Anais: Geocronologia e evolução da paisagem
EVOLUÇÃO DE OMBREIRA DE FUNDO DE VALE NO ALTO CURSO DO RIO MARRECAS, PLANALTO DAS ARAUCÁRIAS (SUL DO BRASIL)
AUTORES
Pontelli, M.E. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ) ; Paisani, J.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ)
RESUMO
As características físicas e químicas de Nitossolo permitiram compreender a
evolução de ombreira no alto vale do rio Marrecas (PR). A ombreira evoluiu até o
Pleistoceno Superior (idade estimada) por denudação geoquímica. No Holoceno a
denudação mecânica sobressaiu truncando o Nitossolo da baixa a media encosta. Esse
fenômeno foi controlado pela tectônica regional.
PALAVRAS CHAVES
denudação; planalto basáltico; tectônica regional
ABSTRACT
The fisical and chemical characteristic of nitosol took knowing the evolution
shoulder of Marrecas river upper valley. The shoulder has evolved until Upper
Pleistocene (estimated time) by geochemical denudation. The denudation mechanical
occurred in the Holocene eroding the nitosol in the down and medium hillslope.
This phenomenon was controlled by regional tectonic.
KEYWORDS
denudation; basaltic plateau; regional tectonic
INTRODUÇÃO
De modo geral, a evolução das formas de relevo no Planalto das Araucárias na
região Sudoeste do Paraná e Oeste de Santa Catarina é pouco conhecida.
Correspondendo a domínio de ambiente subtropical úmido, o relevo no Sudoeste do
Paraná mostra decréscimo de altitude de leste para oeste, apresentando ao longo
da Serra da Fartura, 08 remanescentes de superfícies incompletamente aplainadas.
Estas apresentam até três níveis embutidos entre as classes hipsométricas de
1400 a 600 m, bem como superfícies em elaboração na forma de ombreiras de fundo
de vales, em cotas inferiores a 600 m. Os dados obtidos preliminarmente indicam
que tais superfícies foram geradas simultaneamente pelo balanço entre alteração
e erosão mecânica (Paisani et al., 2008a).
Do total de superfícies identificadas na região, apenas na Superfície II
(Planaltos de Palmas/PR e Água Doce/SC) verifica-se cobertura superficial
decorrente de intensa morfogênese, caracterizada por depósitos de colúvio,
colúvio-alúvio e alúvio, assim como paleossolos, concentrados em paleovales de
baixa ordem hierárquica (Paisani et al., submetido). No restante das superfícies
predominam perfis de alteração com diferentes espessuras (Paisani et al.,
2008a). Esses, a priori, indicariam que os processos de intemperismo e
pedogênese teriam sido mais influentes na esculturação do relevo da região, ao
contrário do que ocorreu na superfície II. Resta saber se nessas superfícies há
indícios pedológicos e de alteração que permitam elucidar a evolução das formas
de relevo regional. Nesse contexto, o trabalho apresenta características da
cobertura pedológica como subsídio para compreender a evolução de ombreira
embutida em fundo de vale no alto curso do Rio Marrecas, Planalto das
Araucárias, no sul do Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
O alto curso do Rio Marrecas corresponde a divisor de águas regional entre os
sistemas hidrográficos do Rio Uruguai, ao sul, e do Rio Iguaçu, ao norte, sendo
mantido por rochas ígneas básicas da Formação Serra Geral (Nardy et al., 2008;
Paisani et al., 2008b). Localmente denominado de Serra da Fartura (Maack, 1981),
esse divisor apresenta setor de topo situado acima de 900 m, com morfologia
marcada por relevos residuais. Deste, em direção ao fundo de vale, observa-se
três níveis de patamares escalonados que, na base, aparecem na forma de ombreira
(Paisani et al., 2008a).
A ombreira estudada apresenta vertente com cerca de 180 m entre seu topo e o
canal de terceira ordem hierárquica. Em campo procedeu-se à descrição das
características morfológicas da cobertura pedológica, conforme Santos et al
(2005), bem como à coleta de amostras representativas dos horizontes para
tratamento granulométrico, química de rotina, mineralogia de raio-X de argila e
determinações de teores de ferro (livre, total e amorfo). A granulometria foi
realizada no Laboratório de Análise de Formações Superficiais da UNIOESTE –
Campus de Francisco Beltrão, processada a partir da técnica de peneiramento para
fração grossa e de pipetagem para fração fina (EMBRAPA, 1997). A mineralogia da
fração argila foi efetuada no Laboratório de Difratometria de Raios-X, Instituto
de Geociências da UFRGS, método orientada natural, glicolada e aquecida. A
química de rotina foi processada no Laboratório de Química e Fertilidade do
Solo, do IAPAR/UTFPR – Pato Branco (PR). As determinações do ferro oxalato
(FeO), ferro ditionito (Fed) e ferro total (Fet) foram realizadas no Laboratório
de Solos da ESALQ, e permitiram obter diferentes razões de oxi-hidróxidos do
perfil de alteração, verificando seu estágio de evolução mineralógica e
intensidade do intemperismo (Bech et al., 1997; Kampf e Curi, 2000; Costantini
et al., 2006; Tsai et al., 2007; Jiang et al., 2011; Bétard, 2012).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ombreira embutida em fundo de vale no alto curso do rio Marrecas, região
Sudoeste do Paraná, mostra espessura variada da cobertura superficial ao longo
da encosta, aproximando-se de 15 m no topo e de apenas cerca de 1 m na baixa
encosta, próximo à drenagem local. Fica evidente que a distribuição da cobertura
não acompanha a morfologia da encosta (Figura 1 – B). A descrição física dos
materiais revela natureza essencialmente pedogenética para esta cobertura, com
solum mais espesso do topo à alta encosta, e cujas características morfológicas
(Tabela 1) permitem interpretar como Nitossolo Vermelho Distrófico, com
características latossólicas nos primeiros 100 cm (Pontelli et al., 2011). Em
toda a extensão do horizonte B observa-se mineralogia da fração argila,
predominantemente do tipo caolinita, bem como vermiculita, e mineral tipo
quartzo (Tabela 1). Assim como o solum, a alterita é mais espessa nos setores
do topo e da alta encosta (Figura 1 – B), com mineralogia da fração argila
essencialmente caolinítica, aparecendo também minerais do tipo quartzo e
goetita (Tabela 1). Em toda a extensão do perfil, o ferro de alta cristalinidade
(Fed) que é originado de processos pedogenéticos (Tsai et al., 2007), mostra
teores baixos a médios. Os menores teores de ferro de baixa cristalinidade (Feo)
correspondem ao horizonte B, sendo menor no material com características
latossólicas. De modo geral o maior grau de cristalinidade do ferro (Feo/ Fed) é
observado nos horizontes Bw e C, enquanto os valores abaixo de 0,38% para a
razão (Fed – Feo)/Fet indicam estágio avançado de intemperismo e de
desenvolvimento do solo (Tabela 1).
A distribuição da cobertura pedológica sem relação com a morfologia superficial
da encosta, bem como sua maior espessura no setor de topo e alta encosta,
permitem considerar modelo para evolução dessa ombreira embutida em fundo de
vale. A espessura da cobertura supõe que as encostas dessa ombreira estiveram
sujeitas a intensa ação do intemperismo químico, resultando em elevado grau de
perda geoquímica, em contraposição a intensidade média de atuação tanto do
escoamento superficial quanto da drenagem local. Nesse período a taxa de
aprofundamento da frente de intemperismo é superior a de aprofundamento do
talvegue pela drenagem local, de modo a possibilitar o desenvolvimento de
espesso perfil de solo ao longo de toda encosta (Figura 1 – A). É possível
considerar que essa situação de equilíbrio dinâmico entre encosta e sistema
fluvial tenha perdurado na área de estudo no final do Pleistoceno Superior, como
constatado na Superfície Incompletamente Aplainada II – Planalto de Palmas
(Paisani et al., submetido). Na seqüência haveria inversão do processo de
denudação, com aumento da erosão mecânica pelo escoamento superficial em relação
a perda geoquímica. Isso é provocado pelo aumento de água no sistema no início
do Holoceno, bem como pela intensificação de aprofundamento do talvegue devido a
influência tectônica. Nessa fase ocorre rehierarquização da rede de drenagem
local (Figura 1 – A), fato que também é verificado na superfície II - Planalto
de Palmas (Paisani et al., submetido).
Tabela 1. Morfologia, teor de ferro e mineralogia
Figura 1. Esquema evolutivo de ombreira de fundo de vale
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cobertura pedogenética da ombreira de fundo de vale apresenta característica
nitossólica, com solum e alterita mais espessos no topo e alta encosta, afinando-
se para o canal secundário. A mineralogia é predominantemente caolinitica e as
razões de ferro indicam estágio avançado de intemperismo e de desenvolvimento do
solo. A espessura da cobertura não acompanha esse aspecto. As encostas da ombreira
estiveram sujeitas a alto grau de perda geoquímica, em contraposição a intensidade
de ação média do escoamento superficial e da drenagem local, numa situação de
equilíbrio dinâmico entre encosta e sistema fluvial durante o final do Pleistoceno
Superior. No Holoceno, o aumento de água no sistema é responsável pela maior ação
do escoamento superficial e aumento do grau de denudação mecânica, levando ao
aprofundamento do talvegue, sendo intensificado pela influência tectônica.
AGRADECIMENTOS
À Fundação Araucária/SETI/Gov. Paraná (Convênio 407/2009) e ao Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Geografia, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
pelo auxílio financeiro.
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