4, localizados em São José da Laje,
Santana do Mundaú, Branquinha e Rio Largo, os outros 3 que foram destruídos pela
cheia, 2 localizavam-se em União dos Palmares e 1 em Murici.
De acordo com FIALHO & MOLION (2011) o aumento vertiginoso das precipitações
ocorridas num curto espaço de tempo, nos dias 17 e 18 de Junho de 2010 ocorreram
devido à formação de uma tempestade tropical, que atingiu a bacia do rio Mundaú
e fez com que seu nível subisse nos municípios alagoanos a uma altura estimada
de 4 a 11 metros, causando pânico na população, deixando milhares de
desabrigados e desalojados. A força atingida pelo rio e a altura alcançada pode
ser observada na Figura 2.
Ao observar a localização das regiões urbanas dos municípios ribeirinhos, é
possível perceber o risco constante que esta população corre, pois, como a bacia
do rio Mundaú está inserida numa região de predomínio cristalino, este fato não
permite uma grande infiltração. Possui também topografia íngreme, áreas com
grande declividade produz escoamento superficial de alta velocidade podendo a
variação de nível, durante a enchente, ser de vários metros em poucas horas
(TUCCI, 2009). Sendo assim o excedente extravasa, atingindo as casas que estão
construídas na planície de inundação, deixando várias vítimas e desabrigados
como o observado durante as chuvas de 2010 onde foram tidos 24 mortos, 38.030
desalojados e 20.962 desabrigados com danos e prejuízos materiais estimados em
971 milhões de reais (AVADAN, 2010 apud FIALHO & MOLION, 2011).
Mapa de localização
Figura 1 - Bacias hidrográficas dos rios Mundaú e
Paraíba.
Fonte: SEMARH
São José da Laje
Figura 2 - Casa as margens do rio Mundaú
destruída durante a cheia. A seta indica a altura
atingida pela água.
Fonte: Arquivo pessoal,2011.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As enchentes na Bacia do Rio Mundaú são provocadas pelas precipitações de alta
intensidade em suas áreas de drenagem, onde o escoamento superficial alcança
grande velocidade sob forma de enxurrada devido à topografia íngreme das partes
altas, do embasamento cristalino aflorante no seu alto e médio vale e à retirada
de vegetação natural nas nascentes, margens (matas ciliares) e encosta de vales.
Sendo assim, o nível da água dos rios e riachos, cujas calhas estão assoreadas, se
eleva rapidamente, provocando inundações das cidades que se localizam ao longo das
margens do rio.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao CNPq pela oportunidade de participação no projeto de pesquisa,
assim como pela disponibilidade das bolsas PIBIC/UFAL. Agradeço a Universidade
Federal de Alagoas pela disponibilidade de vans para a realização dos trabalhos de
campo, a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas pela
disponibilização da lista de matadouros do Estado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
ANP. Agência Nacional do Petróleo. Consulta de postos de combustíveis. Disponível em < http://www.ibge.gov.br/home/download/geociencias.shtm>. Acesso em 14 de Junho de 2012.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Arquivos em formato shapefile. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/download/geociencias.shtm>. Acesso em 10 de Maio de 2012.
Governo do Estado de Pernambuco: Secretaria de Recursos Hídricos – SRH; Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE. Plano diretor de recursos hídricos da bacia do rio Mundaú. Tomo II – Plano diretor. COTEC – Consultoria Técnica Ltda, p 7-10. Jan, 1999.
SEMARH. Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Sistema de Gestão de Resíduos Sólidos do Estado de Alagoas. Disponível em < http://www.semarh.al.gov.br/residuos-solidos>. Acesso em 10 de Maio de 2012.
SOUZA, J.C.O. Análise do Evento Climático Extremo Ocorrido na Região Leste de Alagoas: Bacias Hidrográficas dos Rios Mundaú e Paraíba do Meio. Revista Brasileira de Geografia Física, p.377-394. Set. 2011.
FIALHO, W. M. B. & MOLION, L. C. B. Eventos Extremos: Alagoas junho de 2010. In: IV Encontro Sul-brasileiro de Metereologia, 2011, Pelotas (RS).
TUCCI, C. E. M. Controle de Enchentes. In: TUCCI, C. E. M. (Org.). Hidrologia: Ciência e Aplicação. Porto Alegre. Editora da UFRGS, 2009, p. 621-657.