Anais: Geocronologia e evolução da paisagem
Morfoestruturas do Parque Nacional do Catimbau, Nordeste do Brasil
AUTORES
Cavalcanti, L.C.S. (UFPE) ; Corrêa, A.C.B. (UFPE)
RESUMO
A caracterização das morfoestruturas fornece uma ideia geral acerca dos controles
sobre o desenvolvimento das formas de relevo e da formação de zonas de acúmulo e
transferência de água subterrânea. O objetivo deste trabalho é a identificação das
principais morfoestruturas do Parque Nacional do Catimbau, no nordeste do Brasil.
Foram correlacionados dados temáticos que resultaram na identificação de onze
morfoestruturas, cuja gênese relaciona-se à reativação wealdeniana e o magmatismo
Cenozóico.
PALAVRAS CHAVES
Morfoestruturas; Parque Nacional Catimbau; Nordeste do Brasil
ABSTRACT
The characterization of morphostructures provides an overview of mechanisms
controlling the development of landforms and the zonation of groundwater. This
paper deals with the objective to identify the main morphostructures of Catimbau
National Park, in northeastern Brazil. Were correlated thematic data that resulted
in the identification of eleven morphostrctures, whose genesis is related to the
Gondwana break-up and Cenozoic magmatism.
KEYWORDS
Morphostructures; Catimbau National Park; Northeast Brazil
INTRODUÇÃO
Em Geografia Física e Geomorfologia, o termo morfoestrutura possui pelo menos
duas conotações distintas, a primeira delas, definida por Inocêncio Petrovich
Guerassimov em 1946, compreende o relevo derivado da atuação de processos
neotectônicos e daqueles de ordem climática, controlados pela estrutura
geológica. A segunda, mais restritiva e recente, sugere que o termo
morfoestrutura seja aplicado apenas às formas de relevo geradas pelo controle
das estruturas geológicas, enquanto àquelas derivadas da ação tectônica deveriam
ser chamadas unidades morfotectônicas (SAADI et al. 2004). Em suma, a proposta
mais recente destaca a necessidade de diferenciar as formas de relevo geradas a
partir dos processos neotectônicos daquelas derivadas do controle estrutural
sobre o clima. Aqui será adotado o termo morfoestrutura na acepção original de
Guerassimov, mais abrangente.
A caracterização das morfoestruturas fornece uma ideia geral acerca dos
controles sobre o desenvolvimento das formas de relevo e da formação de zonas de
acúmulo e transferência de água subterrânea.
O objetivo deste trabalho é a identificação das principais morfoestruturas do
Parque Nacional do Catimbau, no nordeste do Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Para identificar as morfoestruturas, inicialmente foi realizada a reunião de
informações (bibliográficas e cartográficas) de ordem geológica, geofísica,
geomorfológica, morfotectônica, hidrogeológica e de outros temas que pudessem
revelar a distribuição das principais estruturas geológicas e seu comportamento
deformacional recente, como a ocorrência de campos de tensão, por exemplo.
Em seguida estas informações foram organizadas de modo a descrever a história da
Bacia Sedimentar do Jatobá e a formação de suas principais estruturas e
morfoestruturas.
Para auxiliar a interpretação das morfoestruturas, as principais litologias e
estruturas foram plotadas sobre imagens de satélite do programa de código aberto
Google Earth (versão 6).
Também foram utilizados perfis topográficos. O perfil topográfico é uma
ferramenta que projeta as formas do relevo num gráfico bidimensional, onde os
valores de altitude são alocados no eixo Y e os valores de comprimento são
distribuídos ao longo do eixo X. Esta ferramenta auxilia na interpretação da
cofiguração geomorfológica de uma região. Neste trabalho, os dados de elevação
foram obtidos a partir de dados Shuttle Radar Topography Mission (SRTM),
refinados para uma resolução espacial de 30m por Valeriano (2008), que realizou
interpolação por Krigagem. Para elaboração dos perfis utilizou-se as ferramentas
Interpolate Line e Create Profile Graph do menu 3D Analyst do programa ArcMap. A
visualização da distribuição dos perfis foi feita sobre um mapa hipsométricos,
que apresenta a distribuição dos valores altimétricos em faixas de altitude com
valores similares.
Complementarmente, fez-se necessária a consulta à estratigrafia dos poços
disponíveis no Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS), acessado
pelo endereço: <http://siagasweb.cprm.gov.br/layout/visualizar_mapa.php> em 26
de abril de 2012. O objetivo foi o conhecimento tanto da profundidade do
embasamento cristalino quanto das camadas sedimentares.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com exceção das Zonas de Cisalhamento (de origem Pré-Cambriana) e talvez da
Falha do Catimbau, as estruturas que controlam o relevo da área de estudo
relaciona-se à fase rifte. Nesta fase, a reativação de falhas e zonas de
cisalhamento Pré-Cambrianas, resultou na deformação tanto no nível do
embasamento quanto no nível sedimentar (BARBOSA, 2006). Segundo o mesmo autor, a
reativação sinistral do lineamento Pernambuco, resultou em falhamentos normais
de direção NE-SW no interior da Bacia. Para Lima Filho, Souza e Silva Júnior
(2011) este é o momento de surgimento da Falha de Ibimirim, a estrutura normal
que marca o limite norte da Bacia e está associada ao lineamento PE. Ainda
segundo os mesmos autores, esta seria a idade de formação da Falha do Moxotó,
uma falha normal cujo movimento dextral seria responsável pelo deslocamento da
Falha do Macaco e abertura da morfoestrutura do Gráben do Puiú. Ainda segundo
Costa Filho et al. (2010), as falhas da borda do graben teriam sido responsáveis
pela preservação das litologias (Inajá, Aliança e Sergí) no interior do mesmo.
Em Santos (2012), esta morfoestrutura é chamada Gráben do Brejo do Pioré. A
Falha do Quiridálho ainda é limite de outra morfoestrutura de direção NE-SW, o
Horst do Quiridálho, que bordeja uma estrutura em graben, com a mesma direção,
que é limitado pela Falha do Angico e pela Falha de Ibimirim: o Gráben do
Frutuoso (SANTOS, 2012). Um sistema de hemigrábens de direção aproximada NE-SW,
associado a pequenos rejeitos se desenvolve entre a Falha do Catimbau e a Falha
do Macaco, tendo sido proposto a partir de perfis de eletrorresistividade e
dados de poços (COSTA FILHO et al., 2010). Neste trabalho sugerimos dois
rejeitos principais, denominados Falha da Ponta da Várzea e Falha do Caldeirão,
que diferenciam três hemigrábens: do Cumbe, da Ponta da Várzea e do Catimbau. No
caso da Falha do Catimbau, observada no cristalino na folha geológica Sertânia
(1:100.000), cuja continuidade na área sedimentar foi inferida por
eletrorresistividade (COSTA FILHO et al., 2010), sugere que a borda leste
elevada na Bacia do Jatobá tenha sido alçada juntamente com a subida do
embasamento cristalino em algum evento deformacional. A hipótese de um alçamento
desta porção juntamente com o embasamento cristalino, é corroborada por dados de
poços que indicam o cristalino a apenas 8m de profundidade abaixo da Formação
Tacaratu e permite utilizar a denominação geomorfológica de Planalto Sedimentar
do Jatobá. Esta hipótese e o reconhecimento da Falha do Catimbau sustentam a
diferenciação de pelo menos duas morfoestruturas em Horst e sugere a ocorrência
de outro hemigráben. A região da Serra de Jerusalém, recebe o nome de Horst de
Jerusalém. Posicionada a NW deste, sendo separados pela Falha do Catimbau, pode-
se diferenciar o Horst Porto Seguro, que inclui as localidades do Sítio Oásis,
Meu Rei e Muquem. A gênese destas unidades pode estar relacionada aos eventos
deformacionais encontrados na região por Barbosa (2006). Um destes eventos é
caracterizado por uma compressão máxima NW-SE, verificado apenas nas rochas da
bacia. Uma hipótese para este movimento seria a subida do embasamento resultante
do magmatismo Cenozóico associado ao soerguimento do Planalto da Borborema.
Moraes Neto e Alkmim (2001) detectaram uma tensão compressional com a mesma
direção sobre a Formação Serra dos Martins. O Horst Porto Seguro, mergulha no
sentido do que parece ser a continuidade encoberta da Falha do Macaco. Este
mergulho pode indicar uma falha subsuperficial, inferida juntamente com outra
provável falha que trunca o norte do Gráben do Puiú e se prolonga como um vale
pouco dissecado em direção ao Horst Porto Seguro. Este conjunto de falhas sugere
a existência do Hemigráben do Muquem. A parte elevada onde afloram as rochas do
cristalino, acima da Falha de Ibimirim, caracteriza o Horst Vila Moderna. A
denudação da borda da bacia deu origem a pedimentos e a escarpa
Morfoestruturas do Parque Nacional do Catimbau
Modelo digital de elevação com sobreposição das
morfoestruturas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do ponto de vista morfoestrutural, o Parque Nacional do Catimbau apresenta um
conjunto de grábens, hemigrábens e horst associados ao aulacógeno do sistema
Reconcavo-Tucano-Jatobá. A hipótese do alçamento da borda leste em função da
compressão no eixo de rotação da bacia é corroborada com dados estratigráficos de
poços, apresentando evidências de uma compressão NW-SE, que também foi encontrada
em sedimentos afetados pelo magmatismo Cenozóico (Fm. Serra dos Martins). O uso de
dados termocronológicos, juntamente com um adensamento no estudo dos campos de
tensão, sobretudo na região da Falha de Itaíba, são testes importantes para a
avaliação desta hipótese. O reconhecimento das morfoestruturas servirá de base
para um adensamento do conhecimento físico-geográfico da região, possibilitando a
construção de hipóteses acerca do desenvolvimento do modelado, dos solos e da
exploração biológica.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco, pela
concessão da bolsa de doutorado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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