Anais: Geocronologia e evolução da paisagem
Termocronologia por Traços de Fissão em Apatitas e Análise Morfométrica da Rede de Drenagem da bacia do Rio do Machado, Alto Rio Grande
AUTORES
Correa Lima, H. (UNESP) ; Doranti Tiritan, C. (IGCE-UNESP/CEUCLAR) ; Hackspacher, P.C. ()
RESUMO
O trabalho buscou entender como se deu a evolução da paisagem da região do
Planalto Sul de Minas a partir da análise morfométrica da rede de drenagem e da
termocronologia pode Traços de Fissão em Apatitas. A pesquisa foi realizada na
Bacia Hidrográfica do Rio do Machado (MG). Os resultados permitiram identificar os
eventos que afetaram e reativaram falhas da região como o processo de abertura do
Atlântico e a atuação de processos erosivos registrados após a intrusão alcalina
de Poços de Caldas
PALAVRAS CHAVES
Analise Morfométrica; Termocronologia; Planalto Sul de Minas
ABSTRACT
The presented work is a contribution to long-term landscape evolution of the Sul
de Minas Plateau using morphometric drainage basin analysis and apatite fission
track data. The research was made at the Rio do Machado drainage basin around the
Machado City, and is part of the Alto Rio Grande drainage basin. Data allow to
define the events that occurred in the area reactivating fault systems, as the
South Atlantic opening and erosion events registered after the Poços de Caldas
Alkaline intrusion
KEYWORDS
Morphometric Analysis; Thermochronology; Sul de Minas plateau
INTRODUÇÃO
A região estudada está inserida no segmento central da Província Mantiqueira
sendo palco de fenômenos ligados a abertura continental no Cretáceo
Inferior, marcada pela intrusão alcalina de Poços de Caldas a oeste no final do
Cretáceo Superior. A bacia do Rio do Machado está localizada na região sudoeste
de Minas Gerais. O rio do Machado é afluente do Alto Rio Grande, e a região está
inserida na província do Planalto Atlântico, na subzona do Planalto Sul de Minas
(Almeida, 1998; Cavalcanti 1979).
A região do alto curso do rio do Machado está inserida na subzona do Planalto
São Pedro de Caldas onde há predomínio de grandes formas de topos convexos
apresentando desníveis da ordem de 80 a 90m em relação aos fundos de vales.
Predominam escarpas de falhas e feições tipo cristas que se destacam dos relevos
rebaixados, assim como ocorrência de matacões. Próximo ao Maciço de Poços de
Caldas a oeste ocorrem vales mais profundos e encaixados. Já o baixo curso do
rio do Machado se insere na subzona Superfície Alto Rio Grande, onde o relevo é
ondulado com altitudes de ~900 metros onde se salientam cristas de cotas um
pouco superiores a 1000 metros. A evolução das formas ocorre de maneira
diferenciada, sendo que nas proximidades do limite com o Planalto São Pedro de
Caldas a rede de drenagem é densa, suas vertentes abrupta, enquanto a norte e a
leste o relevo mais baixo forma interflúvios achatados com drenagem esparsa,
poucas ravinas e vales mais largos.
Do alto curso ao médio curso, o Rio do Machado apresenta, sentido N-S, e seu
curso é meandrante característico de baixa energia, com presença de canais
abandonados. Do médio curso em diante, se encaixa numa falha sentido NE-SW,
apresentando uma série de quedas d’água e corredeiras representando um baixo
curso com alta energia. Assim objetivamos realizar um estudo mais detalhado
sobre os condicionantes que levaram a mudança no curso desse rio e o qual a
relação com os eventos que modelaram essa r
MATERIAL E MÉTODOS
A análise de Traços de Fissão em Apatitas é um método termocronológico de baixa
temperatura que permite quantificar a denudação e a evolução da paisagem
possibilitando o entendimento das relações entre tectônica e topografia numa
escala regional, enquanto a análise morfométrica da rede de drenagem juntamente
com observações de campo permitem uma analise numa escala de detalhe. O índice
RDE é correlacionado com os níveis de energia da corrente, que reflete na
capacidade da mesma erodir o substrato e de transportar a carga sedimentar,
podendo detectar sensíveis mudanças na declividade de um canal fluvial, que
podem estar associadas a diferentes resistências à erosão hidráulica e à
atividade tectônica. O índice cresce onde o rio flui por sobre rochas mais
resistentes e decresce onde percorre um substrato mais friável. Pode-se
suspeitar da atuação de processos tectônicos caso seja possível eliminar o fator
litológico como causador principal da elevação do índice em algum determinado
trecho do rio. Portanto faz-se fundamental estabelecer um programa cuidadoso de
avaliação de campo das anomalias encontradas em gabinete a fim de verificar as
possíveis causas das suas origens. Assim sendo, os dados índices RDEs passam a
constituir alvos para verificação de campo, aumentando a efetividade da análise
tectônica em áreas de grande extensão. O método do perfil longitudinal dos
vales consiste em plotar-se o desnível altimétrico entre os pontos extremos do
vale no eixo das ordenadas e a distância, em linha reta, entre os pontos no eixo
das abscissas. Este procedimento elimina o efeito da sinuosidade do canal. Em
seguida, sobrepõe-se ao perfil obtido à linha de melhor ajuste, o que permite
definir, genericamente, áreas em subsidência e soerguimento. A linha de melhor
ajuste, neste caso, corresponde a uma simulação matemática do perfil de
equilíbrio do rio. Assim é possível a identificação das áreas de estocagem de
sedimento, e sua relação com o arcabouço tectônico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise morfométrica da rede de drenagem permitiu definir quais as áreas da
Bacia do Rio do Machado apresentam maiores anomalias indicando atuação
tectônica. Os menores valores estão concentrados na região do alto curso e no
baixo curso, onde os perfis longitudinais se apresentam equilibrados, com
exceção dos rios que nascem no planalto de São Pedro de Caldas e deságuam nas
áreas menos elevadas da superfície Alto Rio Grande, onde o relevo é mais
suavizado, caracterizando-se como prováveis áreas de sedimentação. O rio do
Machado apresenta feições anômalas em suas áreas de alto e baixo curso, com
comportamentos totalmente distintos dos demais rios da bacia, observa-se que
possivelmente nessa drenagem o controle tectônico pode ter tido uma influência
extremante importante no comportamento do canal principal. Por se tratar de uma
região com grande variação de relevo e presença de diversas feições geológicas e
geomorfológicas, os dados obtidos demonstraram não existir um padrão confiável
na distribuição das áreas que possuem indícios de reativações tectônicas. Porém,
foi possível identificar as áreas que apresentam índices anômalos e traçar um
perfil da bacia em geral, tornando possível uma compreensão básica da dinâmica
dos agentes que modelam o relevo na bacia do Rio do Machado. As idades de traços
de fissão em apatitas obtidas nessa região datam do final do período Jurássico
Superior e inicio do Cretáceo Inferior, tanto as amostras localizadas no
Planalto São Pedro de Caldas, quanto a da Superfície Alto Rio Grande. As idades
obtidas na região mostram que essa área foi afetada pelos fenômenos relacionados
tanto a Reativação Wealdeniana (Almeida, 1967), quanto aos processos que
provocaram a abertura continental e o surgimento do Atlântico Sul e da Serra da
Mantiqueira, já que esses eventos ocorreram a partir do Jurássico Superior até o
final do Cretáceo Superior, correspondendo às idades das amostras apresentadas.
Analisando histórias térmicas publicadas por Franco (2003), Godoy (2003) e
Doranti (2006) observa-se um registro de resfriamento lento no período
aproximado de 120Ma a 50Ma, indicando a atuação de um ciclo erosivo mais intenso
do que a taxa de soerguimento, nas áreas próximas ao Planalto de Poços de
Caldas. A amostras próximas ao maciço registram a evolução das rochas
encaixantes a partir da intrusão do dique anelar, no Cenozóico Inferior. E as
histórias térmicas do Planalto São Pedro de Caldas mostram episódios de
resfriamento lento no limite Mesozóico–Cenozóico, associados a ciclos de erosão
x soerguimento da Serra da Mantiqueira, seguido de um aquecimento dado por um
alçamento das isotermas, devido a um soerguimento tectônico em torno de 70 Ma,
associado à intrusão do Maciço Alcalino de Poços de Caldas (Franco et al, 2005).
A amostra localizada na superfície Alto Rio Grande apresenta um aquecimento
lento no período entre 120Ma e 40Ma e situa-se sobre uma falha que provavelmente
se originou concomitantemente com a intrusão do Maciço Alcalino de Poços de
Caldas sofrendo influência direta desse evento apresentando padrão diferenciado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A correlação dos dados permitiu observar que a rede de drenagem que compõe a bacia
do Rio do Machado apresenta anomalias que tem sua mais provável origem em eventos
tectônicos. Os afluentes que se encontram na região de relevo menos acidentado
possuem baixo índices e seus perfis são próximo ao equilíbrio, enquanto os rios
que apresentam perfis desequilibrados com quedas d’águas em vários trechos, como o
próprio rio do Machado apresentam altos índices. Correlacionados com a as idades e
histórias térmicas é possível identificar a atuação de eventos tectônicos e
magmáticos marcantes na região sudeste como a abertura do oceano Atlântico no
Juro-Cretáceo e a intrusão alcalina de Poços de Caldas. Os dados permitem ainda
concluir que a região vem sofrendo atuação de eventos tectônicos mais recentes que
estão condicionando a a rede de drenagem e o relevo da região.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos apoio financeiro da CAPES/PROBRAL/DAAD e FAPESP processos: 2008/07097-
1 e 2008/10626-6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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